
Paphiopedilum x Leeanum - ( x = híbrido) .
O x entre os nomes científicos indica que a população, ou o exemplar em questão, mostra hibridação natural. Portanto foi encontrado em algum tempo passado já estabelecido na natureza, e foi posteriormente descrito pela Botânica ou como uma nova espécie, ou então já como um híbrido natural; e assim diferencia-se dos outros híbridos artificiais derivados da ação humana.
Já morando em Curitiba, no meio da década de 90, logo reparei na recorrência da observação de algumas orquídeas , as espécies eram bastante peculiares aos quintais mais antigos desta cidade - veja aqui um outro artigo sobre as espécies de orquídeas mais comuns nessa cidade : Orquídeas dos Quintais Antigos de Curitiba. Junto com essas , constatava-se também uma outra espécie terrestre, quase sempre estabelecida em vasos comuns , invariavelmente sob a forma de exemplares fortes ou grandes, quando floresciam mostravam abundância de flores do gênero Paphiopedilum.


Estas eram as famosas orquídeas sapatinhos, as mesmas dos livros estrangeiros sobre orquídeas, surpreendentemente abundantes e comuns por aqui, antes só as tinha visto ao vivo em exposições. As expostas são normalmente plantas pequenas, híbridas, de folhas pintalgadas e com poucas flores, invariavelmente amarradas em feias estacas-suporte, porque não se manteriam em pé naturalmente. As que vislumbrava nos quintais curitibanos eram rústicas, floríferas, lindas e fáceis de cultivar !
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Embora muito conhecido pelas fotos das publicações, esse gênero de orquídeas é pouco cultivado no Brasil , certamente por não ser afeito aos calores tropicais . Longe do Sul do Brasil e das altitudes serranas, são raros de se ver; quanto mais em quintais a céu aberto e em grandes exemplares. Se você reside em local ocasionalmente quente, ou permanentemente encalorado, mantenha seus Paphiopediluns aqui discutidos e considerados na sombra clara, dentro de casa ou ao abrigo, banheiros e cozinhas são refúgios mais frescos e muito indicados nestas circunstâncias. Não gostam de calor, não gostam ! O leeanum, por ser muito vigoroso poderá até se adptar, já o insigne terá maiores problemas de adaptação, poderão também florescer pouco ou não florescer pela falta da necessária dormência derivada de temperaturas menores.

Naquele tempo ainda não havia fornecimento comercial dessa espécie que temos atualmente, para se obter alguns exemplares, seria preciso alguém gentilmente os ceder, mas isso é realmente difícil por aqui se vc tem algum sotaque. Só em 2003, consegui comprar alguns exemplares em floriculturas comuns, eram produzidos em SP, logo passariam a ser vendidos até mesmo em supermercados.


A planta mais comum em Curitiba, sobre a qual comentamos, é o Paphiopedilum x Leeanum, um híbrido natural himaláio ( Assam - Buthan ), entre P. insigne x P. spicerianum. Todavia é preciso ter em mente: igualmente acha-se no comércio, e também em cultivo, a espécie P. insigne. Ao aprender a distinção entre eles, a identificação torna-se fácil !

Após a floração o preço das plantas baixam muito no comércio, a parte vegetativa não é nada atrativa como folhagem, nova floração só no ano seguinte, surge então um bom momento para pechinchar. Saber distinguir entre um e outro é fundamental nessa hora! Atualmente só me interessam os insignes, por isso desenvolvi a percepção necessária para fazer a pronta distinção.
Este híbrido tão vigoroso foi classificado com três nomes diferentes no ano de 1884 - albertianum, corona e leeanum - prevelaceu o último nome. Não consegui descobrir se foi um cruzamento artificial ou se foi uma remessa do híbrido natural expontâneo, este já se sabia existente e era bem conhecido, poderia ter-se obtido um lote vindo do Oriente. Como o registro do nome de batismo é de Veitch, o primeiro hibridador de orquídeas, imagino ter sido um lote de sementeira chegando à maturidade.

