VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

As Orquídeas e a Princesa Isabel - parte I - Biografia









Com reinado de Pedro II começaria a verdadeira fase 
de independência  e consolidação do Estado Brasileiro.












Chega a seu ápice
 o Império Brasileiro.



Condenado a ser exato,
quem dera poder ser vago,
ludibriando igualmente
quem voa, quem nada, quem mente,
mosquito, sapo, serpente



Que tudo passe e... 
passe muito bem .
 


Paulo Leminski


 "Quem escolhe, busca ou aceita a fama, 
ou dela vive, não tem vida privada !"


Do historiador Alberto da Costa e Silva








Alegoria ao nascimento de Pedro II - Debret.


Com um ano de idade.


Pedro I deixa o filho pequeno como herdeiro da independência e dos
 problemas do país.O menino cresceu sendo educado para
 ser um governante eficiente e de caráter.


Carta de D. Pedro I ao filho e herdeiro ainda na tenra infância:

"É mui necessário, para que possas fazer a felicidade do Brasil, tua pátria de nascimento e minha de adoção, que tu te faças digno da nação sobre que imperas, pelos teus conhecimentos, maneiras etc., pois, meu adorado filho, o tempo em que se respeitavam os príncipes por serem príncipes unicamente acabou-se; no século em que estamos, em que os povos se acham assaz instruídos de seus direitos, é mister que os príncipes igualmente o estejam e conheçam que são homens, e não divindades."
Órfãos da Nação !





Começa um processo de educação que iria moldar o caráter e o comportamento daquele que seria posteriormente chamado de " o mais ilustre dos brasileiros ". A mesma educação primorosa seria especialmente por ele ministrada às duas filhas. Em quase todas as fotos da família , seus membros deliberadamente posavam segurando livros, ou com eles ao lado, 80% dos brasileiros eram analfabetos.


D. Pedro e as irmãs Francisca e Januária
 foram órfãos criados por tutores.


As crianças foram criadas por tutores da Casa Imperial, especialmente designados para isto. Uma sucessão de tumultuadas regências sucediam-se enquanto o menino não se tornava adolescente.

 
As irmãs : D. Januária e
D. Francisca  de Bragança.

“Queremos Pedro II
Embora não tenha idade! 
A Nação dispensa a lei 
E viva a Maioridade!”




Ao fundo do rapaz imperador, vemos o antigo portal inglês
do paço, remontado hoje como portão do zoo da Quinta.







Faustosas alegorias arquitetônicas em madeira eram tradicionalmente erguidas em comemorações importantes, faltava material de construção de boa qualidade e mesmos os nobres granitos dos morros do Rio de Janeiro careciam de mão-de-obra especializada para os serviços de extração e cantaria.


 
Sim eu quero !




À coroação do rapaz de 15 anos,
as duas irmãs assistem no balcão.

Embora devesse esperar até ter 18 anos, um golpe constitucional o conduziu à coroação aos
 quase 15 anos, terminando a sucessão de regências e iniciando um glorioso reinado.


Coroado em 18 de julho de 1841.
O rapaz- imperador registrou em seu diário algo
 que lhe atormentaria por todo seu reinado:
Quanto me custa um cortejo, como mói!
Mas ele é sinal de gratidão de meus amados súditos.
Devo recebê-lo com boa cara.


O mais duradouro governante brasileiro
seria lembrado por ser moderno e  austero.

 Enquanto o jovem imperador não se casou e teve
descendência, a Princesa Imperial D. Januária
foi a herdeira do trono brasileiro.



Numa visita ao Rio de Janeiro, François D'Orléans - Príncipe de Joinville e filho caçula do Rei da França, encantou-se com a adolescente D. Francisca, então com 14 anos, mais tarde, numa visita dois anos depois, casou-se com ela. Ele deixou registrado sua visão sobre o rapaz, segundo ele tinha a altura de sua perna, ainda futuro imperador com 13 anos: " calado, taciturno e de olhar triste".


A bela Chica de Bragança e Habsburgo tinha irresistíveis "olhos de corsa ", embora não tenha causado entusiasmos de pronto, apaixonou o futuro esposo, de todos os irmãos era essa a mais bela. A outra irmã, D. Januária, casou-se com o Conde D'Áquila - irmão de D Teresa Cristina. D. Paula, a terceira irmã do imperador, faleceu com 10 anos de idade, provavelmente vítima de meningite.


Esse "encontro casual no Rio de Janeiro" já teria sido arranjado entre as diplomacias  brasileira e francesa, o príncipe tentava, aos 22 anos, esquecer uma antiga amante, uma atriz que o trocara por um filho bastardo de Napoleão. Dizem os cronistas que D. Francisca apresentava um tipo físico, e principalmente um rosto, bastante similar à antiga paixão, e como tempo, ele, por fim, passou a se interessar cada vez mais pela princesa brasileira.
 O príncipe , a bordo da fragata La Belle Poule, encarregou-se de levar de volta à França
os restos mortais de Napoleão. Da Ilha de Santa Helena até Paris, com direito
a namorar no Rio de Janeiro, antes de embarcar o esquife
para a câmara ardente até Paris.

A Condessa de Barral foi primeiramente contratada para adaptar a linda, porém completamente "selvagem", Chicá - em francês pronunciava-se assim- às elaboradas exigências de etiqueta da refinada corte francesa. A viagem da princesa de Bragança para Paris, acompanhada do casal Langsdorff, embaixadores franceses no Rio, e as suas inúmeras gafes de comportamento, estão cuidadosamente descritas em documentos da época. A região de Joinville- SC, fazia parte do dote de seu casamento, daí o nome com o qual ficou posteriormente conhecida, o casal principesco passou a ser proprietário dessas terras, todavia, nunca lá estiveram.



Chamada por um cronista 
 francês de : "Ave-do-Paraíso"

A jovem princesa brasileira era de grande beleza.

 "Generala" Chicá: uma selvagem princesa
 brasileira na corte de Paris.

Para a impactar a apresentação da brasileira à corte francesa , a condessa de Barral, num audacioso arroubo vanguardista, apresentou-a durante um baile, inesperadamente, condecorada com a faixa e a Ordem do Cruzeiro do Sul. Parecia uma linda "generala", segundo um comentário de um cortesão da época, fez sucesso pela beleza e pelo exotismo, suas gafes e vexames de etiqueta não foram poucos.

A Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul sobreviveu ao fim
da monarquia e ainda é a principal condecoração brasileira.


Esse tipo de honraria era normalmente usada na indumentária masculina, porém a linda jovem de 19 anos, com seda preta e as insígnias da monarquia brasileira, quebrou o tabu e fez moda. A Barral era expert em comportamento social e sempre muito competente, como a história bem registra. Mais tarde seria indicada e requisitada para educar as duas princesas brasileiras, sobrinhas da princesa de Joinville.


Num golpe constitucional, destinado a acabar com as conturbadas Regências, declaram o rapaz maior de idade aos quase 15 anos. Começou assim a ser Pedro II, reinaria 49 anos e consolidaria o Brasil como nação continental coesa, ampliaria o território nacional com a Guerra do Paraguay e fez marketing internacional muito positivo como imperador-cidadão ilustrado. Foi o oposto do pai em quase tudo, foi especialmente educado para ser assim. Nada há de sério que macule sua biografia.

Invariavelmente representado nesta época ostentando o colar da prestigiosa Ordem do Tosão de Ouro da Espanha , a que apresenta um cordeiro suspenso. Nela somente são recebidos os soberanos e mandatários, príncipes de sangue real, e raríssimos ministros e outros grandes dignitários de ilibado merecimento, um inequívoco indício da origem e do reconhecimento externo de um príncipe reinante. De todas as condecorações que Pedro II possuía, era esta a que ele mais gostava, ele a usou no Baile da Ilha Fiscal, em 1889, sua última aparição solene antes de ser destronado.


 
O proeminente "queixo caju" seria
escondido por barba eterna !


Rugendas retratou-o ainda jovem, aos 20 anos, e já associado às plantas e a
 natureza tropical , era o jovem imperador das selvas do sem fim.


Seus traços físicos e caráter eram claramente mais próximos aos da família austríaca
 de sua mãe. Tal como ela, era a dignidade encarnada, além de
 apresentar a mesma forte paixão pelas ciências naturais.


Assumiu o trono e suas responsabilidades aos quase 15 anos, situação delicada para um adolescente criado apartado de contatos externos não selecionados e sem família na qual pudesse se referenciar. Tímido e inteligente, em pouco tempo passou a usar barba, para parecer mais velho, sério, professoral e também para disfarçar o prognatismo - mandíbula um tanto proeminente - na época chamavam de "queixo caju". Tornou-se um barbado/barbudo convicto, entediado, cultíssimo, sempre retratado com um livro na mão, disfarçando as aparências do poder que de fato tinha. Era esse o estilo pessoal do imperador das selvas, fez de tudo durante seu longo reinado, menos a barba! É muito difícil criticá-lo, ou não gostar dele!


Casou-se por procuração, aos 18 anos, com D.Teresa Cristina, uma remota princesa napolitana, quatro anos mais velha. Era filha de uma irmã de D. Carlota Joaquina, a avó paterna do imperador, esta havia casado-se com o Rei das Duas Sicílias ( entenda como a Itália do Sul ) .


Suas descrições bem juvenis - com 16 e 17 anos -  mostram-no como um rapaz de boa compleição, era alto, elegante e mesmo bonito; depois do casamento ganharia peso e se tornaria progressivamente cada vez mais "velho". 



A procura por princesas nas mais significativas casas reinantes europeias mostrou-se decididamente infrutífera. O Brasil era distante, isto implicava em afastamento familiar e o pretendente ainda era considerado "pobre". As barbaridades infligidas por D. Pedro I à D. Leopoldina ficaram famosas na Europa, como exemplo de perigo na "exportação" de princesas de bom berço para países distantes.


Logo após a adolescência transformou-se num barbado
 inveterado: "fez de tudo na vida, menos a barba !"



O jovem imperador de 22 anos em meio a gola de papos de tucanos . Alto, tímido, pernas e voz muito finas e com forte tendência ao sobrepeso em ação, a partir dessa fase não seria uma figura propriamente elegante. No inicio de seu reinado, seguindo a tradição dos Braganças, era retratado com a coroa e o cetro ao lado de si, numa mesa, as regalias da casa real portuguesa  eram raramente usadas ou retratadas diretamente sobre os reinantes.

Um Império remoto, distante e perdido nas selvas do sem fim.


Só no secundário e pouco prestigiado ramo Bourbon napolitano houve reciprocidade, devido à abundância de princesas não muito atrativas e relativamente pobres . As realezas europeias negaram suas princesas de primeira e segunda linha para o reino das selvas ! Mais tarde por coincidência, mas parecendo uma maldição, o "brasileiro" Giussepe Garibaldi, um dos unificadores da Itália, seria responsável pela deposição e exílio dos "Borbone di Napole" do trono das Duas Sicílias. D. Teresa é até hoje uma desconhecida, sendo muito pouco citada na história italiana, tanto lá como aqui faltam fontes e registros aprofundados sobre ela. A casa real napolitana seria uma das mais prolíficas da Europa, famosa pela alta disponibilidade e pela pouca beleza de seus príncipes. Portanto a sua falta de atributos físicos e elegância da imperatriz não era singular ou única em sua família real. Os Braganças também não eram muito diferentes, bonitos foram D. Pedro I e sua filha D. Francisca, além do que essa beleza de ambos foi apenas juvenil, acabado-se antes dos 30 anos.


"Me enganaram Dadama !!! "
Assim se lamentou com a preceptora que o criou como mãe, 
ao perceber a diferença entre os retratos e a realidade
 física da imperatriz que o navio trouxe de Nápoles.


Mandaram-lhe alguns retratos, para uma necessária prévia avaliação , há indicações contraditórias sobre essas imagens, talvez a retratada fosse uma irmã de D. Teresa, mais abaixo estarão dispostas essas imagens para a avaliação pessoal do leitor.


Ele gostou dos retratos apresentados, era tímido com mulheres e teria sido iniciado sexualmente por uma dama designada , madura e de boa estirpe, especialmente escolhida e plantada no cotidiano do paço para essa necessária iniciação. Talvez por isto ele tenha sempre apreciado as mulheres finas, cultas, vistosas, experientes e mesmo que mais maduras. O clássico historiador Tobias Monteiro inventariou informações sobre este delicado e interessante assunto, provavelmente seja esta a origem dessa versão que aqui registro.




A sexualidade do jovem imperador era uma questão de Estado, entre outras funções de imperante, ele teria que reproduzir biologicamente o governo, deve ter sido tratada de forma muito bem cuidada e articulada por seus tutores, dentro dos limites do Paço de S. Cristóvão.






Brasão do Reino Bourbônico
das Duas Sicílias




Antigo Palácio Real de Nápoles visto do mar e em detalhe,
foi neste reino que apareceu uma princesa disposta a enfrentar o destino brasileiro.

A fragata Constituição trouxe a nova Imperatriz e seu irmão o Conde D'Áquilla, aqui ele se interessaria pela princesa irmã do imperador, voltaria uma segunda vez, e por fim casaria com D. Januária, a irmã mais velha de Pedro II. O duplo casamento mostra a dificuldade histórica da diplomacia brasileira em casar membros da família imperial, foi difícil casar a ambos, o Brasil era mal visto e  de sua Casa Imperial era considerada modestíssima em aparato e especialmente longínqua. D. Francisca, a outra irmã, teve um enlace mais rápido e natural, devido principalmente a sua grande beleza juvenil.


O casamento régio foi por procuração, acima retratado já no Brasil, o Conde
 Syracusa representou o jovem monarca, pelo que li, realizou-se numa capela
 Palatina, ou no Reggia di Portici em Nápoles, ou então na do Reggia di Caserta.

 Todavia o altar retratado no quadro da casamento é o da Capela
 do Palácio Real de Nápoles, este já mostrado mais acima.


A princesa, já casada por procuração, chegada ao Brasil, não lembrava em nada aquela dos retratos. Com Luís XVI e Maria Antonieta foi o mesmo, ela se assustou ao ver um noivo tão diferente dos retratos. O imperador sempre foi discreto em emoções, mas ao vê-la fumegou como o Vesúvio na imagem abaixo! Queria mandá-la de volta de toda forma! Constrangida e sabedora do engodo estabelecido, ela já esperava essa reação, chorou muito com a confirmação da rejeição aguda. Ela seria um peso para ele até o fim de seus dias, respeitava-a muito, só isso. 

 
 Medalha italiana comemorativa ao
enlace das duas casas reinantes.

