VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Roystoneas - Confusões Imperiais - Histórico





Ornamento metálico inserido ao lado de um corredor de palmeiras imperiais
- Rio de Janeiro - Início Séc. XX - Paisagismo de Paul Villon.




Se deseja conhecer as principais diferenças visuais entre as
 palmeiras reais e a verdadeira palmeira imperial clique aqui
 vá direto para a segunda parte deste artigo, para a
 análise botânica das espécies.



Por muitos anos procurei desvendar a confusão da diferenciação das espécies de palmeiras abordadas neste artigo. São espécies próximas , algumas muito parecidas, formam um complexo e são todas inter relacionadas, não raramente se hibridizam, alguns exemplares ou pequenas populações, são confusos e difíceis de determinar.


Chafariz da mais monumental aléia de 
palmeiras imperiais do mundo.

 Popularmente são chamadas de "imperiais" no Brasil, porém no exterior são mais conhecidas como "reais". Há muitas dúvidas no que se refere aos nomes populares e científicos , em compensação, há consenso sobre: superioridade do porte e soberba elegância.

No Brasil tornou-se um símbolo de senoridade, exuberância e luxo.

Usadas como símbolo, são interessantes sob vários pontos de vista, por isso resolvi apresentá-las neste longo artigo, tentando configurar a formação desse ícone paisagístico. Algumas espécies do gênero Roystonea são de porte gigante e também de inegável elegância , uma conjugação rara na vida natural. Os jardins brasileiros do final do Séc. XIX e início do Séc. XX, já apresentavam, pela primeira vez na história do paisagísmo do país, um estilo caracteristicamente nacional.

Pilares do céu, a grandiosidade de suas alamedas
nos lembram os templos egípcios.

  Suas elegantes folhas "penteadas" são distintas já de longe.

Tornaram-se uma das pioneiras expressões paisagísticas brasileiras, uma natureza apresentada como domada pela mão do homem. Adornaram os prédios e outros pontos emblemáticos, onde abrigava-se o poder econômico e social da época. Nesses tempos a mata nativa estava ainda por toda parte, os jardins tinha obrigação estética de serem expressivos e diferenciados, mais do que simplesmente "verdes".


Era preciso se contrapor à natureza exuberante do país, usava-se a geometria , gosto e técnica nessa luta em busca da atenção dos olhos. Utilizavam-se as espécies estrangeiras de grande impacto visual e de difícil obtenção, caracterizando assim uma singular exalação de luxo das elites dominantes.

Elegância incontestável e símbolo de uma época.

Foi uma época de ouro passada, deixou nobres vestígios, procuraremos aqui apresentar mais amplamente a espécie principal e marco paisagístico desta época, muito utilizada ao ponde se pensar ser, a palmeira imperial caribenha, uma brasileira, nunca foi, mas praticamente tornou-se! Durante anos tentei compreender o seu significado e sua biologia, sempre foi muito difícil achar algo mais consubstanciado e completo sobre essas plantas. Tendo dar minha contribuição, fiz o possível neste resumo restrito às possibilidades deste veículo de comunicação.

Palácio Guanabara - Jardim de Paul Villon
- Início do Séc XX.

Procuro como objetivo, elucidar aos olhos leigos a caracterização e a diferenciação das três espécies mais cultivadas no Brasil. São plantas inesquecíveis e gentilmente os convido a passear pela história das palmeiras imperiais brasileiras. Inicialmente vamos nos ater à circunstância histórica e cultural, na segunda parte do artigo, abordaremos botanicamente as espécies importantes do gênero Roystonea.



Perfeição de formas e de porte.






"A palmeira estremece...
palmas pra ela
 

que ela merece."


- P. Leminski -

"Todas as paixões passam e se apagam,
 exceto as mais antigas, aquelas da infância."

- Cesare Pavese -


I) A Economia em Expansão e o Tráfico de Espécies.




Desde o Séc. XVII, mas principalmente no Séc XVIII, a crescente introdução de espécies de plantas produtoras de gêneros alimentícios ou temperos valorizados, despertou interesse pois poderiam render grandes dividendos econômicos ao comércio e as potências da época . Um bom exemplo foi a introdução do cultivo da batata na Europa, inicialmente apenas o alimento básico dos incas , em poucas décadas fez a população de vários países se expandir .



HMS - Bounty : um marco histórico para se entender uma época.

Seguindo esta linha de desenvolvimento agrícola, foram criadas instituições estatais para a aclimatação de espécies exóticas ( exóticas = estrangeiras ) em locais onde se fizessem economicamente necessárias. Já nessa época, haviam descoberto que quando se introduz uma espécie exótica num ambiente novo, duas vertentes de resultados podem ocorrer: ou não se adaptam e fenecem logo, ou prosperam muito mais em relação ao possível no habitat natural. Num ambiente favorável, onde não há, ainda, doenças ou predadores, havendo condições ambientais satisfatórias, o crescimento torna-se mais rápido.

HMS Bounty chega ao Tahiti.

Para bem exemplificar esse espírito de época, vamos invocar os clássicos acontecimentos sobre o motim no HMS Bounty, em 1879; a história muito interessante fêz o cinema americano filmá-la jáo por três vezes. O citado navio foi enviado pelo Almirantado Britânico à Polinésia, com a importante missão de trazer grande quantidade de mudas da árvore da Fruta-Pão ( Artocarpus altilis - Moracae ), destinadas à aclimatação nas Antilhas.

Fruta-Pão - Uma bela árvore, parente da nossa conhecida Jaca, ambas
espécies asiáticas do mesmo gênero botânico.

Fruto de belíssima árvore, come-se assado, e pode
eventualmente ser um substituto do pão.

Visava-se, com a introdução dessa espécie, a obtenção de alimentação farta e barata para a escravaria negra dos canaviais antilhanos. Foram obtidas e embarcadas no Tahiti ,1015 mudas envasadas, porém na viagem de retorno à Jamaica, a tirania do capitão do navio provocou um motim, no calor dos acontecimentos, os amotinados terminaram por jogar as mudas ao mar.


Embarque das mudas de Fruta-Pão no Tahiti.


Com o sucesso do motim, abandonaram os oficiais num bote, partindo com o navio sequestrado para uma longa peregrinação pelas ilhas da Polinésia. No processo de fuga - seriam efetivamente perseguidos pela Marinha - acabaram por se amancebar com nativas, embarcando-as na aventura. O capitão incrivelmente conseguiu navegar de Fiji até o Timor na pequena embarcação, mais tarde perseguiria os amotinados como apoio do Almirantado.




O capitão e seus oficiais são abandonados à deriva,
as preciosas mudas de Fruta-Pão são lançadas ao mar.

Os fugitivos, depois de muitas peripécias, optaram por se esconder numa ilha até então desconhecida - Ilha Pitcairn - queimaram o navio e por lá se estabeleceram com suas mulheres nativas. Essa história mostra a importância do tráfico de espécies vegetais comestíveis e temperos exóticos nessa época.


A riqueza da flora oriental , especialmente da indiana, seria determinante
 na melhora da alimentação e na economia  do Brasil português,
os quintais indianos e brasileiros ficaram algo semelhantes.





Outro pensamento errôneo surge naturalmente ao conhecermos essa época da história ambiental do mundo, é acharmos que esses temperos todos tinham uma destinação meramente gastronômica. Com o tempo a culinária europeia e mundial acabaram por adotar muitos dessas especiarias, mas a principal função de destino era o condimento e conservação das carnes para o inverno, ou para o transporte a distância. Num tempo sem refrigeradores, a única forma de se conservar a carne já abatida, era salgá-la e temperá-la.



Essas tão procuradas especiarias, continham antioxidantes poderosos, conservavam seu aroma por longo tempo e também, juntamente com o sal, ajudava na manutenção do sabor das carnes-secas ou charqueadas. Eram consumidas grandes quantidades desses produtos vegetais, todos os países com clima frio os adquiriam. O açúcar , no início da sua comercialização, era usado como droga euforizante e tranquilizadora, quem nunca tinha tomado água com açúcar, quando tomava sentia rápido êxtase.


II) A Fazenda La Belle Gabrielle - O Sonho de La Fayette.




O Marquês de La Fayette.


A história da chegada da palmeira-imperial ( Roystonea oleracea ) ao Brasil, começa no jardim da fazenda do Marquês de La Lafayette, na Guiana Francesa. Vamos então explicar, um por vez , os componentes e personagens dessa histórica chegada. A palmeira em questão é nativa das terras baixas e litorâneas da Venezuela, da Ilha de Trinidad até Guadalupe e até mesmo da Guiana Francesa. 

