VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Manto Havaiano


O requinte da manufatura dos mantos plumários havaianos,
 marca o apogeu dessa tradicional arte nativa,
numa terra sem riqueza mineral, os
pássaros eram as verdadeiras
  joias da vida.

Sua história, seus símbolos culturais e a viagem
que trouxe seus monarcas ao Brasil.




Após a narrativa sobre a sina da monarquia malgaxe na postagem anterior, um interessante episódio da história africana, todavia este  não nos deixou tantos vestígios e detalhes visuais, descrevo aqui o caso bem similar do desmonte da monarquia havaiana,  muito mais bem documentado e inteligível.


O cinema os fez famosos por serem exímios dançarinos, sua história é pouco conhecida pelos brasileiros e este resumo em português visa dar mais cor e alma a este povo. A monarquia havaiana nos legou um espólio rico em imagens e objetos de época, nos mostrando bem a luta pela soberania polinésia no arquipélago, culminando com a abdicação e exílio da última rainha e a consequente e arquitetada anexação do Havaí pelos Estados Unidos. Por outro lado, na postagem fica patente que a riqueza biológica de Madagáscar é astronomicamente superior ao modesto e singular arranjo ecológico do arquipélago havaiano. Na postagem malgaxe demos maior destaque à natureza local, na havaiana foi o conteúdo histórico o mais preponderante.



Traços culturais e artísticos fortes.

A história dessas ilhas ficou muito parecida com a postagem de Madagáscar, me chamou a atenção a similaridade, pesquisando sobre as rainhas de Antananarivo, encontrei os interessantes monarcas de Hononulu - não resisti - separei então este tema para uma postagem independente.


Também a fantasia de havaiano, muito popular no carnaval brasileiro, nos mostra este 
estereótipo insular fazendo parte de nossas mais queridas referências culturais estrangeiras.



O Havaí é um lugar onde há muita natureza e história, igual ao blog Perfil da Planta ! São 132 ilhas e só as maiores são habitadas, o arquipélago tem uma extensão de 1.200 km. Como o movimento das placas tectônicas, vão brotando vulcões do fundo do oceano. Os pontos mais altos passam dos 4 mil metros de altitude e se contarmos a altura da montanha sob o oceano chegamos aos 10 mil metros.


Ilhas pequenas e médias de grande beleza cênica e de flora e fauna muito singulares e raras - há muitas espécies estrangeiras introduzidas e várias das nativas extintas devido às mudanças ambientais. De toda forma é um ótimo assunto para uma postagem, fiquei fascinado ao pesquisar sobre este arquipélago quase mítico e muito mais popular no Brasil do que qualquer outra ilha polinésia.


Um lugar cheio de vida, vulcões fumegantes
 e histórias de rainhas nativas.




As ilhas são formadas pelos sucessivos derrames vulcânicos, vão ganhando extensão ao se solidificarem as lavas basálticas resfriadas pelo mar, ganham altura pelo seu acúmulo. Estas rochas magmáticas, depois de decompostas pelo intemperismo, formam solos férteis muito ricos em minerais, aliados ao clima favorável, transformam o Havaí em luxuriante cenário tropical.




A localização longínqua, bem no meio do Pacífico, explica a razão das ilhas originalmente apresentarem apenas uma dúzia de espécies de mamíferos, entre elas uns poucos morcegos, focas, cetáceos e os humanos; só estes. O arquipélago está localizado a cerca de 4 mil Km da costa continental mais próxima, é um bom exercício imaginar como as espécies de pássaros, insetos e plantas conseguiram chegar lá.


As ilhas são todas de origem vulcânicas e ainda há vulcões ativos com quase permanentes erupções na maior e mais nova delas, a chamada Ilha do Havaí. Outras ilhas muito mais antigas já desapareceram vítimas de total erosão, ficando apenas as suas bases rochosas totalmente submersas, como se pode ver acima na sucessão ou rastro orientado formado na imagem geográfica.




Acima as ilhas mais habitadas, a primeira leva de imigração polinésia chegou no Séc. IV, a segunda leva 300 anos depois vinda do Thaiti e o Capitão Cook em 1778; a partir daí os problemas começaram. Epidemias devastaram a população e depois começou a cobiça pelos recursos naturais e pela posição estratégica.



