"De repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que te vi
o dia em que me viste"
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que te vi
o dia em que me viste"
Leminski
Foi na casa de um amigo, aqui em Curitiba, onde inicialmente reparei na elegância discreta dessa planta de interior. Lá havia uma vistosa touceira, bem verde escura, vegetava garbosa e visivelmente adaptada na sombra da sala da casa dele. Perguntei a origem e o nome da planta e ele me disse que a vizinha tinha uma grande quantidade dela, e havia lhe presenteado com uma parte do descarte de um dos vasos.
O nome comum ninguém sabia !
Olhei bem a planta e desconfiei logo, pela simplicidade e resistência, ser certamente de origem africana, as bulbosas brasileiras são raras em cultivo. Perguntei se já haviam visto a floração e descreveram-me umas hastes florais mais altas do que as folhas, molengas, cheia de insignificantes flores verdes bem pequenas nas pontas. Depois da floração a planta descansava e a folhagem verde escura perdia muito do viço, pelo quadro descritivo certamente seria uma Liliaceae.
Ainda insuperável como fonte de identificação
visual de plantas cultivadas !
visual de plantas cultivadas !
Passei a reparar e mesmo no prédio onde trabalho e em outros ambientes internos fechados, havia grande frequência de exemplares dessa espécie, resistiam muito bem ao descuido e ao molhamento exclusivo com a água tratada da torneira! A água tratada saliniza progressivamente o vaso, deixando o substrato, e as vezes a própria superfície externa do vaso, totalmente esbranquiçados de sais químicos. Muitos pensam ser o cloro o componente danoso e acumulativo mas não é esse o agente salinizador, o cloro é um gás e rapidamente evapora-se, o sulfato de alumínio e o calcário são os verdadeiros culpados.
Devido a esse problema, muitas pessoas têm o salutar hábito de colocarem ocasionalmente seus vasos de plantas na chuva, para a água pura lavar esses sais do substrato, evitando o fenecimento progressivo das plantas.
O tempo passou e nada descobri sobre essa espécie tão comum e ao mesmo tempo tão misteriosa. Nesses casos de difícil identificação de plantas , quando não há nome ou qualquer outra referência técnica distintiva, só resta recorrer à tradicional e ainda insuperável Enciclopédia Exotica de Plantas Cultivadas, encontrada em boas bibliotecas.
Se neste super ilustrado compêndio não identificarmos, através de foto, a espécie procurada, ficaria então muito difícil determiná-la - não existe outra fonte de consulta melhor e mais facilmente acessível. Se lá não houvesse sucesso, a identificação dependeria então de sorte na obtenção de mais pistas e informações ! Na internet só poderíamos localizá-la sabendo-se algum dos nomes ou a família botânica, as tentativas ao acaso foram infrutíferas.
Já na biblioteca pública e com o volumoso exemplar da Exotica na mesa, revirei a seção da grande família Liliaceae de cima para baixo e não localizei nenhuma espécie identificável como sendo a da planta em questão. Mas percebi uma correlação visual bastante acentuada com as plantas do gênero Hosta - Liliaceae, muito cultivadas fora do Brasil.
Todavia as flores das hostas dos livros eram bem maiores e coloridas, não combinando com a descrição do meu amigo sobre a floração da desconhecida. Por falta de outro nome melhor passei a chamá-la de "hosta", consegui algumas mudas e plantei-as num vaso disposto na minha sala. Depois de muito insistir, pesquisar e perguntar ao outros, sem qualquer nova informação, desisti de tentar achar a correta classificação e deixei a "hosta" para lá.
vegetativamente, mas apenas parentes bem distantes.
Todavia as flores das hostas dos livros eram bem maiores e coloridas, não combinando com a descrição do meu amigo sobre a floração da desconhecida. Por falta de outro nome melhor passei a chamá-la de "hosta", consegui algumas mudas e plantei-as num vaso disposto na minha sala. Depois de muito insistir, pesquisar e perguntar ao outros, sem qualquer nova informação, desisti de tentar achar a correta classificação e deixei a "hosta" para lá.
menos rude e muito vistosa, há quem
passe óleo de cozinha nas folhas
para conferir brilho.
Havia mais bulbos do que terra, a espécie mostrava ser extremamente rústica e resistente. Sendo uma planta muito funcional, cumpre rapidamente a missão de trazer o verde para os locais pouco iluminados dos interiores das construções. Era mais uma opção para fazer companhias às jibóias, comigo-ninguém-pode e espadas-de-são jorge tão comuns dentro das residências brasileiras, essa era uma das mais resistentes entre as resistentes !
Ledebouria socialis , uma prima muito parecida, forneceu a pista
para a correta identificação, por isto a Botânica
baseia-se nas flores para caracterizar e
separar espécies, posto que as
folhas e outros aspectos
variam muito com
o ambiente.
para a correta identificação, por isto a Botânica
baseia-se nas flores para caracterizar e
separar espécies, posto que as
folhas e outros aspectos
variam muito com
o ambiente.
Anos depois, visitando uma loja de jardinagem , fui bisbilhotar na seção de suculentas, lá vi uma planta diferente e também desagradavelmente florida. Suas deprezíveis flores eram incrivelmente idênticas as da misteriosa "hosta" da minha sala ! Voltei à Exotica e mais uma vez folheando o livro achei a foto dessa segunda espécie: Ledebouria socialis - da família dos jacintos - Hyacinthaceae. Próxima dela estava uma foto de uma planta parecida com a minha "hosta" , só que a planta da foto do livro tinha poucas folhas e essas eram todas pintadas . Também o exemplar da minha sala apresentava ocasionalmente umas poucas manchas escuras no meio do verde forte.
Portanto o nome científico clássico da planta desconhecida é Drimiops maculata,
corretamente mudado, há pouco tempo, para Ledebouria petiolata.
corretamente mudado, há pouco tempo, para Ledebouria petiolata.
Só depois ficou claro: a espécie mudava muito de aparência se exposta ao cultivo fora da sombra; por isso foi tão difícil determiná-la. Nessas circunstâncias de maior incidência de luz solar, suas lindas folhas verde escuras desapareciam, dando lugar às novas e feias folhas verde claras, curtas, grosseiras e cheia de pintas - por isso o nome científico de maculada. Não havia localizado-a de pronto porque o exemplar da fotografia de identificação, planta exposta ao sol, era completamente diferente daquela da minha sala, mas só por fim me dei conta que eram a mesma espécie.
São plantas resistentes e ecologicamente raras, capazes de adaptarem-se à pior condição que um vegetal pode enfrentar: a seca e a sombra conjugadas. Por isso é tão abundante em escritórios e corredores de prédios ! Expostas à luz do sol tornavam-se irreconhecíveis! Perdiam a serena vitalidade conferida pelo verde escuro, tornando-se uma erva rude com pintinhas.
Como acontece quase sempre com as plantas desconhecidas que me chamam a atenção em Curitiba, são originárias da África do Sul - região de Natal. Lá vegetam em locais sombreados, dispostas em barrancos próximos aos riachos temporários. Se no interior da sua casa, ou em locais onde todas as outras plantas fenecem, tente essa ! Cuidado no plantio, os bulbos provocam leve irritação quando manuseados ! Os propágulos não devem ser enterrados totalmente, se estiverem dispostos em vasos, molhe pouco , senão cresce muito rápido !
Em condições intermediárias torna-se
muito agradável.
Agora comentada em um artigo em língua portuguesa está um pouco menos desconhecida ! Mas continua sem nome comum e por isso difícil de se identificar.