Cabe ressaltar que o problema da falta de atributo físicos com relação às consortes já havia ocorrido com a mãe de D. Pedro II, a imperatriz Leopoldina da Áustria, também completamente fora das expectativas físicas de Pedro I. Podemos atribuir sua morte aos 29 anos, também a este problema de falta de beleza, charme e elegância, ela foi severamente humilhada e desmerecida por isto, deprimindo-se e por fim, falecendo em grande desgosto. Com D. Teresa o quadro não foi tão agudo, mas foi algo similar, outras mulheres percebendo sua falta de atributos e presença, ocuparam com sucesso o espaço vago no emocional e no erotismo do imperador. Fazia parte das obrigações monárquicas aceitar o arranjo de casamento de Estado, no caso do Brasil, as duas imperatrizes que aqui considero, não estavam fisicamente à altura do cargo, eram muito deselegantes e não teriam encontrado casamentos com monarcas reinantes em nenhuma outra casa da Europa. Foram despachadas para o Brasil porque este destino já estava muito além de suas parcas possibilidades, eram de segunda linha, teriam se casado muito secundariamente com nobres europeus. Também temos que expor que se havia o dever  do monarca aceitar o casamento arranjado, e também o de produzir prole para a descendência, havia o privilégio, de preferência discreto, de se ter quanta amantes fossem desejadas, era tácito e  aceito como um direito compensatório em todas as casa dinásticas.
 

“A mulher que lhe tinham arrumado era quase quatro anos 
mais velha, de cultura modesta, baixinha, sem beleza, e manca” 
(DE CARVALHO, 2007, p.52).  



Acima um retrato atribuído à D. Teresa, a faixa com a condecoração é a do Cruzeiro do Sul, indicando ser da época do casamento, todavia pode tratar-se de Carolina, sua irmã um ano mais velha, muito parecida com ela no tipo físico, porém bem mais graciosa.


Carolina de Borbone - irmã de D. Teresa.
Seria da irmã o rosto nos retratos atribuídos à futura imperatriz ?

Acima as ilustrações da imperatriz antes de chegar ao Brasil, na primeira ela usa no peito um retrato do jovem D. Pedro II. Ao ver a esposa pela primeira vez, ainda no navio que a trouxe, passou até mal, o imperador-rapaz sentiu-se ludibriado.



D. Pedro foi descrito por um membro da comissão napolitana 
acompanhando a princesa como : "Alto, louro, de porte 
delicado, elegante ainda nas cores da juventude"

Como já estava casado no papel, situação indissolúvel na época, passou a tratá-la com glacial indiferença. Só depois de ser sutilmente incentivado a cumprir o seu dever de Estado e de dar continuidade à dinastia passou a ver o problema de forma menos visceral. Mesmo assim relutou no possível, em determinado momento do seu calvário nupcial, depois de muitos meses, D. Teresa desconsolada e em prantos pediu-lhe dignamente para que fosse devolvida aos seus pais; esse ato tocou o coração do jovem imperador e por fim aceitou-a.

Porcelana comemorativa do casamento.

Meses depois do primeiro encontro, o enlace por fim consumou-se, o jovem imperador realmente sentiu-se enganado na condição de homem e monarca, a situação o ofendeu bastante. O problema não era apenas físico, poderia ter compensação em amantes, e as teve, mas para cativá-lo era preciso personalidade, cultura e inteligência. E a simbologia física e intelectual da imperatriz não era a adequada ao que ele imaginava como uma consorte a sua altura, contudo, teve uma vida familiar sem problemas e quando ela faleceu, chorou com profunda emoção sua perda; chamou-a de "minha santa".



Teresa Cristina Maria Giuseppa Gaspare Baltassare Melchiore Gennara
Francesca de Padova Donata Bonosa Andrea d'Avelino Rita Luitgarda
Geltruda
Venancia Taddea Spiridione Rocca Matilde

Ela não pertencia a esse tipo mais incisivo, trigueiro e brilhante, mas tinha muitas outras qualidades. D. Teresa cumpriu seu dever, deu-lhe filhos, foi discreta, humilde, engoliu quieta a Barral e as muitas outras; e sempre o amou. Parte-se do princípio que ela o amava, era muito ciumenta, mas talvez isto não seja tão lógico quanto parece... caso a se pensar! Ela tem a biografia mais limpa e discreta de toda a família imperial dessa época, manteve uma respeitabilíssima conduta.

Uma década após sua chegada, seu pequeno
porte foi retratado por Pedro Américo.

Houve uma clara intenção do Rei de Nápoles - irmão de D. Teresa - em casar Carolina ou Teresa com Pedro II, há rumores de oferecimento de propinas ao embaixador brasileiro. Este foi muito mal recebido em Viena e em outras capitais onde procurou por esposas, o dote da princesa napolitana era pequeno, mas o comércio entre os dois reinos era intenso na época.


Busto da jovem imperatriz napolitana.

O embaixador brasileiro designado para o firmar o acordo de casamento, informou mais tarde que a única vez que avistou a princesa napolitana ela estava e permaneceu sentada, disfarçando assim a altura e o defeito no andar, considerou-se muito estranho a falta de registro burocrático sobre o evidente defeito físico da imperatriz.



Acima a Infanta Espanhola Maria Isabella, a mãe de D. Teresa Cristina, também uma irmã 18 anos mais nova de D. Carlota Joaquina, avó de Pedro II. Seu tipo físico era similar ao da filha-imperatriz, suas pernas eram notoriamente curtas e todas as suas cinco filhas herdaram esta característica. A Princesa Isabel ao conhecer sua tia Antonietta na Europa, registrou em carta ser ela muito parecida com sua mãe. As princesas brasileiras, D. Teresa e irmãs, formavam um grupo de mesmo tipo físico. O contraste da imperatriz com a altura do imperador de pernas finas e longas era gritante. D. Isabel, incentivada pelo esposo, lutava sem muito sucesso contra o sobrepeso e isso ficou registrado em sua correspondência. Ao morrer a princesa orquidófila estava obesa e sofria de insuficiência cardíaca, tal como a mãe. "O imperador era “bom de garfo”, comia muito e depressa, e adorava doces, especialmente os de goiaba. Em 1868, em visita a Campos, a princesa Isabel encomendou dois tipos: as goiabas recheadas para sua mãe e a goiabada de tijolos em folha de banana para o pai. Estavam entre as preferências dele, o mel, o peixe e a canja de galinha. Já a princesa Isabel tinha predileção pelos doces de ovos, sorvetes e bolos, especialmente, o pão de ló. Ela “comia com os olhos”, deleitava-se com os alimentos. Dizia “regalei-me com os morangos”. E entregava-se aos prazeres do vinho nas noites frias de Petrópolis: “chegou uma enorme provisão de vinho e contamos de esquecer os tormentos da solidão entregando-nos às delícias de Baco”. De um artigo de Maria de Fátima Moraes Aragon - Comida de princesa, balança de plebeia - na Revista de História.





Também obscura e quase 
desconhecida na cultura italiana.








Seu comportamento foi sempre irretocável, sua personalidade sempre discreta.
Todavia sua biografia constitui uma grave lacuna na historiografia nacional.

Acima D. Teresa em diferentes fases da sua vida, sempre "silenciosa" e discreta como uma "sombra", palavras que se repetem nos estudos sobre sua biografia. Sua historiografia é estranhamente escassa tendo em vista as décadas de reinado, predominando sobre ela os aspectos derivados de sua personalidade pública, muitas vezes estereotipados. Não deveria ser tão dócil como a imagem oficial e histórica tenta nos passar, brigava com o marido e com as filhas e seu gênio não era tão passivo como inicialmente tendemos a acreditar.




D. Pedro II assinava " imperador", com freqüência pedia a sua consorte para
reescrever suas cartas, isto devia-se a linda caligrafia de D. Teresa, ele tinha
uma letra corrida e inclinada ruim e muitas vezes ilegível .





A distinta caligrafia de D. Isabel, assinando como Princesa Imperial ou
como Condessa D'Eu, uma mistura dos estilos de seus pais.



Depois de destronado passou
a assinar "Pedro de Alcântara".


Teresa Cristina chegava a dar beliscões no marido quando, nos camarotes dos teatros, percebia-o observando, de binóculos, as mulheres do palco e da platéia! Pobre D. Pedro , sua vida familiar seria cheia de outros desgostos, todavia a imperatriz não lhe deu muito trabalho, cumpriu sua função com galhardia. Era uma imperatriz-consorte, não poderia suceder o marido no poder, muito menos tornar-se regente temporária, de acordo com a Constituição Imperial, era tão somente esposa do imperante e necessária mãe de príncipes imperiais, sem acesso ao poder moderador ou a outro nível de decisão de Estado.





 
 

O caráter eminentemente benigno fez dela uma respeitabilíssima
 imperatriz-consorte, como foram também suas antecessoras.



  Depois de madura a irmã Caroline também não se mostrou fisicamente muito
 diferente de D. Teresa Cristina, a família do Borbouns napolitanos e
espanhóis era notória pela aparência sofrível.

Príncipe de Capua e esposa, também
 irmão de D.Teresa Cristina.

O epíteto de " Mãe dos brasileiros " é artificial, mas até cabível sob certo aspecto, comportava-se como uma dócil dona de casa. O Visconde de Taunay registrou seu encanto ao chegar Paço de S. Cristovão, e ouvir, já de longe, uma linda e educada voz entoando uma ária de ópera italiana. Era a imperatriz, teve ímpetos de aplaudir a cantante, também se acompanhava ao piano durante o belo cantar. Sabemos pouco sobre ela, mas os comentários esporádicos de seus familiares nos mostram um gênio, forte contido e até um tanto dissimulado. Sua filha Leopoldina incomodava-se com ela, bem como com sua aia, a Condessa de Barral, e ela por sua vez não apreciava o modo de ser de nenhuma das duas.



Em 1860 , com a Unificação da Itália, houve a dissolução do Reino de Nápoles e Duas Sicílias e a família de D. Teresa Cristina foi deposta, passando a reinar na nova Itália a Dinastia de Savóia - Sardenha. Quando a imperatriz voltou à Nápoles, décadas depois, assustou-se pois já não encontrou amigos ou vestígios emocionais ligados ao seu passado. Após a deposição de sua família, cresceu muito a pobreza da ex- capital bourbônica e muitos napolitanos se viram obrigados a emigrar para as Américas.


  Palácio Reggia de Caserta em Nápoles - D. Teresa di Borbone era filha e irmã de
Reis das Duas Sicílias. Todavia a imperatriz foi criada longe do luxo de
Caserta sempre foi uma princesa simples e discreta.




Sala do Trono no Palácio Real de Nápoles, mais luxo nestas
 construções que em todo império brasileiro.



Link
Luigii D'Àquilla - irmão dois anos mais novo da imperatriz
 - quase Imperador da Bolívia e do Alto-Peru.


Curioso e interessante detalhe histórico muito pouco comentado sobre a vida de D. Januária: seguindo o modelo mexicano de monarquia, os Condes D'Áquila foram formalmente "convidados " para serem os "imperadores" da Bolívia-Alto Peru, logo após a independência dessa antiga colônia espanhola. Todavia, logo em seguida, o novo país tornou-se uma república e o convite foi suspenso.Também Solano Lopes pensou em transformar-se em "imperador" do Paraguay, chegando a sondar a possibilidade de casar-se com uma das princesas brasileiras, enfurecendo seriamente o imperador. O rancor pessoal nutrido pelo imperador por esse ditador durante a Guerra do Paraguay, teria originado-se dessa ousadia paraguaia de sondar um casamento com a princesa brasileira.


O ambicioso cunhado de Pedro II cogitou poder reinar no Brasil como consorte da D. Januária,
no caso do impedimento do jovem imperador. Um observador inglês da época, 
chamou-o de : salafrário e ruidosamente mal educado.

Cumprindo os desígnios constitucionais , a herdeira do trono era D. Januária, o Condes D"Áchilla residiram no Brasil até o nascimento do primeiro filho de Pedro II. D. Teresa Cristina não poderia reinar, era apenas consorte ! Durante este curto período, seu irmão, e cunhado do imperador, criou intrigas, tentou enriquecer com negociatas e por fim, parece mas não há certeza plena, ameaçou o curso dos acontecimentos dinásticos e criou grande animosidade com Pedro II. Uma das principais problemáticas surgidas foi a designação de algumas salas do Convento Carmelita, construção esta que ainda continuava unida ao antigo Paço Imperial  desde o tempo da chegada de D. João VI. Estes bem mobiliado apartamento fora originalmente habitado pela rainha D. Maria  I de Portugal - A Louca, todavia os aposentos foram considerados como indignos pelo novo par imperial. Enquanto D. Pedro II não tivesse filhos, D. Januária e o esposo eram os herdeiros constitucionais do trono e não poderiam abandonar o país.   Com os sucessivos aborrecimentos entre o imperador e o cunhado, aconteceu um rompimento de relações, foi-se então o casal D' Áchilla do Brasil, contrariando a Constituição, mas gerando um alívio geral, não mais retornaram. Colocada uma nau militar brasileira para conduzi-los à Europa, declinaram, preferindo ir numa fragata francesa, a situação só se normalizaria décadas depois.

Daguerrótipo de 1850: o imperador - "já velho" -
 aos 26 anos de idade.

Talvez a mais bela de todas as imagens e fotos da
 Imperatriz, em cerca de 1876, aos 50 anos.


Embora geniosa, D. Teresa era marcadamente simples e bondosa, seu gênio a tudo amenizava. Cozinhava pessoalmente o macarrão para a família; tinha boa voz e cantava bem. Ela era muito querida por seus assistentes, impunha um bom juízo do caráter aos visitantes e cortesãos. Mostrava-se despretensiosa, generosa e uma mãe e avó amável. Ao contrário de sua tia Carlota Joaquina e de sua mãe, sempre vestiu-se e agiu modestamente, apenas usava suas jóias nas ocasiões de Estado, todavia sempre pareceu ser um pouco triste e melancólica. Apreciava em especial a arqueologia, tendo promovido escavações em sítios etruscos nas suas propriedades na Itália. Trouxe no dote de casamento alguns bons objetos das escavações de Pompéia e Herculano.

Maria Cristina - Rainha de Roma e Sardenha - esta tia, do lado paterno da imperatriz, faleceu em 1849, deixando-lhe como herança sítios arqueológicos etruscos e romanos próximos a cidade de Veio. A partir da década de 50, escavou-se por décadas nestes sítios, peças destas escavações particulares de D. Teresa foram enviadas para o Rio de Janeiro.


Antigo Museo Reale Borbônico de Nápole.

Remetia artefatos indígenas brasileiros ao Museo Borbônico como forma de contraponto. Esse espólio arqueológico, bem pouco vistoso no seu conjunto, correlaciona-se com a imperatriz e é a melhor mostra desse tipo existente no Brasil, está abrigado no Museu Nacional, causando grata surpresa até hoje. Mais um exemplo da cultura do colecionismo de peças raras, então vigente entre a aristocracia.


Nesta foto, ao lado da imperatriz, D. Leopoldina está muito parecida
com o pai; barba , uniforme e livro na mão.... ficaria igual.


D. Isabel também tinha características semelhantes à mãe: era muito católica, gostava da vida doméstica, de música, de comer o apetitoso feijão brasileiro e de ser mãe. Ao pai puxou a forte dignidade, a postura discreta e a paixão pela natureza, até o fim da vida registrou, em seus escritos e fotos , seu apego às plantas e aos animais.



