VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

As Espécies de Cattleyas Brasileiras Confusas ou Parecidas - Parte I







"A única verdade 
é que vivo.
Sinceramente,

 eu vivo.

Quem sou? 
Bem, isso já 
é demais...  "

Clarice Lispector




"Os fatos são 
como os sacos:
quando vazios não
 se têm de pé.

A culpa é 
dos fatos.

Somos todos 
prisioneiros
 dos fatos."

Luigi Pirandello




Click para ver Cattleyas
 Confusas ou Parecidas:

PARTE II

PARTE III


PARTE IV






Perguntaram a 
Santo Agostinho:

O que estava Deus a fazer 
antes de criar o mundo?

Ele logo respondeu:

Estava a preparar o Inferno
 para todos que fazem 
estas perguntas.



A EVOLUÇÃO REPRODUTIVA
 NAS ORQUÍDEAS:



Euglossini é uma tribo de  abelhas formada por cinco gêneros, que pertence à subfamília Apinae. As abelhas desta tribo são popularmente conhecidas como visitantes de flores de orquídeas. Encontram-se entre os grupos de abelhas mais importantes das Américas pelo seu trabalho polinizador de muitas das espécies nativas das florestas.Os Euglossini já são conhecidos como as “abelhas das orquídeas” pelo fato dos machos desta tribo apresentarem uma íntima relação as flores de um grande número de espécies de Orchidaceae, sendo polinizadores exclusivos de algumas espécies do grupo. Os machos visitam as flores de orquídeas para coletar compostos aromáticos, especialmente terpenos e sesquiterpenos que são secretados por regiões especializadas do labelo da flor. Ainda não se tem certeza sobre a função desses compostos, mas as hipóteses mais aceitas atribuem uma função sexual a tais substâncias após sua “metabolização” podendo atuar, por exemplo, no processo de acasalamento, como fator de reconhecimento específico e/ ou de seleção sexual.

Na adolescência, quando voltava da escola, andava alguns quarteirões, frequentemente reparava numas abelhas verde-metálicas, muito bonitas, zunindo suas asas paradas no ar como um colibri. À medida que eu me deslocava pela calçada, esses bichos estranhos e vistosos, também avançavam a minha frente, parando no ar até que eu me aproximasse mais um pouco. Quando passei a estudar orquídeas, descobri que este tipo de inseto, justamente pela capacidade de poder ficado parado no ar, configurava-se como sendo o principal polinizador das espécies de Cattleyas brasileiras. A relação entre as orquídeas e estes insetos era muita estreita, profunda mesmo, percebi então que tratava-se um caso de amor existencial, um apaixonante serviço aéreo que o inseto poderia prestar à reprodução dessas plantas tão sofisticadas. Como apresentavam voo de helicóptero, e também de avião a jato, podiam se configurar num agente de transporte de pólen excepcional; eram abundantes na natureza e muito interessados em Cattleyas. Também me dei conta que a beleza intricada e exuberante  das flores dessas  plantas foi selecionada e configurada para atrair esse tipo de inseto metalizado, sempre tão ágil, cheio de energia e disposto. 
 
 A estética fabulosamente elegante das orquídeas refletia tão somente o ótimo bom gosto e refinamento sensorial das abelhas Euglossas. Atraídas pelos odores, pelas cores, pelas recompensas de néctar, pelos projetados apêndices florais onde poderiam pousar na posição corretíssima para ter o pólen das flores afixados em seu dorso ou cabeça, elas eram, em verdade, a razão de ser daquelas flores tão lindas e que tanto me fascinavam. As espécies de orquídeas haviam sido selecionadas na sua formatação pela necessidade de atração desse tipo de inseto, mostravam então a estética agradável ao inseto, era um caso de paixão, digamos sexual, entre a planta e o inseto que a perpetuava, assim nascendo uma elegante beleza, sem igual no Reino Vegetal.

Inseto polinizador belíssimo, digno da magnificência das orquídeas.

Euglossas são orquidófilas e orquídeas são "euglossófilas" ! Fundamentalmente é sobre esse pilar que repousa o principal da evolução reprodutiva em Cattleyas, temos também a seleção natural para a evolução vegetativa e adaptação aos variados climas e habitat, mas se não há polinização, não há reprodução, e assim características vegetativas não são expandidas pela geografia de distribuição das espécies. O processo de reprodução é o que pode, mais profundamente, isolar, segregar e depois emancipar uma população de Cattleya de outra, detalhes florais diferenciados demonstram bem a arquitetura da separação necessária para a adaptação à reprodução em um novo habitat.

A símia ilusão de ótica é uma mera coincidência gerada pelo nosso olhar e 
humor, as flores visam objetivamente atrair o pouso do inseto ou o bico
 do colibri. Alguns insetos percebem especialmente e tão somente
 reflexões de luz emanada por cristais orgânicos, secretados e
 presentes nos  tecidos florais. Por vezes, a disposição, a 
área de pouso e os odores desses tecidos, são muito
 mais atrativo do que a forma, as cores ou
a elegância que tanto nos atraem
 nas plantas da família
 Orchidaceae.

Polemizar qual tipo de macaco a espécie de orquídea melhor reflete
 é uma  grande e irrelevante bobagem da sensibilidade humana.
 A associação de formas é ao puro acaso, existe apenas na 
retina de nossos olhos e nas piadas  geradas no nosso 
cérebro despreocupado e jocoso.

Podemos sim afirmar que Euglossas
 e humanos compartilham o 
mesmo gosto estético
 e sensorial.

Ou então as orquídeas adquiriram
valores estéticos humanos
ao completo acaso.

Como a maioria delas apresentam flores 
belas ou interessante, além de variadas
 em formas singulares, torna-se 
difícil crer em  tantas
coincidências.



Muitas espécies de flores orquidáceas chegaram, através da seleção
 natural na atração dos insetos polinizadores, a se conformarem
 quase que exatamente similares às fêmeas destas mesmas
espécies de vespas/abelhas polinizadoras.Neste caso,
uma sexualidade inequivocamente já
muito bem explicitada.

"Lutar pela paixão é bom, mas 
alcançá-la sem luta é melhor."

Shakespeare


Assim se reproduzem as orquídeas:
entre o sabor do néctar, o sexo 
dos insetos, as drogas e
 sem rock-and-roll !


Uma paixão existencial  de caráter iminentemente alimentício ou sexual.
Há também flores de orquídeas que fornecem potentes entorpecentes
para que os insetos polinizadores, no porre e de barato,
 cumpram a necessária função de polinizar.



