VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


terça-feira, 17 de maio de 2011

Paisagismo: Evolução no Brasil - Parte I - Séc. XIX


.

Escultura no Parque da Catacumba - RJ




"Há um ponto elevado em que a arte,
 a natureza e a moral se confundem e são 
simplesmente uma só coisa."  

Francis Bacon
 


"Tenho medo do que é novo e tenho medo de
 viver o que não entendo, quero sempre ter a 
garantia de pelo menos estar pensando
que entendo, não sei me entregar
à completa desorientação."
  
  
Clarice Lispector








Apolo e sua lira na paz dos jardins de Petropólis - RJ.




Os parques e praças românticos de Glaziou - Rio de Janeiro - RJ.




Graciosa fonte no Parque da Luz em São Paulo - SP.





O soberbo chafariz eclético do Parque Redenção em Porto Alegre - RS.




O singular conjunto paisagístico em Goiânia- GO.




Monumento à Imigração Japonesa - Quebra-mar de Santos - SP.



Sobre a 2ª Parte deste artigo :

Click aqui e veja o resumo sobre a evolução
do paisagismo no Séc XX






INTRODUÇÃO

Desde o início do planejamento deste artigo-postagem-resumo, escrito originalmente em 2001 e readaptado para esta publicação virtual, a questão da escolha da forma mais adequada de abordar um assunto tão abrangente como o da arborização e paisagismo se fez, logo, presente. As possibilidades de o enfocar minuciosamente sob um ponto de vista parcial ou de descrever seu contexto geral foram examinadas.





Optamos por mostrar o preponderante que fosse bem ilustrativo do geral, avaliamos que, mesmo sendo objetivamente sintéticos, essa massa de informações já seria de bom tamanho, projetamos então desejadas lacunas de épocas e fatos tidos como desimportantes. Este veículo é visual e não podemos esquecer desta premissa, existe sempre o risco de desagradar a algum expert ansiando por ver a si mesmo no trabalho alheio, aliás, exatamente o público-alvo que não tentamos cativar através da internet.




O leigo normalmente sabe reconhecer o esforço e agradece gentilmente o resumo oferecido através de um simples blog. A pesquisa foi grande, organizá-la de forma mais ou menos cronológica nem sempre resulta em quadro harmonioso, de toda forma tentamos e isto é mais corajoso, arriscado e recompensador do que não fazê-lo. Procurou-se tornar o texto e a sequência de fotos atraentes para o leitor passar a entender o fluxo dos acontecimentos, e assim, talvez, dar mais valor ao assunto. Ao mesmo tempo, procurou-se ampliar a visão técnica, a base natural e a importância da evolução dos fatos. Nomes científicos são necessários para os visitantes estrangeiros e técnicos não terem dúvidas sobre as especificidades botânicas.





Meus comentários são mais no sentido de tornar o texto leve, despretensioso e pedagógico. Ler na tela é difícil e sendo massante demais dá sono, as imagens estão dispostas intercaladas, tentando ser atrativas e elucidativas. Não realizamos este trabalho para agradar meia dúzia de pessoas, esperamos que seja interessante e útil para muitos e por um longo tempo. Desculpem as imperfeições, trabalhamos aqui apenas quando há oportunidade, aprendi muito na elaboração e este foi o melhor aspecto da experiência.


É como num jardim cultivado: se agradar os olhos do visitante, já terá valido a pena!





As fotos entre o texto acima são da histórica obra paisagística de Glaziou no Rio de Janeiro.







"Eu vejo o futuro repetir o passado.
Eu vejo um museu de grandes novidades.
O tempo não para.
Não para, não, não para..."


Cazuza






BREVE RESUMO DO HISTÓRICO DO
PAISAGISMO NO BRASIL






A Muralha Verde



O Brasil, por ser o maior país tropical do mundo, possuir um território de magnitude continental, dos mais bem regados por chuvas, e apresentar uma notável variedade de climas é, consequentemente, possuidor de uma das floras mais diversificadas, mais vasta do que variada, mas de qualquer forma uma das mais ricas.




Ao observador do Brasil pré-cabralino se descortinaria um cenário onde as matas avançavam, ano após ano, por entre os campos e cerrados que compunham a maior parte da paisagem brasileira há 12.000 anos. O clima passado do centro-sul brasileiro parece ter sido bem mais seco do que aquele encontrado pelos descobridores europeus.




O estudo da vegetação original do Brasil indica que o ambiente florestal denso cobria parte considerável do território nacional, em especial a planície litorânea, a área montanhosa sob forte influência das frentes frias nas proximidades do oceano, os maciços montanhosos do interior e a imensa depressão amazônica. A formação arbórea mais aberta do cerrado ficava restrita às áreas sujeitas a alguma seca por ano e mesmo o semi-árido nordestino cobria-se também de uma vegetação arbórea rala.



Durante esses primeiros estágios do contato do europeu com a natureza do país, percebeu-se que a exuberância da vegetação associada ao relevo litorâneo acidentado dificultavam a exploração do interior.



Nem na África, nem na Ásia a natureza era tão agressiva contra a exploração do interior como no Brasil. A bela natureza brasileira pecava principalmente pela falta de bons alimentos, os indígenas existentes viviam de coleta de mariscos, do plantio da mandioca e da piscosidade dos rios; a caça era escassa, animais de grande porte praticamente não existiam. As frutas nativas eram verdadeiros "pés-de caroço", não havia fartura, à excessão dos insetos, só haveria verdadeira abundância, quando aclimataram as frutíferas estrangeiras: banana, manga, jaca, carambola, abacate, cítricos, côco etc.


Serra do Mar


A primeira riqueza explorada pelos europeus veio a dar mais tarde o próprio nome do país. O pau-brasil (Caesalpinia echinata) medrava na floresta da fachada atlântica, sendo cortado e transportado até à praia pelos índios, evidenciando a falta de contato direto dos portugueses com a natureza florestal do território.




Paisagem bela, mas beleza não se põe na mesa.



Os rios transformaram-se nas principais vias de penetração através da área florestada, definindo muito da distribuição geográfica atual, pois a ocupação só foi possível onde a rede hidrográfica o permitiu, fazendo do vale do rio S. Francisco a primeira área do interior brasileiro colonizada e explorada economicamente.




Marimbondos.



Quando os primeiros núcleos urbanos começaram a se desenvolver, já se configurava para os colonos que o contato com o meio ambiente brasileiro fatalmente seria acompanhado de calor, alta umidade e muitos insetos, provocando muitas doenças.




Jararacuçú - abundante e mortal.


Justificar
Viver em vilas ou em fazendas implicava se afastar dessa situação insalubre e insegura. A destruição da vegetação mais alta era a norma, favorecendo a ventilação; nas vilas, a arborização urbana era dispensada, pois o paisagismo, naquela época, era a ausência de paisagismo; era o único lugar onde se estaria livre da floresta onipresente na paisagem brasileira.



A preocupação com a sobrevivência fazia das plantas comestíveis a moda nos quintais coloniais; para a paisagem rural, reservava-se o fogo nas épocas secas, único aliado para que a incipiente agricultura pudesse ganhar espaço da mata tropical.




Locais amplos, de calçamento pétreo e sem árvores, como o Largo do Paço no Rio, eram chamados de "praças-de-espanha", conforto livre da companhia do mato e dos insetos.




O governo colonial jamais procurou inventariar a riqueza natural do Brasil. Todos os principais botânicos relacionados ao início da descrição da flora brasileira eram não-portugueses e desenvolveram seus trabalhos após à chegada de D. João ao Brasil em 1808.




Madeiras duráveis em contato com a água do mar.



Os interesses portugueses nessa área relacionavam-se à utilização da imensa reserva de madeira brasileira para a construção naval, determinante do poderio dos países europeus na época. Foi considerada como monopólio real, a extração das madeiras mais resistentes ao contato com a água do mar, em especial o ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla), cuja durabilidade é notória.




A expressão "madeira de lei", que significa madeira de qualidade, é oriunda dessa fase da história brasileira. Depois, a circular da Marinha Imperial, de 05 de fevereiro de 1858, especificaria as árvores nativas a serem protegidas, como reserva estratégica de madeiras para a construção naval. Se a madeira era boa, era protegida pela lei, daí a expressão popular.

Algumas das árvores nativas mais utilizadas na construção naval e sua aplicação específica estão no texto em seguida, copiado de uma crônica antiga. Nomes científicos modernos foram acrescidos, quando possível, para a identificação das espécies mais utilizadas.




"Canella (Ocotea catharinensis ?) para braços, cavernas, forros, trincheiras, etc. O Araribá (Centrolobium robustum) para tudo quanto concernir a construção naval. A Peroba (Aspidosperma polyneuron e A. olivaceum), para caverna, braços, quilhas, mastro, vergas, retrancas e costados. O Orucarana (Hieronyma alchornoides) e Laudis pode-se empregar com felicidade para fracturas de cavernas, braços, vergas, retrancas, caranguejas - reparos para artilharia. A Massaranduba (Minalkara subsericea), Guarubás, Quaruiba (Rhizophora mangue ?), Páo de Vigario, e Sassafraz (Ocotea pretiosa) para construcção de lanchões, escaleres de guerra, trincheira, reparo de artilharia, carros de munição, etc."

