VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


segunda-feira, 10 de março de 2014

Estilo Missões e o Neocolonial - Parte II







"Em versão tupi,
para entupir de ideias
 a cabeça de toda trupe"

Vitor Pirralho






"Deus vive nos lugares 
onde deixam Ele entrar."

Paulo Coelho


"Quem viu,
quem degustou
Gostou do que sentiu
Digeriu, arrotou


Canja de laranja
Casca de galinha
Isca de polícia
Farda de sardinha


A carapuça serviu


 Pitoresco Brasil "
 Vitor Pirralho



Não deixe dever
 a Parte I

Click aqui



Uma estética internacionalista
 com molho à Paris.


Uma forma de arquitetura internacional
 tenta se firmar.


O Paço da Liberdade, em Curitiba, é um elegante exemplo de Art Nouveau dos primórdios
 do Ecletismo, depois o estilo se tornaria esfuziante e afrancesado, com ares palacianos;
 mostrando-se em impacto oposto, ficou exagerado e estranho em terras brasileiras,
 como foi também o esquisito Neogótico. É a  única edificação  tombada
 pelo  Patrimônio Histórico Nacional no Estado do Paraná.

Mesmo em Havana encontramos a ousadia e
delicadeza construtiva  deste estilo
nouveau em meio ao Ecletismo
 tão característico das
 ruas de Cuba.


O Art Nouveau mostrou-se inacreditável, teatral e futurista.

Uma estética forte, variada e multi-referenciada,
nunca vista anteriormente.

No Art Noveau encontramos os primórdios
flamejantes do Ecletismo de impacto.


Uma explosão criativa que iria estabelecer
um novo rumo estilístico que
 conduziria ao Ecletismo.

Muitas vezes me surpreendo com esta ousadia estética.

 
Todas as fotos acima são do vibrante patrimônio Art Nouveau de Riga,
a capital da Letônia; de tão impressionante, foi tombado pela
UNESCO como Patrimônio da Humanidade.



O ECLETISMO UNIVERSAL
E SUA VIGOROSA EXPANSÃO



Nos prédios da fase inicial do Ecletismo, como acima na elegante Ópera de Saigon, percebe-se  logo a forte influência francesa, talvez mesmo ainda ostentando um toque da "art nouveau parisienne" nas janelas. O contraste entre o gosto estrangeiro e as estéticas locais propunham a globalização deste estilo com evidente a prevalência das influências estéticas estrangeiras junto às elites dominantes locais.

 Museu Egípcio do Cairo: 
eclético com detalhes historicistas.

As edificações, independentes do tipo de uso, apresentavam um característico aspecto palaciano europeu, marca forte deste estilo arquitetônico. Os típicos atlas e cariátides nouveau sustentam as entradas nas duas edificações mais acima, e compõem a fachada do museu. Depois desta primeira fase, esta estética perderia força, dando espaço para projetos ainda mais rebuscados e contrastantes.

O Ecletismo espalhou-se logo pelo Ocidente, almejando ser tudo, mostrando ser rico, exibido e nada austero. Recheado de sonhos para os que desejavam sonhar e sempre muito palaciano; o clima de luxo e veleidades parisiense invadiu os quatros cantos do mundo.


Contraste do Capitólio de Havana e seu entorno também eclético,
e mesmo no arruinado sobrado, ainda reina o ar palaciano
parisiense tão típico deste estilo cheio de adornos,
que foto magnífica para quem
tenta apresentá-lo .

Já esta sensacional e singular edificação açoreana, mesmo considerando
ser o expressivo colorido contemporâneo, pode ser determinada
como um ecletismo naïf, quem sabe, talvez,  minimalista.



O Ecletismo iria transfigurar o Rio de Janeiro, a jovem República Brasileira substituía
o sisudo Neogótico vigente nos últimos tempos imperiais pelo ares ecléticos,
nesta época em que se derrubava o casario colonial para implantar
os sobrados ecléticos afrancesados surgiria uma
nova  fase da arquitetura brasileira. 