As espécies do gênero Coryanthes, conhecidas popularmente
 como orquídea "pia batismal", devido ao acúmulo de líquido
 em suas flores de formato muito estranho e atraente
 ao olhar humano; melhor observada,
poderiam ser compreendidas e
chamadas com humor de
"boteco das abelhas".

Talvez  uma cracolândia
das vespinhas.

zzzzzzzz !


A flor secreta um líquido que enche a bacia logo abaixo, na parte da flor que
 lembra um capacete, bem ao lado das glândulas secretoras, existe uma
fonte de um óleo essencial entorpercedor,  que deixa o inseto 
polinizador grogue, e este cai no depósito de 
líquido, passando a tentar escapar da
morte por afogamento.


 

Conseguindo sair da arapuca floral, pelo única possibilidade
existente, que é o dreno da bacia acumuladora da 
secreção aquosa, o inseto recebe então as
polínias, repetindo o mesmo ciclo em
outra flor ocorre então a
polinização e fruto.


As plantas desse gênero botânico são muito difíceis
de cultivar e geralmente são encontradas
vegetando sobre formigueiros em
grandes árvores amazônicas.

Estas flores são verdadeiras obras-de-artes de engenharia
de polinização, são derivadas da evolução natural
entre a orquídea e seu polinizador, não existe
 nada tão complexo e sofisticado
no Reino Vegetal.




Também nas flores do gênero Stanhopea existe um sistema
 de atordoamento químico do polinizador, porém menos 
complexo e sem o acúmulo de líquido.
Stanhopeas são de fácil cultivo e
muito comuns em coleções,
também são abundantes
nas matas brasileiras.




O que é uma espécie
 nova de orquídea ?



Assim é...se lhe parece !


A beleza que vemos nas flores das orquídeas
é uma coincidência muito feliz, o útil da
existência de formas tão especiais
é a atração de polinizadores,
talvez humanos e insetos
 tenham estéticas
similares.

Suas flores são basicamente
 aeroportos para
insetos !


Importante perceber que "espécie" é 
um conceito artificial, produto da
mente humana, muitas vezes 
bem fundamentado, mas
nem sempre crível ou
confiável, todavia
visualmente tem
de ser distinto.


Com ou sem dificuldade, mas sempre visualmente distinguíveis,
mesmo que exames de DNA de suas populações 
sejam diferentes, se acaso parecerem-se e
 se intercruzarem, serão sem dúvidas
da  mesma espécie ou
 superespécie.

Quando localizamos e coletamos na natureza um tipo de orquídea aparentemente desconhecido ou "novo", o "novo" não significa que esta "nova espécie" tenha surgindo recentemente, devemos interpretar como sendo uma população ou um indivíduo ignorado, ou ainda não localizado anteriormente, portanto, ainda não catalogado e descrito. Depois de ampla pesquisa nos arquivos e herbários, nacionais e internacionais, poderemos concluir que possivelmente essa "nova espécie" também deva ser desconhecida da Botânica, ou não, poderemos também localizar uma descrição da mesma população que seja anterior, neste caso ela já está descrita e nomeada, sempre configura-se como válida a descrição mais antiga. Para ser conhecida botanicamente, a configurada nova espécie deverá ser descrita em detalhes, em latim, e também muito bem ilustrada nesta descrição, e obrigatoriamente  publicada numa revista científica botânica ou biológica conceituada;. assim se cria uma espécie botânica. Este arranjo para dar nome a uma população vivente é artificial, contempla e congrega  o pensamento humano sobre aquela descoberta, essa concepção pode mudar à medida que novos conhecimentos surjam, portanto o conceito de espécie é humano, e artificial por origem.

Gabinete antigo com muitas exsicatas,
um paraíso científico, cheio de
surpresas, um relicário
para os amantes
da Botânica.

O odor acre do passado, as matas espetaculares
que foram carbonizadas, as aventuras
antigas pelas regiões inóspitas
e desconhecidas, tudo
isto ainda mora
nas exsicatas.

A competitiva guerra pela sobrevivência
entre as espécies vegetais em terras
 brasileiras formou matas
de riqueza estupenda.

O que vemos nas serras e
baixadas é o resultado
de uma concorrência
sem fim, apenas
as vitoriosas
resistem.

Vida e morte feitas de
clorofila, chuva
e sais minerais.

Como é imensa a Flora do Brasil.
Nada se compara a ela !
Magnífica.

As exsicatas, exemplares vegetais prensados e secos em papel,
 são as bases da identificação e pesquisa botânicas, são
 provas irrefutáveis do que se coletou ou descreveu.
Sanam dúvidas sobre determinadas questões
e  incongruências  posteriores a
uma descrição botânica.

 Cattleya labiata

 Cattleya bicolor

  Cattleya forbesii

 Cattleya nobilior

 Cattleya mossiae

 Cattleya lueddemanniana

 Cattleya mossiae

 Cattleya trianei

 Cattleya warscewiczii
- antiga C. gigas.

Ressequidas no herbário, muitas espécies mostram-se difíceis de serem
 distinguidas, cores e perfume desaparecem rapidamente, somente o
 arcabouço celulósico conserva-se. Como o tamanho das flores
 pode ser muito dependente do estado ambiental, nutricional
 e vegetativo dos exemplares coletados, somente
 as formas e as proporções ajudam na
determinação comparativa com
outros espécimes.

É este o ponto da  classificação
 e da determinação botânicas: 
importam apenas algumas
 características menos
variáveis, as que são
muito variáveis,
são variáveis
demais !



Desenho esquemático original da descrição botânica
de Hoffmannsegella conceicionense como
espécie nova, detalhando em minúcias
suas características organográficas.
Poderia servir como tipo ou
mesmo como holótipo.

Em biologia, de um modo geral, o tipo é aquele exemplar seco em exsicata, ou desenho detalhado publicado, que define e demonstra um padrão específico, também faz a associação do nome da nova espécie a um padrão morfológico determinado e esperado  para aquela descrição botânica. Em orquidofilia costuma-se muito utilizar este termo técnico botânico ( tipo ) como sinonimo de "comum": é uma C. intermedia  Tipo; no sentido de ser um exemplar banal, esperável ou vulgar. Nem sempre o "tipo"  utilizado para a descrição botânica original mostrava ser um exemplar de forma mais comum, como ocorre com L. purpurata onde o tipo é quase semi-albo, diferente do padrão mais comum róseo. Todavia quase sempre há correspondência entre ser o "tipo" botânico nada mais que um indivíduo comum da espécie descrita, o que justifica plenamente o jargão orquidófilo: tipo = normal ou comum.


