quinta-feira, 30 de agosto de 2012

As Araras Coloridas - parte II











Chegará o dia em que os homens conhecerão
 o íntimo dos animais, a partir desse
 dia, todo crime contra um animal
 será considerado crime 
contra a humanidade.”

Leonardo Da Vinci




Click e veja As Ararinhas do Qatar & Cia

Click e veja As Araras Coloridas - parte I









"Há um ponto elevado em que a arte,
a natureza e a moral se confundem
e são simplesmente uma só coisa."


F. Bacon






Ara glaucogularis ( glaucogularis = garganta azul-esverdeada ) foi inicialmente descrita, nos anos 20 do século passado, dos cerrados de Mojos, no norte da Bolívia, com o nome de Ara caninde. Nos anos 70, propuseram que seria apenas uma sub-espécie de Ara ararauna, nos anos 80 foi definitivamente considerada uma espécie independente, posto que convive com A. ararauna no mesmo habitat, sem se misturarem na reprodução.



Depois descobriu-se que este nome A. caninde estava muito relacionadoa sua prima maior, a arara azul-amarela ararauna, também conhecida popularmente como canindé, e adotou-se o glaucogularis como um melhor nome específico, este foi atribuído em função de sua característica mancha azul-esverdeada na glote. Mais tarde, em 1992, com a evolução dos estudos sobre a espécie, localizou-se a sua principal população, concentrada a leste do alto rio Mamoré, na departamento de Beni, na
amazônia boliviana.


Nidifica em cavidades de grandes árvores, como estas estão cada vez mais raras, concorre com tucanos, pica-paus e outras espécies de araras pela primazia de utilizar das poucas cavidades ainda existentes, quando consegue obter um sítio nidificante, coloca 1-3 ovos para incubação. Com a falta de ninhos seguros, aumenta a predação ou distúrbio dos filhotes por mamíferos, répteis e insetos, diminuindo a capacidade reprodutiva da população silvestre.

Attalea phalerata - conhecida no Brasil como Bacuri, é o alimento
básico e fundamental para a sobrevivência de glaucogularis.




Em 2007, sua população total foi estimada em 250-300 indivíduos, distribuídos em cerca de quatro mil km2. Atualmente, as informações sugerem que a população provavelmente monte em pouco mais de drásticos 115 indivíduos, equivalente a 73-87 indivíduos maduros para a reprodução. Estima-se que mais de 1.200 exemplares desta espécie tenham sido capturados e traficados para fora da Bolívia na década de 1980, evidenciando que a população original era muito maior. A população cativa é hoje muitas vezes maior que a silvestre, mostrando a força dos criadores e colecionadoores de aves na depauperação das comunidades silvestres e , paradoxalmente, na conservação de indivíduos protegidos.



Ara ararauna (1) é uma espécie muito dispersa e famosa, já Ara glaucogularis (2) foi primeiro considerada uma sub-espécie da primeira, restrita a apenas três localidades na amazônia boliviana. Depois de melhor estudada, passou a ser entendida como uma população já diferenciada, mas ainda em aprofundamento de singularidades. Sem dúvida foi recentemente derivada de A. ararauna, mas como ambas são encontradas convivendo no mesmo habitat , sem se misturarem em processos reprodutivos, podem ser consideradas como espécies já separadas.




Ou ao menos segregadas geneticamente, porém ainda muito parecidas na aparência externa. Como acontece com outras espécies de araras, são conespecíficas: um grupo de espécies muito próximas, ou então são sub-espécies - como preferirem. Se dois grupos populacionais são idênticos aos olhos, porém, se juntos, já não se cruzam entre si, são certamente duas espécies. Ao contrário, se populações muito diferentes em aspecto e segregadas devido a distância geográfica, mas que ainda se cruzam criando mestiços férteis, sem maiores obstáculos fisiológicos, em regiões de fronteiras, ou juntas em cativeiro com vários indivíduos de ambas as populações, são seguramente de uma mesma espécie; como no caso dos homens.

Glaucogularis é ligeiramente menor e muito
mais vistosa que ararauna.

