VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


domingo, 4 de dezembro de 2011

Laelia crispa (Lindl.) Rchb. f. 1853-4 - Parte I


.







"A tua flor não é flor
para qualquer
 jardim.

Quero para mim pois
 eu já cansei de
 capim."

Rafael Rocha


À paixão que sempre nutri pela exuberância, robustez e resistência desta modesta espécie, dedico este artigo. Se por outras espécies, que nem aprecio tanto, direcionei tão boa atenção, por esta empenho a mais doce e pura reverência. Quando não havia como adquirir as boas plantas, foi a simpática L. crispa que acalentou o meu iniciante prazer de cultivar orquídeas, sem Gomesas e L. crispa este blog não estaria aqui. Suas flores brancas e perfumadas, expostas no auge do calor do verão encantavam. O tamanho das touceiras formadas geravam uma animação, nos remetiam a um tempo remoto quando a abundância das orquídeas foi maior, todas as vezes que a vejo ,brota em mim uma grande e contemplativa saudade! Muito saborosos aqueles tempos! Com essa postagem saldo minha dívida existêncial com esta tão mal lembrada espécie! A eterna prima-pobre da Cattleya labiata!







Impressões pessoais e lembranças:




O labelo encrespado e o perfume acre são característicos dessa espécie fluminense.


A forma e a textura muito ruins e fortemente dominantes nos cruzamentos, tornaram-na estigmatizada na orquidofilia tradicional. Comparada à Laelia purpurata, é inferior em quase todos os bons parâmetros, menos na resistência ao calor, no perfume - minha mãe dizia que parecia cheiro de sabão-em-pó - e no número de flores por haste. Seu status atual é o de uma espécie de segunda categoria, talvez até de terceira. Acrescenta apenas algum valor botânico a uma coleção, muito dificilmente seria honrada com prêmios numa exposição de orquídeas, salvo ser um exemplar de raríssima variedade. Estava em dívida com esta espécie tão apreciada, pensei em fazer a sua postagem logo quando iniciei o blog, mas aguardei ter mais experiência. Desejava apresentá-la com detalhes e de uma forma generosa, mostrando seus aspectos naturais e a interessante história da sua descoberta.



Fascinado eu a observava vegetando e florida no verão, por sobre as mangueiras dos quintais das casas antigas, no Rio dos anos 70. Apresentava-se geralmente acompanhada pelas Cattleyas: harrisoniana , forbesii   e bem mais raramente pela intermedia; também pelas exóticas Renanthera coccinea e Vanda ( Papiloanthes ) teres. Foi esta a primeira visão que tive das orquídeas cultivadas, olhava-as nos quintais, chamavam a atenção quando floridas, eram sobreviventes de um tempo muito mais tranquiloe  interessante: a década de 50.




Eram poucos os prédios altos em bairros, haviam inúmeros vestígios arquitetônicos de outras décadas, mais verdes e românticas, avistavam-se orquídeas nas mangueiras dos quintais. Os quintais ficavam no fundo das casas, e era lá que geralmente encontrávamos as orquídeas escondidas, acondicionadas nas mangueiras e outras frutíferas.

Era uma outra época, me parece até uma outra dimensão, o tempo não
 passava rapidamente como ocorre hoje. Nas ruas, íamos a admirar
o passeio e os jardins das casas, em busca de algo
interessante a descobrir, às vezes víamos
touceiras antigas de orquídeas
belamente floridas.