Adicionar imagem
As ilhas tornam-se progressivamente muito erodidas e mostram um relevo muito verticalizado e abrupto, na sequência geológica formada após o vulcanismo cessar, as fortes chuvas dissecam os maciços basálticos criando um cenário de profundos vales e abismos na frágil rocha magmática.

O extremo isolamento geográfico do arquipélago proporcionou uma natureza exuberante e singular, porém pobre em número de espécies, ao contrário da imensa riqueza biológica de Madagáscar, ilha muito mais próxima do continente.



Planthera holochila

Liparis hawaiensis

Anoectochillus sandvicensis.

Acima, em flor, as três únicas espécies de orquídeas nativas, são todas terrestres e pouco vistosas, o pobre conjunto delas juntas nos mostra a falta de diversidade biológica a qual me refiro. Também não havia qualquer tipo de periquitos, papagaios , pássaros similares ou de maior porte. Atualmente se vê por lá várias espécies de aves, mamíferos e orquídeas mais conhecidas e comuns, todavia foram introduzidas após a chegada do homem branco. O arranjo ecológico original do arquipélago existe ainda em poucos lugares, especialmente nas maiores altitudes.



Os havaianos eram etnicamente polinésios puros, tal como em Fijii, Tuvalu, Tonga e outras ilhas do Pacífico. Por elas podemos ter idéia de como era o Havaí antes da perda da espontaniedade.




Hula-Hula traditional dance




As fotos de época comunicam, em uma fração de segundo, mais do que mil palavras de texto.

Tradicional guerreiro havaiano tatuado com elmo e manto.

Capitão Cook desembarca no arquipélago em 1878. dando início ao ciclo histórico havaiano, como os nativos não tinham escrita os acontecimentos anteriores são mal registrados.


Chefes das várias tribos tradicionalmente usavam uma rica e característica
indumentária plumária. O sistema de chefia sobreviveu por
 14 séculos e a monarquia durou 8 décadas.

Chefe Piilani- Ilha de Maui.


Colar de cabelos humanos trançados com
pendente de dente de baleia.

Kamehameha I foi o fundador do Reino do Havaí, as monarquias insulares
periféricas comentadas neste blog: malgaxe e havaiana; passaram
contemporaneamente pelo mesmo processo de apogeu e
desgaste, e chegariam ao seu fim praticamente
ao mesmo tempo.


Kamehameha I

O manto real deste primeiro rei havaiano, conservado no Museu Bishop de Oahu, é preciosamente composto de 450 mil plumas apenas amarelas - as mais raras e proveniente da espécie de pássaro extinta Moho nobilis - eram arranjadas em tufos de 10 a 80 penas e então fixadas em trama de fibras naturais extremamente resistentes da planta nativa olonā (Touchardia latifolia); uma peça inestimável.


Em 1810, após 13 anos de guerra e usando as novas armas estrangeiras, este chefe nativo conseguiu reunir todas as ilhas sob seu comando, fundando assim o Reino do Havaí. É cultuado como fundador da pátria e herói havaiano , codinominado : " O Grande Conquistador ".




Acima imagens de Kaahumanu, a amada rainha-consorte de Kamehameha I, 
não tiveram filhos, os próximo dois reis que sucederam ao pai
 eram irmãos, filhos de uma esposa secundária
 chamada Keōpūolani.

A rainha foi retratada usando uma tradicional e
 delicada tiara de penas amarelas.


O rei inspeciona alimentos acompanhado de cortesãos
 portando as típicas regalias havaianas.

Acima uma litografia de 1816 mostrando Kamehameha I
e Kaahumanu recebendo estrangeiros.


Também não poderia deixar de comentar a interessante troca de presentes numa recepção oferecida por D.Pedro I ao casal real havaiano no Rio de Janeiro, em 1824, fato histórico pouco conhecido e por isso aqui mostrado com detalhes e imagens. Um momento raro, no qual a história das duas nações se cruzaram.