A Avenida Central, atual Av. Rio Branco, na antiga capital federal brasileira,
na época em que foi inaugurada, no dia 7 de setembro de 1904.
Verdadeira Paris dos trópicos surgiu no calorão carioca.



 







A abertura da eclética Av. Central, bem no meio do antigo centro colonial,
catapultou o Rio de janeiro à condição de Paris dos Trópicos !


A Praça Paris deu ares verdes ao novo
estilo francês da capital federal.


Grandes hotéis ecléticos davam novos ares ao ainda dominante
 casario colonial do centro Rio de Janeiro.


 



Frontões Ecléticos, do art nauveua ao quase neocolonial,
 anunciariam uma nova estética para novos tempos, as
construções populares e comerciais brasileiras
 eram mais vistosas do que bem construídas.
 As rosas e a colmeia no abacaxi
são graciosas e notáveis.

Acrotérios ecléticos em vaso
 e vaso com fogaréu.

Os prédios ecléticos tomaram espaço
por todo o país  e o mundo.




 A  eclética Ópera de Manaus era o símbolo óbvio da riqueza
que ainda dormia esquecida nos fins do mundo.




 
 Luxo no fim do mundo: viva a borracha das selvas do Brasil.


 Nem nos tempos do Império se viu teatro igual.


 Esplendores ecléticos até
na remota Amazônia.

 O Brasil, por fim endinheirado, esbanja como um burguês
abençoado recentemente pela fortuna inesperada.

 Palácio do Rio Negro em Manaus.






Os primórdios apresentaram prédios já algo
 palacianos, mas ainda com bastante sobriedade.



A Ópera de Paris seria inspiração para o Teatro Municipal da capital do Brasil.


No Rio de Janeiro uma arquitetura refinada, com material de construção
 importado, interiores de grande beleza e ostentando ricos acabamentos.
 
A Família Imperial deposta e exilada na Europa deve ter ficado boquiaberta
com a gastança republicana, um luxo só observado nas igrejas
 barrocas dos séculos anteriores.

Com uma petite Ópera de Paris, o Rio de Janeiro 
passou a ser chamado a "Paris dos Trópicos"

Joia arquitetônica do Brasil: o luxo dos seus acabamentos
 e do seu conjunto geral são altamente singulares no padrão.
 
Da discreta elegância inicial, com o tempo, as edificações começam a crescer em imponência e ornamentação. O apogeu do ecletismo também seria culminado, como foi no Barroco, com um exagerado "rococó". As edificações começaram a assemelhar-se aos "bolos de noiva" muito confeitados. Mostravam-se tão altos como largos, geralmente brancos e excessivamente ornamentados, quase sempre encimados por vistosas cúpulas ou frontões, como uma necessária apoteose aos céus que velam pela Humanidade. "Uma caricatura de si mesmo", foi nisso que o Ecletismo se derivou, em alguns momentos surgem construções de um mau gosto exagerado e inacreditável. Pareciam estar destinados a agradar a uma burguesia necessitada de cenários comunicativos da gloria da sua ascensão social, algo assim, se não for exatamente isto estamos bem próximos.





Por fim pudemos ver um inesquecível encontro da arquitetura palaciana
com a festividade burguesa, exuberante e feliz, como numa festa de casamento.

Palácio do Rio Branco - Salvador




 Os Palácios Guanabara e Laranjeiras , ambos edificações oficiais fluminenses,
exibem um ecletismo francês, rico e exuberante, como era de gosto da
 época. O último, foi por muito tempo a residência oficial da
Presidência da República no Rio, o Palácio do Catete foi
tão somente a sede do Poder Executivo.


O Laranjeiras, antigo Palacete Guinle, foi
erguido com materiais 100% europeus,
e sintetiza bem a noção de luxo
da capital federal na época.

Palácio francês !

O Palacete Guinle de Paula Machado em Botafogo no Rio,
e o Palácio dos Campos Elísios em São Paulo.
Um tempo que não volta mais !



A sede da  Bolsa do Café de Santos serve como exemplo do que aqui
chamamos de "bolo-de-noiva", por dentro e por fora é bem típico.