Foi nesta pequena casa de esquina, em estilo Spanish Revival dos anos 40, próxima à casa de meus pais, que meu gosto por orquídeas começou a encorpar e enraizar. Havia no quintal  desta casa uma  planta de L. crispa com mais de 10 folhas que florescia sempre no fim do verão climático. Estava acompanhada no quintal de  uma grande e vizinha touceira de Oncidium baueri, que gerava monumentais hastes de pequenas flores, de cor amarelo pálido, como é característico desta espécie. Recentemente, 40 anos depois, passei de novo na frente da casa para fotografá-la especialmente para esta postagem, e para alegria minha lá estavam ainda a L. crispa e uns poucos restos da antiga touceira de Oncidium, apenas alguns pseudobulbos residuais na parte da forquilha da árvore maior.  Contudo , numa casa vizinha próxima, avistei uma outra grande touceira de  O. baueri que certamente deve ser uma divisão da touceira original, agora praticamente desaparecida


Esta é a planta original que deu início a minha paixão por
 L. crispa e seu perfume floral de sabão em pó,
tem bem mais de 40 anos e continua
firme e forte sob o calor do Rio,
disposta numa pitangueira.

Uma divisão da antiga touceira de O. baueri que fazia companhia
 à L. crispa em questão, ainda sobrevive saudável e
viçosa numa casa vizinha.

Êta vida que eu vivi tanto e
ainda tanta coisa continua
tão igual, orquídeas fortes
duram uma vida  inteira
se bem estabelecidas.

Com 16-17 anos eu já colecionava crassuláceas, as orquídeas me pareciam ter alguma semelhança vegetativa com este grupo. Mais tarde, já na universidade, tomei contato com um recorrente e cativante perfume de uma Gomesa crispa, e tornei-me aí, de fato, um orquidófilo apaixonado. Tomará que eu consiga passar para o caro leitor toda essa carga de memória sensorial: mato, casas antigas, quintais, poucos carros na rua e muita vida verde nos quintais. As espécies nativas, por mais simplórias que sejam, sempre me encantam, nem que seja apenas pela lembrança das matas que lhes deram origem.




Onde adapta-se, L. crispa constitui
 lindas touceiras.



Cattleya harrisoniana cultivada
 em antiga mangueira.


Cattleya forbesii.



Cattleya intermedia exibindo-se no quintal.





Enormes transas de Renantheras coccineas pendiam das árvores dos quintais,
 suas flores vermelho-escarlate eram visitadas pelos colibris.





Vanda teres crescia vigorosamente no calor do verão,
eram plantadas no chão, tal qual cerca-vivas !


A Laelia crispa é de ocorrência preponderantemente fluminense sempre em áreas de serras, surgindo já a partir dos 200m de altitude, surge menos abundantemente em Minas Gerais na região de Juiz de Fora. Também há rumores de sua pertinência às matas mais ao sul do Espírito Santo, o que poderia ter ocorrido em tempos passados, porém nunca deve ter apresentado a mesma pujança de sua observação no Rio de Janeiro. Onde diga-se de passagem, não está em extinção, sendo a espécie ainda bem frequente nas serras florestadas remanescentes nesta unidade da federação. L. crispa ainda vegeta espontaneamente dentro das matas do Parque Nacional da Tijuca na cidade do Rio de Janeiro, e também em outras matas fluminenses bem conservadas, em tempos atrás deveria ser muito comum vê-la nas encostas das serras locais. Foi uma das primeiras espécies brasileiras exportadas para Europa a tomar fama no início do Séc. XIX, logo após a histórica e famosa Cattleya labiata ter sido descoberta. Cabe informar que a natureza que cercava, e ainda em parte a cerca, era de uma riqueza ímpar, o botânico francês Saint-Hilaire, que percorreu o país de norte a sul, registrou que as matas do entorno Rio eram de riqueza biológica sem igual, as mais ricas do país na opinião dele. Hoje acreditamos que essa riqueza de espécies continuava exuberante através do Espírito Santo, declinando apenas após o sul da Bahia. Todavia, realmente havia no entorno da antiga capital brasileira um peculiar conjunto de lindas espécies de orquídeas: Catlleyas intermedia, forbesii, harrisoniana, dormaniana, guttata e bicolor; e as Laelias crispa e lobata. Micos-leões dourados, hoje restritos as matas de Cândido de Abreu, eram comuns nas matas cariocas, sendo registrados até mesmo em Itaguaí. Imaginamos então a abundância de orquídeas naquelas paragens e naquele tempo, deveria ser muito estimulante procurar novas espécies, menos comuns e restritas aos lugares especiais.