Acima o holótipo de Cattleya araguaiensis Pabst, este indivíduo
corporifica o exemplar escolhido para representar a esta 
espécie nova que foi descrita nos anos 60, o nome
científico criado está então associado  a este
exemplar ou exsicata, no caso de  dúvida
a espécie descrita é esta que se 
configura como holótipo, ou
 tipo botânico principal.

Recentemente esta singular espécie foi
alocada num novo gênero criado
especialmente para ela.

É conhecida agora como
Cattleyella araguaiensis (Pabst)
van D.Berg & M.W.Chase.

 
Há variações naturais entre os indivíduos de Cattleya araguaiensis,
 cor e tamanho diferentes, assim  como pequenas alterações
de forma , mas não são significativas para a criação de 
uma nova espécie, podem sim servir para 
caracterizar subespécies , variedades,
raças ou formas especiais
desta mesma espécie.

Sempre no caso de serem mais frequentes
numa determinada região natural ou
numa população significativa
considerada especial.


Algumas espécies são de fato  muito próximas, como é o caso das Pseudolaelias
acima, separá-las em espécies ou em subespécie é questão de senso ou
opinião majoritária, fica sempre a questão que não há um exemplar
de orquídea exatamente igual ao outro. Até mesmo entre
florações do mesmo exemplar há pequenas diferenças
observáveis, o que sempre causa alguma estranheza.
Sem a comparação com o holótipo, sempre
 surgem incertezas e questionamentos
oriundos de observação, por
 muitas vezes, confusa.




Flores são os principais referenciais para a separação
de espécies por permanecerem apenas alguns
dias em contato com o meio ambiente,
sofrem pouquíssima seleção natural,
assim permanecem imutáveis por
mais gerações, denunciando
os parentescos corretos
entre as populações.

Algumas flores podem não apresentar efetivo
 sucesso na atração de agentes polinizadores
 viáveis, e assim sendo desaparecem da
 população sem deixar descendentes,
portanto não provocam confusões
taxonômicas; sobrevivem os
 que conseguem sucesso
na expansão.

São os polinizadores, e não o ambiente em
 geral, os principais selecionadores da forma,
duração e disposição destas flores
nas populações naturais.

Como a reprodução é vital e preponderante
para a existência de indivíduos silvestres,
são as variações florais os aspectos
decisivos para que uma espécie
 nova seja consolidada.

Duas populações com aspectos vegetativos
 muito diferentes, porém apresentando
flores idênticas, sem dúvidas são
da mesma espécie.

Duas populações com aspectos vegetativos
muito similares, porém apresentando
flores diferentes, sem dúvida são
espécies diferentes.

Eis como pensar.


A parte vegetativa, sempre exposta ao ambiente,
varia muito mais. Estas variações são também
importantes quando morfologicamente
muito divergentes, mas geralmente
provocam mais confusão do
que separação técnica.


Mais acima vemos duas planta irmãs, porém
 com aspectos vegetativos dissemelhantes,
devidos principalmente à exposição
luminosa diferente.


Flores ficam expostas ao ambiente
por muito menos tempo que
as outras partes da planta.
por isso variam bem
menos que resto
do organismo
vegetal.

O foco taxonômico principal são as
partes reprodutivas,
especialmente as
flores.
 
 
    O fato de um botânico ter publicado a descrição de uma espécie nova, não é absolutamente definitivo na aceitação da novidade científica proposta. Outros botânicos ou pessoas ligadas àquelas plantas por laços profissionais, afetivos ou comerciais, podem simplesmente não concordar ou desconsiderar aquela nova espécie ou novo nome proposto por àquele botânico, que poderá ser percebido como pouco sério, incompetente ou mesmo mal intencionado. Tanto que para não aceitar ou concordar, basta apenas passar a não citar e ignorar a nova espécie ou o novo nome proposto, e assim não endossar o trabalho botânico em seus compêndios ou transações comerciais. Se por outro lado aceitarem a nova proposta de classificação taxonômica como sendo lógica e/ou esclarecedora de dúvidas frequentes, devemos imediatamente passar a citá-la, absolutamente então aceitando-a e corroborando com a nova proposição botânica.


     Um Necessário e Breve 
    Glossário Básico:





    Holótipo do nome de uma espécie, que pode ser espécie muito ou pouco variável em forma, é o exemplar especialmente escolhido pelo botânico, que deu nome e descrição à espécie, para bem representá-la. Conservado em exsicata ( é um tipo especial), em instituição botânica séria, também pode  ser apenas um desenho ou ilustração que o autor designou ao apresentar ilustração no momento da descrição dessa espécie. Desejando claramente definir um padrão morfológico tanto em relação a outras espécies, como em comparação com outros exemplares que apresentem variação considerável em relação às características medianas da espécie que está sendo descrita). O holótipo, ou mais coloquialmente "o tipo", é totalmente referencial, pois fixa as características morfológicas que estão correlacionadas ao nome da espécie. Em caso de dúvidas, ou em comparações para separação de nova espécie ou variedade, o holótipo muitas vezes torna-se fundamental para a perfeita compreensão das diferenças botânicas conflitantes entre populações algo diferentes.

    Lectótipo é um espécime ou ilustração designado posteriormente à publicação original,
     quando o autor não designou o holótipo, e comprovado tratar-se de parte
     do material original utilizado pelo autor da publicação, mesmo 
    que por ele não tenha sido visto.

    Isótipo é sempre um espécime duplicado do material do holótipo.

    Síntipo é sempre um dos espécimes citados na descrição quando um 
    espécime em particular não foi designado como holótipo.

    Parátipo é um espécime citado na descrição desde que este não 
    seja o holótipo, um síntipo, um lectótipo ou um isótipo.

    Neótipo é um espécime ou ilustração selecionado para servir
     de tipo quando o holótipo encontra-se desaparecido.

    Epítipo é um espécime ou ilustração selecionado para servir de tipo 
    quando nenhum dos tipos designados anteriormente servir
     para identificar o nome da espécie, geralmente devido
     à ambiguidade do material.


    Localidade tipo é o local onde foi coletado
    o holótipo, fixando a população tipo.




