VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Espécies de Orquídeas em Extinção - Parte II



Continuação da parte I.....





Condenado a ser exato,
quem dera poder
 ser vago,

ludibriando igualmente
quem voa, quem nada, 
quem mente,
mosquito,
 sapo, 
serpente.


Leminski






Espécie notoriamente difícil de cultivar, habita ambientes florestais de altitude mediana. Nunca foi obtida em grandes quantidades, sempre foi rara, já é considerada extinta em SP. Quando descoberta no Séc. XIX, foi inicialmente considerada um híbrido natural, mas as sucessivas descobertas de populações em locais variados mostrou tratar-se de uma espécie bem estabilizada. Todavia o quadro de raridade só se acentuou com o passar das décadas, continua subsistindo em pequenas populações dispersas na  Mata Atlântica do RJ, MG e ES.  Séria candidata a extinção imediata no RJ e MG, é no centro do Espírito Santo onde é ainda  mais encontrada, em alguns poucos municípios serranos. Há registros de sua aparência no região do maciço do Itatiaia, região alta entre RJ-MG-SP, tomará que ainda restem populações protegidas no parque nacional de mesmo nome. É uma espécie primitiva dentro do grupo das bifoliadas, sua distribuição é característica e se encaixa bem na Teoria dos Refúgios, leia na PARTE I desta postagem.

 
Obscura pela dificuldade de obtenção e  de cultivo, tem pouca ou nenhuma importância nas diversas correntes de hibridação existente, seus atributos são poucos apreciados e altamente dominantes em hibridações, por isso só uns poucos cruzamentos especulativos foram realizados até hoje. Talvez com a extinção na natureza seu valor colecional aumente e assim sejam feitas sementeiras que "domestiquem" sua aversão ao cultivo tradicional.











Cattleya porphyroglossa - Linden & Rchb. f. -  ( BA - ES - MG - Rio de Janeiro )



 
Planta com área de dispersão ampla, todavia parece nunca ter sido coletada em grandes quantidades em tempo ou lugar algum , surge muito esporadicamente em distanciadas pequenas colônias, apenas em locais de natureza propícia - hotspots. Esses locais apresentam sempre alta umidade do ar, surge em ilhas fluviais, matas de galerias e como epífitas em Vellozias nas montanhas da Serra Geral mineira e baiana.
 

Parece ter tido uma restrita mas volumosa colônia em Nova Era- MG, todavia não localizei qualquer registro fotográfico. Também na localidade mineira de Rio Novo registraram-se populações consideráveis, citam que nas matas da região dos tributários mineiros do alto curso do Rio Doce, não muito distante de Belo Horizonte, mostrava-se uma espécie epífita bem peculiar às vellozias destas montanhas.


Havia rumores nos anos 80 que a espécie, dada na época como extinta, teria sido reencontrada no RJ, numa ilha do baixo curso do Rio Paraíba do Sul, próximo da fronteira com o Espírito Santo. Também circulou mais recentemente a notícia que existiriam colônias de C. porphyroglossa vegetando junto com C. harrisoniana em terras do sul capixaba.A planta é relativamente alta dentro das Cattleyas bifoliadas, tem característicos pseudobulbos compridos e finos. Não apresenta um conjunto vegetativo muito atrativo, as plantas mostram-se desajeitadas, as flores são pequenas em relação às outras espécies de mesma aliança no gênero. 

São mais apreciadas pela raridade e pelo forte perfume adocicado, do que pela beleza propriamente dita. Ao ser descoberta, foi considerada inicialmente  como um hipotético híbrido natural entre C. bicolor e C. granulosa, posto que visualmente é bem intermediária entre ambas, todavia trata-se de uma boa e estabilizada espécie.
 

Floresce na primavera, é correlacionada com o o grupo de espécies próximas à Cattleya granulosa, sendo a de porte geral menor dentre essas. As flores pequenas, apresentam o labelo matizado de púrpura e foi essa  característica que inspirou o nome científico - porphyro = tipo de molusco do qual se retirava o pigmento púrpura na antiguidade, e glossa = língua . Incluimos está  espécie nesta lista , entre as mais ameaçadas, por conta própria, tendo em vista sua histórica raridade e a permanente falta de melhores informações sobre a real distribuição geográfica.
 
 
Aparentemente pode ocorrer em habitats e altitudes variadas, e como é historicamente uma desconhecida, além de pouco atrativa, tornou-se  tão rara em cultivo como é na natureza. De difícil crescimento fora do habitat, é de manutenção em cultivo complicada, por isto não anima os orquidários a fazerem sementeiras que as popularizem  no comércio. Acredito que não exista em cultivo  uma população suficientemente ampla e com genética variada capaz de garantir um hipotético plantel protegido, a espécie  me parece obviamente ameaçada , embora os órgão ambientais aparentemente não julguem assim.