Ter frota poderosa e atuante era a chave para o poder econômico-militar na época, a maior potência desses tempos - a Grã-Bretanha - possuía uma marinha de cerca de 800 navios. Mandava no mundo!






Planta original do Passeio Público do Rio de Janeiro ( final do Séc. XVIII) - Estilo Francês





Artista, arquiteto e escultor de memorável capacidade - filho de fidalgo e escrava.



O projeto e a obra Passeio Público do Rio de Janeiro, são encomendados ao artista mineiro Mestre Valentim pelo então vice-rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa . Em sua gestão na capital do vice-reino (1779-1790) decide transformar o Rio de Janeiro numa cidade mais atraente, confortável e moderna.



Valentim da Fonseca e Silva - Serro 1745 - Rio de Janeiro 1813 .



Obeliscos marcam a paisagem.


Portão com efígies de reis no primeiro parque público das Américas .


Para isso, inspirado no iluminismo predominante em Portugal, sintetizado na figura de Pombal, o vice-rei promove diversas obras visando à civilidade, ao bem-estar, à higienização e à saúde pública. A obra, iniciada em 1779, é concluída em 1783 e inaugurada em 1785. O Rio foi sempre uma cidade insalubre, morria-se logo na bela cidade, o calor favorecia a proliferação de insetos e de doenças derivadas deles, com comprovam os atuais e renitentes surtos de dengue. A febre amarela foi sempre problemática, para fugir dessa situação, a corte subia a serra e instalava-se em Petrópolis, onde as condições climáticas não eram tão radicais.



Medalhão retratando D. Maria I e o esposo.



A origem desse primeiro parque encontra-se nos jardins cortesãos europeus dos séculos XVI, XVII e XVIII, estes eram utilizados como local de lazer e cerimoniais. Na época ter um jardim público numa cidade era sinônimo de bom gosto e luxo, revelando um domínio da natureza pela razão. No caso do jardim carioca, ele é diretamente inspirado nos jardins aristocráticos do Palácio Real de Queluz e do Passeio Público de Lisboa.




Parque muito interessante, todavia com tamanho de uma praça grande.



Mais prosaicamente também podemos afirmar que a necessidade de imediato aterro dos charcos, verdadeiros criadores de mosquitos, gerava consequentemente um espaço perfeito para a instalação de um parque. Assim surgiram parques em várias cidades brasileiras. A área do passeio era pequena, mais seria uma grande e refinada praça cercada e muito arborizada, com muitos detalhes artísticos de ótima qualidade inseridos. Um lugar para passeios e socialização, uma demonstração curta e rica de apreço à vida e a natureza. Coberto de selvas espetaculares, o cenário brasileiro oferecia lindas vistas em fartura para todos, altava civilização.




Click nas fotos e as veja maiores !Alinhar ao centro




A brasilidade dos jacarés de bronze: obra- prima do mestre mulato.



Outras esculturas do mesmo autor, oriundas do Passeio Público, agora conservadas no Jardim Botânico. A manufatura em metal destas peças, nos dá boa mostra da elegância do antigo parque .



O Passeio Público de Valentim marcou uma época, sair de casa à passeio tornou-se moda. Implantado num fétido e fértil ex-charco, bem no centro da cidade, debruçava-se em terraços à beira-mar e a ver navios, ainda hoje recebe uma constante, agradabilíssima e refrescante brisa mar.




O Reino das Selvas



A história mais bem registrada do paisagismo e da arborização urbana no Brasil começa com a invasão de Portugal por Napoleão. O Príncipe Regente D. João resolve, em 1808, fugir da Europa e transferir a capital do Império Português para o Rio de Janeiro. Vieram com ele milhares de pessoas da elite portuguesa, em navios abarrotados de móveis e jóias, com todo o aparato que foi possível transportar e, possivelmente, plantas e sementes. Foi um dos fatos mais pitorescos de toda a História.





D. João VI - O Carioca



Chegando à cidade de Salvador, a primeira em que fez escala, D. João decreta a permissão para navios de países amigos poderem atracar em portos brasileiros. O portão para a entrada de plantas estrangeiras, também chamadas "exóticas", estava aberto. Entre as inúmeras mudanças dessa época, está a fundação da primeira instituição ambiental brasileira, o "Horto Real", um jardim de aclimatação para plantas exóticas no Brasil, hoje Jardim Botânico do Rio de Janeiro.




Pelo Horto Real, nessa época, entraram as espécies santa bárbara (Melia azeradach) e a mangueira (Mangifera indica), plenamente adaptada hoje em quase todos os municípios do norte e do oeste paranaenses, no caso da santa bárbara, chega a reproduzir-se sozinha, vegetando junto às matas nativas do norte do Estado. Nessa leva, chega ao Brasil, originária das ilhas do Pacífico Sul, a bela árvore da fruta-pão (Artocarpus incisa ou A. altilis), os ingleses tentaram aclimatá-la em suas colônias tropicais, provocando o famoso incidente com o H.M.S. Bounty.


Murraya exotica


O interesse pelas plantas tropicais, seu comércio e sua botânica, crescem em todo o mundo com a criação de Hortos e Jardins Botânicos estatais e particulares em todas as potências européias e suas colônias. Esse trânsito de plantas foi mundial, não se restringindo apenas ao Brasil.

O governo real resolve plantar o chá no Brasil, transferindo uma comunidade chinesa para introduzir o cultivo. Os chineses trazem sementes e mudas de plantas com flores fortemente aromáticas para acrescentar sabor e perfume ao chá. A cultura do chá propriamente dita fracassa diante das condições locais, mas a falsa-murta (Murraya exotica) e a magnólia amarela (Michelia champaca), vindas da China nessa leva, estão até hoje presentes nas ruas e nas noites das cidades brasileiras com seu característico perfume de verão.




Michelia champaca



Muitas vezes os navios vinham do Oriente com seus porões cheios de areia, utilizada como lastro para melhor navegar, e ao a descarregarem nas praias brasileiras para poderem carregar mercadorias nos portos, trouxeram as sementes do chapéu de sol (Terminalia catappa), do algodoeiro da praia (Hibiscus tiliaceus), da nogueira de iguape (Aleuritis mollucana) e também do coqueiro (Cocus nucifera) que, a despeito de sua atual ocorrência nas praias do nordeste brasileiro, não é nativo do Brasil.




Jambo (Eugenia malaccensis) - fragmentos de flores pelo chão.



A Guiana Francesa é invadida por forças luso-brasileiras, em represália à invasão de Portugal pelos franceses. Em Caiena, encontram um jardim de aclimatação com espécies de regiões tropicais, um patrimônio, matéria prima para o início da história do paisagismo no Brasil. Como espólio de guerra, chegam ao país: a jaqueira (Artocarpus integrifolia) , o tamarindeiro (Tamarindus indica), a caramboleira (Averrhoa carambola), o jambo (Eugenia malaccensis), a dilênia (Dillenia indica), a noz-moscada (Myristica fragans), a extremosa (Lagerstroemia indica), das Índias Orientais; o flamboyant (Delonix regia), de Madagáscar; e o abacate (Persea gratissima), do Caribe.




Floração do Flamboyant - Delonix regia - de Madagáscar


A árvore indiana dilênia protagonizou um pitoresco acontecimento no século passado responsável pela vinda de muitos imigrantes ao Brasil. Suas flores brancas e perfumadas, ao murcharem , recebiam ladinamente uma moeda de prata, mais precisamente patacões de Réis, formavam, em seguida um fruto contendo esta moeda em seu interior. Pedro II divertia seus visitantes estrangeiros abrindo frutos com moedas, ele mesmo havia colocado-as nas dilênias dos seus jardins. O impacto no imaginário das pessoas daquela época deveria ser grande, o sonho diante dos olhos !



A Dillenia é conhecida no litoral PR como Flor-de-Abril, chulta é o nome hindu.



Seguindo o curso da brincadeira, seriam exibidos na Europa como os legítimos frutos da lendária árvore do dinheiro "existente" em nossas terras. Em Joinville (SC) e em Colônia Leopoldina (ES), ainda existem dilênias descendentes daquelas esperançosamente plantadas por imigrantes alemães enganados pelos espertalhões.



O "legítimo" fruto do dinheiro fácil .


Uma nova leva de plantas iria, também, marcar a paisagem urbana brasileira graças à libertação da tripulação de um navio português, presa na ilha francesa de Bourbon (hoje, Mauritius) no Oceano Índico, onde executava trabalhos forçados no horto local. Os portugueses libertos, chegando ao Rio de Janeiro, oferecem a D. João VI uma série de plantas entre as quais uma que ele gostou em especial, esta se tornaria um dos símbolos do reino - a palmeira imperial (Roystonea oleracea), originária da costa da Venezuela.