Roystonea oleracea começa a ser cultivada e difundida, bom gosto francês em ação.

Antes a espécie estava classificada no gênero Oreodoxa, depois foi especialmente criado o gênero Roystonea para abrigá-la e a suas congêneres. O nome é uma homenagem botânica ao Gal. Roy Stone, militar americano serviu em Porto Rico no início do Séc. XX. Tradicionalmente conhecida como "palmiste", recebeu o nome científico de oleracea, significa comestível ou saboroso , provavelmente em função do palmito de quase 2 m de comprimento.


O Marquês de La Fayette foi um nobre francês envolvido historicamente, tanto com a Revolução Francesa, como com a Guerra de Independência dos Estados Unidos. Idealista, humanista e abolicionista, adquiriu em 1783, uma fazenda de produção de açúcar perto de Roura, subindo o Rio Comté, a 20 km Cayena, a capital da colônia da Guiana Francesa. Seguindo a linha filosófica da França pós-Revolução, essa propriedade destinava-se a abrigar um experimento educacional, para a re-socialização de escravos negros libertos.


Marie Adrienne - Madame de La Fayette

Chamaram-na de La Belle Gabrielle, o nome oficial era Habitacion Royale des Épiceries, convocaram seminaristas católicos para estruturar e executar o processo educacional, sendo a administração da propriedade e do projeto , conduzidos pela esposa de Lafayette e também por sua sogra, a Duquesa de Ayen. A fazenda-experiemental passou a aclimatar e produzir temperos, chamavam-na de "a plantação de especiarias", tornou-se referencial e famosa no contexto da época.

Aspectos paisagísticos de Cayenna no final do Séc. XIX - Como se vê nas iconografias
acima, nessa época, Cayenna também já estava extensamente arborizada com Roystoneas.


No início de minhas pesquisas sobre o assunto, cheguei a confundir o Jardin La Gabrielle, com o posterior Jardin Botanique de Cayenne, todavia não são os mesmos. A palmeira-imperial entrou em processo de aclimatação, juntamente com outras especiarias exóticas, alguns poucos anos após a fundação de La Gabrielle. A aclimatação ( ou aclimação se preferirem ) teve também e principalmente, finalidade alimentícia e não apenas ornamental.


 
Acima uma árvore e uma R. oleracea centenária, cravejadas de touceiras
 da orquídea Epidendrum ciliare - Jardim Botânico de Cayenna.


As palmeiras imperiais do J. B. do Rio de Janeiro, são hospedeiras da orquídea Sophronitis cernua, as flores vermelhas e pequenas dessa orquídea-anã chamam a atenção em contraste com os grandes troncos cinza-escuro.

R. oleracea presta-se a harmoniosos conjuntos de grande efeito paisagístico, lentamente dão nobreza à lugares comuns. Sua grande altura gera uma sensação de ascenção, quando adultas , parecem pilares do céu, as outras espécies do gênero são mais rudes e de formas mal acabadas.

Como a palmeira-imperial demora a crescer e a frutificar, cerca de 15-20 anos, mudas novas ou talvez apenas sementes, oriundas de exemplares nativos, foram despachadas para outras instituições de aclimatação francesas. Não teria havido tempo suficiente para qualquer frutificação de exemplares plantados e nem para a efetivação de uma seleção massal técnica entre indivíduos cultivados. Foi do La Gabrielle que seguiram as mudas, ou sementes, de palmeira-imperial para o Jardin de Pamplemousses , na Ile de France - colônia francesa no Oceano Índico próxina a Madagáscar. Houve importação e provavelmente troca de espécie exóticas entre os hortos franceses do Oriente e a instituição de La Fayette, especiarias asiáticas e plantas ornamentais africanas também foram introduzidas, em via oposta, na Guiana Francesa. Portanto essa fase inicial de aclimatação de R. oleracea, in hortus, durou no máximo, de 1785 até 1809, ano em que a espécie chega ao Brasil vinda de Paplemousse. O episódio do HMS Bounty ocorre 1879, mostrando que , além de França e Portugal, a Grã-Bretanha também estava ativa nessas transferências e introduções de espécies valiosas ou interessantes.


Rio Comté nas proximidades de Roura.


Floresta Equatorial na Guiana Francesa.

Cayenna e La Gabrielle seriam invadidas, em 1809, por tropas luso-brasileiras, em represália a invasão de Portugal pelo General Junot - a mando de Napoleão Bonaparte, finalizando essa fase proto-histórica da Palmeira-Imperial brasileira.

Jaca - Artocarpus integrifolia.

Após essa invasão o Príncipe Regente contratou o agrônomo francês Paul Germain, este já se achava em Cayenna, para gerir um novo horto de aclimatação em Olinda -PE. Esse técnico trouxe na sua posterior viagem, várias mudas de especiarias e plantas ornamentais cultivadas na Guiana Francesa, assim chegaram ao Brasil, como uma espécie de saque compensador pelas barbaridades cometidas pelas tropas francesas em Portugal. O sortimento de espécies equivaleriam a um tesouro inigualável, tais como a muito mais produtiva variedade da cana "caiana" (= Cayenna) e várias outras espécies de árvores exóticas como: o flamboyant ( Delonix regia ) , as Árvores do Viajante ( Ravenala madagascariencis e guianensis ), a jaqueira ( Artocarpus integrifolia ), o tamarindeiro ( Tamarindus indica ), o jambo ( Eugenia malaccensis ), a flor-de-abril ( Dillenia indica ), a noz-moscada ( Myristica fragans ), a extremosa ( Lagerstroemia indica ), o abacateiro ( Persea gratíssima )  e muitas outras .

Mangueira - Mangifera indica.

Antes disso, em 1727, o governador da província brasileira do Maranhão, já tinha mandado um tenente do exército, Francisco de Mello Palheta, para tentar obter mudas do café-africano, na Guiana Francesa. Diante da dificuldade na obtenção, o jovem tenente ardilosamente seduziu a esposa do governador francês, conseguindo assim algumas sementes. Sem essas espécies asiáticas e africanas introduzidas, a alimentação e o paisagismo brasileiros seriam muito diferentes, sem esse aporte de biodiversidade não teríamos a mesma história e nem viveríamos o mesmo destino.

Café - Coffea arabica.
 
O meio ambiente brasileiro era pobre de espécies realmente alimentícias e capazes de sustentar população humana considerável. A batata era a base da alimentação dos Incas, levada para Europa fez a população dobrar em 50 anos, comia-se mais e vivia-se mais, com batata no prato.

Carambola - Averroha carambola
 
Os índios brasileiros viviam basicamente de mandioca, peixe de rio, mariscos litorâneos e da escassa caça abatida, era um quadro de pouca abundância. Ao contrário da África e da América do Norte, o Brasil tem poucas espécies de mamíferos de porte , sobrava em madeira porém faltava em caça. O Oriente forneceu a base agrícola do futuro Brasil, uma terra mais povoada e mais farta de comida, embora ainda cheia de doenças silvestres e dos onipresentes insetos. A chegada da palmeira poderia ter sido mais curta, na época do saque à Cayenna, mas não foi. Então vamos atrás das Palmeiras-Imperiais, na direção do Oriente, rumo à uma ilha vulcânica , fértil e luxuriante, estrategicamente localizada ao largo de Moçambique e Madagáscar, no meio do caminho entre as duas partes do mundo. Era lá o quartel general da política ambiental francesa da época, ficava bem no meio do caminho entre o Oriente e o Ocidente.  



 III) Le Jardin de Pamplemousses - O Paraíso de Pierre Poivre   
Ile de France - depois Mauritius - Oceano Índico.

Como foi sugerido antes, nessa época houve um choque de Impérios: Grã-Bretanha, França, Espanha e Portugal protagonizariam um momento histórico importante, derivado da convulsão provovada pela expansão, política e militar, da França de Bonaparte.

Port Louis - Capital da Ile de France.

François Mahé de La Bourdonnais, governador da colônia francesa de Ile de France a partir de 1735, comprou terras para a futura instalação de mais um horto real de aclimatação O local ficava no interior da ilha, mas ainda perto de Port Louis, vizinho ao vilarejo de Pamplemousses ( = pomelo/grapefruit/toranja). A ordem de Paris era quebrar o monopólio holandês no comércio das especiarias; possuidores da Ilhas Mollucas, os holandeses tinham o monopólio desse extrativismo, restava às outras potências ocidentais tentar o cultivo aclimatado e intensivo dessas especiarias, se possível em locais mais próximos, evitando as perigosas viagens marítimas desses tempos.