Rei Kamehameha II e esposa visitaram o Rio de Janeiro
e provavelmente estiveram hospedados no
Paço dos Vice-Reis


Enriquecidos pelo massivo comércio da madeira e do óleo de sândalo das matas do Havaí, a China consumia-os com avidez, , os reis havaianos passaram a desejar viajar pelo mundo afora. Levando significativos 25 mil dólares em moedas de ouro, provenientes exclusivamente de taxas portuárias, o rei Kamehameha II e a rainha Kamamalu, cercados de uma comitiva, decidiram iniciar a viagem em 1884. Fretando a baleeira britânica L‘Aigle do empresário norte-americano Valentine Starbuck , esbanjariam na viagem parte da riqueza recém conquistada.



Rainha Kamamalu: a dono do manto
guardado como preciosidade
no Museu Nacional-RJ.

O rei era jovem e bebia muito, era exibido e temperamental, estava a apenas 5 anos no poder, não era exatamente um estadista em comportamento, mas pensava em igualar-se aos monarcas estrangeiros de quem tanto ouvia falar . Após receber canhões de presente do rei inglês e assim tomar mais consciência sobre o avanço aa tecnologia marítima européia, passou a colecionar pequenas embarcações.

O contraste do navio inglês HMS Blossom
cercado pelas primitivas canoas havaianas .

Ainda antes desta viagem, comprou um extravagante iate para uso da casa real nos percursos menores entre as ilhas do Havaí, pelo alto custo da compra a embarcação ficou conhecida popularmente como " A Barca de Cleópatra", pagou por ela cinco vezes mais do que a embarcação de fato valia, era pura impulsividade. Como o madeiramento já estava em péssimo estado, o iate demandou reparos dois anos depois e logo em seguida afundou.

O iate "Barca de Cleópatra", comprado em 1820, 
afundou em 1824 na costa norte de Kauai.

Antes de viajar rumo à Europa, tendo clara noção do risco da aventura de 6 meses de duração, por entre oceanos , o casal real deixou a regência e sua possível sucessão no governo sabiamente já equacionadas. Foram os primeiros governantes polinésios a pisar naquela parte do mundo, a aventura terminaria por ceifar-lhes a vida.



Príncipes havaianos usavam o
 tradicional manto Ahuʻula .


Partiram em 23 de novembro de 1823, após 82 dias circunnavegando a América do Sul, tendo contornado as geladas costas da Terra do Fogo e Patagônia no extremo sul argentino, por isso fretaram uma baleeira, e dirigindo-se para Londres, fizeram já em 1824, uma estratégica parada no Rio de Janeiro, capital do recém-emancipado Império do Brasil. Foram recebidos com todas as honras de estado , como esta foi a primeira visita de governantes estrangeiros, foram simpaticamente recebidos e presenteados pelo imperador Pedro I, com uma rica e elegante espada para o rei e um anel de brilhantes para sua esposa.

Estátua de Kamehameha I usando
um manto Ahuʻula - Hononulu.

Em reciprocidade, o imperador recebeu de presente dos colegas havaianos um valioso e tradicional manto feito de penas de pequenos pássaros havaianos sorvedores de néctar - indumentária chamada de ahuʻula . O exemplar ofertado era antigo e pertencera a rainha, todavia ela a muito passara a usar exclusivamente a moda europeia.

Reunião de chefes das ilhas, todos
cobertos com os preciosos mantos.

Portanto a peça já estava bem usada na época, talvez por isso tenha sido descartada ou talvez fosse valiosa ou histórica. A entrega do manto a Pedro I° deve ser, assim, vista como ato consciente de se fazer um presente à altura da dignidade imperial através de uma antiguidade de alto significado simbólico. Pensa-se que talvez seja um dos mais antigos exemplar desta arte plumária para uso feminino conservado fora do arquipélago, com a extinção de algumas das espécies de aves que forneceram as plumas, estão ainda mais valioso atualmente .



Acima os primeiros imperadores do Brasil - D. Pedro I e D. Leopoldina.
 As plumas estavam na moda na época como se vê no
 estranho arranjo na cabeça da imperatriz.





Durante a viagem da comitiva havaiana , já em Londres, há registro de pelo menos mais quatro mantos similares, menos usados, presenteados para o capitão da baleeira e outros inglêses. O exemplar guardado no Rio de Janeiro foi depois incorporado à coleção particular de D. Pedro II, e atualmente está conservado e exposto no Museu Nacional-RJ.