     

    Espécies tipológicas

    Um grupo de organismos em que os indivíduos são membros da espécie se suficientemente em conformidade com certas propriedades fixas ou "direitos de passagem". Os clusters de variações ou fenótipos dentro dos espécimes (ou seja, caudas mais longas ou mais curtas) iria diferenciar as espécies.  No entanto, agora sabemos que diferentes fenótipos nem sempre constituem espécies diferentes (por exemplo: a Drosophila com quatro asas nascida de uma mãe com duas asas não é uma espécie diferente). Espécies nomeadas desta forma são chamadas de morfoespécies.

    Espécies biológicas

    O conceito biológico de espécies define as espécies em termos de intercruzamento. Este conceito foi fortemente apoiado pelos fundadores da moderna síntese. Mayr o define como: espécies são grupos de populações naturais realmente ou potencialmente intercruzantes que são reprodutivamente isoladas de outros grupos tais como este. Este conceito é muito usual em orquídeas é bom tê-lo em mente.

    Espécies evolutivas

    Uma única linhagem evolutiva de organismos em que genes podem ser compartilhados, e que mantém a sua integridade em relação a outras linhagens no tempo e espaço. Em algum ponto na evolução de um grupo, alguns membros podem divergir da população principal e evoluir para uma subespécie, um processo que pode levar à formação de uma nova espécie se o isolamento (geográfico ou ecológico) é mantido. Uma espécie que dá origem a outra espécie é uma espécie parafilética, ou paraespecie.

    Espécies filogenética (cladistícas)

    Um grupo de organismos que compartilham um ancestral; uma linhagem que mantém a sua integridade com respeito a outras linhagens através de tanto tempo quanto espaço. Em algum ponto no progresso de um grupo, os membros podem divergir um do outro: quando tal divergência torna-se suficientemente clara, as duas populações são consideradas espécies distintas. Isso é diferente de espécies evolutivas em que a espécie mãe se extingue taxonomicamente quando uma nova espécie evoluí, as populações mãe e filha se formando agora duas novas espécies. Uma espécie filogenético é um cluster (basal) irredutível de organismos que é diagnosticavelmente distinto a partir de outros tais clusters, e dentro do qual existe um padrão parental de ancestralidade e descendência.

    Espécies de genealogia

    Espécies são grupos de organismos "exclusivos", onde um grupo exclusivo é aquele cujos membros são todos mais estreitamente relacionados entre si do que para qualquer organismo fora do grupo. Ou seja, que as espécies devem ser definidas quando um consenso entre genealogias de genes múltiplos indica recíproca Os críticos argumentam que essa ideia tem muitos problemas em comum com outros conceitos de monofilia monofilia das espécies.

    Espécies de coesão

    População de indivíduos mais inclusiva que possuem o potencial para a coesão fenotípica através de mecanismos de coesão intrínsecas. Este conceito foi proposto por Alan R. Templeton e combina um número de conceitos de espécies competitivos. Funde ideias sobre os conceitos de espécies ecológicos, genealógicos e de reconhecimento Esta é uma expansão do conceito de espécies de reconhecimento de acasalandos por permitir mecanismos de isolamento pós acasalamento; não importa se as populações podem hibridizar com êxito, elas ainda são espécies de coesão distintas se a quantidade de hibridação é insuficiente para misturar completamente seus pools de genes respectivos.

      Espécies ecológicas

    As espécies são definidas por seus nichos ecológicos. Ou seja, um conjunto de organismos adaptados a um conjunto particular de recursos, chamado um nicho, no meio ambiente. De acordo com este conceito, as populações formam os clusters fenéticos discretos que reconhecemos como espécies porque os processos ecológicos e evolutivos que controlam como os recursos são divididos tendem a produzir esses clusters.


    Espécies de reconhecimento

    Uma espécie é a população mais abrangente de cada um dos organismos biparentais que compartilham um sistema de fertilização comum. Com base na partilha de sistemas reprodutivos, incluindo o comportamento de acasalamento. O conceito de Reconhecimento de espécies, foi introduzido por Hugh EH Paterson, depois de um trabalho anterior por Wilhelm Petersen. O evento crucial para a origem de uma nova espécie, de acordo com Paterson, é a evolução de um novo sistema de reconhecimento de acasalandos.

    Espécies fenéticas

    O conceito de espécie fenética aplica a classificação fenética à categoria das espécies. Ou seja, é uma classificação baseada em fenótipo no qual uma espécie é um conjunto de organismos que se assemelham um com o outro e que são distintos de outros conjuntos. Nem sempre a classificação fenética concorda com a filogenética. Por exemplo, no caso dos animais  vaca, peixe pulmonado e salmão, pela classificação fenética, os peixes estão mais próximos entre si, ao passo que na classificação filogenética, a vaca e o peixe pulmonado estão mais próximos entre si. Sabe-se que o cavalo e o burro pertencem a espécies diferentes mas podem cruzar-se e ter descendentes, a mula e o macho, que, no entanto, são estéreis. Há mais casos semelhantes no reino animal, e é através do estudo destes casos que os cientistas tentam explicar como e por que razão aparecem novas espécies. Cientistas nos Estados Unidos descobriram agora um gene responsável por barreiras à reprodução entre duas espécies de moscas-do-vinagre. Surpreendentemente, este gene pode também estar relacionado com o desenvolvimento de câncer. "Dizemos que existem espécies novas quando existem barreiras que impedem que se cruzem entre si”, explica Nitin Phadis, primeiro autor do artigo na última edição da revista Science e investigador da Universidade de Utah, em comunicado de imprensa. “Identificar os genes e desvendar a base molecular da esterilidade ou morte dos híbridos é chave para compreender o aparecimento de novas espécies.” Os cientistas descobriram que o gene chamado “gfzf” – cuja acção normalmente impede que células com danos no DNA se dividam – está também envolvido nas barreiras biológicas à reprodução entre duas espécies muito próximas de moscas-do-vinagre, causando a morte dos machos híbridos. Utilizadas como modelos de investigação, as moscas-do-vinagre permitem compreender processos genéticos mais latos, neste caso sobre as barreiras biológicas entre espécies distintas e o aparecimento de novas espécies.

     
    Coleção de pássaros conservada em álcool e também peles secas,
    no Museu Nacional- UFRJ. Para uma determinação específica
     correta se faz necessário um processo comparativo com o
    material biológico original da classificação
    da espécie considerada, assim as
    dúvidas taxonômicas  são
    efetivamente sanadas.



    Um  bom exemplo de
     uma espécie polêmica
     e recém criada:




    Elefantes asiáticos e africanos são morfologicamente diferentes e
    facilmente reconhecíveis até por leigos, também estão muito
     separados na geografia, há consenso que trata-se de
    duas excelentes espécies, separadas já há muitos
    milhares de anos por cataclismas geológicos.