Vistas de Pamplemousses, as montanhas vulcânicas no centro de 
Ile de France mostram a origem da fertilidade do solo.

Vários nomes foram dados a esse que é hoje um dos mais celebrados Jardins Botânicos do mundo : Jardin de Mon Plaisir, Jardin des Plantes ou Jardin Botanique Royal. Mas a designação que de fato vingou foi "Jardin de Pamplemousses, desse local originaram-se as semente da chamada Palma Mater ( Palmeira Mãe ), iria ser presenteada e talvez pessoalmente plantada pelo Príncipe Regente D. João. Da Guiana Francesa para o Brasil, via Mauritius - uma viagem longa e uma história de tráfico de mudas e sementes para, comercialmente, encurtar viagens imensas.

Busto de Poivre em Pamplemousses.

O agrônomo , ex-seminarista e naturalista francês Pierre Poivre, trabalhou logo nos primeiros anos de implantação de Pamplemousses, por motivos de concorrência e sabotagem acabou , depois de alguns anos de infrutíferas tentativas de sucesso profissional, por retornar à França. Retornou em 1767, mais fortalecido e já como governador de Ile de France e Ile Bourbon ( atual Ilha Reunion ), dessa vez , com sucesso, expandiu muito a coleção de espécies do Jardin de Pamplemousse, trazendo especiarias e árvores exóticas de todo o Oriente para o se aclimatarem nas ilhas sob sua administração. O jardim real seria o pioneiro de uma rede de outros hortos de aclimatação franceses no Índico.


Projeto do Horto Real das Ilhas Seychelles.

Além do principal em Ile de France, os hortos das Seychelles e em Bourbon , também aclimatariam espécies novas e valiosas para a época: o Cravo-da-Índia ( Syzygium aromaticum), a noz-moscada ( Myristica fragans ) , Fruta-do-Conde ( Annona reticula ), o Mangostão ( Garcinia mangostana ), a Canela-da -Índia ( Cinnamomum zeylanicum ), a Lichia ( Litchi sinensis ), o Longan ( Euphorbia longana ), a Fruta-Pão das Filipinas ( Artocarpus altilis ) e o Jamalac da Malásia ( Syzygium samarangense ).


O Château de Mon Plaisir, construção principal do Jardin de Pamplemousse,
 está no local onde ficava a casa original de Poivre e família.

Pierre Poivre morre, na França, em 1786 aos 67 anos, seu assistente e sucessor, Jean-Nicolas Céré, já tinha assumido o cargo de administrados de Pamplemousses em 1772, quando Poivre retornou à França, porém já era seu assistente e colaborador desde 1766. Seria esse novo diretor, o responsável pela importação da mudas, ou sementes, da R. oleracea de La Gabrielle, sob o a gerência de Madame de La Fayette.


Plantando-se sementes originárias de uma única planta-mãe, consegue-se  um
 conjunto final com exemplares de altura semelhante. ( foto non Mauritius).
  
Jean-Nicolas Céré era de família família francesa, nasceu 1738 já em Ile de France, morreu em 1810, um ano depois do Príncipe Regente do Império Português plantar a Palma Matter no Rio de Janeiro. Seu trabalho ampliou ainda mais a coleção de Pamplemousse, na sua gestão se intercambiou mudas exóticas orientais para La Belle Gabrielle, assim introduzindo espécies originárias das Américas. Trouxe também novas espécies da China e da Índia, aclimatou frutas e legumes europeus. Correspondeu-se com numerosos cientístas: Buffon, Daubenton e Thouin são exemplos. A Sociedade Real de Agricultura de Paris lhe concedeu-lhe a Medalha de Ouro, Napoleão sacramenta seu título de Diretor do Jardin Pamplemousse. Sob sua direção a fama do Jardim Botânico de Ile de France corre o mundo.  
 
Acima o elaborado conjunto metálico dos portões de Pamplemousses, logo após a entrada, avista-se alguns exemplares de Palmeira Imperial. Essa espécie tornou-se um clássico e não pode faltar em coleções botânicas tropicais.

 
 Visita à Pamplemousse

As ainda existentes aleias de palmeiras de Pamplemousse, não são dessa época, portanto, a palmeira imperial veio sim de Ile de France, mas o tradicional modo de plantá-las em sequências, provavelmente fez caminho inverso. Só muito depois, repetiu-se lá o mesmo paisagismo Jardim Botânico Rio de Janeiro. As monumentais avenidas de palmeiras do jardim botânico carioca foram plantadas em 1842, as de Pamplemousse só a partir de1850.

O conjunto ordenado de palmáceas é sempre  muito impressivo. (foto non Mauritius).  
 
Após os britânicos tomarem Ile de France em 1814, o Jardim de Pamplemousses cai em abandono e declínio, a ilha é renomeada de Mauritius. Apenas em 1849, ano onde já reinava Pedro II, James Duncan assume a direção e recupera o prestígio do velho horto, incrementa a coleção importando Araucarias australianas , novas espécies de palmeiras, Fetos Arbóreos ( Xaxins ) e orquídeas. Este diretor designou as atuais feições do jardim botânico maurício, plantou as aleias de palmeiras reais e fez o famoso paisagismo de lagos até hoje existente, posteriormente outros colaboraram com aperfeiçoamentos, mas o principal foi feito nessa época.

Fotos atuais da Coleção do  Jardim Botânico de Mauritius*
* ( em latim "T" se lê como "C" , portanto pronuncia-se Maurícius")  

 

Mauritius é linda e hinduísta.  
  Maha falani - Grande Jardim !


IV) Surge um Império Tropical - O Jardim de D. João VI.   

 
Napoleão Bonaparte - Imperador dos Franceses.

A Europa é assolada pela França Pós-Revolucionária, o Grande Exército Napoleônico é invencível, poria o Imperador da Áustria e o Czar da Rússia para fugir de suas magníficas capitais. Quase todas as monarquias europeias estavam ameaçadas, após vencer e destruir a frota francesa na Batalha de Trafalgar, a Grã-Bretanha passa a ser a maior potência marítima já vista , mais de 800 navios de guerra seus estão em serviço ao redor do mundo. Napoleão dominava a Europa continental, proíbe então os portos europeus de comercializem com a recém industrializada Grã-Bretanha, os produtos encalhavam e os prejuízos cresciam.


Trafalgar - A Frota Francesa é destruída na costa da Espanha;
 Napoleão fica sem navios para invadir as ilhas britânicas.




Os britânicos temem que Napoleão forme nova frota e os invada, para evitar assistir a frota dinamarquesa caindo em mãos francesas, bombardeiam o porto da capital Copenhaga, afundando todos os navios fundeados em 3 dias seguidos de bombardeios, na operação morrem cerca de 5.000 pessoas.

 
A Batalha e o Incêndio de Copenhaga foram
decisivos para a transferência da sede do
 Estado Português para o Brasil. De
início imaginaram migrar para
a Ilha da Madeira, depois de
melhor avaliação, foram
para o Brasil.

Foi uma crueldade britânica para
com um país amigo e neutro !

Não houve complacência.

A Princesa Carolina,  irmã do Rei Jorge III, do Reino
 Unido,  havia sido esposa de Cristiano VII, Rei
da Dinamarca, demonstrando as boas relações
 das duas nações antes de surgirem
as Guerras Napoleônicas.


Um ano antes da fuga para o Brasil, a frota dinamarquesa fora premeditadamente destruída no porto da capital do país. D. João temia uma nova repetição do episódio, Lisboa estava bloqueada por poderosa frota britânica, a ordem era : ou dar apoio à retirada da corte, ou impedir a qualquer custo que a esquadra portuguesa caísse nas mãos de Napoleão. " Os ingleses ofereceram aceitar a rendição dinamarquesa, mas depois das negativas, a frota britânica bombardeou a cidade desde  2 a 5 de setembro de1807. No dia 7, o general dinamarquês Peymann rendeu tanto a cidade como a frota (18 navios, uma fragata, uma barcaça, dois barcos, duas corvetas, 7 bergantins com artilharia, 2 bergantins, uma galeota e 25 canhoneiras) às superiores forças ingleses. Além disso foram destruídos três navios de 74 canhões que se encontravam nos estaleiros.  Nessa ação mais de 150 civis e 3 mil militares perderam a vida e 30% dos edifícios da cidade de Copenhague foram destruídos. Em 21 de outubro de 1807, a frota inglesa deixou Copenhagua junto a seus barcos aprisionados com destino ao Reino Unido."