Exemplar de L. crispa tão bom que parece
um híbrido de purpurata x crispa.


Há clones de bom impacto visual, são raros e remanescem em poucas mãos, devido a esses, a espécie ainda pode ser muito melhorada geneticamente. A maiorias das grandes Laelias brasileiras e das Cattleyas andinas, salvo aqueles clones especiais selecionados, são de forma e textura tão ruins quanto as de crispa. Apresentam sépalas enroladas e pétalas desabadas, muitas vezes com uma aparência geral flácida e " derretida". Acredito nos hibridistas do futuro, eles produzirão melhores exemplares e cepas, este das fotos acima é espetacular ! Tal como ocorre em C. forbesii, a crispa tem uma boa e vigorosa herança vegetativa que pode produzir híbridos forte e floríferos, além de fáceis de cultivar.




A circunstância da descoberta da espécie:



Labiata típica.

A história de L. crispa está associada a outras espécies famosas e vale a pena descrever esse ciclo inicial da orquidofilia na primeira metade do Séc. XIX. Coletados por William Swainson, os primeiros exemplares da bela C. labiata chegaram à Europa em 1818, tinham como procedência - errada - o Rio de Janeiro. O coletor , por algum motivo, calou-se para sempre sobre a origem correta. Como a espécie medra apenas nos planaltos mais interioranos do Nordeste brasileiro, ficou incógnita por lá. Embora atualmente existam exemplares excepcionais em forma, no geral, esta espécie apresenta lindas flores bem armadas e de boa textura e durabilidade.




A C. labiata que fascinou a Grã-Bretanha em 1818, hoje é sabido que a espécie medra nas serras  mais altas e úmidas de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará. As infrutíferas e épicas buscas pelo seu habitat, para a obtenção de novas remessas, conduziram os coletores europeus às populações fluminenses das "primas pobres"': L. crispa e L. lobata. Uma sucessão de espécies de Cattleyas do mesmo grupo das unifoliadas foram localizadas nas serras andinas do norte e noroeste da América do Sul, em função das buscas pela C. labiata  e suas flores de boa qualidade técnica.



C. labiata foi descrita botanicamente por John Lindley em 1821, como uma espécie indubtavelmente brasileira e originária do Rio de Janeiro. Desaparecida por décadas, surgiram dúvidas sobre as informações dos coletores do lote original, chegaram até a proclamar sua origem para outros países. Mais tarde se passou a acreditar num o suposto habitat de fato fluminense, porém muito restrito e talvez já completamente destruído pelas crescentes plantações de café que invadiam aquelas serras regionais. Nesse tempo o desmatamento avançou por boa parte do Maciço da Tijuca, prejudicando seriamente o abastecimento de água potável na capital do país. As altitudes do interior do agreste nordestino seriam percebidas como uma hipótese pouco provável de habitat num país coberto de serras úmidas, matas e orquídeas. Ninguém poderia imaginar que tão bela e nobre espécie fosse característica de pequenas ilhas de altitude e umidade em pleno semi-árido nordestino


A tradicional "mosca" púrpura mais escuro no labelo é uma marca
 característica da labiata autumnallis, mas como todo colorido,
 pode variar de tom e de formato, ou mesmo não ocorrer.

Cattleya labiata ainda é considerada como uma flor de orquídea "perfeita", a melhor espécie de Cattleya, a melhor perfumada e a de mais fácil adaptação ao cultivo: o padrão do desejável. No Séc. XIX, em meio a tantos esforços para a obtenção de novos lotes desta espécie, sua verdadeira procedência conseguiu se manter desconhecida por inconcebíveis 70 anos. Seria redescoberta somente em 1889, por acaso e através de um francês residente em Paris. Monsieur Moreau era um entomologista, mas também cultivava plantas, ele recebia material biológico do Brasil com periodicidade, foi agraciado pelo seu coletor com 50 exemplares de uma certa "parasita" de flores cor-de-lavanda, oriundas dos sertões de Pernambuco.



