continuação da Parte I
Muitos anos depois de crispa ser promovida à condição de Laelia; L. lobata na época era também conhecida como C. lobata, uma espécie evolutivamente muito próxima, acompanhou-a. Nesse contexto histórico e botânico, as espécies foram classificadas como Cattleyas e depois remanejadas de gênero. Muito da má fama criada por estas espécies no Séc. XIX, deve-se a correlação dessas com a longa história de procura pela labiata.
Atualmente todas as antigas Laelias brasileiras foram realojadas no gênero Cattleya, depois de serem Hadrolaelias, Brasilaelias e Sophronitis; aqui continuamos usando os nomes clássicos
tendo em vistas as buscas na internet. Fizeram uma confusão irresponsável !
Após ser promovida à Laelia, permaneceu assim por 120 anos. Atualmente, na era do exame de DNA, criou-se muita confusão nos nomes genéricos, a versão novíssima para seu nome científico coincide com o primeiro nome - Cattleya crispa - portanto voltou a ser o que era. A quantidade de polínias foi dada como sendo não significativa para dividir os dois grupos e voltaram a formar um só, como já foi no início.
Mas a nomenclatura ainda pode mudar, esse grupo de espécies de ex-Laelias brasileiras, embora seja próximo, não é exatamente do mesmo ramo das Cattleyas unifoliadas, são bem diferentes e qualquer um percebe ! Agregá-los fazendo o gênero Cattleya passar a variar o seu número de polínias de 4 até 8 - as antigas Laelias possuem este último número de polínias, também é uma situação artificial e mostra-nos a persistência do "não se saber o que fazer ao certo".
Mas a nomenclatura ainda pode mudar, esse grupo de espécies de ex-Laelias brasileiras, embora seja próximo, não é exatamente do mesmo ramo das Cattleyas unifoliadas, são bem diferentes e qualquer um percebe ! Agregá-los fazendo o gênero Cattleya passar a variar o seu número de polínias de 4 até 8 - as antigas Laelias possuem este último número de polínias, também é uma situação artificial e mostra-nos a persistência do "não se saber o que fazer ao certo".
A beleza simples e selvagem dessa espécie pode ser observada neste exemplar cultivado no Japão, a planta normalmente emite grande quantidade de raízes e esta característica está bem registrada na foto. Nenhuma outra Laelia tem raízes tão longas e volumosas como crispa, dentro desse macro-grupo só a C. nobilior as produz em maior volume e área explorada. L. crispa medra em matas serranas relativamente baixas e quentes, com menor ocorrência de neblina, talvez por isso dependa mais da captação das águas pluviais.
O contrastante e vistoso amarelo no tubo do labelo desta espécie é de ocorrência não obrigatória,
como também acontece nas populações de L. purpurata.
como também acontece nas populações de L. purpurata.
O labelo é vistoso e bem encrespado, tornando-se às vezes até um tanto fechado pelo excesso estruturas encrespadas. O nome da espécie deriva dele, os outros segmentos florais são normalmente muito enrolados perpendicularmente em função da espessura do tecido das flores, é um "papelzinho fininho que dura muito pouco, se chover nele então, acaba-se logo" - ouvi falarem e achei um diagnóstico tecnicamente certeiro. Todavia cultivo orquídeas com o coração, e o meu gosta mais de plantas grandes e fortes do que de flores arrumadinhas.
Coisa linda !
Retrato do Brasil !
Floresce normalmente no mês de FEV no RJ, como aguarda a floração com pseudobulbos e as espatas prontas, uma onda de calor mais forte acompanhada de estio de algumas semanas pode adiantar a floração, sua ausência - um verão nublado ou chuvoso - pode retardá-la para MAR , como ocorre normalmente aqui no Sul do Brasil. Suas flores mofam se exposta à chuva demorada, ou a falta de ventilação, e a floração que já é efêmera torna-se desanimadora de tão rápida, seu perfume delicioso não exala na ausência de calor mais forte durante o dia. Ela é carioca e gosta de calor !
Alguns exemplares de L. crispa têm forma e qualidade técnica um pouco melhores, como visto acima, especialmente os exemplares de flores um tanto menores. As plantas da minha coleção são de sementeiras de orquidários comerciais, tendem a este tipo, reaparem nas fotos bem mais abaixo e percebam nas flores o mesmo padrão considerado como "selecionado".