    A distribuição geográfica da espécie de elefante africana demonstra
     continuidade, quando o ambiente muda de planalto-savana
    para baixada-floresta, surge uma adptação, e ocorre
    a transição entre as duas subespécies que são
    já classicamente reconhecidas. Seus híbridos
    ou intermediários transicionais mostram
     que trata-se de uma superespécie e
    suas duas variações geográficas.

    Foi assim que se pensou
    até bem pouco tempo !

    Pesquisas recentes consideraram como sendo "nova espécie" uma distinta população africana de elefantes florestais, antes tida como sendo a subespécie anã Loxodonta africana cyclotis. Típicos da Bacia do Rio Congo, são muito menores no porte em relação ao padrão da espécie, porém o porte não é motivo para a separação de população morfologicamente semelhante. Durante décadas então esta população florestal foi considerada apenas como uma subespécie de terras baixas e florestadas, mas haviam algumas diferenças morfológicas na subespécie Loxdonda africana cyclotis. As diferenças entre o elefante-da-floresta ( L. africana cyclotis ) e o elefante-da-savana ( L. africana africana ) são: longa e estreita mandíbula (no elefante-da-savana é curta e larga), as orelhas são arredondadas (orelhas de um elefante-da-savana são mais pontiagudas), presas mais retas e mais para baixo, consideravelmente menores, e o tamanho e o número das unhas dos pés. O macho do elefante- da-floresta raramente ultrapassa os 2,5 metros de altura, enquanto o elefante-da-savana tem geralmente mais de 3 metros e, por vezes quase 4 metros de altura. No que diz respeito ao número de unhas: o elefante-da-savana tem normalmente quatro unhas dos pés na pata dianteira e 3 na pata traseira, já o elefante-da-floresta normalmente tem 5 unhas do pé na pata dianteira e 4 na pata traseira (como o elefante-asiático), mas os híbridos entre as duas espécies ocorrem.


    Pronto: está feita a cena da
    confusão taxonômica !

    E logo surge quem dela tente tirar
    alguma proveito e projeção científica .

    A meu ver são diferenças derivadas fundamentalmente
     de uma adaptação mínima ao habitat e à alimentação diferente.


    Estão num evidente e claro processo de especiação,
    mas  ainda não estão totalmente distanciadas, há
    ainda um intercambio genético entre as
    duas populações, mostrando um
    desenvolvimento mútuo.

    Há híbridos e intermediários entre as duas
    populações de elefantes africanos !

    Suas áreas de distribuição apresentam 
    segmentos de continuidade !

    Se  vistas através de suas formas extremas,
    as três raças humanas parecerão três
    boas espécies; distintíssimas.

    Populações intermediárias mostrarão
    que são uma superespécie com
    três raças geneticamente
    interligadas e coesas .

    Com DNA variável.

    Claro!

    Creio que havia a intenção técnica de forçar
    a criação de uma nova espécie de um
     animal paquiderme tão famoso!

    A notícia iria correr o mundo, mas caso fosse uma
     nova espécie de pulga de paquiderme, o
    impacto do trabalho seria nenhum !

    Então, entendo que nada
     é por acaso !




    Por fim, resolveram fazer uns exames de DNA, e estes mostram-se
    diferenciais, mas sempre será diferencial, mais ou menos;
    assim como nas orquídeas, não há um elefante
    exatamente igual ao outro, exceto gêmeos.

    A diferença genética entre chimpanzés e
     humanos é de míseros porcentos.
    Ao vivo somos muito
     diferentes.


    Muitos aceitaram esta nova espécie, eu particularmente
    acredito que "forçaram muito a barra" para obter
    apenas um trabalho de grande repercussão.

    Loxodonta cyclotis foi originalmente descrita como uma mera subespécie, no início do
     Séc. XX; apresenta diferenças morfológicas em caracteres desimportantes
     e altamente variáveis, como orelhas e unhas, detalhes estes que
     no computo geral são muito pouco significativos.

    A meu ver são apenas subespécies
    de habitats diferentes !



    Se os mesmos critérios fossem aplicados
     às raças de cães, teríamos então
     dezenas de novas
    espécies !



    "Poucos milhares de anos atrás, não existiam cachorros domesticados planeta afora, mas apenas lobos e, claro, uma grande diversidade de outros canídeos selvagens (os lobos nos interessam porque nossos cães descendem apenas deles). Hoje, por outro lado, a variedade de raças de cães chega às centenas, e foi obtida por um método, a seleção artificial, que tem poucas diferenças em relação ao “método” que, para a imensa maioria dos biólogos, é o principal responsável pela diversidade de espécies do planeta hoje. Estamos falando, é claro, da seleção natural, que não passa do sucesso reprodutivo mais elevado de certos seres vivos, derivado de certas características que favorecem sua sobrevivência e capacidade de deixar descendência. Bom, é exatamente isso o que os criadores de cães sempre fizeram ao longa da história, consciente ou inconscientemente: selecione os bichos desejados, com base em alguma característica que você ache interessante (velocidade, pelagem bonita, capacidade de capturar raposas, o diabo a quatro) e realize cruzamentos apenas desses bichos, deixando os demais cães na seca. E pronto, em menos tempo do que você imagina, eis que surge uma raça de cachorro. Uma espécie é algo que certamente começa assim, mas é bem mais consubstanciada que uma raça."


    Somos duas espécies
     ou somos três?

    Certos naturalistas buscam  mais a fama do que a contribuição
     científica, são reconhecidos por dedicarem-se
    exclusiva e obsessivamente a espécies
    muito notórias, aliando assim
     seus nomes às mais notáveis
    criaturas da natureza.

    Puro ego !

    Sobre a especiação em pulgas de
    paquidermes não há qualquer
    interesse taxonômico maior.

    Nas espécies de Cattleyas, as mais lindas flores
    do planeta, também ocorre o mesmo processo
    descrito longamente acima, as opiniões
    fervem, progressivamente o status
    botânico destas lindas plantas
    tem se complicado ao
    ponto da insanidade.




    "Sentir é pensar sem ideias, e por
     isso sentir é compreender,
    visto que o Universo 
    não tem ideias." 

    Fernando Pessoa









    Caso Complexo A: 

    loddigesii X harrisoniana
      

     
     Cattleya loddigesii medrava de início nos planaltos fluminenses, mineiros e
    paulistas que confrontam a Serra da Mantiqueira, passando também  pelas
     altitudes que beiram os 500-1.000 msm, do interior de S. Paulo até o
     norte do Paraná. É registrada  para o Estado do  Espírito Santo,
     onde também é existente, sabidamente, a C. harrisoniana,
    talvez este registro seja parte desta confusão
    aqui descrita.Contudo, não creio
     que ambas façam parte
    da flora capixaba.