Sua distribuíção, era tida até os anos 80, como estando exclusiva dos interiores dos estados do RJ, PR e SC, foi muito notado que surge nos habitats fluminenses acompanhada pela C. harrisoniana. Desaparecida e dada como extinta na natureza por várias décadas, tal e qual à L. jongheana, foi depois redescoberta primeiramente numa ilha do do Rio Paraíba do Sul .
 

Também foi depois registrada para a Serra do Sincorá na Bahia, onde vegeta em altitudes de 1.100 msn, epífitas em Vellozias, o mesmo tipo de epifitismo ocorre nos seus habitats de  MG. Classicamente estava registrada na literatura botânica como ocorrente nos estados do Paraná e Santa Catarina, contudo não há qualquer citação contemporânea ou coleta de exemplares em herbários que comprovem sua existência nesses dois estados sulinos, provavelmente deva ser um erro incluí-los na sua área de distribuição.










Cattleya dormaniana - Rchb.f - ( Rio de Janeiro )
Rara (R)





Trata-se de outra espécie rara, com a principal população restrita a um pequeno segmento de Mata Atlântica na região de Nova Friburgo no RJ, mostrando que a espécie necessita de determinada condições ambientais que não são encontradas com facilidade na Serra dos Órgãos e adjacências . A população é portanto concentrada numa única região do munícipio supracitado, o que aumenta o risco de coleta  predatória seletiva e consequente extinção. É de difícil cultivo, precisará ser domesticada através de sucessivas sementeiras comerciais. Raramente vista à venda, é mais uma curiosidade botânica do que uma espécie apreciada. Desastres naturais, cada vez mais comuns na pequena área de dispersão, também poderiam  afetar a população silvestre existente. C. dormaniana ajuda a ciência a entender como se formam as muitas espécies de orquídeas, não há outra família botânica com mais espécies que a Orchidaceae. Assim que foi inicialmente localizada, foi considerada como uma população híbrida, provavelmente entre a C. bicolor  e uma  espécie da seção Hadrolaelia  . De fato o híbrido natural entre as espécies primeiramente supostas como suas progenitoras , a Lc. x binotti Cogn ( bicolor x pumila ), de forma alguma lembrava uma C. dormaniana, as plantas e os labelos são morfologicamente diferentes


Lc. x binotti na natureza, a planta e a flor são completamente diferentes de C. dormaniana.



É uma espécie muito primitiva dentro do grupo das bifoliadas, sua distribuição restrita é característica e se encaixa bem na Teoria dos Refúgios, leia na PARTE I desta postagem. As oito-seis polínias características desta espécies, sendo duas ou quatro rudimentares e apenas quatro sempre bem desenvolvidas ( Laelias ostentam 8 polínias regulares ), além de apresentar apenas uma ou duas flores por pseudobulbo, característica marcante do grupo da Laelia pumila, apontavam para um parentesco evidente com o gênero Laelia. O restante das características florais e vegetativas, especialmente a cor das flores e os pseudobulbos muito compridos, remetiam à bifoliada C. bicolor . Devido a estabilidade morfológica de sua população, com o tempo, foi progressivamente aceita como uma boa e incontestável espécie botânica. Outras populações de clara origem híbrida como: C. silvana, C. dolosa, C. tenuis, C. mesquitae e mais uma multitude de laelinhas rupícolas, repetem o mesmo quadro de morfologia intermediaria. Também estas mostram-se intensamente mescladas por muitos retrocruzamentos, e por isso morfologicamente mais estabilizadas,  portanto já são bem diferenciadas dos híbridos primários iniciais nesta cadeia de hibridizações sucessivas. Nos mostram assim uma das vias, talvez a mais importante, de formação das espécies silvestres.



É bastante observada na sua restrita área de distribuição, vegeta sobre troncos de árvores caídas e mesmo no chão cheio de detritos vegetais, não sendo encontrada no alto das árvores como seria de esperar. A planta e as flores são excêntricas  em relação aos padrões das outras Cattleyas bifoliadas. Talvez  possamos adjetivá-las até mesmo de esquisitas: o labelo é absolutamente atípico e causa imediata estranheza aos olhos orquidófilos mais experimentados; os pseudobulbos são alongados, finos, frágeis e sem comparação no gênero. Contudo a planta é muito vistosa e atrativa pelo forte e "tenebroso" contrastes das cores florais e também pelo exotismo de sua singularidade dentro do grupo das Cattleyas bifoliadada. Os pseudobulbos, por serem muito finos e compridos, demonstram que a planta não suporta períodos muito secos e quentes, podendo fenecer rapidamente nestes ambientes. O período de crescimento é bem definido no verão, que deve se ameno para um bom desenvolvimento, segue-se um longo e necessário  período de descanso. Fora do seu clima de altitude e sujeita a calores que desajustam sua fisiologia, a planta declina rapidamente. Podemos classificá-la como semi-terrestre, as fotos das duas touceiras - acima e abaixo - mostram muito sobre suas necessidades de cultivo, reparem como são finos os pseudobulbos.