O presenteado manto Ahuʻula e a tiara de plumas, um conjunto pertencente à indumentária da rainha Kamalu, caso fosse um manto masculino estaria acompanhado de um elmo, as peças estão atualmente expostas na coleção etnográfica do Museu Nacional - Rio de Janeiro.





Muito provavelmente este manto acima, conservado em museu inglês,
seja um dos exemplares contemporaneamente presenteados
 por Kamehameha II, já em Londres.



Manto no mesmo estilo do exemplar do Rio de Janeiro -
ofertado por Kamehameha III ao comodoro de
 um navio, em 1843. Museu Bishop
 em Oahu - Hawaii


Eram mantos de refinada manufatura, usados apenas pela realeza, demandavam a captura de muitas dezenas destas aves raras, os pequenos animais eram imobilizados com visgo - "seiva grudenta" - extraído da árvore de fruta-pão ( Artocarpus altilis ), aplicado nos galhos e ramos próximos ao locais onde havia abundância das flores das quais se alimentavam. Ao pousar eram imobilizadas pelo grude nas patas, ficando presas aos ramos. No Brasil, tradicionalmente, usa-se este mesmo estratagema de captura de pequenas aves, todavia usamos o "visgo" de jaca ( A. heterefolia ), uma espécie muito próxima da fruta-pão, ambas são espécies asiáticas, sendo a jaqueira muito mais disseminada e adaptada no território nacional.

Peça similar as anteriores, conservada em museu americano.

Cuidadosamente depenadas eram em seguida tratadas com unguentos especiais, para recuperarem logo a bela penugem, e em seguidas soltas pois sempre foram raras. Era expressamente proibido matar os pássaros em questão, todavia o processo sequêncial de depenagem enfraquecia as pequenas criaturas.


Elmo coberto de plumas.




Exemplares de arte plumária antigos em exibição
 no Museu Bishop em Oahu - Hawaii


Manto parecendo ser mais arcaico, supostamente
 teria pertencido ao Capitão Cook.


O presente foi, sem dúvida, um gesto de grande consideração ao novo imperador do Brasil. Como em ilhas vulcânicas raramente há depósitos de metais preciosos, o "ouro" no Havaí era a beleza e elegância destas aves, sendo portanto um material valioso. Esses foram os únicos reinantes estrangeiros a visitar a capital do Império, outros que já tinham deixado de ser, e outros que ainda seriam, aqui estiveram. Coroados e governantes, durante a monarquia, só o casal real havaiano. Cabe frisar : Pedro I° foi o único soberano que os recebeu oficialmente e deles não fez pouco caso ou pilhéria.


Himatione sanguinea

Vestiaria coccinea


Acima os pássaros do tipo "papa-mel" fornecedores das penas vermelhas,
 estão atualmente seriamente ameaçados de extinção.
 Jóias da natureza !



Moho nobilis



Drepanis pacifica


Acima as espécies de aves-nectarinas, origem das valiosas penas amarelas
e também das pretas, estas bem menos apreciadas, infelizmente
 as duas espécies já foram extintas.





O casal real, alguns membros da comitiva e o "Poodle" no entreterimento do teatro. A dama usando o turbante, ao lado da rainha, era casada com o chefe nativo disposto na sua retaguarda, ambos são mostrados mais jovens na ilustração abaixo.

Chefe tribal Koki e a esposa Liliha.


His Sandwich's majesty in London.

Londres era para eles uma festa repleta de novidades, uma boa oportunidade para aproveitar a boa vida e o ouro que traziam, as penas de pássaros fiicaram no passado. Assim sendo as majestades havaianas ( the Sandwich's majesties - Ilhas Sandwich - antigo nome inglês do Havaí - em inglês atual é Hawaii = lê-se "rhauáii") , assim os chamaram por lá nos artigos de jornal, foram recebidas em Londres com surpresa pela visita, hospitalidade, curiosidade e zombaria.

Mr. Poodle.

Foi designado um funcionário gay da diplomacia britânica, Frederick Gerald Byng, cujo o apelido era "poodle", por causa do seu cabelo enrolado, ele ocupou-se profissionalmente em entretê-los e bem apresentá-los nas diversões e passeios. Ficou registrado o fascinado estupor de Kamehameha com o teto decorado da Abadia de Westminster e o susto da rainha - chegou a levantar-se abruptamente - com os primeiros acordes do trovejante órgão desse famoso templo inglês.