A população silvestre atual parece estar estabilizada, como consequência de medidas de conservação eficazes, que reduziram drasticamente o seu tráfico comercial , causa principal do seu rápido declínio os anos 1970-80.
A espécie está criticamente ameaçada de extinção em função do baixo números de exemplares silvestres, todavia a perda de habitat não é tão grave e pode ocorrer um continuado crescimento populacional.



É mais freqüentemente avistada aos pares, mas pequenos grupos (7-9) podem ser encontrados, e também formam-se grupos maiores de até 70 indivíduos. Estes grupos maiores não apresentam qualquer comportamento reprodutivo, devem apenas dormir juntos, como acontece com algumas espécies de papagaios brasileiros.


Seu habitat são os remanescentes florestais e as matas ciliare espalhados pelos cerrados de Beni. Seu alimento básico, é a Palmeira- Motacú - Attalea phalerata - cujos os frutos alimentam também as outras espécies da araras simpátricas.

Glaucogularis - a boliviana rara.











O complexo de convergência evolutiva
das Aras Ambiguus-Militaris
.



Na internet há imensa confusão entre ambas as espécies, na maioria das vezes as araras verdes são chamadas, indiscriminadamente, de A. militaris. Lendo a postagem o caro leitor vai aprender a identificá-las facilmente, inclusive em fotos. Vamos tentar explicar a confusão nas araras verdes do complexo Ambiguus-Militaris.


Distribuição da Arara-Verde Grande- A. ambiguus.


Embora não esteja entre as espécies de papagaios mais
populares, ainda é capturada para servir como animal de estimação.

De acordo com estudos de DNA realizados por Eberhard e Bermingham (2003), em indivíduos de Ara militaris e Ara
ambiguus , as populações da Costa Rica (A. ambiguus ambiguus) e Equador (A. ambiguus guayaquilensis) estão intimamente relacionadas entre si e se separaram como populações distintas muito recentemente.


Uma linda ave, acho-a a
mais bela das araras.


Esses estudos de DNA também mostraram que as duas espécies de Ara verdes aqui mostradas em proximidade comparativa, tem origens independentes dentro do complexo ambiguus/militaris. Ara ambiguus, a despeito da aparência quase idêndica, é muito diferente do ponto de vista da análise genética, não parecem ter se originado diretamente de Ara militaris, ou terem origem em ancestral comum próximo.

O verde amarelado nos demonstra, de longe,
que na foto trata-se de A. ambiguus.


Trata-se de um caso de evolução convergente: duas correntes genéticas de psitacídios, expostas as mesma condições de habitat, alimentação e predação, acabam por assumir aparências similares para enfrentar com sucesso as situações ecológicas comuns.



Ara ambiguus é de porte similar as araras coloridas,
apresenta rabo igualmente longo.


Ara militaris é de porte menor, tem cabeça porporcionalmente
menor e possui rabo mais curto.


Cabeça e bico de A. ambiguus.

Cabeça e bico de A. militaris.



Ara ambiguus é um pouco menor que as outras araras coloridas, sendo a quarta colocada em tamanho , meio que empatada com macao e glaucogularis. Já a Ara militaris é bem menor em porte, é mais alongada, é um pouco maior que os maracanãs brasileiros dos gêneros Orthopsittaca e Diopsittaca. Confundem-se em fotos, mas ao vivo são facilemte distintas quando adultas.

A. ambiguus tem cabeça e bico similares
às araras do gênero Ara.

Ara ambiguus ocorre como duas subespécies. A subespécie típica, ocorre a partir de Honduras até ao noroeste da Colômbia. A subespécie guayaquilensis ocorre de forma restrita, no oeste do Equador .


Tem jeito de arara.

Na Nicarágua, a espécie persiste nas Reservas de Bosawas , Indio Maíz e San Juan Reserva, esta deverá ser segunda maior subpopulação global. Forma com a espécie A. militaris, um complexo de taxons formado por cinco grupos populacionais de aves - 2 subespécies de A. ambiguus, e mais três subespécies de A. militaris - todas muito parecidas entre si nas fotos.