Acima e abaixo: Afonsinho - primogênito falecido aos 2 anos de idade,
retratado com a faixa azul da Ordem do Cruzeiro do Sul e cercado
de plantas tropicais, com a Serra dos Órgãos ao fundo.



D. Pedro deixou por escrito, todo orgulhoso, sua satisfação pelo o filho já ter começado a balbuciar as primeiras palavras; seu desaparecimento provocou imensa dor no pai, o menino era muito parecido com ele. Foi vítima de cinco horas seguidas de convulsões talvez derivadas de febre amarela, falecendo em 1847, mesmo ano em que nasceu a princesa Leopoldina, o menino provavelmente tinha a mesma epilepsia herdada pelo pai  do avô paterno .



Berço do príncipe D. Afonso.



Príncipe Afonso - 1845.

As crianças muito pequenas usavam saias , era a roupa típica para essa idade, independente do sexo. Reparem em outras fotos abaixo esse mesmo detalhe em outras crianças. À D. Isabel , nascida em 1846, restou apenas uma irmã, um ano mais nova: D. Leopoldina Cristina.


A Imperatriz com as duas filhas e
com seu derradeiro filho no colo.


Poemas e lamúrias dariam tom ao falecimento do pequeno príncipe
 imperial, a " maldição dos Braganças" mais uma vez mostraria
sua força, ceifando a vida de mais um primogênito.






Após às duas meninas vingarem, a imperatriz engravidou novamente e dessa gestação nasceu um outro menino, Pedro Afonso, também este faleceria com convulsões antes de completar dois anos de vida, num mês de janeiro tórrido em 1850. De novo o calor da fazenda Imperial de Santa Cruz ceifava a vida de uma criança imperial, o último filho varão de Pedro II faleceu da mesma forma que um irmão do imperador - Pedro Carlos - ambos foram com pouco mais de um ano de idade para a tal fazenda e lá faleceram súbita e inesperadamente.

Um detalhe que a imagem acima mostra muito bem , a murça do manto imperial
herdado da coroação de Pedro I foi elaborada por índios da Amazônia e era
 constituída de peles do pássaro galo-da-Serra, mais tarde seria
substituída por uma nova murça de papo de tucanos.

Galo-da-Serra
( Rupicola rupicola ).

Pedro II lamentou o falecimento de mais um filho varão num poema onde falava do desaparecimento " da flor de seu futuro", lamentava profundamente o acontecimento. Também parece que culpou a a imperatriz napolitana pela falta dos devidos cuidados com o importante rebento.O falecimento precoce de crianças era comum nessa época de poucos recursos medicamentosos, nem a elite escapava da mortalidade infantil, qualquer diarreia infecciosa era suficiente para abater uma criança.Um famoso historiador americano relata uma impressão muito sagaz: com o desaparecimento dos dois meninos também desaparecia a ideia de continuidade futura do Império Brasileiro; a falta de filhos varões favoreceria, mais tarde, a concepção da República.


Após o falecimento de seus dois filhos varões, passou a agir
involuntariamente como D. Pedro II - O Último.


A partir deste último falecimento, muda bastante o ânimo do imperador e desaparece do seu particular horizonte sucessório qualquer possibilidade séria e viável, ele passa a evitar discutir o assunto. A etiqueta da corte e as cerimônias oficiais minguariam ainda mais chegando ao mínimo, o aparato imperial entra e declínio, mostrando que o desanimado monarca não via sua sucessão. Todavia valeria o que estava disposto na constituição e ele em nada poderia interferir: a princesa Isabel era a sucessora legítima ! Contudo, ela jamais seria educada e configurada para a função sucessória, tampouco despertou interesse por conta própria, de uma forma um tanto tácita, ficava claro que a monarquia findaria ao término de seu reinado ou de sua vida.


Sobreviveram apenas as duas irmãs, como a constituição brasileira não previa a sucessão apenas por varonia - Lei Sálica, D. Isabel tornou-se a herdeira presuntiva do trono e potencial futura imperadora ( imperatriz é a esposa consorte ). Todavia ao imperador, profundo conhecedor da sociedade da época, restou sonhar com a possibilidade de netos sucessores !


Vista lateral e dos fundos do Paço de São Cristóvão mostrando também
 várias construções secundárias a sua volta, era como uma grande fazenda.



Vista frontal do Paço em 1862, a torre da capela imperial sinaliza
os pontos de vista diferentes.


A casal imperante em 1861.

Depois da quarta gestação, D. Teresa, então entrando faixa dos 28 anos, parou de engravidar , ao mesmo tempo D. Pedro, com mais de 25 anos, passou a se sentir mais seguro e social. O casal tinha uma vida sexual bem regular como mostraram as quatros gestações seguidas da imperatriz.


Não sabemos se por problemas ginecológicos dela ou se por fim da vida íntima do casal, mas algo aconteceu, o que já era frio regelou-se para sempre. Pela idade, deveriam ainda ter tentado outras gravidezes que pudessem trazer outro varão para o quadro da sucessão do império.

 O Imperador e seus Ministros visitam um hospital
 durante um surto de cólera.

D. Teresa teve partos normais, na época era absolutamente comum ter-se muitos filhos, e mesmo perder algumas crianças, ela jamais se negaria a gestar mais príncipes brasileiros. Paira um silencio histórico sobre essa misteriosa interrupção, a república brasileira nascia junto com o fim das gestações da imperatriz napolitana. O que registrou-se  sobre esta fase do casal foi o aborrecimento do imperador com alguma possível negligência da imperatriz no falecimento do derradeiro filho, e aborrecimentos da imperatriz com as primeiras traições do imperador numa fase de jovem-senhor, por volta de 1850.


 A fase de galã romântico começou por volta dos 25 anos,  acima ele tinha 23 e já era pai várias vezes, após o casamento imperador ficou sexualmente bem mais seguro e incisivo. Já bem mais velho, ainda se apaixonava fácil e platonicamente por mulheres bonitas, elegantes e refinadas. As mulheres dignas de sua atenção podiam ter estas características isoladas, ou somadas, era um romântico típico do seu tempo, ele amava com uma calda de idealizações e sonhos.



A Condessa de Villeneuve.

Durou algum tempo o caso com a Condessa de Villeneuve, e foi pontuado com encontros em que o erotismo falava alto: “Que loucuras cometemos na cama de dois travesseiros!” Ou, “Não consigo mais segurar a pena, ardo de desejo de te cobrir de carícias”, escrevia D. Pedro em bilhetinhos enviados a Anne de Villeneuve. A imperatriz napolitana cuidava das princesinhas e ele das amantes.


 Filho de Pedro I, não poderia ser diferente, mas era discreto, no possível que a discrição permite nestes casos. Fez como tantos outros monarcas, cumpriu sua missão de procriar no casamento de Estado, após a missão cumprida, relaxou um pouco e divertiu-se conforme a natureza de seus sentimentos assim reclamou.


Um dos interesses de Pedro II com 26-27 anos, chamava-se Mariquinha Guedes - filha do Visconde de Maranguape. Em 1852, surgiu outra atração feminina: a viúva Navarro, belíssima criatura, por quem um desesperado pretendente recusado, cortou o próprio pescoço. 


Cumprida a função protocolar e carnal de gerar  a sucessão ele foi se divertir, seu diário nos conta de como era infeliz, foi se divertir, eu em seu lugar e com essa idade também iria. Depois se encantaria pela refinada e aristocrática postura da Condessa Barral, perto do comportamento de seu pai, foi um discreto gentleman em matéria de infidelidade.Com sua fina educação francesa, a condessa de Barral, horrorizou-se com as maneiras toscas do imperador que então visitava a Europa: "O senhor Alcântara tem dois defeitos insuportáveis: é egoísta como ninguém e cabeçudo como todas as mulas do mundo". Opinião bem abalizada , de quem conhecia muito bem o tal do Sr. Alcântara.

D. Tereza posando e as duas meninas princesas
brincando ao fundo - só as cabeças de fora.

Com o tempo D. Pedro tornou-se cada vez mais entediado, divertia-se nos bastidores
 imperiais com mais e mais viúvas e atrizes, sua correspondência é
farta dos seus arroubos românticos.


Em algumas cartas, as endereçadas à Barral, ele divertidamente referia-se à imperatriz como " alguém". "Alguém" era muito ciumenta, rondava e tudo percebia sem nada transpirar, " alguém" confiava no poder do passar do tempo. E ao final lá estava ela ainda enquanto as outras já haviam desaparecido ! O Conde de Gobineau , emissário diplomático francês e um amigo-confidente do imperador, descreveu assim o seu personagem Jean-Théodore ( inspirado em PII ), filho do Rei D. Pierre, no livro Les Pléiades: ...sua mulher lhe pesava. Isso, para ele, era uma grande infelicidade...a contentar-se com pouco, a não pedir mais do que uma amizade muda benévola".Viveria inteiramente tranqüilo em minha consciência, se meu coração já fosse um pouco mais velho que eu; contudo respeito e estimo sinceramente a minha mulher do diário de Pedro II  em 1861-62.


 Mais de 1,90 m de altura e ainda magro,
mostrava-se então vistoso e elegante.
 

As princesas irmãs não eram belas, não era esse tipo de sedução o mais notável nelas, o encanto surgia da discrição e da excelente educação, de fato impressionavam. Embora Gaston tivesse achado a cunhada " ainda mais baixa e atarracada ", era essa princesa a mais bela das duas, beleza formal não era o forte de D.Isabel. D. Leopoldina está muito graciosa de bailarina na interessante e realista pintura acima



Assinatura de D. Pedro II.






O pai a chamava carinhosamente de : "matraquinha".

D. Isabel sempre mostrou-se elegante, doce e devotada.


D. Leopoldina era uma linda menina, tinha humor agudo e gênio forte.


Boneca de luxo de D.Isabel

As irmãs de roupas escuras e uma amiga no Paço de S. Cristóvão.

D. Pedro II atormentava as filhas recomendando livros e mais livros para a leitura, às vezes,
radicalizava e ele mesmo lia em voz alta em sessões prolongadas, sempre teve este hábito.

As princesas eram praticamente reclusas, as amigas
 vinham visitá-las em S. Cristóvão.




D. Isabel pré-adolescente com as amigas, na árvore 
está Dominique, o filho da Barral.



D. Isabel tornando-se adolescente, ao fundo uma pintura tropical com várias plantas e
o Pão-de-Açúcar. Já nas fotos dessa época surgem apologias às selvas brasileiras.



Linda princesa !


A irmã mais nova tinha personalidade diferente.



Pedro II em 1862.

A Barral, juntamente com outros mestres bem selecionados, capricharam no polimento social e educacional das moças. D. Pedro colaborava amplamente com a educação das filhas e também ministrava-lhes aulas . Gostavam da condessa, mas as aulas do imperador-pai eram "maçantes", ele sempre foi deliberadamente "velho".



A visita do primo trágico.


O futuro imperador do México, Maximiliano Habsburg e sua consorte Charlotte da Bélgica, estiveram em visita ao Rio de Janeiro em 1860-61. Já em 1859, havia sido convidado por membros da elite mexicana e motivado pela França a assumir a Coroa Mexicana, creio que veio ao Brasil ver as condições monárquicas vigentes neste outro país tropical, e em seguida animou-se a por a trágica coroa mexicana em sua cabeça.  Seu primo D. Pedro II e esposa estavam em viagem ao Nordeste e distantes da capital, levou ótimas impressões das duas raparigas princesas, estas supervisionadas pela Barral, ofereceram entretenimento tocando música e dançando numa competente recepção. 


 A Coroa Imperial do México.



Os navios se cruzaram na altura do Espírito Santo, quando se encontraram, o imperador vinha da Bahia e eles retornavam à Europa. Mais tarde este casal aceitaria imperar no México, experiência trágica que terminaria com o fuzilamento dele em 1867 e a consequente perda da sanidade mental da imperatriz Charlotte.

Execução sumária, junto com dois dos seus generais,
a segunda monarquia americana acaba mal.
O corpo embalsamado foi devolvido aos parentes em Viena, ele pagou em ouro aos soldados para que não atirassem em seu rosto, de modo que sua mãe ainda pudesse vê-lo mais uma vez, mesmo que embalsamado. Embora os mexicanos republicanos tivessem recebido pedidos de clemência do papa, de várias casas reinantes e intelectuais europeus, nada pode conter a execução do infeliz Maximiliano. Antes de receber os tiros fatais disse: "Eu perdoo a todos, e espero que todos me perdoem. Que o meu sangue, que está prestes a ser derramado, seja para o bem do país. Viva México !". Pedro II deve ter ficado engasgado com este trágico desfecho dos acontecimento com seu primo, concomitante com o surgimento do Partido Republicano no Brasil, já neste tempo os sinais mostravam que monarquias americanas teriam fim,  talvez, sangrento.



Aos 30 anos e já parecendo ter mais de 40, contudo, seu império
 continental prosperava, enquanto os mexicanos fuzilavam 
seu imperador fantoche, o Brasil se consubstanciava.

O país se desenvolvia e Pedro II 
mostrava-se firme no cargo !

"Assisto às lições de Sapucaí, de inglês e de alemão, dadas às minhas filhas. Nas segundas-feiras lerei a elas Barros, das 7h30 às 8 da noite; terças, Lusíadas, das 10h 30 às 11 da manhã; das 3 às 4, dar-lhes-ei lições de matemática, e latim das 7h30 às 8 das noite. Domingos e dias santos, leitura de Lucena durante uma hora, e meia hora de leitura do Jardim das Raízes Gregas, à noite.”





Acima dois desenhos feitos por D. Isabel ainda adolescente,
na temática duas futura paixões já se manifestavam : a maternidade e o piano.




As princesas num passeio à Floresta da Tijuca em 1861.




 

O Brasil firmar-se como nação estabilizada e a prosperidade
 começa a fluir com maior intensidade.


A Princesa Imperial em 1860.




O Império tem um grande momento : Enlaces na Europa !



Chegou o tempo de casar, imagens da época do
 contrato dos matrimônios das princesas.


"Papaizinho" era um monarca pobretão, mas
o Império do Brasil tinha amplitude continental.





Princesa Imperial D. Isabel era a
 herdeira constitucional do trono.



Aos 18 anos D. Isabel foi considerada pronta para casar-se, e por intermédio do esposo da tia Francisca de Joinville, conseguiram dois príncipes europeus, dois primos-irmãos, um francês e outro austríaco, dispostos a casarem-se com as princesas tropicais. A monarquia era modesta e sem fausto, mas o país exibia um brilhante potencial de desenvolvimento econômico e social . Havia muito interesse em acoplar um príncipe-consorte de Saxe-Coburgo ao futuro da princesa herdeira, em Londres, Lisboa, Bruxelas e Viena houve movimentação nesse sentido. O Império do Brasil era um Estado de mais de 10 milhões de habitantes espalhados num imensidão continental, sua receita pública era inferior às da Holanda e Bélgica, exportava apenas o equivalente a 3/4 dos gêneros que a diminuta Bélgica colocava fora de seu portos, era mais uma expectativa e não uma realidade.