 O Ecletismo é o primeiro grande estilo arquitetônico que encontrou um Brasil mais bem
desenvolvido economicamente , mais urbano e já com uma forte tendência cosmopolita.



Com o tempo o Ecletismo tornou-se
 esteticamente explosivo e
instável !


Um Brasil muito disposto a aparentar um luxo que o
 apogeu da sua agricultura podia financiar.


Exposições Nacionais de 1908-22: 
A Bomba Eclética explode
 no Brasil !
“Todos os outros pecados fogem de Deus,
e só a soberba se opõe a Deus” 

São Thiago
A receita completa para erguer prédios "bolos-de-noivas", destes
 com deliciosa massa feita de gastança pública, continha impostos de:
café de S.Paulo, cacau e jacarandá da Bahia, leite de Minas,
açúcar do Nordeste, charque do Rio Grande, erva-mate
 do Paraná e borracha da Amazônia.




A Exposição de 1908:
  
 "Priorizar a estética é dar
 prazo de validade a algo
 que nunca venceria."

 " Tudo o que é supérfluo, 
tudo aquilo que podemos
 suprimir sem alterar a 
essência é contrário à 
existência da
 beleza."
 

Vamos então observar o início da grande explosão eclética que agrediria com
 veemência o cenário colonial do Rio. O Império já estava morto, mas
a República era bem viva; o erário público sobreviveria à
 gastança, porém com cicatrizes e deixando no ar
 um forte aroma de desperdício.

É a partir deste ponto que o Ecletismo ficaria
um tanto estigmatizado e mal visto.

A decadência viria rápida !

Vamos ver o auge!

Ufanismo no cenário paradisíaco da Praia Vermelha, o Pão-de-Acúcar, que me parece teria sido uma ilha, teve seu entorno imediato aterrado, surgindo o agradabilíssimo bairro da Urca, esta foi a melhor herança dessa bizarra exposição que marca o início do alto rococó do ecletismo brasileiro. O Portal da exposição é carnavalesco, de um desenho rebuscado ao extremo, o termo eclético rococó é o que melhor descreve este estilo de ornamentação excessiva, cheio de detalhes em demasia.

 
Reparem nas fotos e vejam que toda esta área foi aterrada, inclusive a Praia Vermelha, o Pavilhão de Minas Gerais e o dique ainda alagado marcam a área que seria aterrada, logo deduzimos que originalmente apenas uma curta faixa de terra manteria o Pão-de-Açúcar unido ao continente, deve realmente ter sido uma ilha.

 
 Embora o clima festivo de uma primeira  exposição nacional justifique certos excessos, inclusive de gastos, as construções palacianas eram efêmeras,  já foram erguidas para em pouco tempo serem demolidas, faziam assim no exterior, mas de toda forma nos parece um desperdício pouco cabível num país como o Brasil. As fotos assustam, parecem cenários de brinquedo mas não são, o impacto visual criado é impressionante...

O Governo Federal promoveu esta exposição para comemorar o centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas por D. João VI, e fazer um inventário da economia do país à época. O seu principal objetivo, entretanto, era o de apresentar a nova capital da República - urbanizada pelo então Prefeito Pereira Passos e saneada pelo cientista Owslado Cruz - às diversas autoridades nacionais e estrangeiras que a visitaram.Teve lugar entre 11 de agosto e 15 de novembro de 1908, constituindo-se numa ampla exibição de produtos naturais e manufaturados, oriundos dos principais estados brasileiros. Houve ainda um pavilhão de Portugal. Foi m marco nacional, um momento de ruptura com o passado ibérico e de alinhamento com uma idealizada elegância europeia.

Um delírio parisiense em meio às espinhentas bromélias que cobrem
os paredões dos morros de gnaisse da Praia Vermelha.


O Pavilhão da Bahia é o que mais me agrada, a despeito da
 super ornamentação é pequeno e algo gracioso.



O babilônico Pavilhão de Minas Gerais


O Pavilhão dos Correios.


O inacreditável "horror vacui* na massa construída
 expandida do Pavilhão de São Paulo.