Em visita a Moreau, Frederick Sander, um importante colecionador e comerciante inglês de orquídeas, teve a sorte de achá-las floridas e logo reconheceu as flores como sendo daquela espécie por tanto tempo procurada por tantos colecionadores ávidos pela rainha de todas as flores. Descoberto então o habitat, em pouco tempo chegaram aos brejos de altitude nordestinos os coletores cheios de encomendas de colecionadores. Foram então exportados muitos milhares de exemplares daquela única Cattleya unifoliada que florescia no outono. Para bem diferenciá-la das outras espécies parecidas ou muito confundidas com ela, consideradas na época como  sendo apenas variedades, a partir de então, ficou classicamente conhecida por três nomes: Cattleya labiata var. auntumnalis = labiata de outonoPara assim bem marcar a diferença da Cattleya rainha com as outras princesas bem menos atrativas



Exemplos de variação de colorido
 em C. labiata autumnalis.


Descoberta e coletada no bojo deste período de buscas infrutíferas pela C. labiata,  a nova espécie tema desta postagem foi inicialmente nominada de Cattleya crispa, foi descrita na Europa em 1828 pelo mesmo botânico que antes classificou a C. labiata. Lindley entendeu que obviamente seriam parentes próximas, todavia o impacto visual e os detalhes e acabamentos florais da então C. crispa ficavam muito aquém da encantadora labiata. Mais tarde ele descreveria a sedutora Laelia purpurata em 1852, já apartada de qualquer parentesco primário com Cattleya. Tendo criado um novo gênero chamado Laelia em 1831, especificamente para algumas espécies mexicanas, alocou purpurata neste gênero, por ter notado e valorizado uma importante diferença botânica : o número de polínias nesta espécie eram 8, exatamente como nas espécies de Laelias mexicanas. Como um botânico tecnicamente competente, deu prioridade diferencial para as características morfológicas menos varáveis, esqueceu dos encantos que os olhos viam e tratou de ater-se aos importantíssimos e singulares aspectos da engenharia de reprodução da espécie.



Laelia purpurata apresentava oito polínias pequenas, Cattleya labiata quatro grandes, foram então separados por este caráter os dois grupos das mais belas das orquídeas. Embora atualmente já se saiba que as Laelias brasileiras  não têm parentesco genético com as espécies de mexicanas, ainda assim são muito diferentes de Cattleyas pelo mesma característica, e também por outras.

Sendo muito similar à purpurata, inclusive no número das polínias, crispa foi então corretamente transferida para esse novo gênero Laelia em 1853-4. A sequência de descrições das espécies nacionais de Laelias com espatas grandes e de flores maiores e mais vistosas, nos evidencia um permanente fornecimento de orquídeas brasileiras para os mesmos comerciantes e botânicos ingleses. O tráfico continuado de orquídeas era mantido pelos ávidos por lucros nas vendas dos exemplares raros para abastados colecionadores europeus. Agregados a estes comerciantes, haviam botânicos ávidos por novos conhecimentos científicos que iam parar nas coleções dos ricos. As luxuosas publicações derivadas dos trabalhos botânicos, bancadas pelos comerciantes, serviam como eficiente propaganda por entre os colecionadores, e então a procura por bons exemplares ficava  assim mais acentuada. Uma mão lavava a outra ! Caminharam juntos por décadas, os botânicos se imortalizaram descrevendo os vegetais mais belos e interessantes do planeta, os comerciantes fizeram fortuna, os colecionadores ganharam homenagens nos nomes das espécies.



Laelia lobata não era a
procurada Cattleya labiata.


Quando o coletor inglês George Gardner localizou populações de Laelia lobata nas cercanias da cidade do Rio de Janeiro em 1836, ele convenceu-se firmemente que essa seria a tão procurada Cattleya labiata; ao florescer constataram a grande diferença entre as espécies! Essa nova espécie foi também descrita pelo botânico Lindley, em 1848, como sendo uma "variedade" de C. labiata, batizada de Cattleya lobata; até o nome ficou parecido! Mais tarde foi transferida para o gênero Laelia.