    A C. loddigesii  poderia ter ocorrido
     na mesma distribuição capixaba da Laelia perrini,
    ou seja, na metade  inferior da fronteira de Minas
     Gerais com o Espírito Santo, também poderia
     ocorrer na Serra do Castelo. Estes habitats
    seriam até compatíveis com os dessa
    espécie de ocorrência
    mais meridional.


    Este obscuro quadro de distribuição
     capixaba,  para esta espécie, deve
     fazer parte de enganos antigos.


    No Paraná não se tem histórico crível de nenhuma Cattleya
    ocorrendo fora da Mata Atlântica,  nos dias atuais não existe
    qualquer evidência, no passado, poderíamos ter a ocorrência
    de C. loddigesii nas fronteiras ao longo do Paranapanema
     e nos pontos muito altos nas serras em
     torno da região de Apucarana.

    Na Região da Mata Atlântica e Litoral paranaense existem
    as Cattleyas guttata e forbesii, no Vale da Ribeira na
    fronteira com SP ocorre a C. intermedia. Já na
    fronteira com o Paraguay há antigas notas
     da existência de C. walkeriana, provável
    seja a  C. nobilior que ocorre no Mato
     Grosso  do Sul. Estranhamente,
    também há uma improvável  
    ocorrência da Cattleya 
    intermedia neste
     mesmo local.


     
     Cattleya harrisoniana ocorre desde as baixadas alagadas das cercanias da
     cidade do Rio de Janeiro até um pouco além da região de Vitória, no
    Espírito Santo, às vezes sobe a serra, acompanhando as margem dos
    cursos d'água que descem das matas das vertentes, locais onde
    ainda chega a umidade noturna e a ventilação
     diurna do oceano próximo.




    Prensados e secos em exsicatas os exemplares
    das duas espécies são ainda mais
    dificilmente distinguidos.




    A Cattleya loddigesii é logo reconhecida pelos segmentos florais mais largos, 
    pela agradável forma técnica mais fechada e as variações de róseo
     leitoso nas flores, além da típica mancha esbranquiçada no
     interior de um labelo bem mais aberto e conspícuo.
     

     
     Registros antigos nos informam da clássica coexistência de Oncidium
     varicosum e C. loddigesii nos mesmo habitats da Serra da Mantiqueira.




    A Cattleya harrisoniana:




      C. harrisoniana: tons bem mais fortes de lilás, a típica mancha amarelada
     interior no labelo, segmentos florais estreitos e com pior forma
    técnica, mais aberta, o lóbulo projetado do labelo mostra-se
    com 3-5  características ondulações ou cristas . Floresce
    de espata verde, enquanto sua prima C. loddigesii
     floresce de espata já seca, são espécies
    muito  parecidas.
      
    Também a  ocorrência de forte perfume em loddigesii , e
    a inexistência em harrisoniana, é um bom diferencial.
    Nas minhas andanças no município fluminense de
    Candido de Abreu, vi uma planta coletada no
    alto da serra que era "perfumosa", e já
    bem diferenciada das de baixada
     como diziam por lá na terra
    da C. harrisoniana.



     A excelente foto da raríssima C. harrisoniana 
    coerulea mostra bem as cristas na projeção
    do lóbulo mediano do labelo. É um
    detalhe característico e muito
    distintivo da espécie.

     
     
     Oncidium flexuosum é o companheiro no tórrido  habitat
    da C. harrisoniana,  nas baixadas alagadas e quentes.
    Cattleya forbessi também é habitante desses
    mesmos brejos, porém não é muito
    frequente neles, preferindo
    locais mais ventilados
    e próximos do mar.

     
    Cattleyas loddigesii - harrisoniana

    C. loddigesii  atípica ????



    A Cattleya harrisoniae foi notada pela primeira vez em 1836, na coleção do Sr. Harrison, em Liverpool , foi logo em seguida descrita por Bateman , em 1838, certamente deveria ser oriunda da antiga capital do país. Foi inicialmente considerada por muitos como uma variedade regional da Cattleya loddigesii, já descoberta e descrita anteriormente, o que pareceu ser muito lógico e esperável, uma vez que em termos absolutos, as duas espécies realmente são muito parecidas, mas mesmo assim, foi descrita por Bateman como uma espécie independente. Contudo, ao olhar treinado, é prontamente distinta apenas pela a peculiar característica de apresentar 3-5 cristas onduladas, paralelas e proeminentes no seu curto, projetado e discreto terceiro lóbulo do labelo, uma característica definitivamente não verificada em Cattleya loddigesii. Devido ao erro gramático no sufixo de seu nome específico em sua descrição original de Bateman, que deveria ser em latim ou latinizado, foi descrita erradamente, de novo, como Cattleya harrisonii P.N.Don, em 1840, mais tarde Lindley considerou-a como uma variedade regional e descreveu-a como Cattleya loddigesii var. harrisoniana Lindley 1887.


     
     C. harrisoniana.

    Também há a forte tendência de C. harrisoniana apresentar fortes e vibrantes tons de lilás, rosa e roxo nas suas flores, contrapondo-se ao típico róseo e outros tons suaves e leitosos de sua prima C. loddigesii; ou seja: mesmo de longe podem ser facilmente distintas. Originalmente descrita como C. harrisonae, foi por décadas tratada popularmente como “harrisonae” - lê-se harrisoniê, depois corrigiram o sufixo para "ana"; ficou então "harrisoniana"- como uma homenagem as minhas memórias, usarei o epíteto C. harrisonae, será assim que iremos nos referir a ela daqui para frente.
     
     

     C. loddigesii tem um hábito geral mais rústico, mesmo sem flores
    as duas espécies podem ser distintas pelas características
    vegetativas algo diferentes entre si.


    As plantas de C. harrisoniae apresentam, normalmente,
    peseudobulbos mais alongados e folhas maiores
    e menos coriáceas , sendo de modo geral
    uma planta maior e mais entouceirada.