Sátira britânica de época sobre a recepção dos soberanos, o "Poodle" era também bastante folclórico, formavam, todos juntos, uma trupe bem chamativa. As diferenças culturais, tecnológicas e econômicas eram imensas, os nativos polinésios viviam em condições tribais ou mesmo pré-históricas. Podia ter sido apenas diverdido, mas a pilhéria virou tragédia e perdeu a graça!



O casal real acabou inesperadamente falecendo devido ao sarampo contraído durante a visita a um sanatório, primeiro a rainha e depois o rei, com seis dias de diferença de um falecimento para o outro, nem chegaram a ser recebidos pelo soberano inglês. A Grã-Bretanha consternada e constrangida pela desagradável fatalidade, fêz retornar os despojos mortais do casal ao Havaí num grande e poderoso navio de guerra, o HMS Blonde, um claro sinal de pesar e respeito pelo lamentável acontecimento. Foram enterrados nos subterrâneos do Palácio Iolani, depois da anexação foram removidos para um mausoléu.




A Coroa do Reino das Ilhas Havaianas.



A espaçosa cabana nos mostra o estágio civilizatório desta nação
 quando os primeiros navios europeus lá aportaram.



 
Nativas típicas e aculturadas na moda européia -
o dilema de mudar para poder sobreviver.




A Princesa Ruth, uma prima próxima dos reinantes, 
foi proprietária de grandes extensões de terras, 
tornou-se a mulher mais rica do Havaí.






Em 1859 foi governadora de uma das ilhas,tinha
1,80 m de altura e pesava cerca de 200 kg.


Ergueu para sua moradia um luxuoso palecete, finamente decorado no mais puro estilo europeu. Essa singular princesa bem exemplifica o apogeu da riqueza e do poder da monarquia havaiana.



Palacete da Princesa Ruth.

Com cristianização dos nativos a monarquia assume ares menos tribais e passa a constituir a máquina estatal havaiana, deixando de ser apenas uma liderança tradicional e tornando-se um governo. A economia mostrava-se pujante e havia meios materiais para equipar o governo.




Rei Kamehameha III e Rainha Kalama.


Daguerrótipo de 1853.

Kamehameha III (centro) sua esposa Rainha Kalama (direita); Kamehameha IV ( direita),
 Kamehameha V (esquerda) e sua irmã, Victoria Kamamalu (esq.).



Rei Kamehameha IV e a Rainha-consorte Ema em 1860.


Em 1872, um ano após enviuvar da Princesa Leopoldina, o Príncipe Luís Augusto de Saxe Coburg Kohary, membro da família imperial brasileira, genro de Pedro II, visitou o Havaí.






Kamehameha V - irmão do anterior, faleceu em 11/22/1872, no dia do seu
aniversário e sem deixar descendentes diretos.




Lunahilo , primo de Kamehameha V, foi eleito o novo rei havaiano 
conforme indicava a constituição do país. Infelizmente faleceu
dois anos depois , em 03/02/1874, de tuberculose.


Entre os pretendentes ao trono que se enfrentaram na eleição estavam Luahilo - 
de branco sentado à esq. - e seu sucessor David Kalakaua -
 também de branco à direita.


Aproveitando os resultados da eleição ocorrida anteriormente, ascendeu ao trono havaiano o Rei David Kalakaua e q Rainha-Consorte Kapiloani. Seu reinado seria marcado pela pressão norte-americana direcionada a enfraquecer a monarquia, começariam uma sucessão de viagens ao exterior em busca de apoio e reconnhecimento para esta frágil monarquia tropical insular.



Em 1881 o Rei David Kalakaua faz uma viagem volta ao mundo, tentando angariar
simpatias e relações , visando
fortificar a independência do Reino do Havaí.

Corte havaiana retratada nessa época

Colar de conchas e "olho-de-gato" da rainha Kapiloani.



A mansão comprada por Kamehameha III se transformaria em imponente e emblemática construção.

Rapidamente surgiu um aparato inesperado e surpreendente.