Até 1862, pensou-se que C. warnerii era
a sumida C. labiata auntumnalis.
Embora sem o florescimento
outonal, ainda assim
mostrava-se  bem
parecida.


Na procura pela espécie perdida, uma pequena população do que conhecemos hoje como Cattleya warnerii foi localizada no vale do rio Paraíba do Sul em 1837-8, mais especificamente na fronteira entre RJ e MG e pelo mesmo George Gardner. O descobrido entusiasmado anunciou então mais uma nova "labiata verissima", e por 25 anos se sustentou essa tese mal-ajambrada. A floração de warnerii é sempre primaveril, as plantas vegetativas são mais atarracadas, as folhas mais largas e curtas, são diferentes. Além das flores serem maiores, de armação muito pior e tecnicamente inferiores. Mesmo sem estarem floridas são facilmente distintas da verdadeira labiata!

C. warnerii ocorre principalmente nas matas sob a influência da umidade atlântica no ES e em MG, também medra em pequenas áreas do RJ e BA, nas regiões de fronteira onde ainda ocorre uma continuidade dos habitats.


C. warnerii floresce no ínicio da primavera.
Embora sejam por vezes muito parecidas, a mancha mais escura no labelo de warnerii é normalmente maior que a "mosca" da verdadeira labiata, mas esta característica não é regra, é apenas tendência, como todo colorido pode variar. Existem outras características para separá-las, esta é apenas mais uma variável entre: época de floração, tipo de folha, forma e tamanho da flor. Somente em 1862 a C. warnerii foi reconhecida como uma nova espécie, ou sub-espécie, quem sabe até uma variedade ou raça, todavia independente. Muitos lotes destas espécie devem ter sido vendidos como sendo a verdadeira labiata, comerciantes são assim!


C. gaskelliana é uma das três espécies de Cattleyas unifoliadas labiatóides, é a mais distanciada morfologicamente de labiata; as espécies jenmanii e warnerii mostram-se bem mais próximas.


A C. gaskelliana acima, apresenta evidentes similaridades
florais com labiata, vegetativamente são diferentes.


A venezuelana C. gaskelliana floresce em nov-dez aqui em Curitiba, pouco antes do verão e junto com a purpurata, porém seu período de floração pode variar em função de ondas de calor, então é de livre floração. Seus pesudobulbos crescem e em seguida logo florescem após um descanso fisiológico ser quebrado por uma onda de calor acentuada, em qualquer época do ano, não remanescem aguardando o tempo certo de florescer com espata, como ocorre em labiata. Também pode apresentar ocasionalmente a "mosca" no labelo, esta espécie venezuelana é facilmente distinta de outras labiatóides em fotos só de flores pela maior evidência da veia esbranquiçada no meio das pétalas. As suas folhas e pesudobulbos são como remos de cabo curto, completamente diferentes de labiata, o que ajuda a diferenciá-la até mesmo sem flores. Apresenta um forte perfume nas horas mais quentes do dia, sendo este bastante diferenciado do de labiata autumnalis, que lhe é muito mais marcante e superior. As flores são grandes e geralmente muitas, apresentam ótimo display, mas são de pouca substância, tendo uma textura fina de papelzinho vagabundo, igual à crispa, e por isso, são de curta duração, apresentam tons de púrpura claros e leitosos, são raríssimos os exemplares mais escuros. Não se compara com labiata em qualidade floral;  mas fica muito bem na foto, tal qual a L. crispa.



C. jenmanii é uma espécie muito semelhante à C. labiata.

C. jenmanii é praticamente igual em morfologia floral, porém distingue-se de labiata pela área de ocorrência bem distante, ausência de espata dupla, perfume quase idêntico ao de gaskelliana e pelo menor porte vegetativo.Esta espécie da Venezuela e Guiana, é muito similar à C. labiata, inclusive na época de floração e na presença esporádica de espatas duplas, esta última característica ocorre com muita raridade. Só seria descoberta e classificada em 1906, bem depois da redescoberta da verdadeira labiata.