Cattleya tenuis - Campacci e Vedovello - ( PE-Bahia )
Em perigo (E)




Espécie de distribuição discreta nas chapadas baianas, também observada em Pernambuco, foi descrita botanicamente em 1983, data mais recente entre todas as  aqui comentadas. Medra em ambiente quente, porém com noites frescas, sujeita a longa temporada seca e curtos períodos de alta pluviosidade. Seu aspecto é intermediário entre a C. bicolor e a C. granulosa, embora nem de longe se cogite a possibilidade de haver hibridizações recentes na população desta espécie. A flor liga-se prontamente ao grupo da C. bicolor, mas pelo aspecto espatulado do labelo me lembra a C. granulosa, apresentando lóbulos com abas pontudas por sobre a coluna. Já a planta apresenta folhas muito crassas, com pseudobulbos altos e finos que apresentam brotações tipo "keikis", que nos remetem à C. bicolor. Foi durante muito tempo considerada uma variedade nordestina da C. bicolor, mas só recentemente foi considera uma espécie separada, relaciona-se também com a C. violacea.

 

Companheira da mais preferencialmente rupícola C. elongata  no habitat de 800-1220 m de altitude, sempre na meia encosta e nunca nos topos de serras, mostra-se epífita. Agrega-se aos troncos mais finos dos arbustos, na proximidade do chão, assim obtendo alguma sombra na aridez do ambiente. Nunca foi abundante na natureza, por isso demorou tanto tempo a para ser descoberta pela Botânica, por ser uma novidade botânica já foi intensa e seletivamente coletada, tal como ocorre com C. elongata, é dificílima de cultivar em climas mais úmidos.







Cattleya schilleriana Rchb. f.- (Espírito Santo)
Em perigo (E)




 Classicamente capixaba, foi sempre mais obtida apenas no vale do rio Jucu , curso d"água que nasce na Serra do Castelo, bem no centro do estado do Espírito Santo, esta espécie também parece nunca ter sido abundante. Inicialmente, logo após a sua descrição, pensou-se que talvez fosse um híbrido natural entre a C. ackclandie e a C. granulosa. De aspecto magnífico, para muitos é a mais bela das Cattleyas, sua estranha e duvidosa distribuíção baiana nunca foi confirmada, não existe nenhum exemplar coletado no sul da Bahia em herbários, também nunca se observou qualquer população silvestre em tempos modernos, provavelmente trata-se de um caso de confusão com C. granulosa. Foi sempre mais registrada para a região de Domingos Martins e outros municípios  de mesma bacia hidrográfica capixaba, mostrava-se tanto epífita como rupícola em paredões.


Sua notória e difícil manutenção em cultivo provocou a perda de muitos bons clones, incluindo-se a sua rara forma trilabelóide, conhecida como "imperialis", cujo o único exemplar feneceu na Alemanha nos anos 80. Os exemplares oriundos da natureza logo definhavam em cultivo, provocando novos ciclos de coletas, o que dizimou a população natural dessa espécie. Após sucessivas sementeiras artificiais, as novas gerações por fim aclimataram-se e seu cultivo tomou força, hoje é planta comumente vendida por orquidários e constante nas coleções.







Laelia fidelensis - Pabst. - (Rio de Janeiro).
Indeterminada (I)


Foi encontrada apenas uma única toucerinha desta misteriosa espécie, mais especificamente na década de 40 do século passado, provavelmente na Serra do Imbé em S. Fidélis- RJ. O descobridor guardou segredo da origem desta espécie/planta desconhecida, o Sr. Júlio Lacourt Sodré morreu no ano seguinte , levando a história e o segredo do local exato da descoberta para o túmulo.  Dizem as pessoas que conhecem esta história antiga, que o local onde a planta foi achada estaria atualmente todo desmatado e que não passaria de um imenso samambaial, mas como tudo que cerca a L. fidelensis, são informações soltas, hipóteses e outra formas de retórica especulativa. O meu interesse por esta espécie é muito em função das hipóteses que surgem em nossa mente sobre qual seria a solução do mistério que a cerca.


A misteriosa planta e seu descobridor
 Julio Lacourt Sodrés em 1940.