* Apesar da pronúncia estranha e da aparência da palavra, horror vacui quer dizer, em bom latim, horror ao vazio. É um conceito que pode ser aplicado a muitas coisas: arte, decoração, tipografia. É quando o decorador, arquiteto, artista ou desenhista, resolve encher cada cantinho com alguma coisa.

O Pavilhão do Distrito Federal.

Para quem passasse mal com tanto contraste,
havia um posto de Pronto-Socorro.


Tratava-se portanto de uma arquitetura premeditadamente efêmera, como foi tão tradicional nas festividades do Império, naqueles tempos os fac-similes palacianos eram erguidos em madeira, imitando alvenaria. Houve um progresso, nos tempos republicanos a construção era real, mas soerguida para em seguida ser demolida, um planejamento mais atrelado ao desperdício desatado. Não havia riqueza para tanto e a exibição ficou historicamente mal vista; tanto que bem poucos já ouviram falar dela, talvez mereça mesmo ser esquecida por completo.



O Pavilhão Manuelino português.











A Exposição Internacional 
de 1922:



"O olho é o arqui-inimigo do coração,
a mente processa a imagem visível
da mera ilusão estética e projeta a
paixão ao coração que é
o mais tolo dos órgãos."










Exposição Universal do Rio de Janeiro

A comemoração do Centenário da Independência foi o momento adequado para o governo do presidente Epitácio Pessoa recuperar seu abalado prestígio naquele difícil ano de 1922. De novo um ufanismo construtivo foi posto em cena para simbolizar o progresso da nova democracia nacional. A imprensa leal ao governo procurou relatar, em detalhes, todos os momentos da grande festa do dia 7 de setembro. O tom das reportagens era exagerado e patriótico, as edifícações erguidas eram de padrão construtivo muito superior às de 1908. O gosto arquitetônico era igualmente questionável, sediada nas proximidades do antigo Largo do Paço, naquele tempo rebatizado de Praça XV de Novembro, os bolos-de-noiva contrastavam  com as construções coloniais mais importantes da antiga capital federal. Já havia a estética do nacionalismo em muitas construções neocoloniais intermediárias entre este estilo e o Ecletismo rococó.


O Palácio Monroe era a sede administrativa  da Exposição Internacional,
 depois tornou-se sede do Senado Federal no Rio de Janeiro


Iluminação feérica e prédios ecléticos esfuziantes.



A Exposição Internacional era enorme para os padrões brasileiros. O visitante percorria 2.500 metros entre pavilhões descritos pela imprensa como "deslumbrantes monumentos arquitetônicos". A entrada principal ficava na avenida Rio Branco. Foi construída uma "porta monumental" de 33 metros de altura. Na avenida das Nações se alinhavam os palácios e representações estrangeiras. Mais adiante, avistava-se a praça na qual se erigiam os palácios brasileiros, considerados "monumentos majestosos de nossa riqueza e de nossa capacidade de trabalho".

Foram erguidos 15 pavilhões estrangeiros. Na área nacional havia os palácios de festas, dos estados, da música, das diversões, da caça e pesca e muitos outros. Alguns poucos prédios ainda podem ser vistos nos dias de hoje, a maior parte foi sumariamente demolida por serem considerados de mau gosto.

A Exposição Universal durou até abril de 1923, e o número de expositores chegou a dez mil.
 Em setembro, o presidente Artur Bernardes fechou as comemorações do
 Centenário da Independência com uma nova
 parada militar na capital federal.


Acima os dois estilos, lado a lado, o eclético bolo-de-noiva no auge e
 o oposicionista neocolonial lusitano puro e em franca ascensão.


O estilo Lusitano já estava vívido nesta grandiosa exposição internacional.

Experiências estéticas híbridas também são visíveis, a transição da estética
 arquitetônica ficou bem marcada neste momento histórico.




Haviam alguns pavilhões já exibindo uma estética bem intermediária
 entre o Eclético flamejante e o Neocolonial Lusitano.

É possível também observar que alguns pavilhões já apresentavam
 a tendência Neocolonial espanhola-mexicana-californiana revivida.