 
O rei da Espanha, também cogitou ir para o México, mas titubeou e não foi - depois de deposto e preso arrependeu-se! Muito mais humilhante seria a captura da família real e consequentemente assistir seu vasto império colonial tornar-se independente, como ocorreu com o governo espanhol; D. João agiu corretamente.


O pequeno Portugal, governado pelo Príncipe Regente, futuro rei D. João VI, era um tradicional aliado da Grã-Bretanha, ainda possuidor de grande Império na América, África e Oriente. Não é mais a potência militar e econômica de dois séculos antes. Sendo a terceira, ou quarta, frota militar do mundo ocidental, sua marinha montava em cerca de 30 vasos de guerra. Era absolutamente necessário manter uma força naval operacionalizando o governo português em suas várias colônias. Por isso o país era pequeno e a marinha proporcionalmente grande, embora já estivesse bastante decadente.


O Brasil era sabidamente a mais rica e importante parte do Império Português, para transferirem a sede da monarquia portuguesa para o Rio de Janeiro, contavam como todo apoio logístico e tecnológico da Grã-Bretanha. Estando o exército francês a caminho para a eminente invasão do território português, resolvem então proceder a arriscada travessia do Atlântico e transferir todo aparato estatal de governo ; salvaguardavam assim a independência do Império Ultramarino Português, este era muito mais importante.

  Por precaução, mesmo ainda longe de tomarem decisão, a possível operação de transferência foi organizada durante uns cinco meses, alguns navios foram necessariamente reformados, mas só desmontaram a máquina estatal e embarcaram os tesouros, quando o General Junot já estava próximo à Lisboa. Ao largo do Tejo, a frota britânica, ameaçadora, bloqueava o porto de Lisboa, o governo português teme a repetição do episódio do afundamento da frota dinamarquesa, sem outra saída, resolvem então acatar a proteção inglesa, preservar a Dinastia de Bragança. O Governo e a valiosa frota, sempre inseguros e temerosos pelos perigos da viagem e pelo futuro incerto, zarpam finalmente para o Brasil. Foram cerca de 50 navios portugueses, 18 eram naus militares, 4 poderosamente armados navios britânicos acompanhavam os navios portugueses principais, dando total proteção e apoio logístico à família real se dividia a bordo de três navios diferentes.
 

Acima a pior inimiga de D. João, sua esposa D. Carlota Joaquina de Bourbon, há versões consistentes de que mais tarde teria morrido envenenado por ela. O casal chegou ao Brasil em navios diferentes, ela e as filhas na nau Rainha de Portugal, ele e mãe no Príncipe Real .Atestam os historiadores ter a conjunção carnal terminado após o quarto filho, passaram então a morar bem longe um do outro, ela teve mais 5 filhos , mas houve uma manutenção das aparências protocolares. Com a queda da monarquia espanhola, sendo ela a única da família real ainda livre de Napoleão, quase se fez ser rainha da Argentina e Uruguay - trata-se figura histórica de excepcional importância e brilho. Odiava o Brasil com paixão !


Carlota Joaquina residia no Palácio de Queluz.

Durante os difíceis dias entre a espada francesa e o canhão britânico, D. João disse uma frase , particularmente uso sempre: " Quando não sabemos o que fazer, é melhor não fazer nada". Aguardou até a última hora, fez não aquilo que desejava, mas tão somente o premente e necessário. Lisboa ficou em polvorosa a elite abandonando-a , o luxo móvel dos palácios foi desmontado, as carruagens embarcadas, estavam prontos para partir. Quando chegaram ao Brasil, houve um movimento registrado entre navios portugueses e britânicos, de 54 arcas, todas com bens e valores pessoais do Príncipe Regente, sendo essas apenas uma parte do total muito maior.


O Palácio-Basílica de Mafra - Residência preferida do Príncipe Regente, esse edifício monumental foi saqueado tanto pela realeza em fuga, como pelos invasores, por encontrá-lo 
já despojado do mais valioso. 


Resumo da fuga.


O embarque a ansiedade de cruzar o oceano.

 Para piorar o quadro, na hora da partida começou a chover forte e ventava muito, , acabaram por esquecer a prataria das igrejas, a valiosa Biblioteca Real e o Núncio Apostólico no cais do porto; imaginem a confusão ! A Rainha D. Maria I, mãe de D. João, completamente insana já fazia uma década, gritava ao embarcar : "Não corram tanto...vão pensar que estamos fugindo" .
 

 Nau inglesa acompanha o embarque da corte portuguesa.

Queriam ir para o sul, mas o vento levava para o norte, como já se ouvia os canhões de Junot, embarcaram indo ao encontro da frota inglesa disposta na saída do porto. Na foz do Tejo, ao aproximarem-se da frota britânica, houve tensão, poderiam ser os franceses apossados da esquadra portuguesa, era costume saudarem-se mutuamente com salvas de canhão, mas isso não aconteceu. D. João poupou a rainha-louca de mais esse stress, só quando foi visto o pavilhão da Realeza a tremular nos navios , houve então pleno entendimento da retirada em curso. Depois algumas discretas salvas de canhão entre as duas frotas, confirmando-se aos olhos britânicos ser a Corte a abandonar Lisboa.


O comandante britânico, Sir Sidney Smith , ficou impressionado com a desorganização geral da esbaforida partida, ofereceu a D. João e família embarque na sua nau-capitania, os portugueses recusaram, seria humilhação demais para uma raça de navegadores. Sob tempestade e ventos foram para o norte, dando a impressão do destino ser a Grã-Bretanha, depois já fora de perigo, tomaram o rumo certo. Junot ao tomar Lisboa, espantou-se com grandiosidade da fuga e foi para o porto , lá junto com os lisboetas ficaram todos a "A ver navios..." estes ainda estavam parcialmente visíveis. D. João temia a viagem de 2 meses, no mar poderiam os franceses perseguir os navios, também temia a fúria do oceano durante as tempestades ( tinha pavor de trovões ). Tomou coragem e por fim veio, acho-o deliciosamente português.

Nau de Guerra britânica, algumas eram armadas com mais 100 canhões .Quatro hectares de florestas inglesas, forneciam a madeira necessária para contruir uma nau militar desse porte, 
duravam uns 30 anos até a primeira reforma.


O bloqueio feito aos portos europeus, transformou a Grã-Bretanha
 na maior potência naval existente

Estima-se ter sido um contingente de 10.000 pessoas a cruzar o Oceano Atlântico. A tripulação do navio que conduziu D. João, a nau Príncipe Real , montava em mais de 800 marinheiros, eram necessário 200 para baixar e erguer as âncora.
 

 Nesta nau capitânia da frota portuguesa, viajavam cerca de 300 passageiros, muitos dormindo ao relento no convés, a família real dispunha de apartamentos confortáveis. Embarcaram em fins novembro de 1807, 54 dias no mar depois, chegaram na Bahia em janeiro do ano seguinte, descansaram ali da difícil viagem.


 Finalmente chegaram ao Rio de Janeiro - então a nova capital do
 Império Português - em março 1808.

No quadro acima, no centro e a esquerda, com as velas recolhidas, vê-se respectivamente, a nau Príncipe Real - onde tinham viajado a Rainha D. Maria I e o Príncipe Regente - e a nau britânica Marlborough. Do lado direito está a nau Afonso de Albuquerque - na qual viajou a princesa Carlota - Atrás estão as fragatas Medusa e Urânia, além da nau britânica Bedford, este poderoso navio escoltou o Príncipe Regente durante toda a viagem. Cenário único e inacreditável: um efetivo monarca europeu na América.


" Sua Majestade e toda a sua Família Real [...] escolherão este famozo paiz para seu descanço no meio das agitações, que abalarão a Europa" - Almanaque da Cidade do Rio em 1817.

O Rio de Janeiro era uma cidadezinha de 60 mil habitante, mais da metade da população era de escravos africanos, só havia luxo nas igrejas e na natureza exuberante cercando a cidade. O desembarque foi emocionante para todos, dirigiram-se a pé, em cortejo, à Igreja Matriz para agradecer o sucesso da viagem. D. João era um jovem senhor de 41 anos e viveria uma experiência singular para um monarca europeu.
 


 O trono de D. João VI
 no Brasil.