Dois dias após o desembarque dos noivos, D. Pedro II já anunciou a sua decisão sobre quem iria casar com quem...foi bem rápida a sua decisão ; comentou sobre o casamento da herdeira do trono, D. Isabel: "há de casar com quem eu escolher, no que ela concorda, por ser muito boa filha." Mas a história toda sobre a troca de noivos é mais complexa e envolveu muitas pressões pessoais, de parentes e amigos, nos imperantes.


Acima, já madura, Francisca de Joinville - princesa francesa irmã do imperador - amiga da Condessa de Barral e tia, por casamento, dos dois futuros esposos das princesas brasileiras, articulou o casamento das sobrinhas dentro da própria família Orléans. Agiram com método e agilidade política !


 
Luís Felipe - Rei dos franceses, avô
dos príncipes enviados para casar
 com as filhas de Pedro II.

Luís Felipe e seus filhos.

Num cenário posterior à Revolução Francesa e a Napoleão, Luís Felipe torna-se um monarca liberal de ares burgueses e jura cumprir a constituição, situação similar a da monarquia brasileira. Em poucos anos seria deposto e exilado, os Bourbons seriam restaurados no trono francês com Luís XVIII e Carlos X, irmãos do guilhotinado Luís XVI.
 
 Renunciou após uma sucessão de rebeiões, foi exilado
 junto aos  amigos da monarquia britânica, com
 o total apoio do governo belga, a ilustração
 acima diz tudo, preferi não traduzir.

O pai de Luís Felipe - Felipe Egalite - foi o voto que condenou Luís XVI à guilhotina, este detalhe de evidente traição ao ramo primogênito da Casa Real da França, fez dos Orléans uma família mal vista pelas outras casas reinantes europeias.Outras monarquias classificavam os Orléans como meros usurpadores, para muitos eram traidores do absolutismo tradicional e por isto não mereceriam respeito e reconhecimento.


Claremont House, emprestada pela monarquia inglesa, hospedou a família real dos Orléans, então expoliada de seus bens, durante seu exílio na Inglaterra. Bélgica e Grã-Bretanha, uniram-se politicamente na proteção à realeza constitucionalista francesa  em sérias dificuldades financeiras .



 Vieram então ambos os rapazes pretendentes a noivos imperiais ao Brasil, ao mesmo tempo e numa viagem de reconhecimento. O imperador ressabiado e recordando de suas dificuldades iniciais no matrimônio, resolveu também respeitar o direito de escolha das filhas. Inspirado no sucesso do casamento de sua irmã, a rainha de Portugal, com Fernando de Saxe-Coburgo, D. Pedro II inicialmente especulou a ideia de D. Isabel casar-se com um pretendente oriundo dessa renomada casa ducal.



Madame de Barral mostrou-se uma militante orleanista em ação: mancomunada com os Príncipes de Joinville, com o pai de Gaston e com a imperatriz viúva Amélia, madrasta do imperador, conseguiu fazer o casamento de um Orléans com D. Isabel. Ficou a impressão nítida que passaram o rapazola Coburgo para trás. Daí para frente Leopoldina e Gusty afastaram-se da Barral e chamavam-na de : sempre intrometida .



Uma agradável leitura : ilumina as sombras e
 acresce detalhes, apresenta fatos e provas irrefutáveis.


Mas depois , o imperador, estranhamente, mudou sua opção de "genro preferido". Imagina-se que após uma orquestrada campanha de elogios e discretas pressões sobre D. Isabel e D. Pedro II, a Barral conseguiu que o Conde D'Eu fosse o escolhido para ser príncipe-consorte do vasto e lindo império do Brasil. A oportunista e esperta "fadinha" ganhou, em agradecimento, uma jóia em forma de rosa, cravejada de diamantes e com um linda pérola incrustada; um presente da avó de Gaston, a ex-rainha Maria Amélia dos franceses.
 

A família do Conde D'Eu, exilada na Inglaterra, passava penúria financeira, o noivado do rapaz foi celebrado como uma vitória. O rei Fernando II de Portugal , os pais de Gusty em Viena, a rainha Vitória- e o Rei da Bélgica, também tio, todos da "tribo dos Coburg", não gostaram nem um pouco da troca de Gusty por Gaston; por sorte Leopoldina mostrou-se adorável e fez o rapaz Coburgo muito feliz; além de lhe dar quatro lindos filhos.



Gaston D'Orléans - Conde D'Eu,
 ainda jovem.

 Seu irmão mais novo e de melhores feições:
Ferdinand - Duque D'Aleçon


Os dois irmãos ainda bem jovens.

 


Primo-irmão, ou primo "duplo" de Gaston , Luís de Saxe-Coburgo - chamado de Gusty - aparece bem juvenil sentado nas duas fotos. Na primeira, junto um primo, a identificação original da foto diz ser o Duque de Penthièvre, eu vejo nela o Duque D'Aleçon, irmão mais novo de Gaston. Em seguida, de cartola e bengala, ao lado do irmão mais velho: Phillip de Saxe-Coburgo. O cunhado de Pedro II, François de Joinville, tio do rapaz Coburgo, alertou em carta: ele era o jovem "mais distinto do mundo, todo coração e espírito, embora um pouco preguiçoso" . Pedro II anotou em seu diário: "Augusto é muito jovem e, com sua natureza, corre o risco de estorvar seu lugar [...] Não farei qualquer comentário sobre o filho de Nemours, por enquanto. Uma coisa porém é certa, preguiçosos não me agradam em absoluto." D. Pedro que era inteligentíssimo, já percebeu tudo, em bem pouco tempo de observação !






Duque de Penthièvre -
primo de D. Isabel

Primeiro aventou-se o casamento de D. Isabel com Luiggi, seu primo, filho da Princesa Januária, seria uma ótima forma de reconciliar o Conde D'Áquila, marido da princesa com o imperador Pedro II, mas logo a ideia perdeu força. Quando muito jovem, D. Isabel insistia, sem conhecê-lo pessoalmente, em casar-se apenas com o primo da foto acima: Pierre D'Orléans - Duque de Penthiévre e filho da irmã preferida de Pedro II, D. Francisca. Ele recusou por duas vezes o convite de futuro casamento do tio imperador, não seria muito atraído por esposas e casamentos, preferindo a vida na marinha, morreu solteiro e sem filhos. Era um filho feio de pais lindos, deve ter lamentado muito sua falta de atributos físicos, também sua irmã, conhecida como Chiquita D'Orléans, herdara as mesmas feições. Logo após aos casamentos de seus primos com suas primas, ele veio visitar o Brasil e então D. Isabel pode conhecê-lo pessoalmente

 Arquiduque Carlos Luís.


Não poderia deixar de apresentar um outro possível  e cogitado "pretendente" de D. Isabel, este da Casa Imperial da Áustria, e posto à disposição por seu irmão Maximiliano, o futuro Imperador do México, interessado que estava em ter relações mais próximas com seu primo Pedro II.  Vale frisar que o Império Mexicano nunca seria reconhecido como legítimo por P II, e que a  monarquia brasileira  buscava distância e nenhuma comparação com  este governo imposto pela França aos mexicanos. Há historiadores que informam ser o Arquiduque Carlos Luís o  cogitado, em 1860, para desposar a princesa brasileira, ele estava momentaneamente viúvo naquela época. Outros entenderam ter sido o "pretendente" o irmão mais novo deles: o problemático Arquiduque Vítor Luís.

 
  Arquiduque Vítor Luís.
 
O Arquiduque Vítor mostrava sinais de certa insanidade desde pequeno, e depois iria  se transformar num incômodo travesti. Mostrava-se frequentemente vestido de mulher e na companhia de outros homens em mesmos trajes. Sem saber o que fazer com ele, pensaram em casá-lo nos trópicos, mais tarde, foi banido da corte de Viena pelo seu irmão imperador da Áustria, cansado dos comentários e pilhérias, ainda bem que a princesa brasileira escapou desta situação.

D. Leopoldina tinha características bem napolitanas:
atarracada, enfezada  e debochada no geral, porém
 às vezes muito bem humorada.

Eu, particularmente e pelo que li, penso que D. Leopoldina, dois anos mais nova que a irmã,  se apaixonou de pronto pelo Duque de Saxe. Fez então o que era possível para conquistar o presumido noivo da irmã, que também não achou D. Isabel muito interessante. Talvez por terem a mesma idade, também por ser ela a mais bela, o príncipe austríaco preferiu a princesa mais nova. O francês era pouco mais velho, mais experiente e talvez mais charmoso e sofisticado, também católico fervoroso, encantou D. Isabel pela vida inteira. Esta já citada vertente de articulada pressão orleanista sobre o imperador, também deve ter sido bastante forte, e certamente pesou na escolha da filha, sempre extremamente obediente ao desejos do pai imperador.

Uma matrona italiana de 
meia idade e de gênio forte !

A imperatriz teve logo que intervir no namoro da filha mais nova, tendo em vista o calor da paixão adolescente que surgiu entre os noivos. As moças portanto inverteram as preferências iniciais de seus pais na formação dos casais. Políticas e intrigas à parte, trocaram de bom grado de noivos, e os noivos, pessoalmente, também inclinaram-se no mesmo sentido. Isabel, quebrando a expectativa inicial de seu pai, preferiu definitivamente o esbelto francês Gaston D'Orléans, que caiu nas graças da jovem herdeira para alegria da orleanista Condessa de Barral. Assim se imaginava ter acontecido logo às primeiras vistas, mas parece que já estava muito bem decidido e sacramentado diplomaticamente o casamento de Gusty com Isabel.



Uma família em expansão:
desejava-se netos !

Gusty escrevendo aos pais : " Existe uma quantidade de dificuldades aqui e é muito bem que eu agora estou candidato a segunda [ princesa], Gaston tendo passado para a primeira. A segunda é menos mal que primeira apesar de não serem bonitas todas as duas".  Gaston esrcevendo à irmã: "As princesas são feias....mas a segunda é decididamente pior que a outra, mais baixa, mais atarracada e, em suma, menos simpática."

Mostrava-se aristocrática até a raiz dos cabelos e de 
porte majestoso, embora fosse bem impressionante,
 não era de forma alguma bela sob a ótica da  
mulher sedutora e desejável, configurou-se 
numa digníssima dama de família nobre.


Ainda sobre Isabel, Gaston : "Mas o conjunto de seu porte de sua pessoa é gracioso"; do Príncipe de Joinville ao vê-la em lua de mel na Europa; "A mulher é feia na plena expressão da palavra...ela é uma princesa feia, mas tem um ar bom e evidentemente recebeu uma educação muito acurada.". Do Visconde de Taunay sobre Gaston: "Um narigão horrível...desajeitado, deselegante, frequentemente despenteado, vestia-se mal,não dançava bem ,instável no trato diário, meio surdo, avarento e propenso ao desânimo e a depressão...Seu sotaque áspero,por vezes demasiadamente acentuado, desagradava."




 Isabel e Leopoldina.

Os um tanto "falidos" Orléans, desejavam para o Conde D'Eu o cargo de príncipe-consorte, fizeram então um partido para pressionar D. Pedro II no sentido de escolher Gaston, todavia fica claro que os príncipes e princesas também manifestaram suas preferências e atratividades: " os feios sensíveis, e os belos fogosos, entre si" - como ficou descrito.

A rainha Victoria do Reino Unido, soberana da nação mais poderosa e rica da época, estava casada com Albrecht/Albert, um tio-avô de Gusty, os Saxe-Coburgos estavam com imenso prestígio diante das casas reinantes européias. Já os exilados Orléans, parentes de Gaston D'Eu , viviam, de favor, num palacete inglês, de propriedade e gentilmente cedido pelo rei Leopoldo I da Bélgica, para que pudessem estar sob a proteção da Rainha Victoria.

Fernando II, casado com a irmã do imperador,
 Maria II - Rainha de Portugal....

e o rei Leopoldo I da Bélgica , ambos parentes mais distantes de Gusty,
 eram importantes membros da "tribo ducal" dos Saxe-Coburgo e Gotha.


"Até a rainha Vitória, da Inglaterra, se movimentou para impor seus interesses no casamento das princesas do Brasil. Ela era favorável ao matrimônio entre o Duque de Saxe e a princesa Isabel (sendo o jovem príncipe, seu primo em segundo grau). Teve seu desejo contrariado, assim como os reis Leopoldo I, da Bélgica, e d. Fernando, de Portugal. “O casamento das princesas foi decisivo para o fim da monarquia. O Conde d’Eu não tinha sensibilidade política. Não se interessava pelas questões nacionais. Já o Duque de Saxe tinha uma postura muito diferente. Mas, pelas intrigas montadas por seus parentes, não pôde contribuir como queria para o seu país do coração, o Brasil”, defende d. Carlos Tasso, descendente do Duque de Saxe e autor do fantástico livro sobre o assunto: " A Intriga".

D. Carlos Tasso, ainda jovem,
um bisneto da Princesa Leopoldina.
D. Carlos Tasso - acima - e Roderick Barman, são historiadores
que conseguiram expor melhor a dimensão humana da família imperial brasileira.


"Estavam sem poder, destituídos do trono francês e exilados na Inglaterra. Também tiveram, posteriormente, os bens confiscados pelo imperador Napoleão III. Tudo isso, claro, foi levado em questão para “derrubar” as intenções de Augusto de Saxe Coburgo de conquistar a mão da princesa herdeira: a Isabel que libertou os escravos, em 1888. E o mais “interessante” de tudo isso é que os dois rapazes eram primos-irmãos (filhos de dois pares de irmãos), graças aos casamentos familiares que foram mantidos como regra pelas casas reais.



O casamento dos pais do Conde D'Eu na 
presença do rei Luís Felipe D'Orléans.




O Duque de Némours e sua esposa
Victoria de Saxe Coburg Kohary.


 
A Duquesa Victoria e seus dois filhos, o conde D'Eu em pé
 e o duque D'Aleçon no chão, depois as duas filhas
Marguerite e a caçula Blanche num abraço.

O pai do Conde d’Eu, o duque de Némours, filho do rei Luis Felipe I dos franceses, atuou nos bastidores para infernizar a vida do sobrinho, o Duque de Saxe. Cartas destinadas aos aliados, e ao próprio imperador, comprometiam a imagem do sobrinho, destruindo as boas referências que o mesmo tivera por seus parentes europeus. No Brasil, ainda, figurava como "guardiã" dos Orléans a polêmica Condessa de Barral que, como antiga dama de honra da princesa Francisca de Bragança (irmã do imperador d. Pedro II que se tornou, por casamento, uma Orléans), “infernizou”, o quanto pôde, as esperanças dos Saxe-Coburgo." Moral da história: os casamentos foram trocados, mas não só por decisão sentimental das noivas, mas também pela concordância de um imperador-pai bombardeado de informações “fantasiosas” e fortes pressões, como defende o autor.


Sempre muito discreta  por tantas décadas de reinado,
mas em família manifestava gênio forte.