    
    
    Porém, como nem todo observador comum repara em detalhes, por vezes, pouco significativos ou conspícuos ao leigo, sempre houve muita confusão entre as duas espécies. Cattleya loddigesii é semelhante no aspecto vegetativo à sua prima das baixadas fluminenses, uma vez que também é uma Cattleya bifoliada, todavia os pseudobulbos e folhas são também distintos, o que faz com que possamos determinar , entre as duas espécies, os exemplares sem a necessidade de estarem floridos. Os pseudobulbos de harrisoniae são mais longos/altos e mais finos (como tendência) que os de loddigessi, suas folhas são maiores e acuminadas enquanto as de loddigessi são claramente mais arredondadas e curtas. As flores são mais escuras do que na Cattleya loddigesii , do lilás profundo ao rosa - roxo, as pétalas e sépalas não são tão largas, apresentando menor forma técnica. 

     
     C. loddigesii ou  C. harrisoniae ?????


    A sépalas largas e os tons leitosos apontam para loddigessi, os pseudobulbos menos alongados e os labelos bem abertos com tons discretos de amarelo também vão na mesma direção. As pétalas mais estreitas, os tons fortes de lilás e a disposição do labelo bem mais projetado,  a forma menos arredondada das folhas, além das espatas verdes, apontam mais para harrisoniae. Diria então, num diagnóstico superficial, que a primeira foto acima me parece ter algo de loddigesii e a segunda certamente é harrisoniae, mas creio mesmo que as duas sejam C. harrisoniaes , sendo a da primeira foto um exemplar muito bom de forma.


    Todavia  posso estar errado, não sei a época de floração e nem se há perfume. De novo vamos repetindo o lema principal  desta postagem: assim é se lhe parece. Na verdade surgem muitos exemplares intermediários entre as duas formas típicas dessas duas espécies , que sem dúvida formam conjuntamente uma superespécie com duas formas específicas para altitudes e habitats diferentes. Superespécie é definido como um grupo de pelo ou menos duas espécies geograficamente separadas, morfologicamente semelhantes, mas distintas o suficiente para que não sejam consideradas como uma única espécie.


    Na C. harrisoniae as margens dos lóbulos laterais são caracteristicamente amarelas, e no lóbulo médio é amarelo ainda mais profundo, contrastando caracteristicamente com o lilás forte do resto flor. A espécie é caracteristicamente epífita, surgia em grandes populações nas regiões pantanosas de baixada do entorno da cidade do Rio de Janeiro, de Itaguaí até Vitória, portanto indo além da fronteira do Espírito Santo.Ocorre caracteristicamente em tórridas baixadas inundadas, em grandes árvores, indo deste ambiente próximo ao mar, subindo até mais ou menos até os 700 m podendo ir ao mil metros, seguindo as matas ribeirinhas aos cursos d’água que descem das matas de fachada atlântica para alimentar os alagados das baixadas.

    A espécie dificilmente ultrapassa as cumeeiras da Serra do Mar, mantendo-se sempre nas matas sob a influência direta dos ventos e da umidade do oceano. Floresce lindamente no auge do calor de verão, adapta-se bem se cultivada em clima serranos temperados, mantida em regiões muito mais altas ou meridionais, onde ocorrem geadas frequentes, vai definhando aos pouco, tal como sua companheira de habitat a C. forbesii. Necessitam de temperaturas mais quentes para vegetarem melhor e mais abundantemente, já loddigessi prefere temperaturas menores que 32°C, tendendo para um bom crescimento vegetativo em  torno de 18-25°C, um clima evidentemente serrano.


    O site do Conselho Nacional de Conservação da Flora apresenta a espécie
     como sendo também nativa de altitudes mais interioranas, e presente
     em vales serranos de SP e MG, o que  demonstra bem a
    confusão que  aqui retratamos. Seria mesmo a
    Cattleya harrisoniana ?????

    Guido Pabst, em Orchidaceae Brasiliensis, registra
     a espécie para São Paulo; há precedentes
    que afirmam existir a Cattleya 
    harrisoniana em partes
    mais  baixas do alto
    Vale do Paraíba.

     Botânicos que estudaram o caso com mais objetivo em suas
     abordagens do tema, num olhar sobre C. loddigessi, não
    registram sua ocorrência para o Estado do Espírito Santo,
     apontam sim a área de ocorrência como sendo restrita
    ao centro-sul de Minas Gerais e centro-norte de
     São Paulo e  a fronteira  do Rio de Janeiro
     com estes estados, na Serra da
     Mantiqueira e Itatiaia

    Para a estranha população que de fato existe no Vale do Paraíba,
    acima citada para SP,  entende-se que poderia ser uma raça de
    C. loddigesii adaptada de forma bem extrema a um
    habitat muito mais quente, e não se descarta a
    possibilidade de ser uma população
    híbrida das duas espécies, uma
    relíquia que sobrou de uma
    populacional intermediária
     desta população maior
    e ancestral.

    Essa população anômala, floresce bem no fim do
     inverno,  mostrando ser loddigesii, porém
    também parece ser harrisoniae, sendo
     de natureza intermediária.

    Estes também frisam em afirmar
    que C. loddigesii não medra na
    Serra do Mar ou dos Órgãos,
    sendo encontrada apenas
    em contrafortes  e matas
    de galeria da Serra da
    Mantiqueira e
    arredores.



     C. harrisoniae de boa forma
     devido às ótimas sépalas.



    A Cattleya loddigesii:



    Cattleya loddigesii próxima a Araras-SP, parece bem com a C. harrisoniae,
    por ser um exemplar de cor mais forte, mas a forma arredondada da flor
    e a conformação geral das inflorescências, já nos mostram, de longe
    e com certeza, a determinação correta da espécie.







    Os primeiros exemplares de Cattleya loddigesii, originários da cidade de S. Paulo, foram despachados para Inglaterra por Loddiges , em 1810, foi descrita por Lindley sob o nome de Epidendrum violaceum em 1819, na sequência, ela foi relocada no novo gênero Cattleya, sob o nome de Cattleya loddigesii , pelo mesmo Lindley, quando estabeleceu este novo gênero em 1823.

    Joias dos planaltos e serras dos
     interiores sul-mineiros
    e paulistas.

     
     Tons leitosos são bem característicos, o amarelo dominando no interior do
     labelo, tão característico de C. harrisoniae, também pode ocorrer em
    C. loddigesii,como se vê acima, cor é uma característica muito
     variável e não deve ser interpretada como forte fator de
    distinção, é apenas um tendência geral da
     espécie, com exceções frequentes.
    Os tons esbranquiçados  são
    típicos de C. loddigesii.