Passado algum tempo, Napoleão já tinha então deposto e prendido a família real espanhola, seu irmão era o novo rei desse país. Portugal vivenciava o saque e as barbaridades da ocupação francesa, D. João deixou instruções visando o menor derramamento de sangue possível. Estando então no Rio, relaxou como a anos não conseguia, passando a estruturar um novo reino , muito maior e mais seguro. A conflituosa Europa foi posta de lado, Portugal já não era, fazia muito tempo, a parte mais importante do Império.

A instalação da elite portuguesa faria do Rio de Janeiro uma nova cidade, o crescimento  foi rápido. Se Pedro Alvarez descobriu, D. João inventou e construiu o Brasil.

Rio de Janeiro 1808 - Uma cidade pequena, acanhada, suja e quase africana.

Os portos foram abertos porque o de Lisboa, agora em mãos francesas, não poderia ser mais o único entreposto dos navios destinando-se ao Brasil, como aconteceu durante séculos.Várias iniciativas foram tomadas para melhorar a aparência da nova capital, os portugueses acharam-na acanhada, suja, despretensiosa e muito africana. Entre essas medidas de estruturação do novo Estado Português, estava a fundação de uma necessária Real Fábrica de Pólvora.


Portão remanescente da antiga Fábrica de Pólvora de D. João.

D. João visitou a primeira vez o sítio da Fabrica de Pólvora e futuro horto , em janeiro de 1809, enamorou-se pelo local, mandando ali erguer uma casa avarandada para sua estadia pessoal. Relatam, jocosamente, existir no caminho entre o Centro do Rio e a Fábrica de Pólvora, uma rocha - a Pedra Santa. Essa estava prestes a cair, provocando pânico em D. João , temia a coincidência da pedra desmoronar justamente à sua real passagem. O povo gostava de dizer: D. João o "rei cagão "; e também tinha medo de siris. Passava férias na Real Fazenda de Santa Cruz, no atual bairro de mesmo nome, no subúrbio carioca, lá um carrapato picou-lhe a perna, esta então infeccionou. O médico receitou-lhe banhos de mar, o iodo marinho resolveria a renitente infecção, difícil foi convencer o monarca português a tomar os detestados banhos, junto com os temidos siris.

D. João VI..

Convocaram então o exército para dar apoio logístico ao banho real, construíram uma barrica-liteira, toda perfurada, onde entrava D. João, os soldados o emergiam no mar pelo tempo determinado, sem que nenhum infame siri penetrasse dentro da barrica. Curou-se por fim! Foram os únicos banhos registrado desse português generoso, muito humano e clemente. Gostava muito de frutas, talvez por isso apreciasse tanto seu jardim de aclimatação, comia 3 mangas diárias, vinham da Bahia. Foi envenenado muitos anos depois, já de volta a Portugal, provavelmente após ingerir laranjas com cianeto, sabiam do gosto dele por frutas. Em conversa registrada pelo embaixador francês, D. Carlota demonstrou pleno conhecimento de nuances do envenenamento, dando detalhes médicos não reportados por outros. Também ela se envenenaria, mais tarde, fugindo das agruras do câncer através do suicídio.

 


 
A Palma Mater já centenária.

Lá no sítio da fábrica, passava longas temporadas. Em julho de 1813, mandou plantar, aparentemente com suas próprias mãos ajudou no processo, uma especial palmeira nas cercanias do engenho. Provavelmente sabia da imponente beleza e altura sem comparação, a semente dessa preciosidade havia lhe chegado às mãos por meios rocambolescos. Chefe de Divisão, o português Luís de Abreu Vieira e Silva , caíra prisioneiro dos franceses após o naufrágio de seu navio, o Princesa do Brasil, a caminho de Goa, na Índia, em 1808. Levado para Ile de France , foi trabalhar forçadamente em Pamplemousses, sendo libertado algum tempo depois, junto com os outros duzentos prisioneiros lusitanos , após a ilha cair em mãos dos ingleses, então fortes aliados dos portugueses.



Foi, e para sempre será, o vegetal mais famoso do país, um símbolo
 da ascensão econômica e política de uma jovem nação envolta em selvas.

Luís viajou para o Brasil, não sem antes aproveitar e se apropriar de sementes de : moscadeiro, canforeira, abacate, lichia, mangueira, cravo da índia, noz-moscada e outras especiarias (num total de 20 caixotes de mudas ) do Jardin de Pamplemousse, já famoso e maior jardim botânico das ilhas francesas do Índico. Luís de Abreu chegou então no Rio de Janeiro , nova capital do Império, a bordo do veleiro La Ville d`Autun, trazia comida e belezas vegetais raras escondidas em sementes e mudas.



Ao chegar ao Rio de Janeiro, ofertou tais "dádivas" de especiarias, em junho de 1809, a D. João, o qual aceitou as ditas sementes com muito grado. O regente deve ter ouvido descrições e elogios sobre as espécies surrupiadas. Plantadas as sementes das caixas, pouca coisa vingou, entre as espécies aclimatadas nesta ocasião estavam as toranjas, a árvore do carvão e a saboeira. Provavelmente a descrição do porte, da elegância e da raridade devem ter despertado a curiosidade real sobre a inusitada areca. Certamente encontrava-se ainda no estágio de muda pequena envasada, o plantio da palmeira ofertada se fez só em 1813. Depois de crescida, a garbosa palmeira faria história no paisagismo nacional !



D. Leopoldina chega ao Rio de Janeiro em 1817, cerca de  8
anos após o plantio da Palma Mater.

Nas ilustrações do desembarque da Imperatriz Leopoldina de Habsburg, interessantemente, observa-se uma alameda de palmeiras cercando o morro do Mosteiro de São Bento. Pela elegância mostrada nas imagens podem ser palmas imperiais jovens, pelo porte seriam irmãs da palma-mater, ou provavelmente sejam jerivás nativos, muito bem desenhados.


A Palma Mater, como ficou conhecida, floresceu pela primeira vez em 1829, vinte anos depois de germinada. Para assegurar ao Jardim Botânico o monopólio total dessa espécie, durante o governo de D. João, não eram permitidas nem mesmo as visitas de estrangeiros ou de visitantes ilustres.


Essas só foram autorizadas em 1824, já no reinado de Pedro I, na administração de Frei Leandro do Sacramento, mas os raros visitantes eram acompanhados por um soldado da guarda do estabelecimento. Espécies de valor comercial eram questão de Estado, podiam virar riqueza econômica e alimentar milhões.


Acima duas fotos estereoscópicas antigas e raras, provavelmente da década de 1860, identificadas originalmente como mostrando a formação da grande aleia do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Num primeiro momento achei não ser o mesmo sítio, o descampado do entorno nos confunde, todavia comparando com a gravura imediatamente mais acima, pareceu ser. São ilustrações muito parecidas, mostrando a palmeira menor no início do segmento de aleia, tanto na gravura como na foto.



Estereoscopia é o nome da técnica.

Esse tipo de foto duplicada dava ao observador a ilusão da realidade tridimensional, se vista duma certa distância ou usando aparelhos. Um truque ótico muito usado como atrativo nessa época de tantas novidades tecnológicas.

Jardim Botânico em 1875, a vegetação cresceu bem .

O então diretor Serpa Brandão, chegou ao extremo de mandar queimar todos os frutos excedentes da Palma-Máter, percebe-se que já era nesse tempo uma espécie valorizada e a queriam privativa da realeza. Entretanto, como estamos no Brasil, à noite, os escravos subiam nos troncos, colhiam os frutos e os vendiam aos novos ricos interessados em maiores status, tudo na clandestinidade.


Aléia Barbosa Rodrigues.

Além do plantio das espécies oriundas das aventuras de Luís de Abreu, D. João mandou vir de Cayenna ocupada, mais sementes de especiarias e plantas medicinais, do Ceará veio a linda palmeira indígena chamada Carnaúba, em 1810. Fundaram-se outros hortos de aclimatação, os de Belém do Pará e Olinda ficaram também famosos. A Administração da Fábrica de Pólvora foi entregue ao Marechal Carlos Antônio Galani Napione, sendo sua Direção entregue ao esperto Luís de Abreu Vieira e Silva. Este sugeriu a D. João o aproveitamento dos terrenos devolutos próximos, para ali instalar um Horto Botânico, com o fito de implementar espécimes vegetais estrangeiros na agricultura brasileira. A ideia era boa, sendo produzidos aqui, esses condimentos sairiam mais baratos em relação as distantes Índias ou de Macau; poupava-se o frete, ganhava-se em tempo. Não haveriam tantos riscos marítimos e os excedentes poderiam ser exportados para a Europa em condições economicamente mais vantajosas. A Fábrica de Pólvora, também ali funcionou até 1826, quando foi estrategicamente transferida para a Serra da Estrela, em Magé, na então Província do Rio de Janeiro.