Gusty comenta sobre a vida no "convento" de S. Cristóvão: "Os jantares são terríveis, pois após os mesmos temos que fazer 3 horas de salão, com as princesas e a imperatriz. Não se sabe o que dizer, o que é muito desagradável." "A mãe dos brasileiros", "minha santa" como passou a chamá-la o imperador, após seu falecimento, ou a "bondosa imperatriz", como quase todos se referiam a ela, apresentava um gênio pesado, como se deduz. Desgostosa com a permanente presença da Barral em sua casa, dissimulava o entristecimento, a imperatriz,Tereza Cristina foi descrita por Wanderley Pinho como: " alguém que não sofreu inteiramente quieta o ascendente que na família imperial veio exercer a fidalga baiana. Naquela alma triste e recolhida em si mesma, como se fora uma exilada e distante da vida – existência que se entristecia de renúncias, naquele coração que a bondade indulgente abafava toda reação, não medrou viroso o ciúme de senhora, esposa e mãe. Coitadinha da imperatriz, esmaecida por fora e murcha por dentro."

Geniosa, talvez mesmo vaidosa, incisiva e
 de caráter dissimulado. Será?

 A historiografia dessa fase de educação e casamento das princesas, com a conjunção da Barral e os príncipes europeus, nos traz bons detalhes sobre verdadeira personalidade de D. Teresa Cristina. Me parece, que sem concorrência, ela dominava a situação doméstica com mais tranquilidade, já na presença de interferências externas, ela revidava com veemência quando contrariada. Pela reação irada de sua filha mais nova, durante sua fase de namoro, quando houve interferência de D. Teresa, ouso dizer que a napolitana talvez fosse realmente feroz de gênio.


De Gaston sobre D. Isabel: 


"O conjunto de seu porte
 e de sua pessoa é gracioso."


 

Gaston sobre a cunhada:
"... é ainda mais baixa 
e atarracada "



Leopoldina mais nova, coquete e geniosa, adorou o rapagão Coburgo, um caçador de ursos que lhe despertava as emoções juvenis. A imperatriz, conhecendo o gênio da filha mais nova, e percebendo a forte paixão entre ambos, não a deixava em paz para namorar. Estranhamente, lançava olhares incomodativos e e terminou por despertar a ira da moça mais jovem. Com D. Isabel não houve o mesmo comportamento, ou então não ficou registrado. Gusty escreveu que a imperatriz não cessava de atrapalhar o seu têt-à-têt de noivado com Leopoldina. A paixão entre ambos estava muito evidente, talvez tórrida demais, aos olhos da recatada e católica imperatriz napolitana. Esta paixão nos proporcionaria quatro príncipes de Saxe-Coburgo e Bragança, para grande alegria do imperador, finalmente com netos, herdeiros varões, na família.



Os imperadores e as filhas numa visita à cidade de
Juiz de Fora em Minas Gerais em 1861.


Madarótica.

D. Isabel era madarótica, quase não tinha sobrancelhas perceptíveis, era loura de olhos claros, seu cabelo era ralo e fino, herdou também vários dos traços angulosos do pai e da mãe. Trecho de uma carta de Gaston para a sua família comentando sobre a noiva: "Aviso-te que ela nada tem de bonito...faltam-lhe completamente as sobrancelhas. Mas o conjunto de seu porte e de sua pessoa é gracioso." Do jornal Gazeta da Tarde sobre Gaston já em 1886: "não é bonito, não é elegante, não é simpático " , sua altura rivalizava-se com a de D.Pedro, eram muito altos para a média da época no Brasil. Elengantes mas feios, em resumo é isso!

As princesas eram retratadas bem parecidas,
como nessa comemoração dos seus noivados.






Do Jornal do Commercio sobre o Conde D'eu : "Liberal por suas ideias, 
liberal por suas luzes, liberal pelo próprio coração e pelo século., 
liberal pelo passado e pelo presente"





A capela imperial ficava quase ao lado do antigo paço dos vice-reis,
foi este o cenário do casamento das duas princesas.


Movimentação de pessoas na Capela Imperial
durante o casamento da princesa.



Casamento de D. Isabel na Capela Imperial, nas duas imagens se vê Gusty de
 Saxe-Coburgo, de farda e louro, assistindo de bem perto a cerimônia

Após a concordância por escrito das famílias dos noivos com os respectivos casamentos, e a discussão e aceitação das cláusulas do contrato nupcial, casaram-se então com os dois rapazes. curiosamente eram ambos netos de Luís Felipe d'Orléans, um ex-rei da França, seus pais eram irmãos entre si , sendo eles duplamente primos, portanto tinham ambos os mesmos avós.




Isabel com Gaston de Orléans, o Conde D'Eu ( lê-se "DÊÊ" ) e Leopoldina com Luís Augusto - apelidado de "Gusty", Príncipe de Saxe-Coburg-Gotha e Kohary, com uma diferença de dois meses entre casamentos. Sem maiores futuros na Europa, vivendo uma vida modesta, seu pai, o Duque de Nemours era o mais pobre dos filhos do último rei da França, terminou por associar sua fina estirpe ao sangue dos Braganças tropicais.


Acima e abaixo, interessantes e curiosas imagens atribuídas à D. Leopoldina - próxima aos 15 anos- originárias de Madri c. 1860 e feitas tendo como base uma fotografia . É conhecida uma imagem de D. Pedro II, do mesmo artista, também é estranha não se parece muito com ele.


Gusty, o genro austríaco, não era Duque de Saxe, como muitos apregoam. 
Era o segundo filho de um Duque, quem herdou esse título e as
 propriedades da família foi seu irmão e primogênito Phillip.


Casamento de Gusty e Leopoldina.

Todavia era filho de uma princesa francesa e neto de rei, portanto é melhor chamá-lo de príncipe; duque não era. Seu filho, Pedro Augusto, também não tinha direito a esse título, mas tradicionalmente chamavam-no de "Duque de Saxe". Os títulos eram importantes na época, a concessão de altas patentes militares brasileiras - General e Almirante - aos dois rapazes consortes, causou desgosto às forças armadas, o imperador era contra, mas os tradicionais costumes europeus preponderaram nos contratos nupciais. Assim sendo, em prol dos casamentos, concedeu as honrarias, todavia jamais concedeu orçamentos ou poder decisório aos jovens estrangeiros, a ação permaneceu protocolar; eles nunca teriram acesso aos recursos e nem aos comandos, eram considerados apenas membros da Casa Imperial.




O genro austríaco é muito pouco conhecido, como morou pouco tempo aqui, passou um tanto incólume pela crítica histórica brasileira. Todavia sua falta de interesse pelos assuntos de Estado e seu perceptível comportamento claramente oportunístico com relação ao Brasil, talvez sejam até interessantes historicamente. Desejava cargos importantes na Marinha e pensava, junto com a família na Europa, em possivelmente explorar minerais brasileiros, ao perceber a dificuldade  nacionais, abandonou o sonho.

Ela 17 , ele 19 anos de idade.

As fases da sua vida em que residiu na Europa, antes e depois do casamento, parece não terem deixado maiores vestígios em nossa historiografia. Ele precisaria ter seu perfil histórico resgatado e mais bem definido. Num recente livro sobre seu primeiro filho, Gusty é muito pouco citado, maiores informações sobre ele e a família encontram-se em publicações francesas sobre a biografia de sua mãe.
Augusto de Saxe-Coburgo-Gotha,
pai de Gusty

Família de Gusty - ele é o último à direita.
O cabelo dos rapazes é idêntico ao
do avô rei de França.

Há bastante sobre seus irmãos, especialmente o mais velho e o mais novo, ambos estiveram visitando o Brasil, também sobre sua mãe existem muitas informações, mas sobre ele quase nada. Gostava de se exercitar fisicamente, praticava montanhismo e embrenhava-se em caçadas, no Brasil caçava pássaros.



Fez grande matança de animais ao longo de sua vida, em vários locais diferentes: África, Estados Unidos, Índia etc. Adquiriu um agigantado parque de caça nos Alpes e é até hoje o recordista mundial de camurças mortas, com mais de três mil e quatrocentas abatidas. Seu pai já era notório caçador e parece que na época esta prática era muito bem vista. D. Isabel, certamente, tinha muito mais afinidades emocionais e culturais com Gaston D'Eu .



Acima Luís Augusto com a farda militar da Marinha Austríaca em 1864.
 Abaixo vê-se D. Pedro em sua companhia em Juíz de Fora - MG.

Foi inicialmente descrito como frívolo, durante o noivado passou a impressão de ter um perfil mais simples e discreto em relação ao Conde D'Eu. Durante sua apagada participação na Guerra do Paraguay, foi citado por importante observador como sendo " indiferente e sem ambição ". D. Leopoldina adorava-o, tiveram um casamento apaixonado, curto, intenso e com quatro filhos homens, um vasto estoque de netos para o imperador emocionalmente marcado pela perda precoce de seus dois filhos.

Acima vemos a imperatriz ( sentada ), D. Leopoldina ( em pé ), D. Isabel ( sentada ) e
acredito que seja a Condessa de Barrla, em pé, atrás de D.Isabel.
Foto da visita da Família Imperial a Juíz de Fora.


Os Coburgo estavam estabelecidos em várias casa reais da Europa e eram considerados bons governantes, além de excelentes maridos. Tradicionalmente, proporcionavam herdeiros homens nas dinastias onde esses andavam um tanto desaparecidos, como também ocorreria no quadro sucessório brasileiro.


D. Leopoldina.

Durante os anos de viuvez , reclamou com insistência o recebimento do dote relativo ao seu casamento, cláusula prevista no contrato nupcial, um documento de difícil negociação com a família Coburgo na circunstância pré-nupcial. Ao perceber seu filho mais velho tornando-se adulto e com problemas emocionais e de comportamento, condenaria a educação muito intelectualizada ministrada por D. Pedro a Pedro Augusto. Recomendou de imediato muita atividade física para reverter o quadro de debilidade física-emocional que estabelecia-se no rapaz. Penso que o diagnóstico dele foi perfeito !

Acima o Príncipe de Saxe com a farda de almirante do Brasil em 1866,
a marinha de guerra brasileira era respeitada e uma das maiores do
mundo na época. Seu irmão mais novo definia-o
 como o " prince charmant ".


Abaixo uma boa foto de Gusty, ainda adolescente, seu cabelo e 
tipo físico eram os mesmos do avô Luís Felipe.
 

Cabelo, corpo e nariz  do rapaz Coburgo
lembravam o avô-rei da França.

Os casamentos das princesas foram considerados por alguns historiadores como desimportantes do ponto de vista formal, os maridos eram de ramos dinásticos secundários. Mas do ponto de vista pessoal, as moças foram felizes em suas uniões, demonstrando o acerto da escolha dos primos e a providencial não-intervenção de D. Pedro em suas opções. No cenário diplomático, pouco teriam ajudado na melhor projeção nacional. No plano interno consolidaram o perfil monárquico-burguês - quase republicano - da família reinante, claramente inspirado no estilo simplificado, marcante no reinado dos Orléans. D. Pedro era liberal e avesso a gastos desnecessários, sintonizado com o perfil social e as possibilidades materiais do país. Tendo cumprido sua tarefa, a Condessa de Barral volta à França para dar continuidade à educação de seu único filho, ele se tornaria diplomata; ela escreveu em tom de alívio: " que bom voltar a comer sem alho e azeite".


Palacete do Visconde de Ubá ou Casa Avellar em Petropólis -
local da lua de mel das duas princesas.


As princesas já casadas junto aos pais.






A residência em Laranjeiras foi adquirida
com recursos previstos em lei.


Ao casarem-se, as duas princesas receberam recursos oficiais específicos , originários da lei que as autorizavam a isto, para adquirirem residências oficias condignas. Receberam quantias iguais para esse fim; logo compraram palacetes já construídos. Em 1865, Isabel e Gaston foram morar em Laranjeiras, atrás da Praia do Flamengo. Leopoldina e "Gusty" adquiriram também uma propriedade similar, porém bem ao lado do Paço de S. Cristovão.
A jovem princesa e seus lindos vestidos
 de seda, anciã ainda os apreciava.


No pacto nupcial, baseado em grande parte naquele de D. Francisca com o Príncipe de Joinville, estava estabelecido, entre outras coisas, que além do dote receberiam 300 contos para a aquisição de moradia, ou então seria pago um aluguel para o mesmo fim até que surgisse um imóvel conveniente para a função oficial de residência. As propriedade adquiridas pertenceriam à Casa Imperial, as princesas e os descendentes teriam apenas o seu usufruto, todavia seriam patrimônio nacional, não podendo ser vendidas ou cedidas pelos ocupantes.





O Paço Isabel foi erguido num local muito aprazível, até hoje exala uma energia telúrica especial, quem passa em frente logo percebe que é um local encantador. A região era, no início do Séc. XIX,
conhecido como Chácara do Rozo, de propriedade de Domingos Francisco de Araújo.


 Na primeira viagem do casal D'Eu à Europa, vemos  os dois
cercados pelos irmãos de Gaston: Blanche, Margaritha
e Fernando, o belo Duque D'Alesson

A princesa recordou-se com saudades dessa residência nas suas memórias
 escritas no exílio. O palacete fora erguido pelo comerciante
 português José Machado Coelho, em 1853.

Como o prédio necessitava de uma reforma para estar condizente com seu novo status quo, D. Pedro II escolheu pessoalmente o arquiteto para esse trabalho de reforma: José Maria Jacintho Rebello, o aluno mais distinto de Granjean de Montigny.



O imperador tornaria-se num frequentador assíduo da casa da filha, jantava lá todas às quintas-feiras. Quando havia recepções ou saraus, a princesa tocava piano e cantava, a filha era muito mais social do que seus taciturnos pais.E assim com a transposição da minúscula vida social da corte carioca para o Paço Isabel, submerge no abandono , na sina de convento o velho Paço de São Cristóvão, que de importante só receberia uma reforma paisagística, logo após a volta do imperador de sua primeira viagem.


 Recém-casada e no auge da pouca
 beleza que apresentava.

Acima o paço da princesa visto por trás, do alto morro rochoso ao fundo. No centro da residência havia um grande pátio interno, como se pode ver na foto do meio, também havia um bom trecho de vegetação mais densa nos fundos. Esses locais seriam os mais preferenciais para a instalação da coleção de orquídeas da princesa.

Janelas e sacada da fachada interna do Paço Isabel, davam vista para o pátio com vegetação bem no centro da construção, um bom lugar para cultivar plantas com mais sombreamento. A residência parece muito agradável nas fotos, exatamente como está descrito nas cartas de D. Isabel.

Acima uma vista recente do Palácio Guanabara - antes Paço Isabel - mostrado pelos fundos da residência, ficam bem visíveis a disposição do pátio central interno e as alterações feitas. Vê-se por trás a nova fachada com os dois torreões redondos proeminentes em relação ao telhado. Também na parte posterior, onde ficavam as cocheiras, foram adicionadas novas alas laterais e foi coberto um pátio antigo nos fundos, esse ainda mostra sua grande entrada. Compare com as fotos acima.






Os Sachsen-Coburg-Kohary do Brasil logo tiveram 
um presuntivo príncipe-herdeiro do trono no
 colo, outros viriam rápido .

Nem parece o mesmo Gusty nas
três fotos , a fisionomia real
dele é  de modo geral
 difícil  de
fixar.