"Entretanto, o neocolonial pode ser visto como uma das facetas do processo de descolamento da cultura brasileira da matriz intelectual européia, cujas manifestações mais divulgadas ocorrem a partir da Semana de 22. Tão importante quanto arrolar os vestígios do que foi edificado segundo os receituários do neocolonial é recuperar a produção textual que, por força das discussões e disputas, terminou por estabelecer um corpo doutrinário fundamental para a compreensão de uma fase essencial na construção intelectual dos projetos de nação, à esquerda e à direita que se cristalizam a partir dos anos 20." de Carlos Kessel

A foto antiga mostra a colonial Casa do Trem à esquerda, o bolo-de-noiva eclético recém
 construído da exposição ao centro, este mais tarde abrigaria o Ministério da Agricultura,
 antes de ser demolido nos anos 70. A Igreja de S. Sebastião, semi-demolida ,
pode ser vista à direita, no alto do Morro do Castelo

 Podemos ver nas fotos a muito antiga, icônica, histórica e já parcialmente demolida Igreja de São Sebastião, ainda durante o início do arrasamento do Morro do Castelo. A operação desmanchou o morro de argila por inteiro, com jatos de água, como se vê na foto. As imagens nos demonstram pequena parte do estrago da "bomba eclética" no centro histórico do Rio de Janeiro, trocamos tradicional rapadura colonial por meloso chantilly eclético francês. As imagens da desabada Igreja do santo padroeiro que deu nome a cidade, antiga de séculos,  nos mostram a força da internacionalização da arquitetura na época, muitas edificações históricas vieram a baixo para dar lugar aos bolos-de-noiva ecléticos, e estes depois seriam também  varridos da paisagem.
 
Leilão de ornamentos arquitetônicos oriundos das demolições de
pavilhões "bolos-de-noivas" ecléticos, restos do delírio...


Depois da grande festa construtiva, os bolos-de-noiva foram progressivamente
 agredindo o senso estético das gerações posteriores, e foram, em grande
parte, demolidos sem dó nem pena, banidos assim da paisagem.

 
O derradeiro golpe nos prédios bolos-de-noiva que sobraram da maldita exposição de 1922, foi dado pelo metrô do Rio no meio da década 70. A demolição do Palácio Monroe foi muito polêmica, ele estava bem no caminho do metropolitano. Nem mesmo o seu status histórico de ex-sede do Senado Federal na antiga capital do país foi suficiente para salvá-lo da demolição. Foi-se também !
O antigo prédio do Ministério da Agricultura, pavilhão da exposição de 22,
 foi também posteriormente demolido para purificar a paisagem da 
colonial Casa do Trem, atual Museu Histórico Nacional.
A fachada antiga, originalmente muito eclética, da UFPR, em Curitiba, sofreu uma
severa faxina estética, ficou irreconhecível , perdendo suas cúpulas, seu
frontispício e seus ornamentos das primeiras décadas do Séc. XX.
O Ecletismo tornou-se muito desprestigiado após seu auge !









The Spanish Revival : Estilo Missões  &
 Neocolonial Espanhol ou Californiano:




"Falo em espanhol com Deus.
Em  francês com os embaixadores.
Em italiano com as mulheres"

Carlos I - Rei da Espanha




A herança cultural espanhola revivida !
O sino na porta me parece muito elegante !

Tudo que foi até aqui descrito e comentado destinava-se a chegar no aprofundamento
 da análise Missões-Spanish Revival. Imaginamos a análise resumida, em português
 e sob o ponto de vista brasileiro. Foi este o tema que originou todo este
 processo cultural e arquitetônico aqui exposto.

 
Vamos entrar para melhor conhecer !

Depois do Ecletismo afrancesado, parece que repensaram e optaram por arquiteturas mais pertinentes e com raízes históricas. Este é exatamente o ponto do meu interesse, esta reavaliação de estéticas e a coerente opção pelo consagrado passado histórico, como fonte de harmonia, beleza, elegância e mesmo modernidade; achei esta opção retrô muito moderna para época.