Aléia Cândido Baptista de Oliveira.

Por edital de 27 de julho de 1809 a Junta do Comércio tornou público: o Príncipe Regente concederia prêmios em dinheiro ou medalhas honoríficas a quem introduzisse no país , ou fizesse aclimatar, árvores de especiaria fina da Índia. O Ministro Conde de Linhares, solicitou então ao Senador de Macau, Rafael Botado e Almeida, e este mandou vir agricultores chineses, bem como sementes de chá, noz moscada e fruta-pão, além de outras especiarias, para aqui aclimatarem. Com a chegada de 300 chineses em princípios de 1811, tentou-se fazer andar o projeto do chá brasileiro. Mas, por por outro lado, em vez dos portugueses mandarem vir agricultores especializados da China, vieram sim, todos os bandidos das prisões de Macau. Trouxeram várias espécies de jasmins e árvores de forte perfume, como a Magnólia Amarela ( Michelia champaca ) e a Falsa-Murta ( Murraya exotica ) , destinadas a perfumar o chá produzido, estes adaptaram-se bem melhor que o próprio chá-da-índia.


Os estranhos chineses não plantavam quase nada, vendiam as mudas e sementes como camelôs pelas ruas da cidade, com o dinheiro arrecadado, compravam ópio nas boticas, o qual fumavam no rancho onde dormiam no Alto da Boa Vista. Os portugueses não entendiam porque esses chineses ficavam horas e horas a fio sentados ao chão, lá no Alto da Boa Vista, com aquele cachimbo enorme na boca, olhando para a paisagem.


Vista Chinesa, famoso mirante carioca.

Eles ficavam ali admirando a beleza do lugar, por esse motivo, batizaram o rancho onde viviam como Vista dos Chins, ou Vista Chinesa, o nome pegou. Em 1905/6, o Prefeito Pereira Passos, em lembrança a esses chineses, de triste destino , muitos suicidaram-se por não adaptarem-se a cultura local, construiu um quiosque de ferro fundido no local.


 
 O quiosque dá a impressão ao longe de ser feito de bambu, gracioso
 e leve na paisagem mostra uma vista inesquecível da cidade.
.
Busto de D. João VI, próximo ao  local  de plantio da Palma Mater.


Em 1909, o Diretor do Jardim Botânico João Barbosa Rodrigues, mandou erguer um busto em bronze de D. João VI, esculpido por Rodolfo Bernardelli, bem defronte ao famoso vegetal. O Dr. Guilherme Guinle doou em 1934, o belo gradil que ainda cerca o recinto histórico.



A Palma Filia sucede a Palma Mater , no mesmo local e com o mesmo gradil.
A Palma Mater sobreviveu a tudo e a todos, sendo morta por um fulminante raio em outubro de 1972 e abatida finalmente em janeiro de 1973, para não cair sozinha; tinha então honrosos 163 anos e na ocasião, a árvore já atingia a altura de 35 metros. Em seu lugar o Diretor Dr. Leonan de Azeredo Penna, mandou plantar em 1973 uma Palma Filia.    

    As monumentais alamedas de Palmeira Reais Jardim Botânico foram plantadas , exatamente a partir de1842, sendo diretor Bernardo José da Serpa Brandão. Plantou-se exclusivamente palmeiras-filhas, todas descendentes diretas da Palma Mater , constituindo-se assim as aleias Barbosa Rodrigues e Candido Baptista. A partir de então seriam chamadas de "imperiais", aquelas descendentes diretas da Palma Mater. As outras espécies e cepas de palmeiras aparentadas do mesmo gênero, são denominadas "reais", as aqui extensivamente descritas são as únicas verdadeiramente "imperiais". Em 21 de setembro de 1951 , em solenidade memorável , sendo diretor Paulo de Campos Porto, nos espaços existente entre as centenárias, foram plantadas outras, também descendentes de Palma Mater, para substituir as originais e assim conservar as características paisagísticas do Jardim Botânico ao longo do tempo. Logo após essa época a instituição caiu em grande abandono, com grande perda de exemplares históricos e de coleção. Só se recuperaria anos mais tarde, com gestão de João Barbosa Rodrigues, este voltava de uma experiência infeliz, com o Museu Botânico de Manaus. Esforçou-se então em recuperar o Jardim de D. João , desde o final do Império e início da República, até seu falecimento em 1909.



Foram, filhas ou netas da Palma Mater, as 128 palmeiras componentes da alameda principal, em frente ao portão de entrada – a Aleia Barbosa Rodrigues. Têm o mesmo parentesco as 142 palmeiras da aleia paralela à rua Jardim Botânico – Aleia Cândido Baptista de Oliveira. Foram suas filhas, netas ou bisnetas, as finadas palmeiras do Canal do Mangue, as da rua Payssandú e as do Palácio Itamaraty. São finalmente suas descendentes diretas, todas, absolutamente todas, as palmeiras da mesma espécie existentes no Rio de Janeiro e em todo o Brasil.    

 
Curiosamente, também as palmeiras eram comparadas à elementos da arquitetura clássica, tal foi o caso de Charles Ribeyrolles, este em sua obra "Brasil Pitoresco", registra a admiração pelo efeito causado no seu encontro, em 1858, com as famosas palmeiras: " Nesse jardim, pobre em espécies, deficiente quanto à ciência, se ostenta dupla colunata como jamais tiveram palácios e templos. É uma aldeia [sic] de palmeiras em dois renques. Regularmente espaçadas, cheias em baixo, de fuste esbelto, abrem-se em capitel numa coroa de flores. Nunca cabeças de fidalgos ostentaram tão belas plumagens. Lá estão elas de guarda, noite e dia, imóveis como mármores. Aos raios do luar, à vista desses alvos espectros,dir-se-ia uma enfiada de colunas tebanas. "    

 
Em Viagem ao Brasil, o livro das impressões do casal Agassiz, sobre o país, há uma gravura da mesma aléia, feita a partir de uma fotografia de Augusto Stahl, tirada por volta de 1865, acompanhada do seguinte comentário: "O que empresta, porém, a esse jardim uma fisionomia talvez única no mundo é a sua longa e feérica alea de palmeiras, cujas árvores têm mais de oitenta pés de altura. […] Retos, rígidos, polidos como fustes de granito gigantescos, semelham, no deslumbramento duma visão, a colunada sem fim de um templo do velho Egito."    
 
Assim ocorreu a sua disseminação:  associada à ideia da nobreza!


Regina Casé, na sua estupenda série de TV Um Pé de Quê ?, nos
conta sobre esta história de impérios e palmeiras.




Inesquecível paisagem, lugar de  paz e palmeiras !
 Inesquecível !



Click nas fotos acima e as veja no tamanho maior
  -  transporte-se para o Jardim de D. João.
   
Com a morte da mãe, o Príncipe Regente foi aclamado rei D. João VI; alguns anos após é obrigado , por problemas políticos, a voltar para Portugal, mais precisamente em 1821, foi-se com lágrimas nos olhos. Foram duas fragatas e nove embarcações de transporte a retornarem à corte portuguesa em Lisboa, 40 mil pessoas voltariam,embarcado junto iria todo o ouro de lastro bancário do Brasil e o prestígio de ser o centro do império. Provavelmente envenenado numa conspiração, D, João VI morreria suspeitamente em 1826, aos 59 anos de idade. Logo após sua partida do Brasil, seu filho Pedro proclama a Independência e torna-se o primeiro imperador.


Partida da Rainha D. Carlota , D. João volta contra a vontade  para Portugal e nunca mais terá paz desfrutada no Rio de Janeiro - morreria envenenado poucos anos depois .

Tendo problemas constitucionais por aqui e enfrentando a usurpação do trono português por seu irmão, trono destinado por herança à sua primeira filha, Pedro I acaba abdicando e retornando a Portugal para enfrentar uma guerra de restauração. Deixa o trono brasileiro para seu filho mais novo, ainda uma criança, mas ao completar 15 anos assume suas funções de monarca do maior país tropical do mundo. Pedro II foi finamente educado, falava sete idiomas, era culto e intelectualizado, governou o país por quatro décadas, expandiu e firmou o continental Império do Brasil.