Nem ao menos sabemos se é realmente uma espécie ou um híbrido natural, a maioria das opiniões respeitáveis apontam-na como sendo uma espécie. Multiplicada muitas vezes em laboratório mostrou-se estável na aparência fenotípica das suas progênies, o que indica claramente ser uma espécie, um híbrido produziria  muito mais variação.


Fácil de cultivar é comum em coleções, embora tenha havido muita procura pelo habitat, nunca mais localizou-se outro exemplar. Seja lá o que for, podemos considerá-la inequivocamente extinta na natureza, acatando-se a hipótese de que seja um híbrido natural do qual localizou-se um único exemplar, como propagam cientificamente alguns orquidólogos, não teria mais pertinência na incômoda lista de orquídeas nobres extintas.









Laelia jongheana - Rchb. f.- (ES e Minas Gerais).
Vulnerável (V)





Esta é uma espécie candidatíssima à extinção, basta lembrar que por mais de vinte anos foi considerada extinta, aliás foi a primeira espécie nobre de orquidáceas tida como extinta no Brasil - uma pioneira nesta lista vermelha de plantas ameaçadas. Devido à descoberta recente de algumas  populações capixabas, na fronteira deste estado com MG, mudou-se o seu stattus de "extinta na natureza"  para "vulnerável". Descrita originalmente para  os  1.300-1.800 m  de altitude da Serra do Itambé e do Caraça em MG, citavam-na também como existente no caminho entre Mariana e Ouro Preto,  suas populações pioneiramente localizadas nesses locais citados  foram logo dizimadas pela coleta seletiva.


 
Pelo registrado em descrições recentes, vegeta como epífita em Vellozias, plantas típicas das altitudes já citadas como habitat preferencial. Além da coleta seletiva incessante, esta orquídea das grandes altitudes interioranas sofre também com o fogo dos incêndios anuais de inverno. É planta de fácil cultivo em ambientes serranos de  altitude próxima aos mil metros, não aprecia muito os vasos e enraíza melhor em cascas ou ripas de madeira dura. Em cultivo é facilmente dizimada por ser muito suscetível ao ataque de pulgões, necessita de ventilação significativa para se manter livre de pragas . É também notório que suas sementeiras de laborotário demoram muito a crescer e que nos estágios ex-vitro as plântulas morrem com muita facilidade. Parecem não aceitar o trato padrão oferecido pelos orquidários, requerem cuidados especiais, depois de adultas o cultivo é mais fácil. Considero-a uma das mais belas orquídeas do mundo, vegetativamente ajeita-se de um modo encantador, florida  mostra  incontestável nobreza.









Laelia lobata - (Lindl.) Veitch.- (Rio de Janeiro).
Em perigo (E)





Embora seja encontrada residualmente em algumas outras montanhas rochosas litorâneas próximas, é no paredão marítimo da Pedra da Gávea - cidade do Rio de Janeiro, que se concentra a única grande e inacessível colônia rupícola desta espécie. Não sabemos se seu habitat sempre se configurou assim estritamente rupícola ou saxícola, a espécie aprecia o epifitismo em cultivo, todavia parece que a coleta nos locais acessíveis dizimou a possível, ou hipotética, população florestal. Existem  registros antigos e um tanto suspeitos da sua ocorrência em Mangaratiba e Angra dos Reis, também para Ilha Grande há registros, sempre medrando em paredões rochosos abruptos e ribanceiras. Gosta de rochas gnáissicas, voltadas para a ventilação direta do oceano, com bastante luz e regada por pequenos olhos d'água, ou então estabelecidas numa camada rasa de terra vegetal sobre a rocha.


Uma forte chuva de granizo poderia reduzir muito a população extremamente concentrada ainda existente. Pequenos esforços particulares de reintrodução em novas áreas de rochedos tem sido feitos, normalmente com a ajuda de montanhistas escaladores. Contudo se fará necessária uma ação técnica maior e mais coordenada, para que se obtenha uma expansão de habitats que venham a garantir a sobrevivência da espécie. Está espécie tem a positiva característica de habitar locais inacessíveis em rochedos que recebam a ventilação marítima, se bem manejada, poderá ser artificialmente restituída à natureza carioca no futuro.




É de fácil cultivo em climas serranos, não suporta o calor excessivo e constante. A luz solar direta pelo início da manhã, ou filtrada por sombrite ao longo do dia, a ventilação úmida e a queda noturna de temperatura, são muito apreciadas pela espécie. Cresce sem boa iluminação na meia-sombra, porém não floresce. Nos 930 msm de Curitiba, cresce muito bem, podendo ser fixada em qualquer árvore, desde que seja boa hospedeira, forma logo lindas touceiras e adapta-se talvez ainda melhor que L. purpurata.