Tinteiro de viagem em prata,
 pertenceu à Princesa Leopoldina,





Neste ponto faço
 um aparte:

Antes da elaboração desta postagem, eu nada sabia sobre essa gente chamada 
Saxe e Coburgo, nos livros não havia maiores detalhes biográficos.
Procurando informação sobre o Pç. Leopoldina, me deparei com
 a princesa Leopoldina bem incorporada 
à tribo dos Coburgos.

Aqui, fiz o que me foi possível para soprar vida nas
 obscurecidas biografias deles.  Fiquei muito 
curioso no início de minhas pesquisas, porém
 hoje já é possível saber o suficiente para ter
 ideia sobre eles. Aqui divido 
este conhecimento !

  Não poupei esforços nesta difícil pesquisa histórica.
Espero que a História do Brasil resgate cada vez mais 
a princesa D. Leopoldina e sua família, que por quase
uma década estiveram na linha de sucessão imperial.


Com licença, obrigado, 
até logo e tchau !


Há registros históricos sobre o interesse de D. Leopoldina em colecionar selos e orquídeas, deveria haver exemplares dessas plantas nas árvores dos jardins de sua residência. Também registra-se essa princesa estudando livros sobre botânica quando passava temporadas em Petrópolis, contudo foi D. Isabel quem mais se interessou por botânica e coleções de plantas.

A Casa foi provavelmente alugada ou
 cedida para residência temporária.

Uma recente publicação apresenta essa construção petropolitana- acima e abaixo retratada - como sendo uma residência de D. Leopoldina. A publicação em questão apresenta erros , temo que essa idendificação seja um deles. Não consegui levantar qualquer informação sobre esse imóvel em outras fontes, há apenas um vago registro não-histórico de uma outra residência serrana da irmã de D. Isabel, talvez no Alto da Boa Vista no Rio. É certo que durante algum tempo, no início do casamento e antes de adquirir a Casa Bessa, o casal Coburgo residiu em Petropólis - Gusty gostava de caçar aves por lá.

  Os riquíssimos Viscondes de Ubá eram amigos
 íntimos da Família Imperial.
 
Acredito tenha locado a mesma residência onde passaram a lua-de-mel: Palacete do Visconde de Ubá / atual PUC . Provavelmente foi alugado entre 1861-62, enquanto não se localizava um imóvel condigno no Rio para a moradia definitiva do casal Coburgo. Esse imóvel ficava bem próximo ao Palácio de Verão e seria muito indicado para este fim. D. Leopoldina, em sua correspondência dessa época, chamava-o de Casa Avellar, uma uma das filhas do Visconde de Ubá, intimamente chamada de Mariquinhas, seria a grande amiga de D. Isabel, da infância ao exílio.


Havia uma verba prevista no contrato nupcial de 18 contos para o aluguel temporário de uma casa enquanto não se achasse por uma residência definitiva , esse imóvel talvez seja esta morada temporária. Todavia são apenas hipóteses, não consegui ainda fazer a correlação perfeita sobre esta possibilidade e as fotos.


 Registro as fotos e as minhas incertezas, consultada uma especialista
do Museu Imperial,  obtivemos a concordância de opinião sobre o imóvel.
 
O casal Coburgo foi morar bem mais próximo, bem ao lado da residência dos imperadores, os jardins se tocavam e era possível ir a pé para o Paço de S. Cristóvão, ficava no bairro do Engenho Velho - atual bairro do Maracanã. Constituía-se numa vistosa construção, também projetada por discípulos de Granjean de Montigny, era conhecida como Casa Bessa, por ser de posse do Comendador José Bessa - teria custado ao dono 450 contos. Como havia uma crise financeira nesta época, houve um significativo desconto na venda da propriedade Originalmente Gusty  pensava em adquirir duas residências mais modestas, uma em Petrópolis e outra no Rio, dividindo assim os 300 contos destinados pela lei à aquisição de moradia para o casal. Depois de habitar no palacete, o casal de príncipes caminhavam, quase que diariamente, a pé , até o Paço de S. Cristóvão, saiam às 17 h e retornavam às 20 h.

Paço Leopoldina em foto de 1865 - residência
adquirida do Comendador Bessa em 1862.

A construção foi levemente reformada e recebeu móveis , objetos de arte e piso de madeira da Europa, enviado pela família de Gusty. O serviço de porcelana, por exemplo, era idêntico ao do Palais Coburg de Viena, onde residiam os pais de Gusty. Depois de maiores de idade, os príncipes irmãos, filhos de D. Leopoldina, passaram a habitar prédio, este passou então a ser conhecido como Paço Duque de Saxe . Ao deixar o "convento" Paço de S. Cristóvão, para morar sozinho, o rapaz mais velho já estava formado engenheiro. No fim do Império, abrigava as várias coleções do Príncipe Pedro Augusto, que mostrou-se um refinado colecionador, quadros e móveis foram comprados por ele nas viagens à Europa para enobrecer os interiores. Era um ambiente refinado e muito bem decorado, comparável aos paço Isabel, indubitável foi o valor arquitetônico e histórico deste prédio, e este pode ser descrito como uma das quatro construções mais significativas e elaboradas desse período imperial no Rio de Janeiro. Abrigou também as coleções de minerais brasileiros, paixão do príncipe geólogo e engenheiro


Paço Leopoldina já apresentando uma cobertura
 metálica sobre a porta principal.

Essa residência, num primeiro momento, e em comparação com o Paço Isabel, parece ser mais impressiva por fora e menos bem acabada em seus interiores. Contudo as verbas para a aquisição de ambos os prédios foram exatamente iguais, não houve diferenciação entre as princesas nesse aspecto de contratação dos casamentos . D. Leopoldina encantou-se muito pela privacidade do primeiro andar, onde ficavam os quartos e de onde podia acenar lenços e ser vista pelos imperadores na vizinha quinta imperial.


Havia grandes jardins e um lago com barquinho, projetados por Glaziou antes de reformar aa Quinta da Boa Vista. Nas outras duas casas da propriedade morariam o ajudante de ordens de Gusty e os criados. Cogitaram comprar também uma casa vermelha, do mesmo proprietário. Esta ficava no outro lado da rua, e conforme registro em correspondência, guardava um lindo piano que despertou o interesse da princesa em possuí-lo, junto com a casa.
Jardins projetados por Glaziou no Paço Leopoldina: as grades, o chafariz discreto
 e os Pandanus utilis oriundos de Madagáscar são bem típicos.


Acredito que tenha sido este o primeiro jardim
 importante feito por Glaziou  no Rio.

Os sucessivos netos devem ter aumentado as feridas da disputa por prestígio e poder entre eles, já não se davam bem e havia restrições entre os primos, esposos de ambas. Nos últimos anos do império as duas residências principescas rivalizaram em elegância e requinte, registrou-se concorridas recepções social tanto do casal D'Eu, como do Duque de Saxe, o neto do imperador. O Paço de S. Cristóvão sempre decepcionou os visitantes por ser despretensioso e despojado. Apenas o parque era mais apreciado, e o aspecto rústico não era por acaso , era parte da política de simplicidade e baixo custo adotada pelo imperador. Foi muitas vezes sempre comparado a um convento soturno, gigantesco e triste; D. Leopoldina tinha lembranças melancólicas de sua infância ali vivida.

Piano pertencente ao mobiliário original do Paço Duque de Saxe - MHN.
Seria esse o piano da casa vermelha citado na correspondência de D. Leopoldina ?

Esse interessante sítio histórico, tal como outros congêneres, foi inacreditavelmente descaracterizado, nos interiores e exteriores, após a desapropriação republicana, em 1889, através do decreto nº 1.050, este incorporava à União os bens patrimoniais dotais das Princesas Isabel e Leopoldina. Como já se observa na foto mais abaixo, em comparação com as de cima, o panteão e a cobertura metálica da porta principal sumiram. Foi adicionada uma balaustrada de acabamento no cimo da construção, as linhas e o estilo arquitetônico foram significativamente alterados.
A demolição do Paço Leopoldina foi um crime contra o  patrimônio
 histórico do país - verdadeiro lesa-pátria.

O Paço Leopoldina foi despido de seus objetos mais preciosos duas vezes. A primeira por ocasião de decisão da princesa e seu esposo de fixar residência em Viena, pouco antes do seu falecimento. A segunda mudança foi já no exílio perpetrado pelos republicanos. O mobiliário, coleções e pertences pessoais foram embarcados e despachados para Viena, para os antigos moradores Pedro Augusto e Augusto Leopoldo. As peças que não era interessantes embarcar, foram leiloadas, de modo privado, pelos procuradores dos príncipes no Rio. Em 1891, houve um leilão vienense da biblioteca do Príncipe Pedro Augusto, pelo catálogo destes livros leiloados, sabemos as preferências de leitura deste personagem histórico. Depois de recuperada a posse do imóvel pelos republicanos, estranhamente, o prédio passou a abrigar: instalações militares, orfanatos, hospitais, escolas e institutos de ciências rurais , todos recém criados pela República.

Transformado em repartição do Exército, orfanato e depois em  escola de
agricultura  e veterinária, ainda guardava os lindos jardins de Glaziou.

Depois de totalmente despido do passado, foi mesmo demolido na década de 30. As fotos abaixo mostram alunos, ou órfãos residentes, no seu interior e nos jardins, nos dando alguma pouca referência visual dos espaços internos e do entorno.


Essa insensata demolição foi um ato que lesou profundamente o patrimônio histórico nacional. O CEFET não aprecia em nada a memória desse assunto, também reluta em publicar mais arquivos visuais desse finado prédio, certamente possui ainda várias fotos do de época. Talvez a atual UFRRJ, em Seropédica, abrigada em belíssimos prédios neo-coloniais, construídos nos tempos de Getúlio Vargas, ainda guarde algumas imagens em seus arquivos. Esta instituição de ciências agrárias, foi uma das primeiras ocupantes do prédio confiscado, na época, em 1911, conhecida como Escola Nacional de Veterinária, pode ser que algumas imagens antigas ainda durmam em seus arquivos e memórias desta época.

 Abandonado completamente por décadas,
o prédio foi ocupado por índios.

A polêmica pela desocupação e violenta retomada de posse do antigo prédio do Museu do Índio, nas proximidades do Estádio do Maracanã, trouxe de volta ao noticiário  a presença da antiga residência dos Duques de Saxe nesta área próxima à Quinta da Boa Vista. O terreno e o casarão das fotos, abandonados por décadas, passaram a abrigar uma comunidade de cerca de trinta indígenas de origem variada e outros agregados não de mesma origem , autodenominada de "Aldeia Maracanã". O prédio  teria um valor simbólico para os índios por conta de sua história: seu primeiro proprietário foi o Duque de Saxe, que em 18 de julho de 1865, cerca de um ano após seu casamento e então com 19 anos de idade, doou o terreno para o governo imperial transformá-lo num centro de pesquisa sobre a cultura indígena. Provavelmente este espaço em forma de triângulo deveria ser limítrofe ou vizinho ao Paço Leopoldina, portanto sua destinação estava já  pré-determinada no documento de doação.


O clássico prédio do museu, atualmente em ruínas, só foi erguido cerca de sessenta anos depois da doação do terreno, nos então florescentes tempos republicanos da década de 20 do século passado,  numa sisuda arquitetura de transição para o estilo eclético. Mais tarde, já no ciclo indigenista do Mal. Rondon, passou a abrigar um crescente Serviço de Proteção ao Índio, órgão gestor da política nacional para os povos indígenas, instaurado em 1910. Em 1953, o antropólogo Darcy Ribeiro criou o Museu do Índio, sendo este então abrigado no prédio em questão. Embora tenha sido um palacete de porte, não apresenta maior valor arquitetônico ou histórico. Todavia o terreno foi doado para determinada função, se o governo atual descaracterizá-la, caberia uma ação judicial de restituição por parte dos descendentes, acredito eu. Projetam derrubar, ou talvez restaurar, as ruínas existentes e futuramente instalarem ali um museu olímpico.

 
Atualmente o acervo do antigo museu está muito bem abrigado e exposto, também há décadas, num outro palacete, o novo Museu do Índio, na R. das Palmeiras em Botafogo.  Portanto não ocorreu qualquer dano ou desmerecimento ao patrimônio do indigenismo nacional outrora lá abrigado.



A casal D'Eu tornou-se opção constitucional de sucessão monárquica
no Brasil da segunda metade do Séc. XIX. Ela seria a monarca
e ele o consorte, não podendo execer qualquer influência
oficial nos negócios do governo, confome disposto
no pacto nupcial entre ambos.

Trajes de Gala da Princesa Isabel e outros
objetos - Museu Histórico Nacional - RJ.
 
Após retornar de uma longa viagem de lua-de-mel pela Europa, onde amealhou elogios comportamentais, até da fofoqueira Rainha Vitória da Grã-Bretanha fez menção a sua visita, D.Isabel visivelmente se sofisticou no comportamento social e passou a comportar-se como sucessora de seu pai, no início insegura, depois foi
configurando-se cada vez melhor para esta grande responsabilidade.


Nesta a fase a princesa começa a mostrar-se muito mais elegante, e depois
de sua viagem pela Europa, apurou-se ainda mais, como nestas fotos de 1875.

Embora avaliasse bem a diferença cultural europeia, escreveu: quanto à natureza, não tinha visto nada comparável ao cenário verdejante do Brasil. Durante essa primeira visita à Europa, D.Isabel escreveu ao pai para agradecer a educação recebida: Oh! Quanto lhe agradeci no meu interior de me ter ensinado e de me ter dado mestres de modo que agora compreendo a maior parte das coisas que vejo, ainda que ignore muito”    

 Do auge da beleza que possuía, 
ficaram estas belas imagens.

Formavam um casal unido, davam-se bem em quase todos os aspectos e foram bons companheiros pela vida inteira. Não há qualquer mácula  registrada na longa convivência que tiveram. O conde sofreu com as críticas da imprensa devido à sua atuação na Guerra do Paraguay, com a pouca atenção do imperador lhe dispensava e com a infertilidade da princesa - no último quesito não tinha culpa alguma

 D. Isabel amava-o sinceramente.
 
 
Fofocas da corte cogitavam sobre a possível infertilidade da
 princesa ou se o reprodutor francês não funcionava.

Gaston infelizmente gerou uma sucessão de antipatias, o principal ataque a sua figura era a fama de ser mesquinho ao ponto de alugar cortiços aos mais pobres. O sotaque francês também não ajudava em nada , até hoje ainda é destoante em alguns dos seus descendentes pretendentes ao trono.



A Constituição do Império do Brasil era rigorosamente cumprida, 
o país era tão democrático como o era a Grã-Bretanha.




As primeiras estradas de ferro começam a ser
implantadas nesta época.
 
 O imperador e os genros no Rio Grande  do Sul
   num prenúncio de guerra.



O maior conflito armado da América do Sul iria
 marcar a História e o Império do Brasil.


Francisco Solano Lopes -  Ditador do Paraguay.