D. João VI iria plantá-la com as próprias mãos, no Horto Real e, dela descendem, todas as existentes no país. A Palmeira Imperial combinou perfeitamente com a arquitetura barroca-colonial brasileira, com as fazendas de café, com os prédios públicos republicanos e até com a arquitetura moderna de Oscar Niemeyer, constituindo-se um dos marcos mais característicos de nossa paisagem urbana. Click aqui para ver Roystoneas - Confusões Imperiais , um completo artigo sobre as palmeiras-reais



Chateau Versailles



André Le Nôtre - Paisagista de Luís XIV celebrizado
em Versailles e Tuileries.


 Jardins do Palácio Real das Tuileries em Paris

Chateau Vaux Vicomte - suntuosidade barroca
e técnica lenôtriana.



No mundo ocidental do princípio do século XIX, duas correntes paisagísticas, antagônicas se degladiavam, exatamente como as duas principais potências européias: a França e a Grã-Bretanha.


Luxo e a rígida geometria do paisagista Le Nôtre, os telhados de Palácio de Versailles mostram-se em tom azulado.


Perspectivas a perder de vista, água com pressão em fartura nos jardins.



Na França, predominava ainda um conceito paisagístico característico do século XVIII onde a natureza mostrava-se fortemente domada pela mão do projetista; a intervenção consciente e técnica do ser humano no cenário natural atingiu o seu ápice. A estética geométrica, o uso extraordinário da topiária ( poda artística ) , os conjuntos de flores ordenados, as árvores em linha reta e os suntuosos chafarizes formavam uma paisagem onde a mão hábil dos jardineiros ficava evidente, bem como o árduo trabalho de manter um ambiente, esteticamente, perfeito.

Luís XIV  de França .


A opulência da natureza submetida à razão,
como demonstração de luxo e poder ilimitados.


Na Grã-Bretanha, após ter sido adotado o padrão francês durante o século XVIII, desenvolveu-se, no século seguinte, uma tendência diametralmente oposta, de inspiração oriental, onde a intervenção do homem na paisagem poderia ser completa, porém discreta ao observador. O luxo era substituído pela paz e pela elegância, a privacidade se sobrepunha ao exibicionismo.



O romântico Hyde Park - London



Dentro dessa tendência conceitual, os jardins deveriam ser belos, porém integrados à natureza; a mão do jardineiro ficaria pouco evidente, ou seja, desejava-se dar a impressão de um lugar já originalmente belo: formado de extensos gramados, bosques isolados e flores ocasionais na paisagem e canais passando por ser riachos naturais. O artificialismo era rejeitado; a natureza não domada era o estilo.



Os clássicos portões do jardim românticos ingleses, conferem grande elegância cerimonial e leveza aos ambientes de entrada. Fazem sonhar, exalam privacidade, e assim demonstram bem o espírito desse estilo mais leve e discreto. Pretendia-se ser harmônico com uma natureza mais possuída pelo espírito do que dominada pela mão forte do paisagista.

Um paisagismo grandioso, porém discreto, acolhedor
e muito convidativo ao passeio e a meditação.

Jardim romântico adaptado do padrão inglês em Coimbra.

A despeito do nosso clima e do entorno vegetativo adverso, a tendência se repetiria nos pequenos jardins e praças brasileiras pelos 130 anos seguintes. O conceito francês de paisagismo foi se diluído e tornou-se mais ou menos associado à influência romântica inglesa . O contraste entre o jardim mais ou menos geométrico, plácida e romanticamende disposto e a confusão exuberante da natureza brasileira, seria observado em todos os parques mais antigos do país até o advento dos jardins de Burle Marx, após os anos 40 deste século XX.





A cidade portuguêsa de Vila Real ainda guarda a estupenda
influência francesa em seus jardins.


O Paço Episcopal de Castelo Branco tem jardins formais suntuosos.







Jardins franceses do Palácio da Granja de S. Idelfonso
 - Segóvia - Espanha.


Uma miniatura espanhola de Versailles, bem maior e mais
convincente que o lusitano Palácio de Queluz.



Erguidos por Felipe V da Espanha, os jardins apresentam uma modesta, essencial e
 perfeita releitura do estilo paisagístico de seu avô, Luís XIV da França.



Uma pouco conhecida jóia estilística do paisagismo, projeto de René Carlier.


A influência francesa na estética ibérica
dessa época foi muito característica.






Todavia o romântico Passeio Público de Lisboa também viria a ser referêncial
para o paisagismo do Brasil.



Na Europa, Napoleão é derrotado pela Grã-Bretanha. A guerra termina. D. João VI retorna a Portugal.

D. Pedro torna-se Regente e, na seqüência de acontecimentos importantes, proclama a Independência do Brasil. A reforma urbanística de setores do Rio de Janeiro assume um caráter emblemático evidenciando a modernização do país e o avanço das novas instituições.




Ruas estreitas eram uma constante nos tempos coloniais.


O cenário urbano colonial com ruas estreitas, casas sem recuo e quintais enormes nos fundos, praças sem arborização e, geralmente, próximas às igrejas, era o mesmo em todo o país, apresentando praticamente a mesma concepção.




Rua S. Clemente - Rio de Janeiro.



Tudo isso iria mudar muito rapidamente nos anos seguintes.


O conceito de que o urbanismo e o paisagismo significam modernidade, que urbanizar é impor a ação racional do governante brasileiro sobre a tendência quase caótica das cidades do país, ficaria bastante enraizado em nossa cultura, e manifestado em várias experiências posteriores como: Belo Horizonte (MG), Maringá (PR), Brasília (DF), Palmas (TO), etc. todas ligadas ao referido embasamento cultural formado naquela época.



Ludwig Riedel - o paisagista pioneiro.


A procura por um profissional para fazer a reforma do Rio de Janeiro resultou em uma consulta feita ao Conde Langsdorff, um importante naturalista e embaixador da Rússia no Brasil, e dele vem a recomendação de Ludwig Riedel - alemão - para reformar a atmosfera barroca da capital. Ele trabalharia arduamente nessa tarefa, de 1836 até 1860. Todavia era dificílimo arborizar uma cidade de ruas estreitas. A população rejeitava reformas pois desagradava-lhe a proximidade das plantas. A solução foi trabalhar nos bairros novos da cidade e mostrar que, ao contrário da crença, as áreas arborizadas eram mais salubres, amenas e, principalmente, mais belas em relação as não tratadas. O trabalho de horto era feito pelos escravos, custeado por uma iniciativa do poder imperial . Ocupou o posto de diretor do Jardim do Passeio Público e, posteriormente, diretor da seção de botânica do Museu Nacional. Nascido em 2 de março de 1790, em Berlim, e falecido em 7 de agosto de 1861, no Rio de Janeiro, capital do Império. Foi co-autor  do 'Manual do Agricultor Brasileiro" foi também Chefe das Matas e Jardins, no tempo do Império.


O paisagista francês Jean Baptiste Binot (1810-1894), o primeiro de uma sucessão de paisagistas importantes e históricos desta mesma nacionalidade, atuou preponderantemente na cidade serrana de Petrópolis e arredores, já desde 1847.



O paisagismo e a floricultura começam a tomar fôlego no Brasil protegidos e estimulados pela monarquia. Seriam guiados por mãos e influências externas até a metade do Séc. XX.


O entorno luxuriante do antigo Palácio
 de Verão em Petrópolis.

Lá projetou e executou, entre outros menos conhecidos, os jardins do Palácio de Petrópolis, contrato assinado em 1854 , sendo esse o segundo marco importante do paisagismo brasileiro . Sua carreira foi algo obliterada pelo gigantismo da obra de Glaziou, porém seus jardins são interessantes e a flora que utilizava também era exótica e inusitada para a época, muitas dessas espécies seriam reutilizadas no modernismo, sendo comuns no uso paisagístico até hoje.



Uma estereoscopia dos jardins recém implantados conforme o projeto de Binot. Este tipo de foto duplicada dava ao observador a ilusão da realidade tridimensional, se vista duma certa distância. Um truque ótico muito usado como atrativo nessa época de tantas novidades tecnológicas. São jardins geométricos de inspiração formal francesa bem diferentes do estilo que o romantismo imprimiria posteriormente ao paisagismo brasileiro no período imperial tardio.




Acima o projeto romântico de Glaziou para o parque do Palácio de Petrópolis - não executado.


Em algum momento houve uma intervenção reformista desse outro paisagista nos originais jardins do palácio, em 1866, 1877 ou em 1882. Embora não tenha sabido onde e como ocorreu, parece ter sido superficial não alterando muito o estilo primitivo - acredito numa manutenção com leve reforma. Incentivado pelo imperador, Binot fundou uma chácara para a produção de plantas ornamentais nessa mesma cidade, criando um viés comercial que os outros paisagistas não seguiram, até que Burle Marx o fez. A flora dos jardins petropolitanos era notadamente diferente da usada nos parques e praças da capital, embora apareçam discretamente e em menor número de exemplares. Clima não seria o problema, provavelmente é uma questão de fornecimento.