Sua distribuição concentra-se principalmente nas serras fluminense, entrando em SP, MG e ES esporadicamente nas regiões de fronteira, onde ainda houver continuidade de mata atlântica, sua distribuição na zona da mata mineira atingia e marcava a máxima distância do litoral constatada. Uma informação antiga nos relatava que era na região de Juiz de Fora em MG onde medravam os exemplares róseos. No ES aparece, ou aparecia, com raridade na região sul do estado. Em São Paulo foi sempre mais restrita às cercanias dos Parques Nacionais da Bocaina e do Itatiaia, sempre na linha de fronteira.
Área original de dispersão de Laelia crispa -
altitudes intermediárias são as preferidas,
surge mais abundante nos 400m.
altitudes intermediárias são as preferidas,
surge mais abundante nos 400m.
Ocorre mais comumente entre as atitudes de 400-600 m na região das Serras dos Órgãos, Friburgo e Bocaína, e em todas as outras próximas destas; não gosta de calor e nem de frio excessivos e esse ponto é crucial para o seu cultivo assertivo. Vegeta com morosidade e timidamente no Sul do Brasil, lobata e tenebrosa adaptam-se muito bem aos 900 msm de Curitiba fora da estufa, crispa não tem essa mesma adaptabilidade, visivelmente perde vitalidade com a temperatura demasiadamente amena. Exposta ao sol de verão pleno, queima suas folhas exatamente como ocorre com tenebrosa; as folhas de purpurata e lobata são mais resistentes à exposição luminosa direta de poucas horas por aqui. Sua cultura pode ser resumida nos seguintes conselhos: muita luz da manhã filtrada para não queimar as folhas, muita umidade e ventilação forte; pouco frio no inverno e calor próximo aos 28-35ºC no verão/outono.
Os exemplares comuns geralmente não apresentam apelo orquidófilo, são flores com os segmentos enrolados, ou "encharutadas" - ou puro "charuto" - como se diz no jargão orquidófilo, aqui no Sul, Talvez por isto ainda são encontrados nos lugares mais distantes de seus habitats, o mesmo ocorre com a L. purpurata. Depois de décadas sem a oferta de lotes de sementeira de L. crispas selecionadas nos orquidários comerciais, nos últimos anos já comprei 15 indivíduos e hoje já é possível formar plantel dessa espécie.
Os botões são pequenos, as flores leves e de menor porte em relação às outras espécies , por isto se ressupinam com grande agilidade, geralmente ficando as flores todas viradas para o lado de onde vem a maior iluminação. Formam lindos displays, como se vê nas fotos abaixo. Talvez pela necessidade de privilegiarem esta disposição para a polinização, talvez por isso as flores sejam leves e consequentemente de curta duração.
É uma planta vigorosa, quando bem estabelecida ostenta boa carga de flores, as folhas são mais parecidas com as folhas de Cattleyas, mas há exemplares que apresentam as mesmas estreitas e compridas folhas típicas das grandes Laelias brasileiras. Sua cultura não é muito diferente das outras Laelias aqui comentadas, como gosta de mais calor, recomendo mantê-la na mesma ambientação onde sobrevivam e floresçam em cultivo as tenebrosa, grandis ou mesmo junto com as C. labiatas.
Como entouceira facilmente e emite uma grande raizama, melhor plantá-la num bom pedaço de casca ou toco de madeira dura de boa qualidade, para evitar-se mexer na planta após o seu estabelecimento. Tenho alguns exemplares no muro de cerâmica e eles vão bem, embora careçam de mais calor, as variedades mais raras planto em nó-de-pinhos bem grandes, onde poderão ficar , ao menos, por mais seis anos.
As oito plantas de sementeira compradas do Binot, ótimas plantas vegetativas, apenas uma floriu até agora, estavam originalmente plantadas em brita de granito e mostravam-se muito bem enraízadas. Essa espécie é robusta e de fácil fixação, igual a purpurata, oferecendo-se um substrato seco, as raízes logo se estabelecem; cuidado com os vasos de plásticos ! A planta desidrata logo e até morre sem as raízes, evite o apodrecimento dessas e só corte raízes de indivíduos muito fortes, pois esses terão como repô-las.
Exemplar de sementeira adquirido do Orquidário Binot - lindas flores !
Como entouceira facilmente e emite uma grande raizama, melhor plantá-la num bom pedaço de casca ou toco de madeira dura de boa qualidade, para evitar-se mexer na planta após o seu estabelecimento. Tenho alguns exemplares no muro de cerâmica e eles vão bem, embora careçam de mais calor, as variedades mais raras planto em nó-de-pinhos bem grandes, onde poderão ficar , ao menos, por mais seis anos.