V) Um Estandarte da Elite.    

 
O Brasão do Império do Brasil ostentava ramos de fumo e de café, mas
seu maior símbolo vegetal foi a palmeira-imperial.



O Imperador Pedro II, seu palácio, sua coroa e seu trono.

O Ciclo da Lavoura Cafeeira trouxe maior luxo e riqueza ao país, a tradicional simplicidade colonial barsileira começou a se sofisticar, a palmeira de D. João expandiu descendência e incorporou-se à simbologia nacional. Onde existia altaneira, passou a sinalizar a proximidade do poder, da elite e da riqueza. A difusão das palmeiras pode ter sido o hábito de D. Pedro II de usar as sementes da palmeira como símbolo de proximidade ao poder e lealdade à coroa, disso resultando a sua presença nos jardins dos solares e fazendas da nobreza do Império brasileiro.


O plantio foi intensificado e deve mesmo ter se tornado moda na capital do império a partir da década de 1840 ou 1850, coincidindo com a maioridade de D. Pedro II e a necessidade do fortalecimento simbólico do II Império.

Deve ser procedente a história segundo a qual as sementes da palmeira foram distribuídas pela monarquia aos súditos agraciados, como sinal de proximidade ou lealdade ao poder monárquico, afinal é nesse período que se inicia a distribuição de títulos de nobreza, uma clara tentativa de formar uma corte afinada com o jovem imperador.


Tal como sua mãe, a Arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo, o segundo imperador apreciava muito as ciências naturais. Deu continuidade ao gosto do avô, incentivando o plantio das palmeiras, antes reais e agora imperiais, onde houvesse qualquer tipo de prédio ou local relevante lá estariam as palmeiras-imperiais mostrando ao longe a importância do sítio.


Paço de S. Cristovão - Residência oficial no Rio de Janeiro.

Palmeiras Imperiais ladeiam o antigo prédio do paço- atual Museu Nacional.



Paço de S. Cristóvão, um dos sítios históricos  mais importantes do país.



Palácio de Petrópolis - Residência de Verão.


Concomitante à expansão econômica do Império, houve uma tentativa deliberada de formar, uma "nobreza" brasileira, os títulos de nobiliárquicos dessa nova oligarquia econômica , ou de servidores e colaboradores do serviço público ou militar, eram principalmente de: visconde, barão e marquês. Não havia transmissão hereditária dos títulos, eram de caráter estritamente pessoal e extensivo apenas à esposa, podemos entendê-lo como um agrado pessoal do monarca.



Foram outorgados cerca de 400 títulos de nobreza nos dois reinados brasileiros, a maior parte eram de títulos de menor relevância: viscondes e barões; só dois Duques foram sagrados , o de Santa cruz e o de Caxias. Nesse contexto, a palmeira imperial plantada diante de uma residência, era um sinal inequívoco de sucesso econômico e social. Mostrava já na paisagem, a dignidade do prédio e do proprietário.




Repartições públicas importantes, vias de acesso e igrejas, também repetiam essa moda. A incomum altura da palmeira, sua elegância de porte e a durabilidade secular, demonstravam signos gratos à elite endinheirada e ascendente dessa época. Surgiam pela primeira vez, camadas sociais significativas de brasileiros influentes, ricos e governantes.


Estação de Trem Privativa da Família Imperial no Paço de São Cristóvão- As Palmeiras -Imperiais 
possuem a característica de imprimir ares de grandiosidade até aos cenários mais singelos.


O Palacete da Princesa Isabel, no bairro de Laranjeiras, era acessado, via Praia do Flamengo, pela Rua Payssandú. O Imperador mandou plantar um imponente corredor de palmeiras imperiais nesse caminho, tornando-o célebre.



Antiga Sede da Fazenda dos Príncipes em Joinville- SC, a Princesa Francisca, irmã de D.Pedro II, foi casada com o Príncipe de Joinville - filho do rei da França. Esse corredor de palmeiras é um dos mais imponente do Sul do país.


Alameda de palmeiras imperiais em Belém do Pará - 1889.

 




Sedes de Fazendas Antigas: 
a Palmeira Imperial sempre presente 

 

Nas fotos abaixo podemos observar exemplares juvenis de R. borinquena.
 Folhas e tronco diferentes, efeito paisagístico menor.





Igrejas também harmonizam muito  bem com o estandarte do Império:  

  
 


 
VI) A Nova República dos Velhos Barões do Café.

 
Acima vemos Palmeiras Reais de Porto Rico à esquerda
  e duas Palmeiras-Imperiais à direita.




 A Falsa Palmeira Imperial - Roystonea borinquena.

 
Nas fotos acima a Praça Barão do Campo Belo em Vassouras - RJ - As palmeiras foram plantadas em 1857, no auge do Império, mas a ambientação é bem característica do período inicial da República. O conjunto arquitetônico e paisagístico apresenta sublime harmonia e particularmente muito me agrada. Na foto, entre as verdadeiras palmeiras imperiais se vê outra espécie, bem parecida, porém distinta na comparação visual: a Palmeira Real de Porto Rico - (R. borinquena), além de altíssimas Palmeiras de Leque ( Livistona chinensis ), também características do período.

Após a abolição da escravatura, a monarquia brasileira perdeu apoio junto ao baronato dos cafeicultores, já no ano seguinte houve um golpe militar e a República foi proclamada. A Família Imperial foi expulsa e exilada, em menos de 48 hs, porém ficaram os Barões do Café.

Paradisíaco jardim interno Palácio do
 Itamaratí no Rio de Janeiro.

Acima o Palácio do Itamaratí - Primeira sede da República, posteriormente antigo Ministério das Relações Exteriores, os cisnes brancos, o lago e as palmeiras imperiais formavam um conjunto famoso pela paz, harmonia e grandeza.



Acima o Largo do Machado - Rio de Janeiro - As palmeiras ainda 
pequenas e décadas depois, já adultas.


Após o prejuízo causado à elite cafeeira pela libertação dos escravos,  a Proclamação
 da República tornou-se uma questão de tempo.

Paisagem republicana marcada pelas palmeiras plantadas no auge do império.

A elite continuava a mesma, o gosto pelas palmeiras imperiais também não perdeu fôlego, ao contrário do que poderíamos esperar. O paisagismo com essa espécie, chega ao auge justamente nessa fase inicial republicana. Vários exemplos sobreviventes atestam a grandeza do iniciante paisagismo brasileiro.



Palácio da Liberdade - Antiga Sede Governo de Minas Gerais.



Palmeiras Imperiais centenárias - Colégio Anchieta em Nova Friburgo.



Palácio dos Leões - São Luís - MA


Praça Gonçalves Dias em 1950 - São Luís do Maranhão .



Pátio interno da antiga Casa da Moeda do Rio de Janeiro.

Como a espécie demora muito para atingir o porte monumental , só na paisagem republicana do início do Séc. XX aconteceu a maturidade visual dos projetos paisagísticos implantados durante o segundo reinado.

   O Palácio do Catete - originalmente Palacete do Barão de Nova Friburgo - foi especialmente aquirido para sediar a recém proclamada República Brasileira O prédio e os jardins são interessantes por serem muito luxuosos para os padrões construtivos dessa época. Com a riqueza derivada da lavoura de café no auge, erguiam-se suntuosas residências, o jardim é de autoria do talentoso Paul Villon, como também o é Parque Trianon em São Paulo.


O corredor de Palmeiras Imperiais do Palácio do Catete , o parque e o corredor de palmeiras são dos mais perfeitos entre os dessa época. A proximidade com o mar deixa os exemplares desta espécie magníficos, tornam-se altíssimos e perfeitamente elegantes. Longe da umidade constante no ar , muitas vezes fenecem ou tornam-se disformes.



Universidade Federal de Viçosa- MG - Prédio Principal. Exemplo de perfeita aclimatação
de Palmeiras Imperiais verdadeiras às condições mais interioranas.



Devido ao crescimento lento, o cuidado continuado na preservação dos exemplares   e do conjunto paisagístico, é recompensado com a perfeição do efeito visual.