A C. lawrenceana, medra nesta mesma região de montanhas amazônicas, igualmente floresce no fim do verão-outono, todavia é morfologicamente muito diferente das labiatóides. Mostra-se muito menor, tanto em vegetação como em tamanho de flores, lembrando em aparência uma L. pumila de maior porte.





Alguns clones de C. warnerii são excepcionais em beleza, porém
na média a espécie é bem inferior à labiata nordestina.

Embora sendo também muito semelhante, e de distribuíção próxima, warnerii foi devidamente apartada da procurada e notória C. labiata de Lindley- 1821, no entanto o seu grau exato de diferenciação ainda hoje continua muito discutível. Botanicamente seriam a mesma espécie, porém ecologicamente são muito diferentes. As populações são irmãs conespecíficas, ou superespecíficas, como também devem ser espécies venezuelanas: Cattleyas gaskelliana e jemanii; igualmente assemelhadas porém muito mais distantes geográficamente.




Na orquidofilia são tratadas como espécies separadas, achamos ser esta a melhor forma de interpretação: aquela que se apresenta facilmente distinta aos nossos olhos; porém secas num herbário são de difícil separação. Outras Cattleyas nativas da Venezuela e Colômbia e menos assemelhadas, foram descobertas durante buscas similares pela labiata, sempre repetindo-se o mesmo quadro natural, as novas espécies não eram iguais ou superiores na forma, armação ou textura; nenhuma delas florescia no outono.


A semelhança floral de warnerii - acima - com labiata, era surpreendente , e para
 melhorar o quadro, havia grandes populações da espécie no Espírito Santo.



A exposição de um magnífico lote de C. warnerii do
Orquidário Itabirano, a espécie faz muito boa vista.






Em labiata, muitas vezes a espata interna é quase do mesmo tamanho da externa, chegando
 a ter o seu ápice ligeiramente exposto, o normal é ser 50% do tamanho.

A espata dupla de C. labiata.

Não é regra, mas a maior parte das verdadeiras labiatas apresentam espatas duplas ( + de 95% de ocorrência - quando não ocorre é por má formação), apresenta-se um conjunto como uma espata menor contida numa maior; podem ser vistas quando bem iluminadas pela luz direta do sol. Esta característica é um diferenciador definitivo: se ocorre espata dupla, e ambas as espatas têm quase o mesmo tamanho ( de 50% até quase iguais em proporção ), trata-se de um exemplar de C. labiata. No caso de ser a de dentro muito menor, cerca de 1/3 do tamanho da maior e muito arredondada, trata-se de uma warnerii - esta característica é meramente auxiliar e não o único diferencial entre essas duas populações, sub-espécies ou espécies. Nenhuma outra Cattleya clássica, além das duas citadas , apresenta usualmente a espata dupla, em jemmanii ocorre muito raramente ( por má formação ) e em gaskelliana não ocorre. Em L. perrinii, recentemente promovida à condição de Cattleya, também ocorre a dupla espata !



Espata externa de C. warnerii, aberta para uma
 melhor vizualização da interior.








..... continua na Parte II    - clique para acessar



3 comentários:

  1. SalvadorBenevides . aboitata@yahoo...br31 de julho de 2016 às 16:54

    Parabéns pelo artigo e pelo estudo, tenho pensado muito em criar um projeto pela secretaria para disseminação das orquídeas cariocas, se puder dar alguma colaboração lhe agradecer os.

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  2. Parabéns!!! Sou assíduo leitor de seu blog. Acrescente que cattleya labiata também ocorre em Sergipe em um brejo de altitude numa media de 730 m acima do nível do mar na Serra da Guia.

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    1. Já foi consertado no texto, fontes antigas que consultei ainda não registravam esta ocorrência de C. labiata na fronteira entre Sergipe e Bahia. Meu email está na coluna lateral do blog, comunique-se se desejar.
      Abraço!

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