Alguns apontam uma variante deste estilo espanhol, conhecida como Mediterranean Revival,
pode ser vista na residência acima: janelas, portas, volumes construídos algo diferentes,
  mais italiano meridional do que espanhol ou mexicano.


      
A icônica mansão Spanish Revival da também emblemática e reverenciada
atriz Agnes Moorehead, é um exemplo desta moda construtiva em Hollywood
 que fez popularizar o estilo pelo mundo , inclusive no Brasil.

Era conhecida como Villa Agnese !

Hoje é marco de uma época.



Interiores atuais desta antiga mansão em Beverly Hills, foi pesquisando a biografia desta musa de Orson Welles que me dei conta da associação deste estilo arquitetônico com os astros cults de Hollywood.

Retrato de uma era elegante,
um  tempo que passou !

Piscinas e paisagismo agradabilíssimos.

Verdadeira diva do cinema em seus tempos de Citzen Kane,
fez de sua ampla e bem projetada casa uma referência
cult, tal como aconteceria com suas perucas 
vermelhas nos anos 60; sua fama
 como Endora foi célebre
também.

Pátios paisagísticos de cerâmica tosca da Villa Agnese são
bem característicos, diria que são bem mexicanos.
Uma mansão célebre em Beverly Hills,
imagino uma festa neste espaço...


 Mansões de Whitney Houston...

e de Mel Gibson, ambas antigas, porém reformadas.




O uso interno quase obrigatório de madeiramento, os sinos ocasionais,  pisos de cerâmica
 rústica,varandas projetadas, pátios internos e portas arredondadas embutidas, 
lustre e luminárias em metalurgia e torres em nível acima dos telhados
 eram bastante recorrentes.



Raramente vemos azulejos nas fachadas de estilo Missiões,
assim como raramente vemos pedra esculpida
ou terracota  no Lusitano !
 
Os azulejos eram mais visto nas quase obrigatórias fontes que ornavam os pátios,
já no sub-estilo Lusitano o pequeno lago do jardim mostrava geralmente
 um jato submerso de água como chafariz.


 Madeira na fachada e luminárias de ferro forjado eram característicos 
do Missões e não eram vistos com a mesma frequência no Lusitano.

Os interiores um tanto rústicos, tornam-se sofisticados pela decoração,
 criando ambientes previsíveis em concepção e disposição,
plenamente reconhecíveis  para o estilo.



O estilo espanhol, inicialmente regionalizado na sua expressão de coerente com o meio ambiente , história e nostalgia locais, foi catapultado para uma nova projeção, no bojo de uma cultura hispano-americana então emergente em boa parte do oeste do país . A maioria dos edifícios de estilo espanhol são de casas e pequenos edifícios comerciais, na Califórnia, mostraram-se concentrados apenas nas cidades do litoral, o estilo tornou-se recomendável para gerar elegância em locais quentes e mais ensolarados.

Um estilo arquitetônico tradicional, muito romântico e agradável !

O estilo neocolonial espanhol revivido, é caracterizado por telhados de telha de barro planas; estuque  texturizados, carimbados ou moldados aleatoriamente com as mãos, nos acabamentos para paredes externas e chaminés; ornamentos de fachadas em concreto armado ou terracota; pequenas varandas ou sacadas ;  janelas semi- circular e arcadas ;  decoração e luminárias em ferro forjado.

No Brasil surgiriam variações, algumas próprias daqui, sem acabamentos 
e fachadas muito sofisticadas e como as peculiares pedras soltas e 
emoldurante dos arcos e pórticos das fachadas, 
além das grades com barrigas.



São muito observadas as varandas suavemente curvas , nichos embutidos, galerias de arcos suportados por colunas e pátios oferecendo espaços ao ar livre , muitas vezes também eram conspícuas as chaminés das lareiras. Os telhados avermelhados, normalmente feitos de telhas de barro vermelho ou pintados desta cor , são muitas vezes construídos em vários níveis para criar interesse visual, os diferentes volumes contrastantes do conjunto estilístico mostravam-se sempre harmonizados pelos telhados coloniais.