Laelia perrinii - (Lindl.) Paxt. - (ES, MG e Rio de Janeiro).
Em perigo (E)




As populações desta linda espécie estavam dispersas pelas altitudes medianas - 500 msm - da Serra do Mar mais interiorana no RJ e ES, e também, em menor escala, pela Serra da Mantiqueira entre as fronteiras de MG com o RJ e com a metade sul desta mesma fronteira com ES. As plantas existiam dispersas em pequenas colônias distribuídas pelos  melhores nichos ecológicos de clima e ambientação natural. Nunca foi abundante, sempre foi difícil de cultivar sem estar epífita e estabelecida em algum hospedeiro vivo, somente agora exemplares oriundos de cepas de laboratório mostram-se à venda. No passado, era bem registrada para as regiões de Resende-RJ e Juíz de Fora-MG, em Resende era também muito comum a C. bicolor, registrava-se ali o híbrido natural entre as duas espécies; já na cidade mineira há registro que medrava em matas mais sombrias.



 L. perrinii foi igualmente vítima do desmatamento e da coleta seletiva, sempre esteve longe de ter a vitalidade e a capacidade de adaptação de L. crispa,  sua companheira de habitat. Hoje parece ser mais encontradiça no ES, sua população fluminense e mineira foi seriamente depauperada.








Laelia tenebrosa - Rolfe. - (Espírito Santo).
Em perigo (E)





Nativa das serras de média altitude - 300 até 600 msm - do centro-sul capixaba, com pequenas ocorrências na fronteira com o RJ, esta magnífica espécie está dizimada, estudos feitos por especialista, já há uma década atrás , consideravam-na extinta na natureza. Nunca foi obtida em grandes quantidades, portanto podemos considerá-la como pouco  freqüente mesmo no Séc.XIX, de lá para cá foi só coleta seletiva e queimadas. É de fácil cultivo em climas serranos, sendo cultivada  com facilidade fora das estufas em Curitiba. Ocorria naturalmente em grandes e sombreadas árvores nas florestas de encosta, razão pela qual deve ser cultivada sem excessos de luz solar, exposta ao sol direto e forte, queima todas as suas folhas em apenas algumas horas.

 

Eu a considero a mais bela das espécies brasileiras , talvez uma das mais belas flores do mundo. Amigos orquidófilos capixabas, residentes em Curitiba, afirmam que ainda devem existir relíquias de população no mar de pequenos capões de matas em que se transformou o sul do ES. Não conheço nenhuma unidade de conservação que tenha registro de populações dessa espécie. Todavia, sobrevive bem em coleções orquidófilas em todo o mundo, mas podemos entender como uma grave perda "lesa-pátria" o desaparecimento da população silvestre de L. tenebrosa. 


Magnífica !







 

Laelia virens - Lindl. - (SP - ES - MG e Rio de Janeiro).
Rara (R)




Espécie de flores muito pouco atrativas posto que mal abrem por completo, é uma clássica curiosidade botânica, foi durante décadas conhecida como Laelia johniana. Aparece em uma ampla área de dispersão pelas serras da Mata Atlântica do Sudeste brasileiro, todavia suas colônias não são muito contínuas. A planta vegetativa apresenta pequeno porte, é muito parecida em aspecto geral com um seedling de Laelia em estágio pré-floração. A floração é amarela-esverdeada, as flores são poucas, pequenas e mal se abrem, é bem discreta em cor e volume. Sempre foi considerada rara , habita regiões próximas aos mil metros de altitude, sempre no topo de  grandes árvores, sua população natural é difícil de ser observada, localizada e consequentemente  avaliada.



Por isso seu stattus de vulnerabilidade é discutível, e a lista vermelha  apresenta-a como "rara" . Talvez esta estabilidade de distribuição populacional seja devida às flores comercialmente pouco atrativas, como é muito pouco coletada, sua decadência populacional poderia ser atribuída apenas à perda de habitat. Podemos afirmar que pelo há, ao menos, três grande reservas públicas onde a espécie ocorre com toda certeza: P. N. da  Serra da Bocaína e o da Serra dos Órgãos, e também o P. E. da Serra do Desengano - todas localizadas no Rio de Janeiro. Há registros dessa espécie para o centro serrano do Espírito Santo, e para a região de Campos do Jordão em São Paulo.




Laelia xanthina - Lindl. - ( Espírito Santo ).
Em perigo (E)





Outra espécie capixaba de distribuição regionalizada e  vítima da perda de habitat, todavia, ao contrário da anterior , neste caso existem pequenas reservas públicas onde a espécie pode subsistir na natureza. Também nunca foi abundante, medrava epifiticamente em pequenas populações, bem separadas entre si, nas  florestas serranas do centro do Espírito Santo, mais ou menos entre os municípios e Domingos Martins e Santa Teresa.