Esforçou-se bravamente, porém sem muita apreciação, na sua notável e corajosa atuação na Guerra do Paraguay. Libertou os 25 mil escravos paraguaios, lá também existiam, em compensação, mandou incendiar um hospital lotado com mais uma centena de feridos. O jovem rapaz mostrou-se sanguinário, inclemente e estressado.

O Gal. Osório retratado na "Passagem do Chaco"  - de Pedro Américo.

Detalhe da guerra em 1867. O Gal. Osório, até o fim de sua vida, sustentou
 como heroico o comportamento  do Conde D'Eu  durante a guerra.

Saiu da guerra estressado, com fama de bravo combatente e de cruel carniceiro. O exército brasileiro não era bem treinado e compunha-se, em boa parte, de escravos negros obrigados a combater.

Caxias e D'Eu comandam um exército de macacos
- charge paraguaia . Macacos imperiais !


 Alforria para escravo que fosse voluntário da pátria

Gaston era austero, poliglota, disciplinado, detestava luxos e futilidades desnecessárias, exatamente como o sogro. Como outros de sua família real francesa era seriamente surdo, deficiência agravada cada vez mais com a idade. Ficou bem financeiramente após a morte do pai, o Duque de Neimours, quando já estava exilado na Europa com o restante da família. De grave ficou sua confirmada fama de  sádico e sanguinário, foi descrito como um criminoso de guerra, capaz de degolar prisioneiros desarmados e executar a sangue-frio mulheres, crianças e adolescentes na caçada final a Solano López.

Argentina, Brasil e Uruguay unidos contra o
 Paraguay expansionista de Solano Lopes.



Tropas brasileiras.

Alegoria à Guerra.

Soldados paraguaios capturados.

 Soldado brasileiro ao lado do soldado paraguaio descalço.

Refugiados paraguaios.







Batalhas navais foram acontecendo a medida que
 se navegava o rumo à capital paraguaia.


O maior e mais sangrento conflito sul-americano.

Solano Lopez logo percebeu
 que estava perdido.


Trincheira com mortos paraguaios.


Gaston - no centro e depois de mão na cintura - durante a parte final da Guerra do Paraguay.  As fotos dele dessa época mostram uma silhueta ainda mais esquálida,mostrando bem seu estresse circunstancial. Houve falta de suprimentos para as tropas e houve fome, a logística de abastecimento falhou e ele emagreceu junto.


O conde D'Eu na Batalha do Campo Grande - 1871 -
o  General Osório era seu amigo e admirador.

A participação na guerra foi uma passagem muito marcante na biografia do Conde D'Eu, ele era um liberal nato, sempre seguindo a tradição de sua família.  Foi ideia do príncipe consorte  extinguir definitivamente a escravidão no Paraguay, que possuía cerca de  25 mil escravos índios, dos quais muitos foram obrigados a lutar  na guerra contra a tríplice aliança.

 

"Do diabo, Chico deu cabo, o cabo Chico Diabo" Solano Lopez e seu filho adolescente morrem  pela lança do soldado Chico Diabo  em Cerro Corá, a imagem  acima é fantasiosa,o ditador estava fugindo sozinho num  curso d'água  quando foi definitivamente ferido,  a guerra acaba logo após a sua desejadíssima morte.

A volta dos combatentes após a sofrida experiência militar com as repúblicas
vizinhas, inicia o ciclo das idéias republicanas organizadas no Brasil.

Um ex-combatente pedindo esmolas e o General Osório 
com a mandíbula arruinada por um tiro.


 Monumentos de madeira para a
comemoração do triunfo brasileiro.


Diário do Conde D'Eu sobre a Guerra do Paraguay.


A Guerra do Paraguay fortaleceu o Exército e 
desgastou a imagem pública de D. Pedro.

Por outro lado o imperador ganhou prestígio internacional
 e  era notícia em jornal alemão.

Foto informal dos Condes D'Eu em meio a um grupo, 
datada de logo após ao fim da guerra.

O casal D'Eu vivia nessa época com conforto e relativa simplicidade, D.Isabel tinha algumas propriedades e jóias, mas de fato recebia apenas uma subvenção oficial para seu sustento social, exatamente como seu pai. Estavam quase sempre endividados, demonstrando uma faceta importante da vida prática dos condes . Não se diferenciavam muito em modo de vida e aparato doméstico da camada social dominante na época, já culturalmente eram sem comparação com qualquer família brasileira . Seu amigos e entorno, suas sucessivas viagens para a Europa e  própria decoração do Paço Isabel, nada tinham a ver com o gosto pela realidade brasileira.


Portanto não eram suntuosos e nem exalavam luxo desnecessário ou incabível, visivelmente poupavam o erário das suas despesas pessoais. A dotação do imperador passou décadas sem qualquer reajuste e ele ainda gastava boa parte dela com doações e bolsas de estudos e auxílio aos mais necessitados.
 
 

No início de seu reinado as despesas da Casa Imperial, inclusive o custo das embaixadas mundo afora,  montavam em 3% das despesas públicas, como nunca foi reajustada, no último ano de seu reinado havia caído para 0,5%. Seus dois palácios eram simples e mesmo mal cuidados, causavam espanto por parecerem simplórios e sem cerimonial significativo, sua biografia registra mais sua riqueza de caráter e infindável interesse científico do que possíveis pompas de rei.


Muito graciosa aos vinte e poucos anos de idade.
  
 
Uma das facetas de Pedro II era o estímulo cultural, assim tornou-se um Papai Noel de bolsas de estudo para artistas, cientistas, além de pensões para desvalidos. As dotações que recebia foram também muito utilizadas em assistência e educação, eram originalmente  previstas para a manutenção das residências e os custos da família imperial. Manter luxo e ostentação não condizia com o caráter ou com as pretensões do ramo brasileiro dos Branganças. A manutenção do poder e das aparências era decidida e muito discreta, tanto no Brasil como em Portugal. Somente D. Fernando, o cunhado alemão, casado com a irmã e também rainha de Portugal, era dado às coleções preciosas e  as gastanças com residências suntuosas. O detalhe dos macacos pendurados na árvore de Natal me diverte muito, pobre D. Pedro, acho que ele se divertia também !


 "Na última década do Império, por diversas vezes no Senado, tentaram votar créditos para reformas nos Paços Imperiais, que cheiravam a velho, com tanta coisa fora de moda, móveis de Jacarandá (?!), que deveriam ser renovados por outras belezas da marcenaria! Longe os trastes antigos! E se o próprio Imperador pintasse a barba, não ficaria também mais bonito? A todas as inovações dispendiosas ou inúteis resistia S.M ( S.M = Sua Majestade )!"

 

Escreveu Marques dos Santos :
"Considerando que o Snr. D. Pedro II pensionava de seu bolso a necessitados e enfermos, viúvas e órfãos, para muitos dos quais esse subsídio se tornava o único meio de subsistência e educação; Considerando que seria crueldade envolver na queda da monarquia o infortúnio de tantos desvalidos; Considerando a inconveniência de amargurar com esses sofrimentos imerecidos a fundação da República, Resolve: Os necessitados, enfermos, viúvas e órfãos pensionados pelo Imperador deposto continuarão a receber o mesmo subsídio..." 
  
Em 1887 na iminência de  um possível reinado.
A liberdade reinante deixou a imprensa republicana à vontade para apelidar a
 princesa de "berinjela" ou de "Zuzu-Bibi-Toto Fredegundes-Curegundes".



Em Portugal o escritor Eça de Queiroz, jocosamente, apelidou o imperador de "Pedro da Mala", porque ele mesmo carregava sua bagagem. Comentavam que ele se dizia "cidadão" no meio da elite, mas rapidamente tornava-se "imperador" nas agruras das situações cotidianas. De fato, quando se irritava transformava-se instantaneamente em teimoso mandatário, mas eram raras suas intervenções mais agudas. Invariavelmente usava jaquetões escuros de grande simplicidade com cartola no lugar da coroa; era um intelectual, e como tal, pouco apegado às aparências protocolares. Era um homem simples, não há dúvidas, mas usava e abusava dessa simplicidade na tentativa de estabelecer uma imagem pública de monarca, porém com jeito e custos de presidente de república; cercado de repúblicas não poderia agir diferente.

Uma visão bem crua mostra-nos como ele mostrava-se um homem simples e autocentrado, trata-se da impressão causada por ele à soberana da maior potência da época, ele já estava no exílio , na Itália, durante uma viagem quando ambos se encontraram. Ela, também já idosa, tinham ambos o problema bucal, mas a prótese dela era mais discreta e bem feita - melhor deixar no original o comentário de uma camarista da rainha inglesa: “A most extraordinary looking old man with a piercing voice, very squeaky and quite  cracked, an intelligent face entirely spoilt by the most appalling ‘ratelier’ I have  ever seen. I expected every moment to see his teeth upon the floor.”   
 
A mesma fonte também chamou D. Isabel, já madura, de: " aquela horrenda Condessa D'Eu ".      

   
Aos 39 anos.

Defendia a libertade de imprensa, aproveitando o ambiente liberal vigente alguns jornalistas espinafravam-o sem respeito ou pena. Exalava um perfil discretamente republicano, porém tinha poderes contitucionais de interferir em tudo, se assim desejasse, sempre esteve bem sentado no trono!

A amada madrasta D. Amélia -  a segunda imperatriz .

Recentemente exumado, o corpo da segunda imperatriz - acima ,
 mostrou-se embalsamado, o estado de conservação
deste surpreendeu os estudiosos.

D. Pedro II tinha parentes na Europa, suas conexões familiares e a representação diplomática brasileira  lhe davam respaldado no cenário europeu. Em Portugal, sua irmã, a Rainha D. Maria II e os muitos sobrinhos, estavam muito bem estabelecidos num reinado  considerado progresista e muito popular. Sua madrasta, a qual ele considerava como uma mãe-postiça, a segunda Imperatriz D. Amélia de Leuchtemberg, também residia em Portugal, no Palácio das Janela Verdes; faleceu em 1873.



D. Maria II de Portugal - irmã de  D. Pedro II - falecida em 1853.


A rainha portuguesa nasceu brasileira e foi batizada na Capela Imperial.



Conhecida com "A Rainha das Escolas", parecia-se muito em caráter com a mãe e o irmão "brasileiro", ela também era brasileira mas ninguém falava nisso. Após muitos partos e muitos príncipes dados à luz, foi precavida pelos médicos do perigo de tantas gestações seguidas. Disse: " Se tiver que morrer, morro no meu posto! " - faleceu em 1853, aos 34 anos e de complicações pós-parto, após o nascimento do seu 11° filho. Repetiu a mesma sina de sua mãe austríaca, falecida num pós-parto aos 29 anos no Brasil.

Glutona como a mãe, comia o que desejava, desprezando as orientações médicas, aos 25 anos tornou-se severamente obesa. Devido à corpulência, seus partos eram problemáticos e seus últimos filhos nasciam roxos, sem poderem vir à luz devido ao excesso de peso da mãe, sufocavam no ventre, apresentando consequentes seqüelas.

 Dramaticamente lamentou-se a seu médico percebendo que seu último parto estava muito mais complicado, e que poderia falecer a qualquer momento, o que de fato aconteceu logo após parir, queixava-se que sofria bastante: "Ó Teixeira? Se tenho perigo, diga-mo; não me engane". Tal como o pai e a mãe, também viveu pouco e intensamente. Pouco conviveu com Pedro II, já o viúvo seu esposo foi grande interlocutor e amigo do imperador brasileiro.


Tia Chicá - a francesa.


D. Francisca, em 1868.

 
A chamada prima Chiquita, por ser  também Francisca,
 filha de Francisco D'Orleáns com Francisca de Bragança.

A outra irmã, D. Francisca, e seu marido, o Príncipe de Joinville, estavam exilados e muito empobrecidos na Inglaterra, após a queda da dinastia dos Órleans na França. Os desgostos e a idade dilapidaram a sua notória beleza juvenil ; sobrou o olhar vívido e penetrante. Foi uma personagem um tanto apagada, talvez discreta, as duas irmãs não tinham nem de longe a postura e a educação intelectual aguda do irmão imperador. Esta era a irmã preferida do imperador, sua outra irmã, casada com o irmão da imperatriz, pelo qual o imperador nutria muito pouca simpatia, tinha menor destaque nas relações familiares com os parentes europeus. D. Francisca teve suas prerrogativas de princesa francesa foi posto abaixo na deposição de Luís Felipe, só mais tarde, após uma intensa campanha diplomática da Princesa Clementina junto ao governo francês, a família Orléans  recuperaria parte de suas propriedades e bens. Boa parte de sua vida já havia se passado e não há muito que dizer sobre ela, foi apenas a esposa exótica de Joinville.

Já madura, ainda exibia os
famosos "olhos-de-corsa".





Luiggi di Borbone - Conde D'Aquila -
um grande desafeto do  imperador.

 Casaram-se em abril de 1844, e D. Januária assim torna-se também Condessa D’Áquila, não se pode dizer que tenha feito um casamento infeliz.  Sempre se gostaram e este sentimento sobreviveu à queda e desaparecimento do Reino de Nápoles e ao exílio em Londres e Paris, e mesmo na maturidade perdurou. Antes, por gosto do imperador ainda quando bem jovem, cogitaram casá-la com o Príncipe de Carignano, da Casa Real de Savóia, de Turim e em visita ao Rio de Janeiro, mas parece que perderam esta boa chance, o príncipe também não entendeu o laço como sendo de todo interessante, teria que morar no Brasil. Por fim, foi o coração de D. Januária, tal como ocorreu com sua irmã Chica, que decidiu sua afeição e destino. O único dos quatro irmãos, incluindo D. Maria II de Portugal, que nunca se contentou de fato com o casamento feito, foi D. Pedro II, gostava e respeitava a silenciosa e pequena imperatriz, mas amar é verbo profundamente intransitivo. Como sofreria consideráveis agruras nesta relação, ficou consenso posterior que D. Januária merecia um outro marido.O Erário brasileiro pagava-lhe pensão e dividendos dos rendimentos de propriedades relativas ao seu dote já com proposital atraso, só para garantir a sobrevivência de D. Januária, evitando no possível, a gastança imediata dos recursos que provinham do Brasil. O jovem D. Pedro II não gostava do cunhado, é certo que a dissemelhança no modo de ser entre o Imperador  e o Conde D’Áquila, contribuiu grandemente para piorar e envenenar as coisas. O rapaz-imperador ainda era muito inseguro, sempre desconfiado, e parece que foi convencido que a irmã, então herdeira do trono até que nascessem os filhos herdeiros, e também seu consorte napolitano, de pronto conspiravam para destituí-lo do trono brasileiro. D. Januária muito sofreu devido a suspeita do irmão, são muitos os relatos de suas lágrimas de tristeza, parece que esta intriga partiu de Paulo Barbosa, o Mordomo do Paço, pessoa muito próxima de Pedro II e com significativa influência sobre ele, este mostrou-se um ferrenho inimigo do conde. 
 
 Acima a Condessa Januária - "Tia Áquila" - em 1856.