O Palácio Iolani foi iniciado modestamente com a aquisição de uma grande mansão residencial de apenas um andar, por volta de 1820, teve a sua luxuosa ampliação terminada em 1882, dando-lhe a face atual. Transformado em sede executiva de governo após a república e a anexação americana, foi descaracterizado e dilapidado ao longo do tempo, reconstituido na década de 60 recuperou a arquitetura e os interiores.



É a única construção inequivocamente monárquica em território norte-americano. Seus evidentes ares europeus faziam parte de uma tentativa de dar maior dignidade, visibilidade e simbolismo ao tradicional governo do arquipélago diante da crescente influência americana.



O palácio pronto, o salão azul, o quarto da rainha, a sala do trono e hall principal.




O aparato e as residências reais havaianas - há outras além desta aqui mostrada- rivalizam em porte e acabamento com as do período imperial brasileiro; desejavam claramente continuar a existir como nação independente e soberana.

Carpintaria e tapetes notáveis, arquitetura eclética e luxo numa restauração primorosa dos ambientes internos do palácio havaiano. Os profissionais americanos são sempre tecnicamente muito competentes e detalhistas.


O tradicional manto cobre o trono.


Kapiloani- Rainha-Consorte do Havaí - acompanhada de sua cunhada e herdeira, a Princesa e futura rainha Liliuokalani, em 1887, vestidas conforme os cânones europeus. A monarquia cairia quase ao mesmo tempo em Antananarivo, Hononulu e Rio de Janeiro; sem sangue e tiros, culminando com o exílio dos antigos governantes.


Acima Kapiloani e Liliuokalani ainda em 1887, primeiro na recepção no Salão Azul da Casa Branca e depois já nos jardins vitorianos ingleses.

No retorno, o desembarque no porto de New York.

Esta outra viagem de majestades havaianas aos EUA e à Grã-Bretanha, onde participariam das comemorações do jubileu de reinado da rainha Vitória, foi marcadamente diplomática e em busca de sustentação internacional diante da eminente anexação americana do Havaí.




Liliuokalani enquanto princesa herdeira do trono.



Com o falecimento do rei, em 1891, a princesa herdeira inícia seu curto reinado.



Imagens já como governante, não era descendente de sangue, era adotada, todavia fazia parte da família real e foi uma rainha inequivocamente legítima.



Guarda de Honra do palácio do governo.




A protocolar saída da rainha do Palácio Iolani e o fim do governo monárquico havaiano, seu reinado duraria apenas 2 anos, os leques ou sombreiros cerimoniais erguidos ao lado da carruagem podem ser vistos ao lado dos tronos numa foto mais acima. Após a queda da monarquia, proclamou-se uma efêmera e transitória República Havaiana, pouco depois aconteceu a ambicionada anexação aos Estados Unidos da América do Norte.


Em 17 de janeiro de1893 um estratégico contingente de fuzileiros do navio de guerra USS Boston, ajudou a destronar a Rainha Liliuokalani em um golpe autoritário, uma típica quartelada sem apoio popular, porém sem derramamento de sangue. Franceses em Madagáscar e americanos no Havaí, a cobiça era a mesma, o desfecho histórico também, os interesses econômicos da nova onda colonizadora derrubavam os governos nativos fracos ao redor do mundo.


Conservação primorosa do passado.

Deposta pelos americanos a rainha ficou abrigada, até o seu falecimento, numa outra residência monárquica secundária , a mansão Washington Place.


Interiores com decoração eclética e
 de impacto surpreendente.



Faleceu de derrame cerebral em 1917.



A história continua a dar vida ao
 seu nome e ao de sua respeitável
família reinante, bravos e
 predestinados  até o fim
 de suas possibilidades.

Impressiona-me perceber como são atávicas as relações entre os reis, seu súditos e seus inimigos; sejam eles africanos, brasileiros, havaianos, formigas, cupins ou marimbondos. É assunto para muito livros, muita reflexão e ótimas oportunidades de ver as fotos antigas.


Praias famosas onde nasceu o surfe.



Movidos a remos e a velas os polinésios
 chegaram ao arquipélago.



Escolados velejadores, navegavam tradicionalmente em canoas duplas,
 estas proporcionavam maior estabilidade nas grandes ondas do arquipélago.




A nativa coruja do Hawaii - Asio flammeus. É uma subespécie, demonstrando
 que migrou recentemente, já em tempos históricos, para o arquipélago.