Então as residências de estrelas de cinema de Hollywood configuraram-se em tendências para a sociedade norte-americana desde a década de 1920 , determinando traços culturais mais latinos para os EUA, em tudo, desde roupas a arquitetura. Wallace Neff , um arquiteto bem conhecido das estrelas de cinema dos anos 20 e 30 , foi um dos primeiros que projetou sequencialmente casas influenciadas pelo estilo espanhol. Famosa ficou a Pickfair , a mansão de propriedade de Mary Pickford e Douglas Fairbanks, entre muitos outros endereços de elegantes e famosos. Ainda hoje, a arquitetura espanhola é apreciada por estrelas, citamos  Meg Ryan , Ben Stiller , e Winona Ryder, que adquiriram clássicas mansões antigas neste estilo.


Só recentemente pude, de fato, entender essa confusão

de estilos arquitetônicos que só foram obscurecidos
 com o advento do Modernismo, faltou mostrar
 o Art Déco, mas este merece
 postagem própria !
  

O paisagismo do revivido é algo interessante, poderíamos classificá-lo
 como um sub-estilo do Jardim Mexicano, não tão árido e espinhento.
Com um toque de Mediterrâneo e de palmeiras da Califórnia.


O cenário de convivência com o ambiente se desenvolve principalmente num pátio interno,
 quando este não existe, os elementos típicos podem migrar para os jardins de fachada.
A fonte-chafariz não pode faltar nas edificações mais elegantes, as plantas de deserto
sempre se harmonizam muito bem com o conjunto estilístico espanhol.


As inspirações mediterrânicas plausíveis aparecem no uso dos ciprestes-italianos (Cupressus sempervirens ), as tamareiras das ilhas canárias ( Phoenix canariensis ), dos agaves sem espinhos e das espirrdeiras ( Nerium oleander ). Da África usa-se com sucesso as EuphorbiasSansevierias ( espadas-de-s.jorge ). Da própria Califórnia e México temos as palmeiras Washigtonias, ocasionalmente usadas em prédios maiores, além das Yuccas e cactus gigantes esculturais dos desertos ( Cereus ). Quando o clima é mais úmido e não permite a utilização de plantas de locais áridos, podemos usar as Dracaenas marginatas , Cycas revolutas, Beuacarneas recurvatas, Ravenallas guianenses, Cyperus papyrus , Pandanus utilis, Musas sp. e Phormium tenax.

Se vc não aprovou a disposição, ou só viu defeitos nesta exposição sentimental de pensamentos, eu respeito sua opinião. Construi esta postagem numa época de muito trabalho e stress, tive até que tomar remédios para dar conta de tantos orçamentos e análises de obras, analisei mais de R$ 400 milhões em financiamentos. Esta postagem foi meu lugar constante de relaxamento e repouso mental, foi uma delícia percorrer as pesquisas e descobrir as informações pertinentes. Dividir tudo isto é ainda mais gratificante, fico feliz de ter dado um passo a mais na divulgação do Missões.
Só desejava, como sempre, que minhas dúvidas antigas
fossem sanadas pela postagem, quem  por ventura
também vier a desejar saber, já tem aqui
a resposta pronta !

Um estilo arquitetônico elegante
e muito cult, tornou-se
memorável !


"Es duro fracasar en algo, pero es
 mucho peor no haberlo intentado. "

Ditado espanhol

Não deixe dever a Parte I

Click aqui



Foi uma ótima experiência
 pessoal, adorei esta
 grande postagem !

2 comentários:

  1. Fiquei fascinado pela sua pesquisa! É uma parte da arquitetura brasileira que foi quase completamente eclipsada pelo modernismo, infelizmente.

    ResponderExcluir
  2. Como aqui bem descrevo e mostro, essa confusão de arquiteturas que pareciam antigas mas que de fato não eram sempre me confundiu pelo impacto da sua exuberância. Foi necessário estudar para bem entender o caldo de cultura em inseriram-se, resolvi então expor o espírito da época. O Modernismo surgiu certamente em oposição aos seus excessos. Se desejar tirar dúvidas me escreva: shayva.j@hotmail.com

    ResponderExcluir