 

Pertence àquela categoria de orquídeas muito difíceis de cultivar, requer condições muito específicas e não tolera fortes variações climáticas. Floresce uma vez após colocada no novo ambiente e fenece em no máximo mais dois anos, não passa disso longe de seu habitat natural. Como suas flores são pequenas e pouco vistosas , denotando pouco valor orquidófilo, podemos considerá-la como uma curiosidade botânica sem maiores interesses comerciais ou  para utilização em  hibridação. Seriam necessárias algumas gerações de sementeiras de laboratório para se obter plantas de melhor qualidade técnica e mais adaptadas as condições medianas de cultivo. Enquanto isso vão se acabando junto com as florestas nativas.









Abaixo as espécies ameaçadas sobre as quais faltam ainda informações mais apuradas, mas que certamente tiveram suas populações silvestres muito reduzidas nas últimas décadas:





Laelia grandis - Lindl. ex Paxt. - ( ES e Bahia ).
( Sem informações )





Outra espécie que nunca foi obtida em grandes quantidades, originalmente bem espalhada pelo sul da Bahia e norte do Espírito Santo, numa singular floresta de baixada-tabuleiro, muito alta em seu estrato arbóreo e muito similar a vegetação amazônica, chamada de Hiléia Baiana. Também ocorre nas serras baixas mais interioranas e secas  daquela região, podemos classificá-la como uma Laelia de ambiente quente, algo raro no gênero.


De flores pequenas encrespadas,  colorido pálido e forma e texturas ruins, podemos igualá-la à L. crispa em má fama orquidófila, com o agravante que é difícil cultivo, o que faz com que sua coleta não seja tão dilapidante. A gigantesca destruição ambiental perpetrada em sua área de distribuíção original é a causa do seu desaparecimento na natureza. Não se tem noção do tamanho da população restante, até porque a espécie aparece de forma muito descontínua.
















Laelia alaorii - Briger & Bicalho - ( Bahia )
( Sem informações )





Última espécie descrita da seção Hadrolaelia em 1976, é originária das florestas de Mata Atlântica do trecho mediano entre o sul da Bahia e Salvador, surpreendeu a todos pelo seu tamanho diminuto e pela excelente forma técnica de suas flores também proporcionalmente pequenas, e que geralmente se mostram semi-abertas. Algumas outras espécies desta seção botânica ( jongheana - praestans - sincorana - são  aqui comentadas ) são nativas de consideráveis altitudes serranas, apresentam flores relativamente grandes em relação ao porte da planta, já alaorii é tipica de locais mais baixos e quentes - 200 a 600 msm - e apresenta as menores flores da seção em termos absolutos e proporcionais à planta. Observa-se no seu histórico que passou tanto tempos oculta dos olhos atentos dos botânicos pesquisadores devido ao seu pequeno porte e por ter como habitat preferencial os galhos mais altos de grandes árvores, o que dificultava de sobre maneira a sua visualização.



 Somado ao problema da difícil visualização in loco, temos também a incessante destruição das matas no sul da Bahia, portanto sua situação populacional é desconhecida. Parece nunca ter sido abundante, e dada a coleta seletiva que vem ocorrendo desde sua descoberta, é certo que sua população original deva estar quase muito rarefeita. Embora seja uma miniatura mais chamosa que vistosa, produz lindas progênies quando hibridada  com outras espécies maiores, nenhuma outra espécie de Hadrolaelia tem potencial genético positivo igual a esta pequena criatura. Nos últimos anos seus híbridos provocaram grande interesse nos orquidários comerciais, parece que sua capacidade de melhorar a forma técnica e miniaturizar as plantas-filhas é muito superior as das Laelias rupícolas, Sophonitis e outras Hadrolaelias. Uma encantadora jóia rara das matas brasileiras !








Laelia milleri - Blumen - ( Minas Gerais )
( Sem informações )





 Existem inúmeras espécies de "laelinhas" rúpicolas nas serras mineiras, diria até que existem espécies demais, houve uma festa botânica na incrível variedade de serras e de populações isoladas. A maior parte das espécies apresenta flores roxas, amarelas ou creme, existe variação na altura das hastes florais: algumas são longas para expor bem as flores, outras são curtíssimas.  No meio dessa barafunda de espécies de "laelinhas" - agora promovidas ao apartado gênero Hoffmanseguella - lá estava a L. milleri com suas singulares e atrativas flores avermelhadas. Não só pelo ponto de vista orquidólfilo tradicional, mas muito mais pelo seu possível valor na hibridizição, a espécie passou a ser  severamente coletada, logo  após a sua descrição botânica em 1960. Sabe-se que milleri sempre foi naturalmente rara, medrando numa única localidade mantida em grande segredo. Aparentemente é encontrada próxima às áreas de mineração de ferro e seu habitat vem sendo destruído por esta atividade econômica que provoca grande devastação ambiental. Vive no topos destas poucas montanhas, na faixa dos 800-1.300 msm, geralmente aos pés das colônias de canelas-de-ema - Vellozias - existentes ; às vezes como epífita na base dos arbustos, e mais geralmente como rupícolas. 