O Solar Avellar, do abastado Visconde de Ubá, parece ter
sido ajardinado por este paisagista, o estilo é bem compatível.





Ao fundo o Palácio de Verão em Petrópolis - residência
recreativa particular de Pedro II.


O Palácio de Verão recém construído
 e ainda sem jardins de entorno.



Binot atuaria também em outras residências serranas de cortesãos , diplomatas e estrangeiros que orbitavam em torno de D. Pedro II. Mas a imperial residência de verão em Petrópolis teria o primeiro importante jardim projetado no país. O sensacional historiador Heitor Lyra relata sobre o Palácio de Verão e seu parque de entorno:"A construção do futuro Palácio Imperial.....( para a sua residência  de recreio e saúde, no tempo do verão ), teve início em 1845....e iria terminar em 1859. Foi o autor do projeto o Coronel-de-Engenheiros Joaquim Candido Ghilhobel, executor das obras o arquiteto José Maria Jacinto Rabelo, e decorador Manuel Araujo de porto Alegre ( futuro Barão de Santo Ângelo )....O plano e execução do belo parque que rodeio o Palácio, de dimensões relativamente grandes, foram obra do "horticutor" João Batista Binot, um francês chegado ao Brasil por volta de 1849, tendo custado a obra cerca de de sete contos de réis. Deu começo aos trabalhos em 1854, com a plantação de numerosas árvores frutíferas  e várias plantas exóticas como palmeiras da Austrália, pândanos da África, cedro da Índia, palmeiras imperiais e bananeiras de Madagascar, tornando-se, sob este aspecto, único no Brasil, só comparável no Brasil ao parque da Quinta da Boa Vista , no Rio de Janeiro. Ao contrário portanto, de uma informação muito vulgarizada, o jardim do Palácio Imperial de Petrópolis, não foi obra de Auguste Marie Glaziou, em 1864. "




 Jardins de Binot no Palácio de Petrópolis - amplie e
veja o início do paisagismo no Brasil

O estilo dos canteiros é notadamente geométrico e com ângulos bem agudos, é praticamente um jardim francês, porém foram utilizadas plantas tropicais de vários locais diferentes e de grande impacto visual e escultural. Pretendia-se claramente mostrar uma natureza tropical exuberante, monumental e domada pela razão; contrastando fortemente com a beleza natural do entorno do prédio.


As fotos acima são datadas de 1866, mostram portanto o jardim de Binot implantado.



Como se pode observar pelas fotos acima, o estilo de Binot : pandanus, pinheiros, araucárias, ciprestes, camélias e frutíferas. Estas espécies não são características dos jardins de Glaziou, nas suas obras clássicas românticas não há canteiros com ângulos retos ou com geometrias acentuadas. Porém na residência de Mariano Procópio, um dos seus primeiros projetos, há ainda alguma geometria e formalidade, depois estas seriam definitivamente postas de lado nos grandes espaços projetados por ele.



Fotos também datadas de 1866 mostram de perto o estilo dele.



Portando temos um jardim serrano de estilo reconhecível pelas espécies utilizadas.


JustificarOs banheiros privativos espalhados pelas matas e bosques dos fundos do Palácio de Petrópolis, são interessante e singulares, o da foto acima era reservado aos banhos recreativos das duas princesas.





A estátua de bronze do imperador foi acrescida ao canteiro, não é original do projeto, ele não permitiria jamais esta homenagem ainda em vida. Como periodicamente há um show de luz e som nos jardins do museu, existem equipamentos estrategicamente espalhados, alguns poluítivos, como podem ser observados nas fotos.



Silêncio e Paz.


Texto do Círculo Monárquico de Brasília:


" Enquanto prosseguiam as obras, procurou o Superintendente entrar em entendimento com jardineiros (hoje chamaríamos paisagistas) para a confecção do jardim do Palácio. Informa Sodré que “o primeiro projeto foi de Glaziou. O Imperador, no entanto, preferiu o plano de Binot, famoso botânico estabelecido em Petrópolis”. Guilherme Auler, porém, contesta tal afirmação de Sodré: Ser de Glaziou o primeiro. “Não existe nenhum documento que permita afirmar que Glaziou é o autor do primeiro projeto para os jardins [...].A única referência encontrada [no Arquivo da antiga Superintendência] é de 9 de maio de 1877, num ofício do então Mordomo, Barão de Nogueira da Gama, comunicando que o Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial, Dr. Augusto Glaziou, tinha ordens para examinar o estado dos jardins do Palácio de Petrópolis”. Guarda o Museu Imperial uma grande planta do Parque da Residência Imperial em Petrópolis, sem data nem assinatura, mas tida como sendo do célebre botânico. Seria essa planta resultado da visita feita em 1877 ? "




" O contrato assinado por Binot, para a confecção dos jardins, apresenta uma série de obrigações, bem como a importação de plantas estrangeiras e ainda grama mandada vir da França (!). Nele obrigava-se também Binot a nivelar e “preparar convenientemente, com o fim de serem plantados, os terrenos à frente e ao lado do Palácio, destinados para jardins”, executando os riscos conforme lhe forem fornecidos. Então não eram dele os planos? E mais, “procurará terra própria e a fará conduzir, bem como o estrume”. E ainda “riscará, armará e encanteirará [sic] com grama as diferentes banquetas e canteiros, cavando pelo menos 3 palmos de profundidade para encher com boa terra, dependente da natureza e tamanho da planta. Alcindo Sodré, descrevendo, em 1959,o parque do Palácio, dá uma visão do que foi executado: “Até hoje conservam-se as linhas paisagísticas primitivas dos canteiros e a disposição das espécies vegetais. São ciprestes indostânicos, pândanos da Africa, palmeiras da Austrália, árvores de incenso, bananeiras de Madagascar, em convívio com as jaqueiras, os ingás, os cedros e as magnólias. Nos claros, e pela alegria viva de suas cores, as camélias, os jasmins, as três-marias, os manacás, a flor-do-imperador... Avoengos paredões de pedra guardam ciosamente a poesia verde dos musgos e avencas, que o tempo lenta e caprichosamente lhes foi concedendo”. São ainda de Sodré as seguintes expressões: “para Pedro II Petrópolis seria, sobretudo, o seu Paraíso."




Visão atual dos jardins do Museu Imperial - poucas curvas e intimista.




O jardim da Casa das Duchas em Petrópolis - muito frequentada por Pedro II - foi sabidamente implantado por Jean Binot. Ao que tudo indica, houve por parte de Binot e família, uma dedicação maior à produção de mudas e a exportação e importação de espécies botânicas, do que a execução projetada de grandes jardins e parques propriamente dita. Seus descendentes ainda comandam o Orquidário Binot de Petrópolis, uma instituição comercial de floricultura das mais antigas e tradicionais do país.




As árvores de ornamento e frutíferas são oriundas da chácara do paisagista . A ponte vermelha compõe muito bem com a paisagem, porém é moderna.




Parece ter havido uma divisão inicial de áreas de trabalho entre Binot e Glaziou, não consegui apurar se foi cordial ou não. Um atuando mais no Rio e o outro em Petropólis, como ambos eram muito amigos do imperador, talvez este tenha feito uma distribuíção de espaços de influências. Com o passar das décadas e devido a grandeza de seu trabalho, Glaziou iria, aos poucos, dominar o cenário paisagístico na capital e no círculo social mais diretamente relacionado com a monarquia.










O Eng°. Auguste Glaziou foi o grande paisagista do período imperial, nascido na França, chegou no Brasil em 1858, aceitando um convite do imperador. Criou um sub-estilo de jardim romântico , podemos caracterizá-lo como brasileiro. Abaixo uma mostra de suas principais obras e a visualização clara do seu característico estilo:






Praça do Suspiro e...

Praça Princesa Isabel - Nova Friburgo - RJ.


Glaziou começou sua carreira pública fazendo praças e também elaborava jardins privados, as duas praças de Nova Friburgo - RJ, mostradas acima são de sua certa autoria, Na primeira vê-se uma ponte pequena, porém já característica de seu estilo, além de cycas e palmeiras. Na segunda praça, mostrada já com o jardim bem estabelecido, dominam os eucaliptos, o traçado romântico não é prontamente perceptível. Nessa época, os estilos de Binot e Glaziou não eram tão diferentes, depois surgiria o verdadeiro e belo estilo romântico brasileiro.


Praça em Petrópolis recém plantada.



Abrigando um dos mais ricos acervos históricos do país, o atual Museu Mariano Procópio de Juíz de Fora destaca-se também pelo grandiosidade do prédio e do parque onde localiza-se.




O Eng° Mariano Procópio, construtor da Estrada União e Indústria, abastado e culto, emoldurou sua mansão com jardins de Glaziou, foram executados a partir de 1861. Provavelmente por indicação de Pedro II, quando da inauguração da estrada.