Servidor do Paço e da Casa Imperial, muito importante antes da maioridade do jovem imperador, parece ter sido o principal instigador da desinteligência que se abriu entre os cunhados. Que ele se indispôs logo com o Conde D’Áquila , é coisa sabida, e que provavelmente se tenha querido vingar, afastando o cunhado das boas graças do imperador.  Boatos acusavam o jovem imperador, recém-casado, de natureza distante e retraída, de nutrir ciúmes da popularidade dos Condes D’Áquila. Em certas rodas da Corte Imperial, onde a postura dos Áquilas, suas maneiras mais expansivas e acessíveis, conquistaram bem mais simpatias e aprovação do que o enciclopédico e sisudo imperador “alemãozinho”. Este monarca configuraria-se, por toda a vida e de modo geral, como sendo de postura circunspecta e refinada, portanto, de difícil digestão para a simplória nobreza nacional, que ele mesmo ungiu, e também para os ricos proprietários rurais.

 
O conde Luiggi D'Achilla era mal visto por todos, inclusive por D. Francisca de Joinville, irmã mais nova de D. Januária, que sempre lastimava em cartas a má sorte da irmã casada com um Bourbon de Nápoles. A casa reinante napolitana, teve sua origem num ramo dos Bourbons espanhóis, eram de um modo geral não muito cotados no panorama dinástico europeu, só encontraram pares mais frequentemente na Áustria e na Espanha.Sobre ela, bem nos informa o historiador Heitor Lyra, a quem parafraseio. Nunca foi mulher bela, nada que se comparasse com a bela Chica Joinville, suas poucas fotos que conhecemos bem nos mostram, mas era queridíssima de toda a corte brasileira, e surpreendentemente também muitíssimo popular. Neste ponto ponderei: como seria de fato o perfil humano dessa princesa tão pouco conhecida? Transmutou-se de certo, tal como a irmã ascendida à condição de princesa francesa, numa personalidade secundária nos livros mais populares de História do Brasil, foram ambas obinubiladas ao cruzarem o oceano após suas núpcias, mas jamais deixaram de fazer parte da Família Imperial Brasileira, como bem rezava a Constituição.

Chamavam-na "Tia Áquila". A princesa Leopoldina não perdoava
 ninguém,  reparavae escrevia sobre todos, comentou em carta
 a  feiúra do  filho mais velho de sua tia.

 
Acima a irmã mais velha do imperador, D. Januária - Condessa D'Áquila, posa com os filhos, a menina Maria Isabel faleceria algum tempo depois da foto, os filhos Luiggi e Filippo cresceram e tiveram descendência. Mais tarde, o Barão de Itaúna, médico brasileiro e acompanhante oficial da Princesa Leopoldina na Europa, informava em correspondência a Pedro II : os Condes D'Áquila, exilados em Paris após o fim do Reino Borbônico na Itália, moravam em uma bela e requintada residência na Avenue de L'Impératrice. O " Tio Áquila", fazendo jus a sua fama de pouco sério, se tornaria perdulário e imprevisível, e por isso, faria com que D. Januária  sofresse junto a ele. O filho mais novo deste casal , Felipe ( Filippo ) de Bourbón e Bragança, teria uma juventude  bastante conturbada e irresponsável.


 D. Januária D'Aquila teria uma vida conturbada no exílio de Paris,
D. Isabel correlacionou os problemas comportamentais
apresentados pelos dois primos à criação
 no meio mundano parisiense.

O Conde D’Áquila, como era comum em sua família, mostrava um espírito aventureiro. Estava longe de qualquer comparação com a compostura régia da esposa. Era de espírito alegre e buliçoso, napolitano expansivo e esbanjador, mais falava que raciocinava: “ uomo di pochi scrupuli e di elástica coscienza “. Gostando do luxo ou do supérfluo, nunca deu valor ao dinheiro, mesmo com a família destronada e exilada, viveu em considerável luxo . Gastava o que não possuía, seus móveis e objetos foram à penhora  pública quando moravam em Londres, literalmente leiloados, o irmão imperador socorreu, salvando  o dinheiro e a reputação de sua querida irmã . 


 "Tia  Áquila" sofreu com sua
  problemática familiar.

Quanto à D. Januária podemos dizer que os traços de seu rosto eram mais duros, a expressão mais severa, sua silhueta não lembrava a graça da sua irmã mais nova. Contudo, sobre esta, apresentava uma superioridade de porte e comportamento, uma maior distinção de maneiras, além de um grande ar de dignidade e respeito. Tinha o porte de uma verdadeira rainha – a austeridade e a dignidade de uma soberana “ dizia o ministro Aureliano Coutinho, dos Negócios Estrangeiros, também Visconde de Sepetiba. Este também registrou que esta irmã bem poderia servir de “modelo” na ocasião em que se procurava opções  para a futura esposa de D.Pedro II;  o próprio imperador-rapaz dizia que ficaria encantado se sua futura esposa fosse assemelhada com a irmã Januária.



 Túmulo dos Áquila em Paris, falecida em 1901, o conde Luiggi faleceu em 1897,
D. Januária foi a última sobrevivente  entre os filhos de
Pedro I e a Arquiduquesa Leopoldina.

Diante do problema, a Candessa D'Áquila pediu auxílio ao irmão imperador, e assim conseguiu trazer o filho-problema para o Brasil. Este ficaria alojado no Paço de S. Cristóvão, no antigo quarto da princesa Leopoldina. D. Isabel descreve-o: "só gosta de caçadas e cavalos...não é religioso....não acredita em nada, Paris o deixou assim" Foi então engajado no exército, como cadete, numa tentativa de reeducação, posteriormente gerou sérios desgostos para o imperador, em nada melhorou e terminou por passar uma curta temporada por aqui, não deixou saudades em ninguém. O rapaz mais velho, Luiggi, primeiro se apaixonou por uma cubana de vida irregular, depois abandonou a vida aristocrática ao  casar com uma mulher sem sangue real.

Na foto acima, pode-se notar a diferença de altura do imperador, tanto em relação à esposa, como à sua irmã D. Januária e ao marido dela: o Conde D'Áquila, irmão de D. Teresa. Provavelmente a foto é da visita do imperadores à Paris, em 1971; as roupas, estados físicos e penteados indicam assim.Não obstante, se  a vitória final na guerra faziam de d. Pedro um monarca cada vez mais popular, é preciso reconhecer que os cinco anos de combate foram penosos para ele. Segundo os relatos do visconde de Taunay, d. Pedro II tinha se transformado num velho, testa sulcada por fundas rugas, cabeça totalmente branca, “barbas sem mais nenhum fio dourado”. A exposição no cenário do embate, o gerenciamento pessoal do conflito, parece que tinham lhe custado caro.






Foi no Paço Isabel, durante os anos de espera, enquanto a princesa tentava engravidar 
sem sucesso, que o casal passou a se distrair cultivando plantas 
e terminaram por formar um orquidário 
nos jardins de sua residência. 

O batizado oficial do Príncipe Augusto- segundo filho Gusty e Leopoldina, estes ao lado dos imperadores no púlpito, os relatos nos informam que Leopoldina estava especialmente bela após a segunda maternidade. Sua dama de companhia D. Antônia segurava a criança, os Condes D'Eu representam os ausentes pais de Gusty na cerimônia na Cadedral Imperial, estes eram os verdadeiros padrinhos, o evento ocorreu sobre forte calor em março de 1868. O irmão mais velho da criança, Pedro Augusto, linda e adorável criança, com pouco mais de dois anos, dizia sobre si mesmo: "Pobre Pedro, não consegue dormir por causa do calor" .



  Os Coburgos, espalhados como consortes em várias casas reinantes
 na Europa, tinham fama de ótimos procriadores, no Brasil o episódio
 se repetiu. Nesta foto acima , creio que D. Leopoldina segura
seu segundo filho, nascido em Petrópolis: Augusto Leopoldo.

O monarca derretia-se de felicidade, cercado de lindos netos herdeiros. Quanto a Gaston, Leopoldina espirituosa e zombeteira chamava-o de " Ão-Ão" - eco do fim do seu nome e lembrança do apelido "Narigón", o francês não estava nada contente com a "fábrica" de netos Saxe-Coburgo. Isabel - " Mana Nariz de Telha" mostrava-se, cada vez mais, uma futura tia imperial sem filhos. D. Leopoldina, de uma fertilidade perceptível,  engravidou logo no primeiro ano de casada, este rebento se tornaria o futuro concorrente do casal D'Eu na sucessão do trono.


D. Isabel - sentada - com a mãe e a irmã. Nessa época, já diante de sua dificuldade em conceber filhos, a princesa então posava junto aos sobrinhos. Sua irmã, já com o segundo filho - Augusto Leopoldo - nas mãos, era uma potência de fertilidade. Os filhos de Leopoldina eram crianças muito bonitas e saudáveis, ela adorava o primeiro filho, suas cartas mostram-na muito feliz com o crescimento dele. Seu casamento foi um sucesso completo, dava-se muito bem com o marido e com a família dele.


Em 1869, D. Leopoldina dá a luz, no Paço Leopoldina, a Josef ,
o terceiro neto de   Pedro II. Os canhões das fortalezas
 do Rio mais uma vez saudaram  a chegada de
um neto Saxe-Coburgo.


Maria Immaculata de Borbone filha do Rei Fernado II das Duas Sicílias- prima e grande amiga de D. Leopoldina na corte vienense, por casamento também era Arquiduquesa de Habsburg. Sua filha Caroline iria, mais tarde, desposar o segundo filho de Leopoldina - Augusto Leopoldo

.
A imperatriz em 1970 - encantada com o genro
Gusty e com o neto Pedro Augusto.

Já D. Isabel e o marido francês - maldosamente suspeito e acusado de infertilidade, ou impotência - estavam sem maiores novidades para a sucessão dinástica. Durante essa fase difícil para ambos, uniram-se ainda mais. O Dr. Depaul , médico francês da princesa, registrou que o casal era apaixonado, disse: "eles se amavam como se fossem bons burgueses".  
   
 Os Condes D'Eu, nesta fase pós-Guerra do Paraguay e durante os consecutivos nascimento dos sobrinhos, buscaram relaxamento em outras atividades. Gostavam de viajar e do contato com a natureza, como se pode perceber no trecho de texto abaixo, escrito pela própria D. Isabel, já mais tarde no exílio europeu, relembrando sua vida no Rio de Janeiro: "...as plantas trazidas para ornamentar a casa, ignorando que, desse dia em diante, não deveríamos mais voltar a essa querida habitação, o paço Isabel, em Laranjeiras, arrabalde do Rio, cheio de casas e jardins deliciosos. O paço Isabel, nossa residência do Rio, desde nosso casamento, bem afastado de São Cristóvão, é uma bonita casa no meio de grande jardim, ao pé de uma colina bastante alta, cujos caminhos verdejantes, povoados por miríades de borboletas (algumas dessas bem grandes, de um azul resplandecente) levavam-nos a uma esplêndida vista sobre a baia, o Pão de Açúcar, e outras montanhas e ilhas da Guanabara.." Também gostavam de viajar para Europa, rever parentes e aproveitar o status de herdeiros do governo do continental império brasileiro. Durante sua segunda viagem pela Europa, um fato fúnebre inesperado aconteceu.



Programa documentário sobre D. Isabel.



Precocemente, em 1971, na Áustria, D. Leopoldina, logo após o nascimento do seu quarto filho, Ludwig, falece de febre tifóide aos 23 anos. Deixava quatro filhos pequenos, gerando uma grande tristeza para toda a família, dos dois lado do oceano. Fisicamente recuperando-se de mais um parto, foi acometida de forte diarréia com hemorragia, febre e desidratação; não resistiu. D. Isabel e o marido estavam na Europa, convocados a dar assistência espiritual à princesa moribunda, dirigiram-se à Viena e assistiram o falecimento.

Os três filhos mais velhos: Pedro ,
 Josef e Augusto, em 1870.

Leopoldina era jovem e muito amada pelo marido, levava uma vida de viagens e divertimento, sua sogra também lhe tinha carinho especial. Pelos informes do médico brasileiro, o Visconde de Itaúna, especialmente designado por Pedro II para acompanhar a filha e os netos, sabemos que o casal Coburgo não pretendia retornar tão cedo ao Rio de Janeiro. Estavam decididos a levar uma vida européia, convergida para o cenário de possibilidades da família de Gusty; desistiram do Brasil e das intrigas do Conde D'Eu.


Itaúna foi um médico lotado junto à Casa Real brasileira, designado para acompanhar permanentemente D. Leopoldina e netos na Europa, enviou relatórios regularmente para Pedro II com informações e detalhes preciosos sobra  a vida conjugal dessa princesa em Viena.Essa mesma fonte histórica nos informa: a princesa estava fisicamente desgastada pelas sucessivas gestações, tendo mesmo pressentindo o seu falecimento um ano antes dele acontecer. Este fato fúnebre inesperado, daria motivo e precipitaria a primeira viagem dos imperadores à Europa, e a consequente primeira regência de D.Isabel; foram velar a filha querida jazente numa pequena capela católica em Coburg.

 



 Palacete dos Coburg-Kohary em Ebenthal na Aústria - fotos acima - uma das residência da Princesa Leopoldina, a preferida, ficava a cerca de 100 km de Viena. 
 
O teto pintado no principal salão do palacete, bem como
outros interiores, mostravam-se muito
 marcantes e vistosos. Foi nesta
construção que a princesa
teve seus melhores
momentos.


 Quando em Viena, a família residia na ala direita do imponente Palais Coburg - fotos abaixo . Esta majestosa construção foi erguida com o dote de Clementine - mãe de Gusty - para abrigar o novo clã católico Orléans-Coburg-Kohary. Muito mais tarde, já desatinado, o príncipe brasileiro que desejava ser imperador atirou-se de uma das janelas desse prédio. Pedro Augusto, antes de enlouquecer, tentaria ali um fracassado suicídio.


Clementine D'Orléans - mãe de Gusty, tia de Gaston, sogra de Leopoldina - riquíssima e profundamente sagaz - tornou-se poderosa e respeitada figura na diplomacia e da politica européia de seu tempo. A princesa brasileira referia-se à sogra como "maman", e logo constatou que ela dominava, mandava e desmandava em todos da família, inclusive no marido. No último ano de vida da princesa, informa o Itaúna, o casal mudou-se para uma outra residência em Viena, nessa circunstância, mandaram vir quadros e alguns móveis e objetos mais preciosos do Paço Leopoldina, para embelezar a nova casa. Pretendiam fixar-se em Viena e esquecer o Brasil, deviam ter seus motivos. Talvez essa nova casa, exclusiva para o casal, seja o mesmo palacete de Gerasdord, nos arredores de Viena, onde mais tarde residiria seu segundo filho, o Príncipe Augusto Leopoldo.

Filha de rei, Clementine não chegou a ser rainha como desejava, mas tornou-s mãe de rei, estendeu sua influência até a monarquia brasileira através do casamento de seu filho mais querido. O imperador deixou os dois genros longe dos cargos importantes, do poder e dos orçamentos públicos, temia críticas. A amizade entre os primos também degringolou, após Gaston perceber que Gusty ficaria no Brasil, só depois de muitos desgostos o casal Coburgo resolveu tentar a vida européia.