Sua utilização em hibridação não mostrou os resultados esperados, não tornou-se um novo "sophronitis  de haste floral longa". Sua forma geral é muito dominante, a haste floral é longa demais e o cobiçado vermelho de suas flores esmaece e perde brilho nos seus híbridos. Além do que suas progênies vêm sempre acompanhadas de suas características morfológicas mais desinteressantes, são dominates. somado a isto, ainda é difícil de ser mantida em cultivo. Embora a muito mais comum L. cinnabarina, de flores cor-de-abóbora avermelhadas, seja mais bruta e grosseira e de muito maior porte, acabou por produzir uma corrente de híbridos muito mais interessantes e vermelhos que milleri. Assim sendo, por ser vermelhinha e famosa, torna-se cada dia mais rara, vítima da coleta e das mineradoras que destroem os topos das montanhas para obter acesso ao leito de canga de ferro que remanesce logo abaixo.








Laelia praestans - Rchb. f. - ( Espírito Santo )
( Sem informações )





O  que primeiro chama atenção nesta atrativa  espécie da antiga seção Hadrolaelia  é o seu nome: praestans significa: claramente apartada / distinta / separada. Este nome de batismo botânico deriva da sua grande semelhança com a muito mais conhecida L. pumila ( pumila = pequena ), da qual foi considerada sub-espécie por muito tempo, sendo depois elevada à condição de espécie independente. As plantas das duas espécies são pequenas e de  flores  proporcionalmente grandes e muito parecidas aos olhos do leigo. L. praestans pode ser facilmente distinta de pumila por ser mais vistosa e apresentar melhor forma técnica com segmentos florais largos e sem espaços entre eles com se vê na foto acima.  O tubo do labelo é tambem bem mais amarelo e, vista a flor de frente,  seu labelo se enrola como um charuto - overlaping. Vista de perfil, percebe-se que a peculiar forma sigmóide de seu labelo cria uma curvatura para baixo-  reparem a curvatura estranha na foto abaixo, na flor que aparece de perfil.


 As plantas vegetativas são de difícil manutenção em cultivo, já comprei 06 pumilas e 03 praestans oriundas de sementeiras e infelizmente todas morreram em menos de dois anos em cultivo em Curitiba;  pumila é mais adaptável e ambas resistem melhor se fixadas em hastes de xaxim ou de madeira dura . Como esta espécie é exclusivamente nativa das matas centrais das serras de 700-900 msm do Espírito Santo, região que sofreu grande devastação florestal, também, tal como outras espécies simpátricas, mostra-se ameaçada de extinção. Muito requisitada para a hibridação devido a transmissão genética da boa forma de suas flores, tem como desvantagem associada a forma vegetativa de suas plantas, estas apresentam os pseudobulbos um tanto separados e com aspecto escandente, e esta característica é sempre repassada aos híbridos que mostram o mesmo crescimento enfileirado, o crescimento compacto-radial é a meta desejada para os híbridos comerciais.






Laelia sincorana - Schltr. - ( Bahia )
( Sem informações )






Descrita em 1917, oriunda da Serra do Sincorá , ramo da Serra Geral no interior da Bahia, esta compacta espécie  apresenta parte vegetativa miniaturizada e bastante crassa, já as flores são proporcionalmente grandes, vistosas e nem sempre bem armadas. Usada na hibridização com o propósito de  reduzir o tamanho dos híbridos comerciais, porém com a manutenção do tamanho das flores, não mostrou-se animadora por ser muito dominante na aparência das flores. Houve alguns sucessos quando não é utilizada como "mãe" , mas sim como "pai" nos cruzamentos, mas foram poucos, na maior parte das vezes o resultado lembrava uma "sincorana grande e desajeitada".



É nativa exclusivamente das mesetas destas serras areníticas baianas, parte desta magnífica cadeia de montanhas é hoje protegida, desde a criação de um parque nacional que leva o mesmo nome. Trata-se da espécie do antigo gênero Laelia de distribuíção mais setentrional no Brasil, habita as rochas como rupícola e as canelas-de-ema - Vellozias - como epífita. Era extremamente abundante , mas a coleta seletiva perpetrada nos anos 80-90 do século passado reduziram muito a população.