Voltaria acompanhado da imperatriz e das filhas recém casadas como mostra a foto acima. Provavelmente a reforma já deveria estar pronta, na imagem abaixo os homens foram de barco inspecionar o novo lago da propriedade.


Pedro II e seus genros em pé no barco, ainda sentados nele provavelmente estão Mariano à esq. e Glaziou ( ?) à dir. Aguardando o desembarque em primeiro plano a imperatriz e as princesas filhas, além de outros acompanhantes - foto de 1869.









Certamente é um dos primeiros projetos de Glaziou e um dos pioneiros parques do país, nele se vê detalhes estilísticos que lembram Binot. As curvas mostradas nas fotos de baixo parecem mais características, embora os quadrângulos destoem.




Reformas são necessárias, o passar do tempo as demandam, mas precisam ser criteriosas e superficiais, novas árvores de espécies não originais do projeto, podem alterar profundamente o aspecto. A de cima, pelo que se vê nas fotos, foi bem discreta, viçosa e cabível.










A Reforma do Passeio Público.



Com o sucesso de suas obras e projetos privados, Glaziou foi abrindo espaços e ganhando prestígio - merecidos. Durante uma ausência dos imperadores, passou pela capital, em 1860, o futuro imperador do México, Maximiliano de Habsburg - primo de Pedro II.




Levado a conhecer o Passeio Público, o odor fétido emanante contrangeu os acompanhantes da comitiva. Quando D. Pedro II voltou e inteirou-se do vexame, decidiu então reformar o principal parque público do Rio de Janeiro.




Acima a interessante perspectiva do projeto de Glaziou
para a reforma romântica do Passeio Público do Rio de Janeiro, contratada em 1863.





Nessa intervenção, procurou-se preservar os melhores detalhes da obra de Mestre Valetim, porém o estilo foi completamente alterado.




O Passeio Público mudou de estilo a mando
segundo imperador.



Já como uma massa densa de vegetação - visto do Largo
Lapa em cerca de 1905.




Glaziou iniciou no paisagismo brasileiro uma prática que ainda hoje é tentadora para quem implanta uma arborização urbana tropical: grandes árvores floríferas, formando conjuntos de efeito espetacular.




Do mato para os jardins, sem preconceitos
quanto à origem.


A natureza brasileira debuta, a partir de então, na paisagem urbana, dominada antes por espécies exóticas, com uma seleção de árvores floríferas antes admiradas apenas à distância na mata: o pau-ferro (Caesalpinia ferrea var. leiostachya), a sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), as cássias (Senna macranthera, S. multijuga), o jacarandá mimoso (Jacaranda mimosiaefolia), as quaresmeiras (Tibouchina granulosa, T. mutabilis), a paineira (Chorisia speciosa), os ipês-roxos (Tabebuia avellanedae, T. impetiginosa, T. heptaphylla), os ipês-amarelos (Tabebuia alba, T. chrysotricha) e a sapucaia (Lecythis pisonis), plantada na principal avenida dos jardins do Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista. A residência oficial do monarca ganha um grandioso parque tropical no seu entorno que deveria lembrar em função o Bois de Bologne parisiense.






Acima o Projeto de Ajardinamento do Canal do Mangue no Rio de Janeiro, uma das maiores iniciativas paisagísticas da história mundial e a maior do Brasil. Não havia nada comparável no porte na época, foi a maior utilização de palmeiras imperiais já realizada e marca o ápice desse estilo de arborização tão peculiar ao cenário paisagístico brasileiro no Séc.XIX.


O Barão de Mauá termina a obra do Canal do Mangue, melhorando assim a drenagem dos charcos circundantes do centro da capital. As palmeiras imperiais que margeariam o canal seriam plantadas por Glaziou a apartir de 1869. Parecem que um grande lote delas foi produzido e foi utilizado em várias obras.


O projeto original de Glaziou para a Quinta da Boa Vista previa uma alameda de acesso monumental, talvez as palmeiras destinadas à essa via principal de acesso tenham sido transferidas para a arborização do Canal do Mangue.






Infelizmente as palmeiras foram todas dizimadas.



Jardins e chafarizes implantados no
entorno do Paço Leopoldina.


Pandanus utilis era muito usado por Glaziou.

Acima o muro com gradil no limite da propriedade
e o quiosque no lago.

Paço Leopoldina - paisagismo de Glaziou.


Também no Paço Leopoldina, depois conhecido como Paço Duque de Saxe, jardins e lagos foram implantados pelo mesmo e emblemático paisagista. Talvez Glaziou tenha executado esta obra concomitantemente à reforma da Quinta da Boa Vista, descrita mais abaixo, ou talvez um pouco antes. A residência de D. Isabel em Laranjeiras apresentava jardins mais discretos do que os da casa da irmã, esses parecem ter sido muito bem projetados e executados com maior orçamento.


O prédio foi descaracterizado pelos republicanos, mas se vê ainda no canto superior esquerdo da foto um corredor de palmeiras-imperiais lateral ao prédio. Talvez fossem as palmeiras da estação de trem da Quinta da Boa Vista.



A  reforma da Quinta da Boa Vista aconteceu após a
 primeira viagem do imperador à Europa

As residências da monarquia, como a Quinta da Boa Vista, além de outros endereços igualmente nobres, capitanearam os acontecimentos vanguardistas desses tempos de mudanças lentas. Não poderia ser diferente , o poder e a fartura de recursos atraem as forças transformadoras. Depois que Glaziou foi nomeado Diretor do Parques e Jardins Públicos , foram as praças e largos os principais objetivos do seu trabalho.

A antiga fonte-chafariz, bem em frente ao Paço de S. Cristóvão, algo fora de lugar
 e de proporção, ainda do tempo da reforma de D. Pedro I, desaparece
 sem deixar vestígios ou informações na reforma de Glaziou.

O antigo Portal Inglês, que durante décadas esteve na frente do Paço de S. Cristóvão,
 continua imperialíssimo na frente do Zoo da Quinta. Foi desmontado e
relocado na reforma republicana na Quinta, realizada por
Paul Villon e Nilo Peçanha em 1910.

Click na foto e amplie, torna-se de ótima qualidade



Estilo vitoriano em jardins tropicais: grutas artificiais, sapucaias,
figueiras e palmeiras imperiais.


Fotos do início do Séc. XX mostram
o jardim estabelecido.

Acima as fotos da remodeladora reforma de Glaziou na Quinta da Boa Vista, projetada antes e começada em 1869, quase concomitante com o Canal do Mangue que ficava muito próximo à Quinta. Todavia o projeto na sequência de fotos acima, não foi o executado - foi bastante modificado - tornando-se algo melhor. A obra erradicou primeiro a mata e as mangueiras existentes no torno do paço e depois fez-se a implantação do jardim romântico, os registros afirmam que a obra foi muito custosa para os recursos que o monarca dispunha. Podemos crer nesta como tendo sido a mais cara intervenção paisagística do Séc. XIX no Brasil.



A Alameda das Sapucaias tornou-se célebre
na obra de Glaziou.



O vídeo de Marcus Moura mostra todo o exotismo da Alameda das Sapucaias
 com a cor vivaz das folhas novas, como Glaziou imaginou que ficariam
 com o passar dos anos. Imagem que emociona e mostra bem
toda a imponência e simplicidade do Paço
 de S. Cristóvão.



Voar Multimídia: www.voarmultimidia.com.br






 
 Centenárias, ainda viverão muito, cada vez que florescem é uma
lembrança de um tempo que deixou saudades.


As demolições, a limpeza do terreno e a posterior implantação dos lagos
e demais complementos paisagísticos foi muito custosa.
Maior despesa feita pela Casa Imperial em todo
o reinado de PII foi o paisagismo vitoriano
da Quinta da Boa Vista. No início
do Séc.XX, uma nova reforma,
dita eclética, foi realizada
por Nilo Peçanha e
Paul Villon.





O Templo de Apolo - obra de Paul Villon - faz parte
da interveção de Nilo Paçanha em1910




Veja no artigo abaixo outros aspectos sobre o paisagismo da
 Quinta da Boa Vista e das outras residência, além dos
aspectos botânicos correlacionados
a monarquia brasileira :


As Orquídeas e a Princesa Isabel - Parte IV -Botânica .






Alameda das palmeiras imperiais passa a atrair
visitantes ao Jardim Botânico.





Os passeios públicos, os parques públicos, tornam-se indispensáveis nas maiores cidades brasileiras e as figueiras (Ficus retusa, F. microcarpa), o oiti (Licania tomentosa) e a palmeira de leque (Livistona chinensis) espalham-se pelas ruas e parques do país, somando-se às demais espécies e formando um subestilo identificado, pela primeira vez, como sendo brasileiro. Até mesmo o Jardim Botânico do Rio de Janeiro torna-se aberto à visitação pública e piqueniques.



Lago paisagístico e aléia das mangueiras
no Jardim Botânico.



Na segunda metade do século XIX, a cultura do café se expande pelos vales antes cobertos pela Mata Atlântica; nas encostas da capital imperial, os cafezais substituem a vegetação original, que é queimada, e o carvão resultante é aproveitado para abastecer a população.