Vista atual das palmeiras imperiais do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Em 1857, foi iniciada a construção do Canal do Mangue, a maior obra de saneamento do Rio de Janeiro na época do Império, possibilitando a extinção da Lagoa da Sentinela e dos pantanais de São Diogo, estes estendiam-se até quase o Campo de Santana. A obra foi contratada ao Barão de Mauá, foi inaugurada quatro anos depois em 1860, juntamente com sua fábrica de gás para iluminação pública e doméstica, localizada próxima do Rocio Pequeno. As cerca de 700 palmeiras-imperiais estabelecidas em 1876, eram todas filhas da Palma-Mater, herdando da mãe a clássica elegância . Marcam o auge desse estilo de paisagismo, nada no país foi tão grandioso como essa sequência de lindas palmeiras.
 

Na grandiosidade adulta das palmeiras do Canal do Mangue, a Belle Époque Republicana , bem do início de Séc XX, achou o seu boulevard mais impressionante. Quatro fileiras de Palmeiras Imperiais, de grande impacto cênico, um dos conjuntos paisagísticos mais imponentes do mundo.


Com a expansão dos automóveis e da poluição, as palmeiras do
majestoso canal começaram a morrer aos poucos .

R. oleracea é muito sensível à poluíção, R. borinquena - A Palmeira Real de Porto Rico ou Palmeira Coca-Cola- é bem mais indicada para arborização urbana e para locais onde ocorrem geadas nos dias mais frios no inverno.




As fotos acima mostram o lento processo de fenecimento e destruição desse marco paisagístico carioca, um dos mais espetaculares projetos paisagísticos do país . A abertura da Avenida Presidentes Vargas, a poluição dos carros, as indústrias estabelecidas no antigo bairro imperial de São Cristóvão e a impermeabilização do solo, além de outras impiedosas obras de infraestrutura, destruíram essa bela arborização.



Na década de 1970, com a explosão do trânsito de veículos , a situação se agravou e os últimos segmentos, mais conservados, desse gigantesco conjunto de palmeiras imperiais, desapareceram da paisagem. Hoje restam apenas alguns poucos indivíduos, aos pares ou isolados. Uma perda para o Rio de Janeiro, ficaram só as fotos ; o Bairro de São Cristóvão foi deliberadamente descaracterizado do seu rico passado histórico, hoje mistura os restos arquitetônicos da monarquia, com a poluição das indústrias, espantosamente ali instaladas. Sobraram apenas quatro exemplares de palmeiras no canal do mangue, agora só temos as imagens do passado.



Acima uma Rua em Taubaté- SP. Outro notável e antigo 
conjunto de palmeiras imperiais.



Jardim Zoológico - Rio de Janeiro - Antigas e novas, a tradição do corredor de palmeiras continua recorrente e recomendável para sítios históricos. Esta foto mostra bem: mesmo quando ainda pequena, já é possível distinguir a palmeira imperial verdadeira, apenas pela folha.



     



VII) Imperial e Moderna.    


 
O arquiteto Oscar Niemeyer e uma maquete do Palácio do Planalto, nela se observam dois projetados corredores laterais de palmeiras imperiais,  utiliza-se o mesmo artifício paisagístico clássico  para conceder porte e dignidade à nova e moderna sede do governo brasileiro. O clima seco de Brasília não seria favorável ao crescimento da R. oleracea plantadas nesta época na proximidade de outros edifícios, talvez a R. borinquena fizesse melhor figuração à ousada arquitetura dos palácios.



Com o advento da arquitetura de Le Corbusier e de Oscar Niemeyer, acompanhada dos jardins modernos de Burle Marx, seria de imaginar a tradicional procissão de palmeiras imperiais tendo o mesmo fim dos monumentos e prédios da monarquia brasileira: o mais profundo desprezo e abandono. Porém não foi bem assim que ocorreu e vale a pena comentar essa nova fase paisagística da Palmeira Imperial, agora como companheiras dos prédios emblemáticos do Brasil Moderno.


Palmeiras Imperiais do Congresso Nacional - Brasília.

 Sendo uma imagem clássica do passado foi surpreendentemente bem aceita, até mesmo preservada na modernidade urbana mais metropolitana. Oscar Niemeyer, por exemplo, é fortemente avesso a qualquer paisagismo "concorrente" com a pureza de suas formas arquitetônicas. As palmeiras imperiais estão presentes em alguns ícones arquitetônicos de Brasília, sinal conceitual de sua harmonização com qualquer paisagem.  

No Rio de Janeiro a Rua Paiçandú, antigo e clássico corredor de palmeiras da cidade, continua
 com a tradição do Séc. XIX, as palmeiras mortas são repostas, a rua continua estupenda.


Cenário urbano único.

Na foto abaixo. as palmeiras deixaram a praça de Belém do Pará mais elegante e saudosista, se percebe o passado, entre outros aspectos a palmeira cresce lenta, indicando assim o tempo passado através da imponência de sua altura, torna-se então um relógio involuntário. Imaginem a foto sem as palmeiras, depois sem o chafariz antigo e então avaliem o efeito proporcionado pela espécie.



Para dar um toque de classe e um "contexto" histórico a um lugar,  através do paisagismo,
o uso dessa espécie é absolutamente referencial.


Depois de plenamente registrada pela mente treinada em aspectos botânicos,
 a palmeira imperial verdadeira e de porte e formas inconfundíveis
 



Outras espécies muito usadas no tempo da monarquia brasileira, tornaram-se também bastante características desse paisagismo brasileiro clássico, não estão mais em uso e podemos dizer que nem de longe mantiveram a recorrência da palmeira imperial.


Ficus microcarpa.

 

Livistona chinensis.

A figueira hindú Ficus microcarpa, espécie de grande impacto visual e cênico, é pouco utilizada atualmente. Em parte por causa da praga do "lacerdinha", um inseto que a infestava nos anos 60-70, criando uma contraindicação para o seu uso. Também a palmeira Livistona chinensis, de grande uso no passado , anda desaparecida dos projetos modernos.


Para a Parte II - Botânica
Aterro do Flamengo - Jardins do Museu de Arte Moderna.

3 comentários:

  1. Vc além de escrever e contar muito bem esta história, também nos oprime com a surpresa da sequência de fotos que se descortina espetacularmente, muito bem escolhidas. Meus parabéns, esgotou o assunto !

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  2. Acompanhei com grande interesse seu documentário sobre a "palmeira imperial".Sou bióloga e recentemente escreví um livro (não publicado por falta de dinheiro para edita-lo) sobre as Casuarinas (Casuarina sp.) da Região dos Lagos(RJ). Estas tão incompreendidas árvores exóticas, estão também intrinsecamente ligadas ao histórico das suas palmeiras. Porém o destino de ambas foi diametralmente oposto. Enquanto aquelas tem sido condenadas (muito injustamente ao ostracismo e à morte) as palmeiras, e os indefectíveis coqueiros, tem tomado TODOS os espaços das regiões costeiras em detrimento de quaisquer outros tipos arbóreos nativos ou não!. Lendo seu texto -excelente- entendí finalmente o "porquê" disto...É a nostalgia da nobreza, ou a apologia a ela, talvez (rsrs)... O fato é que as Casuarinas já estão por aqui há mais de 1 século e meio, devendo, por justiça, ser consideradas "naturalizadas" como todas as outras exóticas o foram, e não mais serem vítimas das motosserras, como ví acontecer com antiquissimos exemplares da Região dos Lagos, por conta do único "crime" de serem "exóticas"...A proposito, poderia dizer-me qual seria a espécie da "ÁRVORE DO CARVÃO" trazida pelo Luis de Abreu? Mais uma vez, parabens!

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  3. Em primeiro lugar: a bela Árvore do Carvão é a Mimosa sapeciosa Jaq. também conhecida como Albizia lebbeck (L) Benth de acordo com Rosa Nepomuceno, eu nunca vi esta espécie e a desconheço fora da internet. As palmeiras eram conhecidas anteriormente na Botânica como Ordem Principes, isto já diz tudo, são as mais belas das plantas após as orquídeas humilharem tudo que é verde no planeta. Palmeiras são de paradisíaca nobreza, estupendas e magníficas nos remetem à arte, ao que é soberbamente altivo e perfeito, sua ascensão de folhas sobre a elevação do estipe é a alegria dos olhos. Casuarinas são árvores rústicas e resistentes, mais rudes, abundantes, capturam os ventos do mar em suas formas e por isto ficam até elegantes por vezes, contudo são árvores de fácil propagação adaptação e crescimento, como os eucaliptos, sendo estes mais variados e algumas espécies como o E. citriodora e o E. cinerea são de fato ornamentais. Então creio que as comparações não são favoráveis às Casuarinas, paramos por aqui. Um abraço e obrigado pelas palavras

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