Embora venha de regiões interiorana e quentes, sujeitas a severas secas, medra mais exatamente nos topos das montanhas, entre 1.100-1.500 msm, locais onde a temperatura é bem mais amena, chegando a ser baixa no inverno, e onde há maior ocorrência de neblina noturna.  A perda de habitat devida aos devastadores incêndios de inverno, estes dizimam as Vellozias , também ajuda a dar fim a esta interessante espécie. Quando ainda morava no Rio de Janeiro, no final dos anos 70, esta foi a primeira orquídea que comprei numa floricultura, encantado com o pequeno porte da planta e pela grande flor proporcional que ostentava. Hoje bem sei que  tratava-se de sincorana coletada, a planta resistiu uns três anos ao calor carioca, não floresceu de novo e morreu desitratada devido à falta de umidade, aliada ao excesso de calor.








Cattleya akclandiae - Lindl.- ( Bahia )
( Sem informações )





Atualmente a espécie é oriunda exclusivamente  do Recôncavo Baiano, uma região de matas interioranas semi-úmidas, próximas à capital da Bahia. No passado, anos 50, era registrada também para o vale do Rio Jequitinhonha. Apresenta folhas crassas e pseudobulbos finos, é de desconsertante beleza em função do largo labelo e das contrastantes cores vivas da coluna e do resto dos segmentos florais; o perfume é forte e delicioso. Não parece ter sido planta muita rara no passado, mas dada e área de dispersão restrita e próxima a um dos pólos de desenvolvimento nacional, torna-se naturalmente ameaçada. É de fácil cultura, cresce e floresce com facilidade em climas medianamente quentes, nos climas subtropicais pode ser mantida sob um telheiro translúcido que aumente um pouco a temperatura, até pouco mais de 30°C durante o dia.


 Como é planta que distancia bem um pseudobulbo do outro, além de emitir forte e grossa raizama, deve ser preferencialmente acomodada em uma casca de árvore ou num sarrafo de madeira de boa durabilidade, não esquecendo de adubar suas grossas raízes. Sua situação populacional atual é desconhecida, a coleta seletiva é grande em função de beleza exótica das flores, talvez já esteja a beira da extinção natural, a perda de habitat segue igual em todos os lugares onde há concentração humana.








Outra espécie não-orquidáceas  também 
em perigo de extinção e dignas de nota:





Worsleya raynei - (J.D. Hooker) Traub. Moldenke. AMARYLLIDACEAE.( Rio de Janeiro).
Em perigo (E).




Também citada no blog e por isto aqui está inclusa, embora não seja uma orquídea.












8 comentários:

  1. Nossaaaaa. Amei... Perfeito seu blog. Parabéns.

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  2. poderia me ajudar a identificar uma orquídea. abraço

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  3. Parabéns pelo blog. Fantástico! Me ajudou e muito a identificar algumas plantas de minha coleção.
    Abração!

    Dedé Ferreira - Vitória da Conquista, Bahia

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  4. Parabéns pelo blog. Tb gostaria de identificar uma orquídea. Moro no sul de Minas. A orquídea é nativa da área. Lindíssima! !
    Se puder me ajudar, agradeço muito!

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  5. Ótimo blog, sou fascinado por sincorana, tenho algumas variedades e sempre busco informações assim como novidades em variedades desta linda espécie, que na minha opinião é discriminada, pois são poucos os orquidários que as reproduzem, ficando a cargo de colecionadores a responsabilidade de perpetuar as poucas(mas lindas) variedades.
    Parabéns, abraço.

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    1. Rogério: Laelia sincorana foi a primeira orquídea que comprei na vida, estava ela pequenina com sua flor proporcionalmente grande abandonada numa floricultura comum no RJ. Logo descobri que era difícil de cultivar, mesmo aqui em Curitiba é difícil, aliás como todas desse grupo. Creio que sejam das orquídeas mais chatas do mundo, vivem condições ecológicas muito especiais. Sincorana e pumila são as piores, jongheama e praestans são mais raras e diria mais fáceis de cultivar aqui em Curitiba. Fora esta dificuldade de mantê-las são lindas e delicadas plantas, Sincorana é quase uma suculenta, vive em locais de clima rude e a umidade é restrita a uns poucos meses no ano. Em vasos é pior ainda tentar cultiva-las, então tenho me dedicado mais aos Coelogynes indianos que crescem como capim. Abraço ae !

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  6. Sou apaixonado pelas orquídeas,e parabenizo pelo blog.

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