A lavoura de café desmatava lugares antes
inúteis e preservados.


A metade do Maciço da Tijuca, hoje Parque Nacional, responde pelas primeiras levas de café exportadas para a Europa. Os ribeirões de águas puras que desciam a serra e abasteciam a capital, foram progressivamente reduzindo suas vazões. A qualidade da água não era mais a mesma, após a remoção da vegetação original, quando chovia forte, a encosta desabava.




Ao fundo a Serra da Tijuca em
acentuado desmatamento.


O agravamento da falta de água potável fêz o Imperador D. Pedro II designar um oficial da guarda nacional, acompanhado de uns poucos escravos, para a execução do replantio da floresta destruída.




O Major Archer replantou a Floresta da Tijuca como
pode - um pioneiro na conservação .



O replantio, realizado com muito sucesso, mesclando espécies nativas e exóticas, demorou muitos anos e exigiu dedicação e perseverança de seus executores. A natureza também ajudou complementando o trabalho. Havia, ainda, uma grande área natural intocada no maciço, esta disseminou suas sementes pelo reflorestamento, reconstituindo uma mata inicialmente bastante singular, mas tendendo a ser idêntica à original com o passar dos séculos.



Floresta da Tijuca - reflorestamento histórico


O Parque Nacional da Tijuca demonstra como é possível ter sucesso em reflorestamentos heterogêneos em áreas tropicais. Essa experiência ímpar é um dos marcos do início da preservação ambiental no Brasil, bem como, a primeira arborização de porte feita em território nacional.








Glaziou - o mestre do jardim sinuoso pontilhado de
lagos plácidos e figueiras contorcidas.


Entre 1867 e 1875 - período que marca o auge da sua carreira - esteve trabalhando com várias obras ao mesmo tempo, dificultando a apresentação de uma cronologia mais evidente. Houve grande uso de palmeiras imperiais nesses projetos, nessa época populariza-se e toma vulto esse grande símbolo dos jardins nacionais.



A obra de Glaziou pode ser agrupada em três grupos, de acordo com a documentação sobre seu trabalho:

O 1º grupo foi definido a partir da opinião, não documentada, de alguns historiadores e da imprensa, inclui: Praça Tiradentes, Largo de São Francisco, Jardins do Palácio do Catete, Jardim da Casa da Marquesa de Santos - no Rio de Janeiro, e, Jardim da Aclimação em São Paulo e o Parque do Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora.

O 2º grupo, constituído a partir de projetos por ele assinados ou documentos que mencionam a sua autoria inclui: o jardim do Palácio Imperial de Petrópolis , o Parque São Clemente em Nova Friburgo, Largo do PaçoI (atual Praça XV de Novembro) no Rio de Janeiro.

O 3° grupo, mais significativo, são comprovadamente obras de Glaziou, com farta documentação e projetos de execução dos mesmos. No Rio de Janeiro, ainda mantendo algumas características originais existem : a reforma do Passeio Público, o jardim da Quinta da Boa Vista e o Campo de Santana.



"Seus jardins eram de um romantismo procurado, disciplinado, resultado de um profundo conhecimento de causa. [...] Ele abandonou os traçados retilíneos e a valorização dos pontos de vista, à moda francesa, para adotar os traços sinuosos ingleses. Glaziou compreendeu que os cânones retilíneos da escola francesa estavam em desacordo com a sinuosidade da natureza brasileira. O fato é que ele criou uma escola paisagística que se difundiu nos jardins públicos e particulares cariocas."

Todavia cabe demonstrar que a obra deste francês de origem humilde e muito trabalhador não era exatamente singular ou original. Ela encontra-se inserida num contexto estilístico maior. Acima um interessante jardim romântico que poderia facilmente passar como sendo uma obra de Glaziou. Porém foi executado, provavelmente por um outro francês, próximo ao Palácio Real de Madagáscar na distante África.










Em 1868 , o Barão de São Clemente - mais tarde promovido a Br. de Nova Friburgo - contrata o paisagista para projetar e reformar o Parque S. Clemente ou Chácara Challet, em N. Friburgo. Antes, ou ainda ao mesmo tempo, ele novamente convocaria esse paisagista para emoldurar de verde sua residência, uma das mais luxuosas da capital do país, o Palácio do Catete. Todavia esse primeiro e mais primitivo jardim deveria ser algo comum, a exceção do corredor de palmeiras imperiais, depois seria reformado.

As obras talvez tenham sido concomitantes, o precedente das praças projetadas por Glaziou em N. Friburbo, dão possibilidade de contato entre eles. Esse ricamente construído prédio, nada se comparava a ele no seu tempo, tornaria-se mais tarde a sede do governo federal até a inauguração de Brasília. O Parque S. Clemente é de uma pureza de estilo muito significativa, tornando-o exemplar para o perfeito entendimento da obra de Glaziou.


Acima o projeto original de Glaziou para o Parque S. Clemente - ou Chácara Challet. O parque, ainda muito bem conservado e sem descaracterizações, exibe o mais puro estilo romântico.


As fotos falam por si só e mostram muito bem o estilo de paisagismo que característico de Glaziou e do romantismo em nosso país. Ao longo da disposição das obras desse mestre o estilo ficará muito bem descrito para a perfeita compreensão da importância histórica desse paisagista.



Glaziou utilizou: “espécies nativas e exóticas de diversas partes do mundo, como a "Ginko Biloba", árvore imperial chinesa, as cerejeiras japonesas, papiros egípcios, magnólias, bambus indianos, plátanos canadenses e cedros do Líbano, criando um jardim onde há um jogo permanente entre os tons de verde, entre luz e sombra, completado pelos lagos e pela presença de diversas aves e pássaros"





O Campo de Santana seria o projeto mais emblemático e mais maduro
 da obra do grande paisagista imperial.


Campo de Santana no Rio de Janeiro - 1820



Em 1862.


Em 1870, D. Pedro II mandou construir nesse campo, geralmente usado para manobras militares, um pavilhão de madeira, para celebrar a missa comemorativa da vitória da Guerra do Paraguai.






Templo da Vitória - uma fachada cenográfica feita de madeira para a missa comemorativa do fim da Guerra do Paraguai. Esse artífício barato para se obter pompa e circunstância foi usado várias vezes, em várias comemorações importantes, desde o tempo de D. João. Não havia material de construção e mão-de-obra para sonhos construtivos maiores, esse era o Brasil daquele tempo.






Naquele mesmo ano, Glaziou e o estudioso de assuntos de jardinagem José Francisco Fialho apresentaram à municipalidade um plano para o ajardinamento do campo. Em 3 de julho de 1871, a Câmara Municipal aprovou o projeto e Glaziou assumiu sozinho a responsabilidade pelo empreendimento. Em 2 de janeiro de 1873, finalmente foi assinado um contrato com o paisagista, em fevereiro, foram iniciadas as obras.





A foto e ampliada, torna-se
de ótima qualidade


Aspecto nos primeiros anos.


Acima o Projeto de Glaziou original para o paisagismo do Campo de Santana , abaixo as fotos do mesmo já executado. Aparecem ao fundo o prédio da antiga Casa da Moeda e ao lado o sobrado onde morava Deodoro da Fonseca - que em frente dessa casa, proclamou a República.



Com a presença do imperador, o grandioso jardim foi solenemente
inaugurado em 7 de setembro de 1880, Dia da Independência.



Na ocasião, Glaziou recebeu das mãos do barão Homem de Mello, ministro do Império, o decreto de véspera pelo qual fora agraciado com o grau de comendador da Ordem de Cristo. Abaixo estão dispostos postais do início do Séc. XX mostrando o Campo de Santana já na maturidade do efeito da vegetação projetada , a essa altura já era também conhecido como Praça da República:



A Praça da República marca o ponto máximo de sua obra.



De um rochedo artificial – também havia uma gruta –
brotava uma cachoeira.



Chafariz de Glaziou - originalmente destinado ao
Campo de Santana - foi para a Praça XV.


Parte do Jardim do Campo de Santana separado por uma cerca do prédio da Casa da Moeda, provavelmente também foi Glaziou quem plantou, nesta mesma época, as plameiras imperiais que adornam até hoje esse famoso prédio do centro do Rio, agora sediando o Arquivo Público.

Planejadamente onírico e bucólico.



Glaziou cercou o campo com grades de ferro de desenho artístico. O parque passou a ser cruzado por numerosos e largos caminhos, cobertos de areia fina. Foram trazidos da França artífices capazes de construirem agrupamentos de rochas, grutas e outros fac-similes paisagísticos de argamassa. Também troncos de madeiras artificiais, feitos de argamassa , são marcadamente utilizados como guarda-corpos de pontes. Por todo o gramado, espalharam-se lindas árvores, arbustos e pequenos lagos. Canais corriam em várias direções, atravessados por pontes e ornados com ilhas de pedras e vegetação exótica, além de tritões de bronze com repuxos d’água.