As espécies são separadas pelos porte e tamanho diferentes, e as subespécie, também pelo tamanho, somadas pequenas variação de cor. Ara ambiguus é tem um verde-amarelado - vide foto acima, enquanto militaris é verde puro, sem traços de amarelos imiscuídos. Este emaranhando de populações levemente diferentes, se espalha do norte da Argentina até o México.



A subespécie equatoriana de ambiguus foi estimada em 60-90 indivíduos em 2002, em duas populações muito separadas , mas a população continua a diminuir rapidamente e um censo realizado em 2010. Numa das duas áreas de ocorrência, encontrou apenas 8 aves , portanto em todo Equador estima-se algo em torno de 30-40 indivíduos . A maioria deles estão na região de Esmeraldas , e um número muito pequeno ainda existe na Cordilheira Chongón-Colonche, Guayas.

 

No sul da Nicarágua e norte da Costa Rica, população montou em cerca de 1.530 indivíduos em 2009. Estimativas recentes sugerem que a população mundial é certamente inferior a 2.500 indivíduos maduros (ou menos de 3.700 no total, incluindo jovens e imaturos), com a maior subpopulação estabelecida em Darién, no Noroeste da Colômbia, estimada em menos de 1.700 indivíduos maduros (ou menos de 2.500 em total incluindo juvenis).



No entanto, mesmo dentro dessa grande área de distribuição, apresenta-se de forma localizada, estando ausente em várias áreas, demonstrando especialização alimentar.
Quanto ao sucesso reprodutivo, os dados indicam que as araras verdes na Costa Rica estão aumentando, já há um número maior de juvenis do que a população adulta. Os valores de reprodutibilidade e sobrevivência medidos no projeto indicam um aumento do número de aves de cada ano, em comparação com a mortalidade natural. Assim, a população arara-verde deve aumentar, se houver habitat natural suficiente para todos. No entanto, não há nenhuma evidência científica para apoiar esta ideia.



A espécie forma grupos não-reprodutivos de mais de 50 indivíduos , possivelmente levando a estimativas infladas e ilusórias sobre sua abundância em determinados locais.




A reprodução em cativeiro não é muito complicada.



A cabeça de ambiguus é tal e qual às das grandes araras
coloridas: grande em relação ao corpo


Uma arara padrão com coloração de
jandaia ( conure ) verde.









Ara militaris tem porte e cabeça menores,
similares aos maracanãs e ararinhas.





Orthopsittaca manillata, Primolius coulonii e
Orthopsittca severa
lembram a Ara militaris
em aspecto geral.





A espécie apresenta-se dividida em os três subespécies: A. m. militaris, A. m. mexicana, e a A. m. boliviana. As diferenças entre as subespécies são leves e referem-se normalmente a pequenas variações de cor e tamanho. A subespécie militaris militaris é a menor, militaris boliviana é a intermediária e a militaris mexicana é a maior.



São três subespécies de A. militaris, estão geograficamente isoladas entre si, são três ambientes diferentes. A que tem distribuição equatorial na amazônia colombiana e equatoriana é a de maior em porte, habita florestas úmidas. As outras subespécies menores, habitam ambientes semi-áridos próximos aos trópicos.







A cabeça de militaris é menor em relação ao corpo.

Ara ambiguus tem cabeça e bico típicos de araras

A Arara-Militar habita locais semi-áridos e florestas subtropicais secas, tanto no México como na Bolívia, vive em regiões com cactos. São encontradas normalmente em altitudes de 600 a 2.600 m, áreas mais elevadas nas montanhas e platôs, onde a maioria das araras nem sempre alcançam. No entanto, esses araras podem sazonalmente voar para terras baixas, onde permanecem em florestas úmidas e bosques espinhosos. Nidificam no alto das árvores e mais frequentemente em penhasco altos, até 200 m acima do chão.


As três subespécies desta arara também mostram-se geograficamente segregadas. As populações de Ara. militaris tipo são freqüentemente encontrados em áreas do Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Ja a Ara m. mexicana habita áreas no México e a Ara m. boliviana na Bolívia e na Argentina.