Em amarelo a distribuição de P. insigne em Assam. O mapa mostra a sua defrontação com a ocorrência parcial de P. spicerianum, está em azul. A distribuição do último é bem maior, englobando também parte da fronteira com a China e parte de Myamar, mostramos no mapa apenas a interface de populações , onde surgiu o híbrido natural, aqui em questão .



Esse híbrido lança folhas em todas as direções é fecha o vaso, clara herança genética do spicerianum.

Leeanum é uma agradável e equilibrada mistura das espécies progenitoras, porém lembra mais o P. insigne na sua forma geral. Se florido, num relance, é facilmente diferenciado desse último progenitor pela sépala dorsal em forma de platibanda, pelo traço vertical púrpura ( este separa essa sépala ao meio ) e pela base verde desse mesmo segmento floral - estes são todos caracteres originais de P. spicerianum. Veja mais abaixo as dicas, para uma perfeita distinção entre eles. 

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As espécies progenitoras:
A) Paphiopedilum spicerianum:

Raramente visto em cultivo no Brasil, nunca o vi à venda !

O traço colorido vertical é característico da espécie e dominante em cruzamentos.

O traço colorido vertical é característico da espécie e dominante em cruzamentos.
O porte floral de spicerianum é bem
menor que o de leeanum.
menor que o de leeanum.
Planta elegante esse tal de P. spicerianum ! Reparem, é de crescimento ainda mais modesto que em P. insigne e as flores são poucas e de porte bem menor, o porte maior de x leeanum é herdado exclusivamente de P. insigne.
A folhagem desalinhada e bem característica foi herdada
parcialmente por leeanum.
parcialmente por leeanum.
A espécie nos surpreende quando vista ao vivo por
ser uma planta de pequeno porte.
A flor mede, da ponta de uma pétala à outra, cerca 7cm,
é 1/3 do tamanho de leeanum.
b) Paphiopedilum insigne:
A rusticidade e o bom porte da planta-mãe, o Paphiopedilum insigne, foi herdado por leeanum. Insigne tem uma flor maior e mais elegante que leeanum, a planta vegetativa é elegante e forma belos vasos . Mas leeanum cresce e floresce muito mais , sua fartura de flores compensa o porte um pouco menor.
Podem variar nas cores, no tamanho e no número de manchas ocelares; mas não
variam os traços gerais da forma da flor e nem a distribuição espacial do seu colorido.
Este exemplar imediatamente acima é um insigne tetraplóide ( tem a carga genética normal duplicada por acidente de divisão celular) e é realmente muito maior, a flor tem um palmo de altura, também o porte vegetativo acompanha a duplicação das medidas.

Dicas para a distinção visual
entre insigne e leeanum :
entre insigne e leeanum :
a) Plantas sem flores abertas:
Insigne diferencia-se facilmente de leeanum, até mesmo sem flor, em insigne a vegetação é bem alinhada,com folhas em quase perfeita geometria. Já em leeanum a planta é mais compacta e densa, lançando folhas para todo lado. Também os botões florais ainda fechados são diferentes, em insigne são mais alongados, mais claros e em menor número - veja as fotos:

cresce muito mais rápido.




A planta de insigne é menor e de crescimento bem menos vigoroso,
leeanum por ser híbrido, cresce o dobro e floresce o triplo.


Facilmente identificável!

Do lado direito, no retângulo branco, as duas espécies progenitoras.


Acima um indivíduo da variedade verde- amarelada muito
distinto e elegante, esta parece ser a variedade mais preciosa.




Sobre o ocasional aparecimento de uma segunda flor em hastes de P. x leeanum:
Este evidente defeito deve ser causado pelo forte vigor vegetativo deste híbrido e pela fartura de adubação, somados às boas condições físicas de cultivo. A inesperada aparição é muito comum em alguns clones deste híbrido, todavia uns anos ocorre e em outros não, mostrando assim ser determinada por fatores ambientais somados a uma predisposição genética. Recomento extirpar logo a tal florzinha gêmea defeituosa , esta não costumar abrir direito e nem somar harmonia ou beleza ao conjunto.
b) Plantas floridas:
Floridos são distintos ainda mais facilmente pela grande sépala dorsal, esta é plana em insigne; já em leeanum observa-se nessa sépala a platibanda formando um "topo", além da sépala ser retorcida para trás.