Aspectos atuais do centenário parque.

O parque é tradicionalmente habitado por introduzidas cotias - Dasyprocta aguti - atualmente possui cerca de mil desdes roedores de pernas finas. Muito graciosas, sentam-se para comer, levando o alimento à boca



Acima os anos 20 , o parque ainda diante da antiga gare da E.F. Central do Brasil. A foto seguinte, já posterior à abertura da larga Av. Pres. Vargas nos anos 40, mostra que mutilou-se então uma parte da área original do parque. Compare as fotos com o projeto original.

Onde estão as pessoas e os carros  nas fotos é o
 exato segmento do parque que foi perdido.


Visão atual, ao fundo os altos e novos prédios da
Central do Brasil e Min. da Guerra.


Atualmente já pouco valorizado, em função principalmente da decadência sócio-econômica do seu entorno, o velho parque ainda resiste. Por abrigar a sede do Depto. de Parques e Jardins do Rio de Janeiro, goza naturalmente de maiores cuidados e atenções. Um lindo parque !








Praças e Largos da capital começariam a ser reformados
e embelezados por Glaziou, numa sistemática iniciativa pública de remodelação.




Acima o Largo do Machado, no Rio de Janeiro, já na glória adulta do seu paisagismo em 1905 e ainda mostrando claros traços do estilo de Glaziou . Data de 1873-75 a intervenção desse paisagista nessa bela praça, que fica quase a poucos quarteirões do Palácio do Catete., que estava em construção nessa época. A intervenção de Glaziou foi típica do seu estilo: caminhos de saibro bem claro, muitas curvas e vegetação típica do seu estilo de fácil reconhecimento.O nome desse logradouro é derivado de uma propaganda de um açougue antigo que exibia um machado na sua fachada.



O local foi temporariamente conhecido como Praça Duque de Caxias,
devido a uma estátua desse vulto hidtórico ali instalada ainda em tempos imperiais.

A estátua equestre do Duque de Caxias foi depois removida
e o nome antigo do Largo voltou.


Palmeiras imperiais são capazes de transformar profundamente a paisagem, as do L. do Machado foram muito altas e elegantes, hoje restaram poucas. O projeto de Glaziou foi rapidamente descaracterizado ainda no Séc. XIX, atualmente está implantado um projeto modernista de autoria Burle Marx, as palmeiras-imperiais e as figueiras-brancas indianas - Ficus microcarpa - incorporadas ao projeto mais atual, são remanescente da intervenção original de Glaziou





Acima o Largo de S. Francisco, em 1875, já mostrando os novos jardins em estilo romântico. Ficando esse, bem ao lado do L. do Rossio, é lógico acreditar que a intervenção de Glaziou deva ter acontecido concomitantemente nos dois locais.





O Largo do Rossio - atual Praça Tiradentes - também no Rio de Janeiro, a estátua equestre de Pedro I foi inaugurada em 1862 , foi provavelmente reformado em 1875, passando a ostentar notáveis jardins românticos. Sua autoria é corretamente atribuída a Glaziou.






O Paço da Princesa - nas fotos abaixo vemos a residência petropolitana da Princesa Isabel, em cerca de 1876. Apresenta jardins recém implantados, com caminhos sinuosos de areia branca e fina num estilo idêntico ao que Glaziou usava na mesma época nas praças da capital - veja acima os contemporâneos Largos de São Francisco e Rossio- ou Rocio - e percebam possíveis afinidades.



É dessa mesma época o projeto não executado de Glaziou para o Palácio de Verão, um indicativo de sua presença na cidade e da possível autoria do jardim da princesa. Porém as espécies empregadas na sua elaboração são diferentes das usadas no Rio, talvez as plantas sejam de fornecimento local e por isto causam dúvidas de avaliação do estilo. O pandanus que se vê em frente à casa da princesa e no palácio imperial, só se observa utilizado na capital em um único exemplar, especificamente nas fotos dos jardins do Largo do Rossio.



A maior nitidez nos mostra as espécies
de arbustos tropicais usadas.



As residências das princesas , no Engº. Velho e em Laranjeiras, foram sabidamente ajardinadas por Glaziou, a de D. Leopoldina tinha um notável parque romântico de sua certa autoria, provavelmente elaborado antes de 1870.


A residência de D. Isabel no Rio - foto acima, de novo, mostra a utilização de plantas mais típicas dos jardins serranos de Binot, vejam nas fotos abaixo algumas plantas do Paço de Laranjeiras que não usuais em outros projetos de Glaziou na capital.



Acima a foto mostra o que parece ser um butiá, ou
outro tipo de palmeira ainda jovem.



Cão da princesa posa na frente de uma
Cycas revoluta, espécie usada por Glaziou.





Uma bananeira-de-leque - Ravenala madagascariensis - na casa da princesa no Rio de Janeiro. Os canteiros redondos, visíveis nesses fragmentos de conjunto, são característicos de Glaziou e as espécies usadas são típicas dos jardins serranos.



Foi dessa praça, originalmente sem nenhuma árvore, que o Brasil
foi governado até a Proclamação da República


Uma sequência de fotos mostra a evolução paisagística do Largo do Paço
- atual Praça XV - no Rio, com a gradativa introdução de
arborização urbana, aterros e chafarizes.
 

 Com a vitória na funesta Guerra do Paraguay, foi imenso o esforço militar e  inusitado número de mortos do dois lado, aconteceu um  abalo na imagem progressista do Império. Pensou-se, na sequência, na implantação de um monumento-chafariz na Praça do Paço.



 
Depois  um projetista francês proporia uma intervenção muito maior, criando-se um novo palácio , uma nova urbanização e um eixo cortando o casario colonial. Ainda bem que esqueceram estas propostas, mas elas tiveram reflexos posteriores nas modernizações desta histórica praça carioca, mas tarde foi instalado um chafariz que lembra o da base da coluna acima.



A medida que a civilização crescia, apareciam mais árvores, o ambiente sombreado tornava-se cada vez mais apreciado. A antiga praça-de-espanha foi transformando-se junto com o país e bem mostra o espírito da época.


As intervenções arborizantes são de Glaziou em 1877 e mostram claramente a força e o impacto do seu trabalho na paisagem da ancestral praça do governo colonial do país.

As árvores inseridas na praça são nativos oitis - Licania tomentosa - com folhas pequenas e muito verde-escuras contrastam fortemente com o ambiente urbanizado, seriam muito usados no Rio de Janeiro. Copacabana e outras partes do centro foram também significativmente arborizads com oitis.



Modelos de chafarizes em pedra granítica.



A cidade de São Paulo também cresce e moderniza-se rapidamente, contribuindo para firmar a arborização como benfeitoria indispensável nos centros urbanos de porte. As avenidas são arborizadas com jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosaefoila). Destaca-se pela originalidade a utilização de espécies nativas como a sapucaia, o oiti e o jequitibá. E os parques também surgem para o passeio das elites.




Av. Paulista em 1891.




A mistura bucólica de figueiras indianas, palmeiras exóticas , lagos, grutas, pontes e rochas de argamassa, marcou a o surgimento de um paisagismo caracteristicamente brasileiro. Essa grande obra pública marca época, depois dela o paisagismo urbano passa a ocupar cada vez mais espaços , tendendo mesmo às grandes concepções.




O Jardim Público da Luz - com muitas
palmeiras-indaiás e araucárias nativas.





Em 1900 já era muito frequentado
- uma jóia verde paulistana.





Perdeu parte da área verde e passou a abrigar a
Pinacoteca do Estado de SP e uma escola.





Um lindo parque.



Em 1798, o Parque da Luz foi fundado para ser um Jardim Botânico. Depois de reformado, foi inaugurado em 1825 como o primeiro jardim público da cidade. O problema é que até meados do século XIX a população não freqüentava-o . O viajante Frédéric Houssay observa em 1862: "Jamais encontrei alguém ali que não fosse o seu velho jardineiro alemão".






O jardim possuía canteiros elaborados no “ estilo romântico - Glaziou” de paisagismo, implantado em sítio de mata nativa com copas densas. Em 1919, registrou-se mais de 50 espécies nativas, todos indivíduos remanescentes da mata original, como pinheiros-do-paraná (Araucaria angustifolia) e jerivás(Syagrus romanzoffiana), alguns indivíduos de altura acima de 40 m.






O Jardim Público da Luz só se tornou popular no governo de João Teodoro (1872-1875), quando, depois de reformas, cumpriu o papel de parque de lazer para a população, local de passeio das famílias, ponto de encontro dos passageiros que desembarcavam na Estação da Luz, vindos de Santos ou do interior.




As figueiras indianas Ficus macrophylla e F. religiosa,
das jaqueiras, são sobreviventes do paisagismo do fim do Séc. XIX.









Mansão Tavares Guerra em Petrópolis - Jardins de Glaziou de 1884.