    Era encontrada em matas úmidas ou alagadas e margens de rios , como as bacias dos rios Grande, Tiete e Pardo em S. Paulo, também córregos, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Tem sido encontrada, também, no estado do Rio de Janeiro nas regiões de Itatiaia, Serras da Mantiqueira e dos Órgãos. Apresenta de duas a cinco flores por pseudobulbo, as pétalas e sépalas são de dimensões elegantemente mais alargadas e quase iguais, as sépalas laterais um pouco curvada, em delicado rosa- lilás leitoso.

     
    Como naturalmente já apresenta uma característica boa forma técnica, talvez a melhor entre todas as Cattleyas, em virtude desse potencial natural, foi artificialmente melhorada por cruzamentos comerciais, apresentando hoje clones e variedades de qualidade tão superior que a coleta de indivíduos naturais tornou-se desinteressante. 

    Houve com esta espécie o mesmo aprimoramento estético que ocorreu com as Cattleyas intermedia e labiata, destinadas aos fins comerciais, sendo, por muitas vezes, difícil aceitar exemplares tão perfeitos como sendo ainda pertencentes à espécie botânica propriamente dita. Muitos acreditam que discretas hibridações interespecíficas antigas se escondem no histórico e na perfeição espantosa destas cepas comerciais.


     Cepas comerciais perfeitas de formas,  a projeção do lóbulo
    mediano do labelo de C. loddigessi é bem menor que
    na C. harrisoniana, como se poderá ver no gif
     esquemático animado mais acima, mas há
    exemplares singulares de C. loddigesii
    com projeção mediana do labelo
    bem acentuada, porém com
    um característico istmo
    ou estreitamento.

     Este exemplar intermediário é anômalo ou híbrido.

     Os lobos laterais do labelo são quase retangulares , a borda frontal do labelo é, colorida como as pétalas e sépalas do lado de fora , e esbranquiçada no interior. As flores aparecem do outono até a primavera, como regra no inverno, contudo, é variável nos diferentes habitats, aprecia condições muito mais amenas, mesmo frias, que a prima harrisoniae; aqui em Curitiba, em cultivo, costuma florescer no final do inverno.


    Acredito que tenha ficado bem exposta e exemplificada a
    correta distinção entre estas duas espécies próximas.
    Vegetam em ambientes ecológicos bem diferentes,
    em populações muito bem apartadas, como
    florescem em épocas opostas, não
    podemos considerá-las na
    prática como sendo a
    mesma espécie.



    Acima um seedling em segunda floração de Cattleya Brazilian Midway na minha
    coleção particular de orquídeas, este híbrido artificial entre a C. loddigessi
     ( fruto)  e C. harrisoniana ( pólen ), foi registrado por Álvaro
    Pessoa em 2002, e pode nos mostrar algo a mais
     sobre estas duas espécies tão parecidas.

    Aspecto geral desta planta é dominado pela forte influência de C. harrisoniana no
    cruzamento, mesmo tendo sido a planta "pai", geralmente é a planta "mãe" que
    predomina nos cruzamentos interespecíficos. De C. loddigesii percebemos
    logo a cor rósea leitosa suave e o ângulo da labelo/coluna  bem menos
    perpendicular ao plano das pétalas e sépalas. O labelo é maior
    em dimensões, mas apresenta  praticamente a mesma
    conformação de C. harrisoniana, daí podemos
    concluir que se este exemplar fosse posto
     a uma determinação botânica, e sem
     que soubéssemos sua verdadeira
    origem, seria percebido como
    uma  C. harrisoniana.



    A projeção do lóbulo mediano do labelo mostra-se proporcionalmente
    maior e mais conspícua, dando pistas imediatas da hibridação
    do exemplar que ficou parecendo um C. harrisoniana
    de cor suave e labelo  algo esquisito: maior
    e bem mais projetado para baixo, como
    especialmente ocorre em
    C. loddigesii .

    Uma teoria antiga diz que a espécie que domina com suas características
     uma hibridação deveria ser vista como sendo a mais antiga e estável
    geneticamente. Neste caso, poderíamos supor que a C. loddigessi
     seria mais recente do que a C. harrisoniana, e talvez derivada
    desta, ou talvez ainda derivada mais recentemente de uma
    espécie ancestral. da qual ambas derivaram, e que
    se extinguiu, deixando na natureza apenas
    as suas formas mais bem adaptadas.
    A época da floração do híbrido
    é intermediária entre as das
    espécie progenitoras. 

    A história da evolução destas duas populações ambientalmente separadas, distintas,
    mas ainda assim bastante aparentadas e semelhantes, poderia ser mais
    bem elucidada pelos exames de DNA, mas como esta questão
    não incorporaria o nome de nenhum botânico ao nome
    científico destas duas espécie de beleza eterna,
    fica o dito pelo não dito.



    Colocadas uma do lado da outra, em mesmo
    ambiente artificial, jamais se cruzariam,
    devidos aos requisitos opostos de
    clima e altitude, também não
    sobreviveriam uma no
    ambiente da outra.

    São duas ótimas espécie, a confusão
     de identificação é apenas no
    âmbito da observação
     humana.

    Na natureza estão
    muito bem
    separadas.


    Veja a  PARTE II -
    Continuação desta postagem





    3 comentários:

    1. PROCURAR INFORMAÇÕES NA INTERNET E EM MEU CASO SOBRE AS ORQUÍDEAS TEM UM PREÇO, O PREÇO DO MUNDO VIRTUAL ONDE NADA É DE GRAÇA, LAMENTAVELMENTE SOMOS INUNDADOS DE PROPAGANDAS, QUERO LHE AGRADECER POR NOS POUPAR DESTE MUNDO GLOBALIZADO EM QUE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO OS TORNAM CADA VEZ MAIS APELATIVOS E SUPERFICIAIS

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    2. Ofereço aqui de forma simples e sincera os pensamentos e informações que consegui produzir e concatenar na minha experiência orquidófila. Meu nome aqui não consta, não há propagandas, não busco nenhum prestígio pessoal, há apenas uma sincera tentativa de fornecer conhecimento para quem precisa e procura boas informações. Não poucas vezes me acusam de "roubar" imagens da internet como se este blog fosse o único que se utiliza de fotos da web, a inveja costuma vir aqui me morder feroz. Não desejaria que minha experiência se acabasse junto comigo, o blog surgiu então para ser útil principalmente aos iniciantes. Espero humildemente que possam permanecer no tempo e no espaço virtual uns fragmentos de minhas impressões e conhecimentos, assim tento perdurar no que restar de mim. Muito Obrigado pelo seu tocante comentário !

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    3. Parabéns! Obrigada pela partilha de ricas informações.

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