Um puro verde militar, sem nuances amareladas.


A população e a distribuição da Arara-Militar vêm diminuir ao longo dos últimos 50 anos, não poderia ser diferente. A população desta espécie já diminuiu para menos de 10.000 no mundo. Esta diminuição deve-se , como sempre, ao desmatamento e à captura de aves selvagens para a indústria de comércio de animais.



A mais comum das subespécies mantida como animal de estimação
é A. m.
mexicana, podem viver por mais de 60 anos em cativeiro.










Araras híbridas criadas em cativeiro.



As araras, graças a Deus, produzem muitos híbridos férteis entre si, tal como ocorre nas orquídeas, é possível cruzar espécies e gêneros diferentes indefinidamente. Já existem híbridos comerciais de quarta geração entre essas aves, são muitas as possibilidades e seria muito extenso mostrá-los todos. O importante é que animais híbridos, fortes, precoces e muito coloridos estão sendo postos à venda. Isso significa uma menor pressão sobre as populações silvestres e mais empregos e lucros para as pessoas que os criam, e facilidade de aquisição para quem ama essas lindas cristuras. Para o observador de olhar científico, lembramos uma tendência geral na hibridização entre espécies silvestres: as espécies mais antigas costumam ser fortemente dominantes na aparência sobre as mais novas.





Lista dos híbridos mais conhecidos,  e sua classificação por número
de espécies envolvidas na hibridação:
Catalina = macao x ararauna -2


Ruby = macao x ambiguus -2


Buffwing – ambiguus x chloropterus -2


Milicinth = ambiguus x hyacinthinus- 2

Calico = chloropterus x militaris –2


Maui Sunset = ararauna x rubrogenye - 2


Miligold = militaris x ararauna - 2




Harlequim = ararauna x chloropterus -2


Bluffon = ararauna x ambiguus -2


Caloshua = ararauna x hyacinthinus –2


Jubilee = Harlequim x chloropterus –3


Camelot = chloropterus x Catalina -3
Abaixo duas fantásticas Camelots semi-albinas.

Harligold = ararauna x Harlequim - 3


Flame – ambiguus x Catalina - 3


Rubalyna = Ruby x Catalina - 4


Maui Sunrise = Harlequim x Catalina -4




Por fim cabe apresentar a triste imagens dos animais adultos e filhotes capturados na natureza e despachados pelos traficantes para vários países do mundo. Nas nações medievais da Ásia e do Oriente Médio, estas aves são facilmente comercializadas para servirem de enfeite de luxo.

Transportadas de qualquer jeito sofrem stress.
Morrem de fome e maus tratos antes de chegarem ao seu triste e estéril cativeiro. Pouco se pode fazer por elas, sua beleza encanta e a miséria dos desvalidos se encarrega de capturá-las. Não vai sobrar nada !





Há um massacre de filhotes antes destes  chegarem a ser  animais de estimação, um massacre
 movido a pobreza de muitos brasileiro que não conseguem ganhar a vida de outra forma.









juiikjhyuib qaXAQ

Este texto enigmático, acima em azul, foi expontaneamente digitado, com a língua e letra por letra, pela minha cadela de estimação, resolvi deixar a contribuíção ao blog da boa amiga que peguei na rua a 8 anos atrás. Promovi-a co-autora! Juikjiuib qa Xaq deve ser o nome do espírito dela!

Extremamente inteligente, me fez rir,
 tentando imitar a prática da digitação !





Filhotes de Papagaio (Amazona aestiva) continuam sendo capturados nos ninhos , traficados para as grandes cidades e muitos morrem, de cada quatro, apenas um sobrevive. Desgraça sem fim; indefesos e retirados ainda muito jovens do ninho, nada podem fazer contra os que desejam dinheiro fácil.

As caturritas (Myiopsitta monachus), e os príncipes-negros (Nendayus nenday)
 ainda são vistos em bandos no Centro-Oeste e Pantanal. Por quanto tempo?