Exemplares oriundos do Orquidário Catarinense, apresentam a forma "selecionada".
As oito plantas de sementeira compradas do Binot, ótimas plantas vegetativas, apenas uma floriu até agora, estavam originalmente plantadas em brita de granito e mostravam-se muito bem enraízadas. Essa espécie é robusta e de fácil fixação, igual a purpurata, oferecendo-se um substrato seco, as raízes logo se estabelecem; cuidado com os vasos de plásticos ! A planta desidrata logo e até morre sem as raízes, evite o apodrecimento dessas e só corte raízes de indivíduos muito fortes, pois esses terão como repô-las.
Algumas plantas de L. crispa são mais próximas à forma técnica
da L. lobata, e é este o melhor padrão possível nesta espécie.
Habitats:
Nessas matas de menor altitude no RJ o clima é fresco à noite, mas a temperatura diurna passa de 30°C com muita facilidade da primavera ao outono, no sul do Brasil só no alto verão há temperaturas dessa ordem. Essa condição climática dificulta o crescimento da L. crispa fora das estufas, aqui seu pseudobulbos e espatas formam-se de SET até NOV com imensa morosidade e sem o característico vigor dos espécimes mais setentrionais, faz frio demais para o gosto delas. A solução então é mantê-las em estufas, onde conseguimos um gradiente de temperatura maior. Talvez , devido a essa limitação térmica , a espécie seja tão pouco cultivada em terras de L. purpurata, uma espécie sem tolerância aos calores constantes maiores de 28-30°C.
Acima uma seleção de imagens das belas e exuberantes matas tropicais do Estado do Rio de Janeiro, nessas matas de meia altitude encontramos a ainda relativamente comum L. crispa. A L. perrini ocorre em matas mais altas e de clima mais ameno, dos 500 aos 800 msm , a L. virens acima dos 900 msm; ambas bem mais raras e ameaçadas de extinção. Das Laelias brasileiras, somente crispa e purpurata ainda são vistas com pouco mais de frequência nos habitats, as outras espécies, muito coletadas e/ou com o habitat destruído, estão à beira da extinção na natureza já a muitas décadas.
Acima vemos Laelia crispa em seu habitat natural na Serra do Desengano, podemos observar exemplares tanto epífitos como rupícolas, sempre disspondo a uma ótima luminosidade, porém não totalmente expostas, também a característica raízama da espécie pode ser vista medrando nas rochas.
Os indivíduos de L. crispa recém coletados na natureza, quase sempre apresentam folhas com líquens, picadas de insetos sugadores e outros sinais características dessa origem. Esses geralmente florescem nas espatas já existentes quando foram coletados e depois fenecem em poucos anos, geralmente vítimas do calor excessivo; a planta deteriora-se rápido se o clima e o cultivo não forem apropriados.
As plantas, apresentam folhas um tanto desordenadas ou desorientadas com relação à luz, como também ocorre com tenebrosa. Essas duas espécies ocorrem em ambiente florestais bem sombreado, geralmente em árvores altas, em galhos bem ventilados além de expostas às alta s claridade e a umidade ambientais. Também há registros da ocorrência rupícola de crispa, mas essa condição é muito mais ocasional. Na Pedra da Gávea onde nos paredões rochosos expostos aos ventos oceânicos ocorre boa população da L. lobata, somente nas matas opostas, aquelas viradas para o interior do continente, ocorre a L. crispa de forma estritamente epifítica - portanto, atualmente, as populações destas duas espécies não se misturam nesses paredões rochosos.
A espécie ainda é observada esporadicamente na natureza, devido a persistência de muitas matas de encostas, além dos grandes parque nacionais, estaduais e outros tipos de áreas de preservação fluminenses. São mais comumente encontradas na Serra dos Órgãos na região central do RJ e pelas matas de encosta em Mangaratiba- Angra dos Reis- Paraty.
Variedades de colorido e hibridação:
Os diferentes tons do púrpura no labelo são as mais comuns variações de cor em L. crispa, alguns deles poderiam ser classificados, com muito boa vontade, como: cárneo, russeliano, roxo-violeta, vinicolor ou mesmo aço.
Os tons vinicolores - acima - são bastante apreciados e já registramos várias tentativas de propagá-los em cruzamentos realizados por diferentes orquidários comerciais.
Os clones albescens são dificilmente vistos em cultivo.