Sépala dorsal em insigne tem coloração diferente, é maior e mais plana, as pétalas também são mais estendidas. O botão floral é maior e mais alongado e bem menos pigmentado






A flor de insigne é levemente maior e com a mancha verde passando da metade da sépala dorsal. Em Leeanum, o tamanho da mancha verde na sépala dorsal varia conforme o indivíduo, geralmente não passa da metade da sépala, porém sempre está mais ou menos presente o traço colorido na nervura central, característica herdada de spicerianum.
Cultura do Paphiopedilum x leeanum:
Em caso de propagação, o Paph. x Leeanum pode e deve ser dividido
logo após a floração, sempre com o menor distúrbio possível em suas raízes.
logo após a floração, sempre com o menor distúrbio possível em suas raízes.

Vão muito bem em interiores bem iluminados, mas vão melhor ainda se ficarem ao tempo em locais com meia sombra. Vasos de plástico grandes , terra vegetal aerada com 20% de espuma picadinha, calcário ocasional ( cascas de ovos pulverizadas servem) e adubação orgânica, mais uma dieta mineral rica em Fósforo, são o pool de insumos mais necessários.

Para se ter retorno de bom desenvolvimento, é preciso caprichar no tamanho do vaso e no substrato !

Acima o exemplar que presenteei a um amigo querido, cultivado em varanda
de apartamento mostrou-se florido já no ano seguinte.
de apartamento mostrou-se florido já no ano seguinte.
As flores surgem normalmente no meio ou no fim inverno, às vezes, devido à temperatura, antecipam e surgem na parte final do outono, mas dependendo ainda do clima, podem surgir no início do outono. A floração é regulada pela diferença de temperatura - choque térmico entre estações - aliada à duração do dia, as flores podem durar até 2 meses na planta ! São flores cheias de detalhes e cativam com sua beleza discreta! Ficam melhor dispostas se tutoradas com tutores/espetos de madeira, deixe as flores secarem na planta antes de cortá-las, deixo até cairem, a planta reabsorve os nutrientes das flores. Por hábito, só muito depois corto as hastes florais já secas.

Nesse momento, após a floração e em descanso , já na primavera, e talvez divididos e replantados,faço uma adubação leve , mas continuada, com adubos químicos ricos em fósforo ( NPK 04-14-08 ) ; depois passo para a adubação orgânica no verão. As plantas crescem muito bem nos meses mais quentes, e é fácil formar uma boa touceira em três anos de cultivo. Procuro sempre aumentar o tamanho do vaso, só divido a planta quando não é mais possível mantê-la daquele tamanho.




A espera e o trabalho são recompensados
com grande elegância.
Paphiopedilum Maudie é um atrativo e elegante híbrido
artificial entre P. callosum x P. lawrenceanum,
trata-se também de planta mais fácil de
cultivar em condições médias, menos
florífera e exuberante, porém mais
elegante e sofisticada.
Não há grandes lotes de propagação neste gênero,
P. Maudiae.vegeta bem em Curitiba.
P. Maudiae.vegeta bem em Curitiba.




Acima o pintalgado P. niveum na natureza, mostrando que as espécies deste gênero apreciam substrato rico em matéria orgânica, úmido porém bem aerado ( fofo ), para poder drenar rápido e secar logo.


como as orquídeas terrestres conseguiram evoluir para epífitas.
Essa gentil criatura cresce logo e vira touceira, de nada reclama e a qualquer cuidado, agradece com lindas flores. Uma ótima planta, uma boa opção para presente, porque entusiasma com a facilidade do cultivo.
Esse híbrido é muito indicado para iniciantes, a planta é muito
resistente e é difícil matá-la, sobrevive a quase tudo - é só alegria !
resistente e é difícil matá-la, sobrevive a quase tudo - é só alegria !

Cultivar orquídeas e ter parceria com Deus !