O singular e muito belo  padrão das penas no pescoço são
 característicos para esta espécie de ganso.

 Sua Alteza Real do Havaí:  o ganso-nene; descendente de um desastrado
 bando de gansos canadenses, que erraram o caminho da migração
 e acabaram aterrissando no paraíso havaiano. Logo adquiriram
a característica nobreza do lugar; que ave interessante.

Esta rara ave é um dos símbolos oficiais das ilhas, quase foi extinto sobrando então poucos exemplares, é o endêmico ganso-nene - Branta sandvicensis. A espécie era encontrada originalmente apenas na maior das ilhas, havia uma população de cerca 25 mil. Furões e gatos introduzidos e agora espontâneos e ferais, dizimaram a população original. Hoje, após décadas de sérios programas de conservação e reprodução, são cerca de 800 indivíduoas na natureza havaiana e algumas centenas em zoológicos do mundo, em 1947 eram apenas 40.

Os animais comem de tudo que seja nutritivo nos lugares abertos onde vivem. Pastam grama e capturam insetos, não dispensando frutos e raízes. O nome popular é uma reprodução da vocalização mais comum na espécie : nene nene nene.

O animal é geneticamente aparentado com a espécie de ganso selvagem do Canadá, chegou à ilha em tempos imemoriais e a espécie atual descende de uma outra espécie de ganso nativa já extinta, esse outro animal não voava e era bem maior.





O arquipélago é um dos pontos de maior destaque na floricultura dos Estados Unidos, em parte pela presença cultural de forte colônia nipônica; juntamente com a Flórida é um dos pontos mais notoriamente tropicais desta nação.


Esta é a mais famosa e disseminada planta nativa havaiana, embora exista em várias ilhas da polinésia, Austrália, Nova Zelândia e outras ilhas asiáticas. É uma dracena de folhas verdes-avermelhadas, é muito comum no jardins brasileiros - Cordyline terminalis.

Provavelmente a espécie tenha vindo nas canoas, junto com a leva de imigrantes tahitianos chegados no arquipélago por volta do Séc. VII. É uma espécie muito característica dos célebres jardins modernistas de Burle Marx, devido a sua fácil aclimatação ao clima brasileiro, empresta farto colorido e elegância às praças e quintais das cidades mais quentes do país.


A madeira que perfuma o machado que a fere.

Santalum ellipticum, S. freycinetianum e S. paniculatum, são os chamados sândalos havaiano s (iliahi), também foram utilizados e considerados de alta qualidade. Existem outras espécies de sândalo na Ásia continental e na Austrália, sendo esta última uma grande produtora.
Sabonete de óleo de sândalo.

Estas três espécies autóctones do Havaí foram exploradas entre 1790 e 1825 quando houve uma grande demanda pela madeira e óleo (
S. haleakalae, uma quarta espécie, ocorre somente nas poucas  áreas de altitude sub-alpina nas ilhas e nunca foi severamente explorado).

Verdadeiro ouro arbóreo.

São todas árvores de pequeno porte semi-parasitárias e necessitam de outras árvores hospedeiras para se desenvolverem. Embora S. freycinetianum e S. paniculatum sejam até relativamente comuns hoje em dia, eles não recuperaram nem sua abundância e nem o antigo porte das árvores, S. ellipticum continua a ser raro.





Espécies de palmeiras deste gênero são encontradas em várias
 ilhas polinésias,  acima está a havaiana Pritchardia martii,
 no paisagismo brasileiro é muito usada a
 P. pacifica das ilhas Fidji.


Trematolobelia kauaiensis - Lobélias são geralmente
 encontradas nas altitudes vulcânicas em quase
 todas as regiões tropicais do mundo.

Dubautia ciliolata

Asplenium nidus - uma cultivada samambaia.

Argyroxiphium sandwicense - rara compositae havaiana,
medra acima dos dois mil metros de altitude por entre
os campos rupestres basálticos.


Metrosideros polymorpha

Vaccinium reticulatum - muito comum nas proximidades dos
 vulcões ativos e faz parte da dieta do ganso nene.

Fica por aqui o
meu suave tributo ao Reino Encantado do Havaí.
Um lugar mítico e muito interessante !





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