A variedade chamada de "cárnea" é o que vi ser cultivado dessa espécie aqui no Sul do Brasil, é um clone de folhas longas, vegetativamente mais parece uma L. purpurata russeliana. São originários de uma sementeira muito antiga da Florália, bastante popularizada nas coleções orquidófilas daqui. Na verdade é uma crispa "suavíssima", com um leve tom cereja num labelo marcado por um amarelo pálido. Nem de longe lembra a famosa e linda variedade "cárnea" da L. purpurata; a crispa cárnea é tão discreta e suave, que de fato não chega a ser marcante.
A variedade flâmea é muito raramente vista à venda ou nas coleções, mas parece ser a mais bela e vivaz dentre as variedades já catalogadas para essa espécie - linda planta!
A hibridação natural de L. crispa com L. perrinii foi registrada mais de uma vez no Séc. XIX.
L. pilcheri é uma das Laelias híbridas clássicas, juntamente
com: Pacavia, Pulcherrima e Lucy Ingram .
com: Pacavia, Pulcherrima e Lucy Ingram .
A L. x lilacina Philbrick, e depois a L. x sicheriana Rchb. f. , descrevem e registram no Séc. XIX a ocorrência natural no RJ do híbrido entre L. crispa x L. perrinii - é válido botanicamente o nome mais antigo! A Laelia pilcheri ou pilcheriana, resultou de um cruzamento artificial similar ao natural, registrado em 1868, cruzamento este feito pelos pioneiros e famosos hibridistas da Casa de Orquídeas da família Veitch; são sinônimos portanto. O último nome ficou mais popular e famoso na orquidofilia e por isso utilizo-o também!
Esse cruzamento da Casa Veitch de Orquídeas foi comercialmente repetido pelo Orquidário Florália nos anos 90, a gerente Sandra Altenburg, interessantemente, refez alguns híbridos históricos, disponibilizando-os para as coleções contemporâneas. E o meu agradecimento à Srª. Zita do Orquidário Chácara Suíssa pela cessão desse exemplar do cruzamento de mais de 25 anos atrás. Foi a melhor aquisição dos últimos tempos e me deixou muito contente! Trata-se exatamente do tipo de orquídea apreciada: laelia, histórica, natural e vigorosa !
Trata-se de um exemplar de L. pilcheri bastante
intermediário entre os genitores e muito simpático.
Mesmo assim a L. Pilcheri ainda se mostra com várias característica
de L. crispa, como as fotos de cima bem mostram.
É tratada como majestade aqui na minha casa!
intermediário entre os genitores e muito simpático.
Mesmo assim a L. Pilcheri ainda se mostra com várias característica
de L. crispa, como as fotos de cima bem mostram.
É tratada como majestade aqui na minha casa!
Também existem registros de hibridizações naturais entre crispa e lobata ( L x wyattiana ) e com C. velutina (Lc dayana), sobre as quais nada consegui levantar a não ser o nome.
Esse híbrido artificial acima ( L. grandis x C. forbesii ) deve ser muito parecido com o também artificial Lc. delicatula ( L. crispa x C. forbesii ) , esta poderia ocorrer naturalmente no RJ, nos poucos locais onde as duas espécies co-habitam, a época de floração de ambas é a mesma. As duas Laelias, a crispa e a grandis, são aparentadas e bem similares em forma e tamanho; o hídrido com a primeira deve lembrar bastante o com a segunda. Reparem, a planta é monofiliada e flor lembra fortemente uma Laelia. Recentemente comprei dois exemplares de Lc. delicatula, feitos pela Orquilanda, ainda não floriram e parecem não gostar do clima de Curitiba, ao florirem eu os fotografo e publico.
Acima um outro híbrido natural que jamais foi encontrado na natureza,
mas que teoricamente seria bem possível, C. intermedia x L. crispa.
Reparem na variação de formas destes exemplares oriundos de
cruzamento artificial que encontrei numa exposição
aqui em Curitiba. Fiquei impressionado como
o amarelo do tubo de L. crispa mostrou-se
dominantes em alguns clones.
Os cruzamentos entre L. crispa e Cattleyas unifoliadas geralmente
nos lembram aquela boa máxima: "Nada é tão ruim que não
possa ficar bem pior." Melhor nem comentar, as
imagens já comunicam o necessário !
Sensacional, como sempre são as suas matérias.
ResponderExcluirParabéns.
Sérgio Leite
Otimo artigo. Parabés!
ResponderExcluirCaro Ricardo: Obrigado pela eficaz dose de ânimo que nos enviou, tenho feitos sérios esforços para abastecer meus leitores de interesse pelo cultivo e pela história da orquídeas do Brasil. Abraços !
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