Uma casa um tanto sinistra e um tanto encantadora, de toda forma é preciosa e um dos mais belos projetos de paisagismo privado do fim do Séc. XIX. A propriedade é tombada como patrimônio histórico, provavelmente seja um dos mais agradáveis jardins do romantismo nacional, de uma harmonia e conjunto dignos de nota. Todos os materiais utilizados na sua construção foram importados da Europa, seu construtor era um afilhado do célebre empreendedor Barão de Mauá.



Glaziou passaria para trabalhos mais burocráticos e menos paisagísticos já na segunda metade da década de 80. Com o fim da monarquia em 1889 e o consequente exílio da família imperial, torna-se menos atuante. Em 1897 aposenta-se, em 1906 falece na França aos 73 anos - entra para a História brasileira como o "paisagista do imperador".



A residência é popularmente conhecida pelos sete erros propositais na simetria e nos detalhes das fachadas quase gêmeas. Por isso tornou-se pitoresca e famosa em Petropólis, pertenceu à família Rocha Miranda desde os anos 30, tendo então o epíteto de Palacete Rocha Miranda. atualmente é conhecida como Casa Ipiranga, por estar situada em avenida de mesmo nome.











Acima o Engº. Paul Villon - igualmente francês, discípulo e colaborador de Glaziou - tão competente, ou até ainda mais, quanto o seu mais famoso mestre. Seus jardins apresentam uma crescente reintrodução de conceitos franceses ao estilo romântico brasileiro. Os projetos desse paisagista refinam-se em relação aos feitos anteriormente, a formalidade retorna aos poucos até o seu auge na estupenda Praça Paris do Rio de Janeiro dos anos 20. A Paris rica e refinada da belle-époque, também irradiaria cultura para o cenário urbanístico brasileiro.

Sentado, o Pref. Pereira Passos do Rio de Janeiro - Villon em pé - acho-o especialmente talentoso e tenho forte apreço estético pelo conjunto da sua obra. Considero-o o primeiro mestre brasileiro do jardim eclético ou belle-époque. Foi autor dos Jardins da Praia de Botafogo, da Reforma do Palácio Guanabara e dos Jardins do Palácio do Catete, todos no Rio de Janeiro; além do Parque Municipal Américo Renê Giannetti em Belo Horizonte e do Parque Tenente Siqueira Campos - Trianon - em São Paulo.





O elegante corredor de palmeiras
imperiais do Palácio do Catete.



Parque do Palácio do Catete -RJ


Vênus nascendo das espumas, o chafariz
migrou da rua para o parque.



Perfeição, paz e luxo - Glaziou era mestre e Villon bom discípulo. Todos os detalhes artísticos desse jardim são obra de Villon, ele projetou a reforma, ainda seguindo o estilo de Glaziou, porém deixando-os ainda mais primorosos. Parece que alguns detalhes e curvas são inspirados na Praça da República ou Campo de Santana Muitos consideram esse parque como o mais perfeito e harmonioso de todo esse período, embora seja de proporções modestas.






Acima o palecete, revestido de mármore róseo, ainda com as estátuas que representavam os cinco continentes ornamentando o seu topo, mais tarde seriam substituídas por lindas hárpias de bronze, as famosas e republicanas águias do Catete.



Embora até discreta por fora, a residência esconde um luxo surpreendente para os padrões brasileiros nos seus interiores. As residências da família imperial são muito simplórias se comparadas com a sede do baronato de Nova Friburgo. A falta de recuo faz a fachada exposta à rua, trata-se de um capricho da baronesa, que cansada de morar no interior queria ver movimento na capital.


O suntuoso interior do palacete dos barões de Nova Friburgo
e S. Clemente mereciam a contrapartida de emoldurantes jardins.




O jardim originalmente feito por Glaziou era composto de frutíferas e compunha mais um quintal do que um jardim propriamente dito. Apenas as palmeiras destoavam dando grandiosidade ao conjunto, são lindíssimas e esse é o mais belo corredor de palmeiras do Rio de Janeiro. Villon refez seu mestre tão bem que o parque parece uma obra-prima de Glaziou. Foi uma homenagem do discípulo ao mestre que morrera em 1896 na França ! Custei a me convencer que o jardim não era de Glaziou ! Sabia que as esculturas e detalhes eram ecléticos, mas tinha certeza que o lago e o desenho do parque eram de autoria dele - não são!


Os detalhes ecléticos são acréscimos de Villon.



Como os jardins dessa residência são característicos do estilo Glaziou, muitos acreditam que seja dele a autoria e execução, são primorosos e até hoje um dos melhores do país.



Do blog remorarte:

"Villon desmantelou quase que integralmente o velho jardim de Glaziou, substituindo-o por um outro nitidamente calcado no desenho que o mestre fizera para o campo de Santana. Foi elaborado um rio artificial, partindo de um lençol d’água que caía de uma gruta também artificial."




"Ao longo desse rio, foram construídas três pontes em aspecto rústico. Foi elaborado um coreto em ferro e, bizarramente, Villon não mediu esforços retirando um velho chafariz público existente há mais de quarenta anos no largo do Valdetaro, fronteiro ao palácio, e recolocá-lo no eixo principal da aléia das palmeiras, único elemento escrupulosamente preservado do jardim primitivo."




"Ainda em 1896, foram comprados em Val’D’osne na França umas vinte estátuas, espalhadas criteriosamente pelo parque. O palácio e o parque foram solenemente inaugurados em 1897 pelo vice-presidente em exercício da presidência Manoel Vitorino Pereira."




As palmeiras são muito altas, finas, idênticas e elegantes
- formam um conjunto soberbo.



Pelo que as fotos nos demostram, as palmeiras foram plantadas logo ao término da construção, cerca de 1870. Atrás da foto do início do Séc. XX, no limite das duas alas, se vê o corredor de palmeiras já adulto, foram plantadas por Glaziou, sendo provavelmente irmãs das do Canal do Mangue e o Largo do Machado, filhas diretas da Palma-Mater.

Os fundos dos Jardins do Palácio do Catete viram-se para a Praia do Flamengo. Esse lindo parque é uma obra- prima de reforma, feita por Villon em 1897, logo após à morte de Glaziou .








O Parque Trianon paulistano apresenta
grande exuberância de vegetação.



A obra de Villon, no meu entender, apresenta-se em consistente conjunto. São várias as intervenções e projetos realizados por ele, todos apresentam ótimo efeito e qualidade.




Embora os outros paisagistas franceses dessa fase romântica-eclética sejam igualmente competentes e notáveis, os resultados estéticos, a implantação e o desenvolvimento das obras de Villon são algo superiores. As esculturas, chafarizes e detalhes arquitetônicos são sempre de ótima manufatura e desenho, e muito bem dispostos, a água dos lagos parece permanece sempre mais limpa.



Parque Trianon em S. Paulo - conhecido
anteriormente como Parque Villon.



Resumindo a percepção: parece que a terra sob as obras dele foi tornada mais fértil e isto teria gerado maior densidade e exuberância vegetativa. Glaziou, seu mestre, era mais discreto e de acabamento menos cuidado. Sou um admirador de sua obra e então sou totalmente suspeito de registrar esta opinião!








Ornamento eclético



Refinamento e crescente retorno das influências formais francesas ao jardim romântico. Surge então o jardim eclético, bem marcado pelos detalhes geométricos, chafarizes, coretos e outras nuances refinadoras de clara influência francesa. Todavia as bordas arborizadas e a interface com a natureza continuariam seguindo o padrão romântico vitoriano, mantendo o jogo de tons de verde e de formas contrastantes de folhagens, tudo ainda discreto e plácido aos olhos observadores.




Perfeita harmonia de disposição, inserção
e entrosamento com o entorno.


Após uma ampla reforma no prédio, nos fundos do palácio, em harmonia com a circundante vegetação original, foi inserido um jardim de época, com 15.000 metros quadrados, projetado e executado pelo surpreendente Paul Villon.






Parque Municipal de Belo Horizonte.




Ornamentos de vários tipos tornam-se comuns e objetivam propocionar maior refinamento e luxo, compondo-se com a vegetação de uma forma constrastante.


As tendências são repetidas, apresentando arranjos
de espécies cada vez mais elaborados.


Nas cidades menores tenta-se reproduzir, em menor escala, o que ocorre nas maiores. Surgem vários jardins ecléticos pelo país afora. Abaixo um marcante exemplo de Belém do Pará:




Acima e abaixo a Praça Batista Campo, em Belém do Pará, outro ótimo projeto dessa mesma tendência romantica. Porém mais tropicalizada e com a notável presença da palma açaizeiro- Euterpes oleraceae - que sempre proporciona um ar paradisíaco aos locais onde é instalada. Parece projeto de Villon , não é, mas é da mesma época e de construção de primeira categoria



Clima bucólico e exuberante - Belém do Pará é linda e surpreendente pela riqueza arquitetônica e paisagística que desenvolveu nos tempos do ciclo da borracha. Aprecio muito esse estilo subsequente, que é um refinamento do romantismo vitoriano com influências formais francesas.





continua na parte II - Séc. XX - Click para acessar







A 2ª Parte deste artigo :



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